Índice de Capítulo

    Um bate-papo secreto estava em andamento. Ninguém sabia que grupo era aquele e certamente não descobririam tão facilmente, até que suas intenções fossem reveladas ao público. 
     
    Havia vários membros naquele grupo, de modo que apenas o algoritmo conseguiria contar rapidamente. 
     
    Um perfil sem nome ou foto digitou:
     
    “Então, de quem foi a maldita ideia de atacar a garota?”
     
    “Eu pensei que deveria eliminá-la o mais rápido possível…”
     
    Outro perfil sem nome respondeu. 
     
    “Faz coisas sem pensar e ainda não conclui o trabalho. Até onde sua burrice consegue chegar?”
     
    “O que vai fazer agora que estão alarmados? Essa notícia já deve ter chegado ao resto da equipe. Eles vão ficar atentos.”
     
    “Você sabe que as ordens não foram essas. O que vai fazer se ele resolver punir a gente? Seu imbecil de merda.”
     
    “É melhor concluirmos esse trabalho agora. Não pode dar errado.”
     
    Essa foi a última mensagem antes de uma série de concordâncias dos demais membros. 
     
    <—Da·Si—>
     
    A sede da Strike Down ficava localizada em uma área restrita — permitida pelo governo —, nas profundezas de uma densa floresta no Parque Nacional Chichibu-Tama-Kai.
     
    Ela era camuflada e fortemente guardada por soldados que vigiavam a área vinte e quatro horas em revezamentos escalados de forma que pudessem obter a maior segurança possível. 
     
    O espaço aéreo também era fechado e qualquer avião ou drone que fosse pego, seria severamente punido caso desobedecesse a ordem de saída. 
     
    Para evitar selar tantos agentes em locais fechados em todas as direções, a organização optou por construir uma área de descanso ao ar livre, capaz de comportar cerca de 2.000 agentes sem problemas. 
     
    Amplo, parecia um estádio de futebol, com suas instalações principais ligadas por túneis e corredores largos, permitindo uma rápida movimentação de massas. O lugar contava com jardins, fontes e monumentos referentes ao símbolo da organização. 
     
    Na área dedicada às refeições, havia um grande número de mesas e cadeiras, conhecida como pátio externo, e separado por grades de proteção, uma área de lazer, com quadras esportivas e diversos pontos de recreação, afinal, acima de muitas coisas, a organização prezava pelo bem estar de seus membros. 
     
    O lugar estava lotado, e após tantos alarmes, todos precisavam de um descanso. Mas, obviamente, todos se mantinham em constante alerta para qualquer situação incomum ou perigosa. 
     
    “Não tem jeito”, suspirou Asahi. “Eu perguntei a várias pessoas e nenhuma delas sabia sobre um grupo que usa máscaras de gás e mantos negros.”
     
    “Será que são novos?” Com a mão pressionada na bochecha, Airi brincava com o curry em seu prato, uma expressão de tédio em seu rosto. 
     
    “Novos? E ainda decidiram atacar Hana-san? Que ousadia!” O garoto sentia seu sangue ferver. 
     
    “Eu entendo sua raiva, Asahi, mas esse não é o ponto agora”, Ryuunosuke interviu. “Hana, você disse que eles te atacaram como se já soubessem sobre suas habilidades, certo?”
     
    “Uhum. Mais do que me derrotar, era como se eles estivessem me testando. Atraíram vários Ninkais e depois me atacaram. Eu não consigo pensar em um motivo para isso.”
     
    “Por que nós não encontramos eles e descemos a porrada para descobrir?” Yui estava concentrada em suas guloseimas até um tempo atrás, mas achou que deveria dar mais uma de suas magníficas sugestões. 
     
    “É uma boa ideia…”
     
    “Fiquem quietos.”
     
    A repreensão de Airi calou os mais novos, que voltaram às suas refeições com expressões de irritação, porém, em silêncio. Estava óbvio que eles só queriam fazer isso por Hana, mas claramente não estavam ajudando no real cerne da questão. 
     
    A garota sorriu amargamente para os dois, até que Ryuunosuke chamou sua atenção. 
     
    “Se foi mesmo um teste, então isso torna ainda mais perigoso. Pode ser que eles voltem com mais força na próxima vez. Não é melhor nós escoltarmos você nas suas saídas?”
     
    O líder considerou que era perigoso demais Hana estar sozinha quando os encontrasse de novo. Embora tenha os afugentando, não dava para saber que métodos adotariam em uma próxima investida. 
     
    Mas tal medida de ser escoltada apenas para sair sozinha não parecia uma das melhores ideias, então Hana rapidamente rejeitou. 
     
    “Eu não quero minha liberdade ameaçada desse jeito.”
     
    “Não sugira esse tipo de coisa para uma garota, Ryuunosuke. Nunca mais”, disse Airi, um tom ameaçador em sua voz. 
     
    O homem, porém, ficou com uma expressão preocupada, sem entender onde tinha errado. 
     
    “Acho que a melhor solução no momento é esperar que eles apareçam novamente. Eu vou tentar capturá-los e conseguir respostas…”
     
    “Nada disso. Isso é muito arriscado.”
     
    “O que eu vou fazer então?”
     
    A interrupção repentina de Ryuunosuke deixou a garota atordoada. Ela sabia que ele só estava preocupado com seu bem-estar, mas tinha que ter algo que ela pudesse fazer sozinha. 
     
    “Hana, nós estamos juntos há mais de dois anos. Eu sei bem o quanto você é forte e inteligente, mas nós somos uma equipe. Não vamos deixar você fazer nada arriscado sozinha.”
     
    “Mas… eu…”
     
    “Não lute contra isso, Hana-chan. Ryuunosuke tem razão. Vamos continuar investigando esse grupo e então neutralizá-lo para obter respostas. Até lá, não faça nada demais. Okay?”
     
    “Está bem… Eu vou tomar cuidado”, ela cedeu. 
     
    Asahi e Yui sorriram satisfeitos, assim como os dois mais velhos. 
     
    Apesar de parecer um tipo de bronca, isso acontecia frequentemente entre a equipe. Airi e Ryuunosuke eram os mais velhos da equipe, portanto, possuíam mais experiência, então era natural que eles tivessem um senso de proteção quanto aos outros três, ainda mais que eles eram teoricamente crianças.
     
    Diante de um clima tranquilizante e afetuoso entre os membros da equipe oito, alguém se aproximou. 
     
    “Vocês parecem mais próximos do que nunca”, disse uma mulher de cabelos pretos e um olhar gentil. 
     
    “Instrutora Kurosawa?!” Surpreso, eles se levantaram e rapidamente a saudaram, mas foram respondidos com um riso.
     
    “Eu admiro a integridade de vocês. Mas não se preocupem. Essa aqui é uma área para relaxar a mente e corpo. Não se importem com formalidades.”
     
    “Sim…” Asahi parecia apreensivo. 
     
    Estar diante de um instrutor não era a mesma coisa de estar ante um dos líderes da organização, já que ambos — agente e instrutor — estavam duas posições abaixo do último. Mesmo assim, como antes tinham uma relação de aluno e professor, o respeito se consolidou e se tornou um hábito difícil de perder. 
     
    Rina Kurosawa era uma das instrutoras que cuidava da parte investigativa da organização, sendo uma especialista em Análise de risco e Inteligência, o que a tornou professora de Asahi por um tempo. Era por isso que ele não conseguia demonstrar tanta naturalidade perto dela. 
     
    “Para vir falar com a gente assim… Aconteceu alguma coisa, Kurosawa-san?” 
     
    “Na verdade, não. Não aconteceu nada. Eu só queria ver como meu antigo aluno está. Ele não tem causado problemas, não é?”
     
    “Não, não. Asahi é um bom garoto”, Ryuunosuke afirmou com um pequeno riso. 
     
    “Ele é bem inteligente. Com certeza está colocando todos os seus ensinamentos em prática.”
     
    “Ora, isso é ótimo de se ouvir. Asahi-kun sempre foi um excelente aluno.” Ela inclinou a cabeça enquanto olhava para o garoto se encolhendo timidamente. 
     
    Kurosawa continuou falando sobre ele com Ryuunosuke e Airi, os quais falavam com ela com uma certa intimidade. Não era estranho, até porque eles já se conheciam há muito tempo e tinham um grande histórico de companheirismo até antes da Equipe de Ataque n°8 ser criada. 
     
    Hana ouvia tudo com um sorriso, Yui saciava sua fome por guloseimas sem se importar com mais nada. Enquanto isso, Asahi estava cabisbaixo e seu olhar não demonstrava apenas timidez, mas havia algo mais, como se um passado chocante viesse a sua mente como uma turbulência. 
     
    Hana percebeu isso, mas não falou nada, apenas perguntou se ele estava bem.
     
    “Ah, claro… Haha… só estou me sentindo um pouco cansado”, ele respondeu depois que todos olharam para ele com curiosidade. 
     
    Depois de dizer que tinha algumas coisas para fazer, Asahi deixou a mesa, o prato praticamente intocado, e saiu às pressas. 
     
    Pensando que algo estava errado, Hana decidiu ir atrás dele, então restou apenas Ryuunosuke e Airi para entreter a instrutora Kurosawa, que sequer dava sinais de que sairia em breve. 
     
    Yui já tinha saído antes, indo à sala de treinos para gastar a energia que acumulou comendo doces. Embora Airi já tivesse lhe dito várias vezes para comer coisas mais saudáveis, Yui rebatia com o argumento de que “Se estava de pé, então não estava fazendo nenhum mal.” , e apenas continuava o que estava fazendo. 
     
    Não que a mulher mais velha da equipe não tirasse os doces dela e a obrigasse a colorir o prato com verduras e legumes. 
     
    Após se despedir dos outros, Hana seguiu até o pátio interno procurando por Asahi, mas não o encontrou tão facilmente por causa da multidão que aproveitava o dia de folga ao máximo. 
     
    Ela olhou ao redor e nada. 
     
    “Talvez ele tenha ido para um lugar mais vazio?”
     
    Seus passos a levaram até o elevador a partir do refeitório, por onde ela se encaminhou para o segundo subsolo. Lá era onde ficava a entrada dos dormitórios. Depois de checar o corredor e não encontrando Asahi na entrada, acreditou que ele poderia ter ido para o terceiro subsolo,  na sala de treinamento, que também comportava  o arsenal e armaria da organização. 
     
    Sem hesitar, ela seguiu até lá. Assim que as portas do elevador se abriram, ela deu de cara com Asahi, que estava prestes a voltar para os dormitórios. 
     
    “Hana-san…?”
     
    “Ah, finalmente te achei. Você saiu tão de repente que eu fiquei preocupada.”
     
    “Preocupada comigo…?” O garoto rapidamente sentiu um choque passar por seu corpo, então desviou o olhar com o rosto avermelhado. 
     
    “Uhum… Você tá legal? Não está se sentindo bem?” Ela tentou checá-lo, mas ele a evitou saindo de perto. 
     
    “Eu-eu tô bem sim…! Só lembrei que precisava fazer algumas coisas…”
     
    A garota o olhou com certa desconfiança, mas rapidamente pensou numa solução, afinal de contas, era visível que ele ficou estranho quando a instrutora Kurosawa apareceu. 
     
    “Já que estamos aqui”, disse ela seguindo em frente para a sala de treinamento vazia naquele momento. “Que tal praticarmos um pouco?”
     
    “Mm…? Ah! Claro, pode ser…” Ele ajeitou os óculos em seu rosto e foi com ela. 
     
    Depois de se prepararem, os dois se engajaram em um rápido treino de combate corpo a corpo. 
     
    Asahi era como o suporte de estratégias da equipe e por isso não possuía habilidades ofensivas, mas, em contrapartida, havia se dedicado às artes marciais e uso de armas de fogo para ser, no mínimo, um combatente versátil — assim como grande parte dos agentes. 
     
    Hana também tinha uma grande maestria com as mesmas ferramentas. Afinal, em situações onde não dava para usar habilidades especiais, era necessário algum conhecimento para se proteger e lutar. 
     
    “Eu fiquei surpresa quando descobri que você foi aluno de Kurosawa-san. Dizem que ela é uma ótima instrutora”, em meio ao combate, Hana afirmou. 
     
    “É só o que dizem.”
     
    “Huh? Como assim?”
     
    “Todos que a conhecem sabem que ela não é o que parece.” 
     
    Asahi tentou aplicar uma rasteira em Hana com um rápido e limpo movimento, mas foi evitado por Hana.
     
    Asahi recuou e ficou em silêncio por um momento. Então abriu a boca.
     
    “Kurosawa é, realmente, uma ótima professora. Nenhum aluno dela se formou sem saber a maior parte da função de um analista… Mas o problema é como ela aplica suas aulas.”
     
    Um tremor passou pelo corpo de Asahi. 
     
    Hana não conseguia ler a expressão que ele estava fazendo, mas certamente não era uma boa expressão. Kurosawa parecia ser uma mulher tão gentil e equilibrada. Quem ouvisse aquele relato acabaria não acreditando. 
     
    “Nas duas primeiras semanas, foi incrível. Ela explicava a teoria e mostrava na prática com perfeição. Na época eu pensei que estudar com ela tinha sido a minha melhor escolha. Mas, depois…”
     
    Ele fez uma pausa e engoliu a saliva. 
     
    “Ela parecia ter se transformado num demônio. O método das aulas mudou completamente. Ela ficou fria e impessoal com todo mundo. Ao invés de corrigir os alunos que falhavam, como ela fazia no começo, ela começou a puni-los severamente. A pressão psicológica foi aumentando cada vez mais a ponto de fazer alguns desistirem do curso.”
     
    E mesmo assim ela não parava. Para garantir que ninguém revelasse seus métodos, ela continuava os perseguindo, chantageando-os psicologicamente. Asahi disse que um certo aluno acabou tirando a própria vida por não aguentar mais. 
     
    “Eu… acabei ficando com medo, então fiz tudo o que podia ao máximo. O curso começou com uns cento e cinquenta alunos, mas terminou com menos de trinta. Eu nem sei o que aconteceu com os outros depois que eu me formei.”
     
    Se eles também tinham terminado, se ao menos estavam vivos, Asahi não sabia. Tudo o que ele conseguia se lembrar daquela época era das palavras perfurantes e sussurros que ressoavam em sua mente como maldições proferidas por um demônio assustador. 
     
    “Eu não queria ver aquela mulher nunca mais, mas ela sempre aparece com aquele maldito sorriso falso, como se fosse a melhor pessoa do mundo. Tenho certeza que não passa de um aviso para o que vai acontecer se eu abrir a boca.”
     
    O garoto terminou seu relato. Um clima pesado se instaurou entre eles. Hana que só ouviu em silêncio tentava conectar a pessoa à sua real natureza. Era realmente inacreditável. Todas as pessoas tinham um lado que escondiam dos outros, mas ter isso revelado dessa forma era estranho. 
     
    Mas eu não posso duvidar… Meu pai… até mesmo Mayck tem um lado assim… 
     
    Pensar nisso a fez perguntar se ela também tinha um lado oculto que ainda não tinha sido revelado. 
     
    Os seres humanos eram seres instáveis. Suas verdadeiras naturezas seriam reveladas apenas em momentos ruins, quando as opções são salvar a si mesmo ou outra pessoa. O que vinha depois era apenas acréscimo de algo decadente.
     
    “Mas vamos deixar isso de lado agora. Não dá pra saber quando tem alguém ouvindo.”
     
    “É… Você tem razão.”
     
    “Obrigado por me deixar desabafar, Hana-san… e obrigado pelo treino também.”
     
    Hana acenou com a cabeça e observou Asahi dando as costas em direção ao elevador, mas ele parou de repente e olhou para ela de relance. 
     
    “Ah, é verdade… tinha algo que eu queria perguntar…”
     
    “O que foi?”
     
    Ele se calou por um momento, suas mãos não paravam quietas. 
     
    “É, bem… sobre aquele seu amigo… Vocês são muito próximos, não é?”
     
    “Tá falando do Mayck? Sim. Nós somos amigos de infância.”
     
    “São apenas amigos?”
     
    “Sim…”
     
    “Você… er… não gosta dele ou coisa do tipo?” Sua voz lentamente abaixando o tom, dificultando que Hana ouvisse. 
     
    “O que você disse?”
     
    Asahi tentou dizer mais uma vez, mas com a voz ainda mais baixa. Então Hana se aproximou um pouco e perguntou de novo, deixando Asahi mais envergonhado pela proximidade. Ele virou o rosto e com um grito, perguntou mais uma vez. 
     
    “Você não gosta dele como um namorado?!”
     
    Sua voz ecoou pela sala de treinamento vazia, apenas as armas e equipamentos de treino ficaram chocados com o quão direto ele conseguiu ser. Depois só restou o silêncio, Hana não respondeu imediatamente. 
     
    Começou a ficar constrangedor, mas aqueles segundos que passavam lentamente tiveram um impacto negativo sobre Asahi. Seu coração acelerado acelerou ainda mais. 
     
    Ele olhou para Hana. O rosto dela estava tão corado quanto o dele, sua expressão era a de choque misturado com constrangimento. 
     
    “Hana…-san?”
     
    “Huh?! Do-do que você tá falando?! Co-como namorado?! Eu nunca pensei nada assim…!”
     
    Ela tentava esconder seu rosto com os cabelos, mas seu nervosismo estava tão visível e claro quanto a luz de garota apaixonada que ela emitia. 
     
    Enquanto ela experimentava aquele sentimento doce, que fazia seu coração bater milhares de vezes mais forte, Asahi experimentava um sentimento amargo de decepção. Sentimento esse de que fora rejeitado sem ao menos ter a chance de se declarar. 
     
    O coração de Hana já pertencia a alguém. E esse alguém não era ele. 
     
    Algo quebrou dentro de seu peito. 
     
    “Por que…? O que aquele cara tem de bom…?” As palavras saíram involuntariamente de sua boca, seus punhos cerrados tremiam e seu sangue estava fervendo. 
     
    “Asahi?”
     
    Sem responder a garota que ainda tentava esconder seu constrangimento, ele deu as costas, pisando no chão pesadamente. 
     
    “Ei, o que aconteceu? Espera.”
     
    A voz dela não o alcançava mais. Unilateralmente, ele nutria sentimentos de raiva contra Mayck. Por que tinha que ser ele? Aquele cara a fez sofrer tanto, então por quê?
     
    Isso é injusto…
     
    Não pode ser assim…
     
    O que Asahi devia ter feito para estar no lugar dele? Mayck era melhor que ele? Mais forte? Mais inteligente? Mais bonito? O que estava faltando para Asahi ter um lugar especial no coração da garota que amava?
     
    As respostas pareciam borrões em sua mente. Tudo o que ele via com seus olhos trêmulos era o piso branco da sala de treinamento, e em sua mente uma turbulência sobrenatural. 
     
    “Cuidado!!”
     
    Hana saltou sobre ele e ambos caíram no chão e rolaram algumas vezes, enquanto uma onda de energia invisível rasgava o piso, atravessando a sala bem onde ele estava segundos atrás. Estilhaços foram jogados para todos os lados e uma cortina de poeira se ergueu depois de um estrondo. 
     
    Asahi ficou paralisado, tentando processar o que aconteceu. Hana se levantou, colocando-se na frente dele e olhando ao redor. 
     
    “Asahi.” Ela o chamou. 
     
    Quando o garoto olhou para a mesma direção, notou algumas figuras emergindo da poeira. Eram dez? Vinte? Ele não conseguia contar, mas todos usavam mantos negros e cobriam seus rostos com máscaras de gás. 
     
    Era o mesmo grupo que atacou Hana anteriormente, mas o que eles estavam fazendo ali? A resposta era óbvia. 
     
    Asahi olhou para o caminho feito pelo ataque. Havia um grande rastro de destruição ali, desde o chão até o teto, como se uma tesoura gigante tivesse cortado a estrutura. 
     
    “Droga… Quem são eles?” Ele se levantou e se posicionou perto de Hana. 
     
    “Essa seria uma boa chance de descobrir se não houvessem tantos.”
     
    Hana sobreviveu sem problemas contra seis, mas o que dizer daquela quantidade? Asahi contou que eram exatamente 22 deles. Todos armados com facas, correntes e até bestas. Quem quer que fossem, não estavam afim de  serem descobertos se usassem suas habilidades. 
     
    Certamente queriam atacá-los com as armas e não deixar nenhuma evidência. Mas qual era o propósito afinal? Essa era a principal questão que rodopiava a mente dos dois agentes encurralados. 
     
    “Por enquanto, vamos criar uma brecha pra fugir”, Hana sussurrou sem olhar para trás. “Temos que tentar chegar até o elevador.”
     
    Havia escadas de emergência, mas ficava do outro lado da sala, que tinha mais de 2.000 metros quadrados, então chegar até lá seria um desafio muito maior. E mesmo que chegasse até ela, quem poderia garantir que eles sairiam?
     
    A única escolha era voltar para o primeiro subsolo. Lá era onde ficava o gabinete dos líderes e diversos outros pontos com a finalidade de serem formais. Aquele grupo poderia não querer chamar tanta atenção, uma vez que os atacaram quando estavam sozinhos. 
     
    “Tá legal, eu vou te dar suporte. Tome cuidado”, disse Asahi. 
     
    “Uhum. Eu vou abrir caminho, então corra até o elevador.”
     
    Eles tiraram um pequeno dispositivo do bolso e conectaram aos ouvidos. Hana se posicionou e em seguida disparou na direção do grupo, que também estava preparado. 
     
    Ela não era do tipo que se atirava na linha de frente assim, mas tinha o conhecimento para fazer isso caso necessário. 
     
    “As bestas estão apontadas pra você.” A voz de Asahi saiu pelo dispositivo. 
     
    “Entendi.”
     
    “Salte agora.”
     
    Sem hesitar ela o fez, saltando graciosamente para trás, enquanto uma chuva de flechas caía no chão à sua frente. Quando ela tocou o chão novamente, continuou a correr. 
     
    Hana projetou quatro cristais que absorveram a luz das lâmpadas de LED e as converteu em raios UV. Os cristais giraram e dispararam os laser contra as bestas, derretendo-as sem problemas. Cristais vermelhos atingiram seus portadores e os derrubaram violentamente. 
     
    “Ótimo. Eles vão iniciar um ataque coordenado agora. Fique atenta às correntes.”
     
    Logo em seguida, Hana foi cercada e atacada pelos usuários de facas, que lançaram cortes limpos e rápidos com uma clara intenção de matá-la. Hana revidou e bloqueou os golpes, usando seus cristais vermelhos para contra atacar e azuis para cobrir pontos cegos. 
     
    No uso de cristais, ela era referência, mostrando uma verdadeira maestria em coordenação e agilidade para projetar. Não era pupila de Amélie à toa. 
     
    As correntes vieram em seguida, como serpentes dando o bote para prendê-la. Uma conseguiu se enrolar em seu braço esquerdo, mas ao aviso de Asahi, ela prendeu as correntes no chão com os cristais, então invocou um cristal maior no ar, no centro da sala de treinamento. 
     
    O laser explodiu com uma força absurda, apenas para desaparecer como um feixe. Os agressores conseguiram evitar, mas acabaram abrindo um caminho que levava ao elevador. 
     
    “Asahi!”
     
    “Entendido!”
     
    O garoto aproveitou a brecha e começou a correr. Hana contornou o caminho com enormes cristais vermelhos para impedi-los de se  aproximarem mais. 
     
    Ambos correram o mais rápido que podiam até o elevador. Eles ficavam cada vez mais perto. Mas, como Hana esperava, os cristais não foram o suficiente e os agressores começaram a bloquear o caminho. 
     
    A garota começou a disparar cristais para a esquerda e para a direita, tentando, principalmente, manter Asahi a salvo, o qual corria com todas as suas forças. Porém, em um momento de distração, uma corrente serpentiou pelo ar e agarrou Asahi, cravando sua ponta de metal em seu braço e o puxando violentamente para trás. 
     
    “Argh!! Merda!”
     
    “Asahi!”
     
    A garota desviou-se do caminho e voltou para resgatá-lo, mas foi bloqueada por outros do grupo. 
     
    “Saiam da frente!”
     
    Ela projetou mais cristais e usou a habilidade de conversão, disparando feixes luminosos e extremamente quentes, capazes de derreter o piso. Os disparos foram para todos os lados, mas o grupo conseguiu desviar ileso. 
     
    Antes que se desse conta, dois deles deslizaram até ela, as facas empenhadas brilharam perto de sua pele. Conseguiu bloquear a primeira com o escudo azul, mas a segunda passou em seu braço direito — se ela não estivesse com roupas de treino, certamente aquele corte teria causado danos imensos. 
     
    Ela foi rodeada pelo grupo hostil, que ficou cauteloso, apenas esperando uma abertura para atacar novamente. 
     
    “Hana-san!” Asahi lutava para resistir à corrente, mas foi atacado por outro do grupo que também tentou esfaqueá-lo. “Não se contenha! Você sabe o que fazer agora!”
     
    Naquela situação, onde os dois estavam encurralados, só havia uma coisa a ser feita, e como Asahi disse, Hana sabia exatamente o que fazer. 
     
    Entretanto, ninguém sairia ileso depois que fizesse aquilo. Ela iria resistir, com certeza, mas Asahi não. 
     
    “Hana-san, faça agora!!”
     
    Ela hesitou por um momento, mas logo percebeu que ele estava certo. Era a única chance que teriam. 
     
    Porque estavam tendo um dia de lazer, a sala de treinamento estava vazia, assim como a maior parte dos corredores. Isso significava que a ajuda não viria antes deles serem mortos. 
     
    Só havia uma escapatória. 
     
    “Está bem. Asahi-kun, se proteja”, disse ela, por fim. 
     
    Antes que o grupo fizesse o próximo movimento, Hana estendeu sua mão para o ar e um pequeno vórtice luminoso surgiu em sua palma. Ele se ampliou e tomou a forma de um cristal maior que os anteriores. Seu brilho intenso irradiou a sala toda.
     
    BLIIIING~
     
    Em milissegundos após Hana fechar sua mão, uma explosão luminosa cegou a todos, como uma flashbang gigante. O grupo, Asahi e Hana ficaram todos desorientados, apesar de Hana resistir mais e conseguir se mover com certa facilidade. 
     
    Ela correu até Asahi e o ajudou a se levantar. O garoto estava meio zonzo e sequer conseguia respondê-la, então ela fugiu para o elevador antes que o grupo voltasse a si.
     
    ****
     
    Eles conseguiram escapar. Imediatamente seguiram para o andar de cima e correram para a enfermaria, onde Asahi seria tratado e descansaria um pouco. A ferida não tinha sido muito profunda, mas não dava para saber se aquela lâmina estava envenenada ou não, então era melhor prevenir. 
     
    Assim que viram as mensagens de Hana, Airi e os outros foram ao encontro deles imediatamente.
     
    Hana relatou o ocorrido em todos os detalhes possíveis do seu ponto de vista e uma coisa ficou clara: o grupo não era de fora, mas estavam dentro da organização. Era por isso que eles sabiam tanto sobre ela.
     
    “Pessoal… Eu acho que tudo isso é mais simples do que parece”, disse Ryuunosuke em voz baixa, enquanto os outros se perguntavam o motivo do ataque naquele momento. 
     
    A atenção das três garotas se voltaram a ele. 
     
    “Um arquivo de voz repentino, a falha dos radares… Não dá pra chamar isso de coincidência.”
     
    “Você tá falando que nós somos alvos por estarmos investigando isso? Mas como? Não compartilhamos nada com ninguém.” 
     
    Airi não se lembrava de ter comentado isso com alguém fora da equipe. Hana também não. Yui sequer sabia do que estavam falando, mas sabia manter segredo. 
     
    “Isso quer dizer que existem mais pessoas envolvidas do que imaginamos. Se ao menos uma fala nossa se espalhou, então não é surpresa que eles tentem nos eliminar. Seria um assunto diferente se fosse um rancor pessoal contra Hana, mas, nesse caso, eles não teriam atacado com Asahi por perto.”
     
    Se não queriam chamar atenção por eliminar um agente do nível da garota, então teriam feito isso sob outras circunstâncias. Isso significava que os demais — Yui, Airi e Ryuunosuke — também eram alvos. 
     
    Além do mais, Asahi disse que tinha perguntado sobre o grupo para algumas pessoas, então existia a possibilidade dele ter tido o azar de fazer a pergunta exatamente para um dos membros. 
     
    “Mas se eles quisessem nos eliminar, logicamente falando, não deveriam começar pela pessoa mais fácil da equipe?”
     
    Airi olhou para Yui, que retribuiu o olhar com certo desgosto, enquanto degustava um doce avermelhado. 
     
    “O que foi? Tá me chamando de fraca?”
     
    “É bem fácil perceber também. Yui não fica parada quando está sendo confrontada. Nós dois somos veteranos, então já temos um histórico de lidar com agentes problemáticos. Sendo assim, Hana e Asahi, que são mais controlados e não fazem muito barulho por qualquer coisa, seriam os alvos perfeitos para começar.”
     
    Ryuunosuke explicou seu ponto de vista de forma clara. 
     
    “Mas isso não falhou duas vezes? Eles não consideraram que poderiam nos alertar depois de duas tentativas?”
     
    “Eu não sei responder isso…, mas talvez tenha um objetivo também.”
     
    “Então podemos dizer que o objetivo deles é derrotar Hana, depois Asahi. Aí quando nós ficarmos desestabilizados, seremos alvos fáceis…”
     
    Também era uma forma de interpretar a situação. A equipe tinha uma ligação forte, por isso a morte de um de seus membros poderia ser um choque e tanto para os demais, e saber que existia alguém ousado o suficiente para explorar tal ligação…
     
    “É… Pessoal, acho que a gente tá lidando com uma galera mais perigosa do que parece. Se são agentes daqui, então provavelmente estão escondendo seus poderes para evitarem ser descobertos. Isso significa que nós vamos ter que deixá-los virem até nós.”
     
    Como o buraco parecia ser mais embaixo, era mais conveniente esperar pelo novo contato vindo do grupo — o que certamente aconteceria. Até lá, era mais prudente continuar mantendo segredo sobre os ataques para encorajá-los a tentar manter sua existência em segredo. 
     
    “Enquanto isso vamos tentar conseguir pistas sobre eles. Não tem como saber quantos são ou quem são. Podem ser desde soldados até mesmo um dos líderes…” Ryuunosuke hesitou por um momento e baixou o olhar. “De qualquer forma, só podemos confiar em nós mesmos aqui”, disse, por fim, após um pequeno suspiro. 
     
    “Você tá certo. Esse é o melhor a se fazer, no momento. Dito isso, evitem ao máximo ficar sozinhos. Se precisarem, fiquem em locais públicos. Não é possível que toda a Strike Down esteja envolvida nisso, então eles provavelmente vão evitar coisas chamativas”, Airi acrescentou. 
     
    Yui concordou com certo entusiasmo, mas ela provavelmente não tinha escutado metade da conversa, enquanto Hana assentiu com um rosto preocupado. 
     
    “Eu vou ficar aqui até Asahi se recuperar. É bom vocês três ficarem juntas por um tempo.”
     
    “Sim. Tomem cuidado vocês também.”
     
    As garotas se despediram e logo saíram da enfermaria, deixando Asahi nas mãos de Ryuunosuke. 
     
    Certamente, o que viria a seguir poderia afetar suas vidas e comprometer a organização de forma que se tornasse algo irreversível, então era necessário cautela. Afinal, eles não sabiam a magnitude do problema em que se envolveram. 
     

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