Índice de Capítulo

    A revelação deixou um clima pesado sobre a equipe oito. 

    Não precisava pensar muito para ligar os pontos óbvios, embora existissem algumas coisas incertas. 

    Yagami foi denunciado por quebrar uma regra e foi punido. No entanto, também foi descoberto que ele havia revelado informações sigilosas sobre aquele grupo e isso resultou em sua morte. 

    Essa era a teoria mais possível, a qual também denunciava que o grupo estava infestado até mesmo no Conselho de Moral e Ética da organização. 

    Quanta hipocrisia…

    Hana ainda martelava tudo isso em sua cabeça. Certamente havia sido um choque para ela. 

    Até onde eles conseguem ir?

    Esquartejamento parecia ser apenas um dos meios para ameaçar os outros a ficarem em silêncio, mas não dava para saber quando eles viriam atrás dela de forma definitiva. Se desse com a língua nos dentes, provavelmente seria exposta e sabe-se lá o que fariam com ela. 

    Além da garota, os demais também se viam tentando encontrar uma solução para isso. Eles não podiam ficar na mira deles para sempre ou apenas ignorar o que estavam fazendo debaixo dos panos. A hora de agir estava perto. 

    Depois de enfrentar um dia agitado, Hana decidiu apenas tomar um banho antes de voltar para casa, e mesmo com o conselho de Ryuunosuke, ela saiu sozinha. Sabia que estava sendo imprudente, mas ela simplesmente não conseguia incomodar Airi e Yui com algo tão banal. 

    Ainda mais Yui, que fora incrivelmente afetada pela execução de Yagami. Depois de ver a foto, ela não levantou mais a cabeça pelo resto do dia. 

    Eu me pergunto o quanto Yui ficou abalada…

    Talvez isso tivesse despertado algum gatilho nela. Mas também poderia ser algo natural de se acontecer, afinal, apesar de tudo, Yui era só uma criança excepcional que conseguiu se graduar na Academia de Desenvolvimento muito cedo. 

    A água morna do chuveiro deslizou pelo rosto e corpo da garota. Ela levantou a cabeça e fechou os olhos brevemente, sentindo aquele calor relaxante, mas incapaz de lavar suas preocupações. 

    Após pensar muito nesses segundos de silêncio, ela decidiu que não valia a pena perder tempo daquele jeito. Se fosse chegar a uma conclusão, precisava fazer isso com os outros. 

    Suas mãos desligaram o chuveiro e ela puxou a toalha branca ao lado. Se secou e pegou uma troca de roupa que havia deixado por perto. Por fim, enxugou os cabelos e saiu, o cheiro de rosas emanando de seu corpo aquecido. 

    Àquele horário, a área de banho estava vazia. Então Hana pôde sair sem preocupações. Depois de terminar de secar o cabelo, ela enrolou a toalha e colocou-a em um cesto para ser levada pelos funcionários para a higienização. 

    Ela estava prestes a sair quando foi surpreendida por alguém que saltou sobre ela.

    “Ah!!”

    “Uwah~ Hana-senpai, você cheira tão bem.”

    Mei saiu de algum lugar escondido e se agarrou a sua veterana. 

    “Mei! Para com isso agora!”

    Hana lutou contra o carinho exagerado e a afastou. 

    “Não faça esse tipo de coisa!”

    “Hahaha! Me desculpa, eu não consegui resistir. Você é muito fofa, afinal.”

    “Fofa—!” Hana acabou ficando desconcertada. “Não trate sua veterana desse jeito! E o que você faz aqui a essa hora? Não deveria já estar nos dormitórios?”

    Segundo o toque de recolher, todos os agentes e funcionários da organização deveriam encerrar suas atividades até às onze e meia da noite, salvo por alguma emergência ou outras tarefas essenciais. 

    “Eu sei, mas eu estava entediada. Saí só pra fazer um lanchinho, mas te vi indo pra área de banho e acabei te seguindo.”

    “Você estava aqui desde que eu cheguei?!”

    Aquela garota era surpreendente, de certa forma. Se preparar, tomar banho e secar o cabelo deve ter durado uns quarenta minutos, e ao que parecia, Mei esperou esse tempo todo pacientemente. 

    “Isso aí. Eu observei cada detalhe dos movimentos de Hana-senpai”, disse ela piscando um dos olhos e lançando um olhar malicioso.

    Isso só serviu para deixar Hana irritada. Ela bufou e deu as costas para sair, mas foi impedida por Mei, que agarrou sua mão esquerda enquanto pedia desculpas. 

    “Na verdade eu queria conversar com você, por isso eu vim quando te vi. Eu não tava pensando besteira, eu juro.”

    “Hmpf. O que você queria conversar?”

    “Sobre qualquer coisa?” Mei inclinou a cabeça, claramente expressando dúvidas. Hana, por outro lado, percebeu que, claramente, Mei estava brincando com ela. 

    “Eu tô indo mesmo.”

    “Espera, Hana-senpai!”

    ****

    “Aliás, Hana-senpai, você ficou sabendo do que aconteceu hoje?”

    As duas estavam a caminho do refeitório, mesmo que fosse contra as regras ir até lá naquele horário. Devido ao toque de recolher, os corredores estavam vazios e a iluminação além do caminho era mínima. 

    Seus passos ressoavam como em um cômodo vazio. 

    “Aconteceu algo especial hoje?”

    “Não especial, realmente, mas algo bem curioso. Sabe aquele antigo time que se desfez um tempo atrás? Aquele que só teve um sobrevivente depois de umas missões perigosas.”

    “Ah, sim. O que tem ele?”

    Essa descrição foi o suficiente para Hana saber exatamente de quem a garota estava falando. Equipe de Reconhecimento N°12. A equipe que Yagami e Hiroaki faziam parte. 

    “Hoje de manhã, aparentemente, Yagami foi expulso por má conduta.”

    “Hã? O que isso quer dizer?”

    “Exatamente isso. Parece que ele invadiu o dormitório feminino e roubou algumas roupas íntimas de uma garota. Quando o Conselho de Moral e Ética o interrogou, ele não reagiu de forma arrependida.”

    “É sério…?”

    “Sim. Disseram que ele surtou, com medo da punição, e ela nem seria tão severa assim”, Mei afirmou, uma expressão neutra no rosto.

    Por outro lado, a expressão de Hana ficou sombria 

    Afinal, era inacreditável. Então foi essa a forma como eles justificaram o desaparecimento de Yagami. O conteúdo daquela foto ainda estava fresco na mente dela.

    Que coisa nojenta… Eles o mataram e mentiram desse jeito …

    Certo. Yagami não era uma vítima por ter invadido o dormitório feminino, mas não era isso o que importava aqui. Mesmo que o garoto fosse um babaca por ter feito o que fez, aquele grupo era ainda pior. 

    “Isso está errado…” Hana resmungou e Mei interrompeu sua explicação. 

    “Hana-senpai?”

    “Não foi isso o que aconteceu… Eles são um bando de mentirosos.”

    Mesmo tendo punido o indivíduo por quebrar as regras essenciais, Hana ainda não podia deixá-los passar. O que fizeram foi apenas um assassinato com base em suas próprias regras ridículas; eles não estavam certos em nada. O que fizeram não condizia com a justiça que Hana acreditava. 

    “Eles o mataram”, Hana sussurrou inconscientemente, mas Mei ouviu tudo isso e acabou ficando sem palavras por um momento.

    “Senpai…?”

    “Eles mentiram para todo mundo. São apenas um bando de assassinos malditos… Não dá pra tolerar isso…”

    “Não, não. Você não pode ser assim, Hana-senpai.” A voz de Mei interrompeu seu raciocínio de forma surpreendente. 

    Hana levantou os olhos, viu uma expressão estranha no rosto de sua júnior. Mesmo sendo apenas um sorriso habitual, tinha algo escondido por trás. Mei estava envolta por alguma coisa maligna. 

    “Você tem que seguir com o teatro, se não…” Sombras pairavam sobre os olhos da loira. “Se não ninguém vai poder te salvar.”

    “Mei-chan? Do que você está falando?”

    “Vocês deviam só ter ficado quietos. Se não tivessem decidido se meter nisso, nada disso seria necessário. Hana-senpai, você não vai mesmo abandonar essa investigação?”

    “…?” Hana estava atônita. Sua mente não pôde compreender a situação. 

    “É uma pena… Eu não queria que fosse assim.” A expressão de Mei mudou novamente, agora, para uma expressão de dor. Ela se sentia triste pelo que estava prestes a acontecer. 

    Antes que Hana contestasse, uma onda elétrica chacoalhou seus nervos e percorreu todo o seu corpo. Hana foi paralisada e, sem o controle do corpo, caiu no chão. 

    O que aconteceu?

    Foi rápido demais.

    Mei…?

    Sua visão começou a escurecer e os sons que chegavam aos seus ouvidos ficavam cada vez mais abafados. 

    “Me desculpe, Hana-senpai”, Mei sussurrou com uma voz melancólica. 

    Depois disso, Hana não ouviu nem viu mais nada. 

    ****

    Lentamente, saindo de um abismo de esquecimento, Hana recuperou sua consciência. 

    Ela não conseguia ouvir nenhum som, o teto não lhe era familiar e sequer tinha uma iluminação decente. 

    Onde eu estou?

    Ela piscou algumas vezes e tentou se mover, mas não conseguiu. Assim que se lembrou do que aconteceu, percebeu que estava completamente amarrada sobre uma maca. Pior, estava apenas com sua roupa íntima, o frio da sala percorrendo seu corpo livremente. 

    “!!”

    O desespero repentino a fez lutar para se soltar. Seus gritos eram abafados pela mordaça. 

    Uma luz foi acesa sobre ela, dando um pequeno vislumbre dos arredores. Não parecia uma sala tão grande, mas não tinha absolutamente nada além daquela maca em que estava e das dezenas de pessoas ao seu redor, todas com mantos negros e máscaras de gás. 

    “Você só precisava ficar quieta”, disse um deles

    “Já sabe porquê está aqui, não é?”, disse outro. 

    Hana até poderia responder, mas estava incapaz no momento. Mesmo assim tentou. Um dos membros se aproximou e retirou a mordaça, então Hana gritou imediatamente.

    “O que vocês fizeram comigo?! E onde está Mei-chan?!”

    “Ela está melhor do que você no momento.”

    “Se vocês fizerem algo com ela, eu juro…”

    “O que vai fazer? Você não é capaz de nada. Nós sabemos muito bem que a Agente Especial da Equipe de Ataque número oito, Hana Tsubaki, não é capaz de matar pessoas. O seu senso de justiça acredita em segundas chances. Sendo assim, você deve ser a única agente do seu nível com as mãos limpas.”

    “Além do mais, o que você espera fazer na situação em que está? Nós temos o poder para te machucar de centenas de formas diferentes e tudo o que te resta é chorar e pensar no quanto é inútil.”

    “Vocês são só uns idiotas… Eu vou denunciar vocês à presidência, aí vamos ver até onde vai essa autoconfiança…”

    Hana foi interrompida mais uma vez, porém, com risos pretensiosos que encheram a sala. 

    “Isso é até engraçado. Você acha que não existiu quem já tentou isso? Nós estamos ativos há mais de dez anos e nunca tivemos problemas. Isso porque…, assim como você presenciou hoje, quem mencionar sobre nós, vai ter um destino tão terrível quanto aquele.”

    Hana mordeu os lábios, a imagem martelando em sua cabeça. Assim como ela pensava, eles eram os responsáveis pelo assassinato de Yagami. Assim como o de Luigi e Hiroaki. 

    “Por que estão fazendo essas coisas? Vocês não têm orgulho em proteger as pessoas?! Por que entraram para a Strike Down, afinal?!”

    Os nervos da garota estavam à flor da pele. O constrangimento por estar apenas de roupa íntima não existia mais. Tudo o que sentia era uma irritação descomunal, algo que ela nunca sentiu antes.  

    “Tolinha”, disseram após alguns segundos de silêncio. 

    “Nós não entramos para a Strike Down e a traímos.”

    “É idiotice achar que somos um mero grupo rebelde que faz maldades por aí. O que nós temos nas mãos é algo muito maior. Algo com o qual você não devia ter se metido.”

    O clima de repente começou a ficar sombrio. Hana já não conseguia dizer se estava sentindo raiva ou medo, mas a apresentação daquele grupo ficou diferente de segundos atrás. Eles pareciam maiores, mais assustadores. 

    “Quem são vocês afinal…?”

    Os olhos de Hana tremeram, um calafrio percorreu seu corpo. 

    “Nós somos o Câncer.”

    “Uma doença infiltrada na Strike Down, cujo objetivo é levá-los à perdição de dentro para fora.”

    “E quanto a você, é apenas uma célula que teve o azar de nos encontrar.”

    Era mais do que um mero grupo de traidores. Eles eram um mal que já existia mesmo antes dela. Há quanto tempo eles estavam firmando suas raízes? O quanto de influência eles tinham na organização em seu estado mais recente? Quem mais sabia sobre a existência deles?

    Talvez agentes, funcionários diversos… Talvez até mesmo os líderes, instrutores e conselheiros. Como um vírus que invade um corpo e começa a se propagar e contaminar os órgãos aos poucos. Era assim que eles eram. 

    “Não precisa ficar assustada. Em breve, seus amigos se juntarão a nós nessa brincadeira, então não será mais tão solitário”, disse um deles, então boa parte do grupo começou a se afastar. “Até lá, aguente firme. Não vai ter graça se você morrer tão rápido.”

    Essa voz… Não pode ser sério…!

    Hana sentiu certa familiaridade com um dos membros, mas não era a melhor hora para pensar sobre isso.

    Uma vibração estridente e uma luz avermelhada iluminaram o rosto de Hana. O restante do grupo foi-se aproximando lentamente, todos portando uma espécie de arma de choque, cuja eletricidade carmesim ameaçava infligir a garota com sofrimento por um longo período. 

    “Não… Se afastem!” 

    Incapaz de se mover. Os clamores de Hana eram inúteis, ninguém dava ouvidos a ela. 

    Atrás daquela figura que saiu, a porta se fechou, dando apenas um pequeno vislumbre dos gritos agonizantes da garota e das luzes brilhando intensamente.

    <—Da·Si—>

    No quarto de Yui e Airi, após o toque de recolher. 

    Assim como todos os outros, o quarto delas tinha um design simples. Não era muito grande, mas o suficiente para ser organizado da forma que elas queriam.

    No centro estavam as duas camas individuais, posicionadas paralelamente. Entre elas estava um criado-mudo compartilhado, com alguns objetos decorativos que refletiam tanto os gostos mais sérios de Airi quanto os mais infantis de Yui. Um armário embutido de bom tamanho ocupava uma das paredes, com prateleiras para livros e pequenos enfeites cuidadosamente dispostos. 

    Na parede ao lado oposto da porta, uma escrivaninha dupla suportava o peso de um PC, seu monitor e seu teclado, os quais serviam as duas garotas que se revezavam na hora de usar. Havia alguns quadros sofisticados nas paredes e um lustre simples e pequeno no teto. Aquele quarto realmente refletia o choque entre as personalidades das duas residentes dali e estava adequado ao gosto das duas. 

    A pequena garotinha estava jogada em sua cama, seus olhos se fechando aos poucos devido ao sono, mas ela ainda parecia ter uma certa quantidade de energia para gastar. Ela se revirava na cama, talvez tentando encontrar uma boa posição para dormir, seu tédio era visível. 

    “Mmm… Será que Hana-nee vai demorar mais?”

    Era esse o motivo de sua inquietação. Aparentemente, Hana iria passar a noite com Airi e Yui, mas estava demorando muito para voltar. 

    “Vamos esperar um pouco mais”, respondeu Airi, deitada em sua cama e lendo um livro, o qual era iluminado por uma pequena abajur no criado-mudo ao lado dela. 

    Ela parecia descontraída, mas já haviam se passado uma hora e meia desde que Hana saiu. Sabia que a garota demorava bastante em todo o seu processo de banho, mas, dessa vez, já tinha passado até do tempo que ela mais demorou uma vez. 

    Isso estava começando a se tornar motivo de preocupação. 

    Passados mais quinze minutos, Airi tentou ligar, mas não houve resposta após tocar dezenas de vezes. 

    Isso tá estranho… Para onde será que ela foi?

    Ela tinha certeza de que Hana tinha levado o celular. Aquela altura, ela já deveria ter voltado, mas sequer atendia o telefone. 

    Airi olhou o relógio, os segundos se passavam lentamente, então seus olhos recaíram sobre o livro que estava lendo. Era um romance de Agatha Christie: Assassinato no Expresso do Oriente. As frases no último trecho que viu se repetiam em sua mente, deixando-a inquieta. 

    Será que eu deveria procurar por ela?

    No fim, ela desistiu do livro. Fechou com o marcador e colocou-o na estante ao lado. 

    “Airi-chan?”

    Yui a viu levantar-se com um olhar curioso. Airi abriu o guarda-roupas e começou a tirar seu pijama branco com corações vermelhos.

    “Eu vou sair um pouco.”

    “Vai procurar Hana-nee? Deixa eu ir junto.” A garota saltou da cama, animada, mas foi barrada no mesmo segundo. 

    “Não, não. É melhor você ficar. Eu volto logo. Vai ser mais fácil de se esconder, caso eu encontre um monitor, se eu estiver sozinha.”

    Apesar da birra, Yui não se atreveu a passar por cima da ordem, então Airi saiu sob as bochechas infladas da garota. 

    Mesmo enquanto passava pelos corredores dos dormitórios, ela continuava tentando entrar em contato com Hana, mas não conseguia nenhum resultado. De forma otimista, Hana poderia ter acabado derrubando o celular na água ou tê-lo descarregado, mas as sombras ainda pairavam para outra direção. 

    Acho melhor avisar os garotos, só por precaução. 

    Ela o fez. Se a intuição que ela se recusava a aceitar estivesse certa, Hana estava completamente em perigo. 

    Ela foi até a área de banho. Supostamente Hana deveria estar lá, mas depois de checar cada ala, não havia nem sinal dela.

    Airi tentou ligar mais uma vez…

    Um toque de celular veio do corredor. 

    Ela não hesitou em correr até ele. O celular estava jogado no corredor em direção ao elevador, não havia dúvidas de que era o celular da garota desaparecida. 

    Airi o pegou, as mãos trêmulas, e desligou a ligação. Seus olhos vagaram lentamente pelos arredores.

    Onde você está, Hana?

    Não havia nada além de um corredor escuro e vazio. 

    ****

    No dia seguinte. 

    Airi e os outros se reuniram. Eles esperavam que Hana aparecesse pela manhã, mas nada havia mudado; não havia nenhum sinal dela sequer. 

    As horas foram se passando silenciosamente, a esperança de que ela voltaria lentamente morrendo. 

    “Não dá! Nós temos que encontrá-la!” Asahi bateu as mãos na mesa. 

    Eles estavam na área de descanso, numa parte mais afastada do jardim. Não tinha ninguém por perto, então eles tinham certa liberdade. 

    “E como vamos fazer isso? Não temos nenhuma pista”, respondeu Ryuunosuke. 

    “Eu sei lá! Vamos procurar em todos os cantos. Ela deve estar em algum lugar por aqui—”

    “E quanto você acha que vai levar até encontrarmos ela? A gente não sabe em que situação ela está. Ficar procurando aleatoriamente só vai drenar tempo.”

    “Ficar parados aqui também!”

    Havia um conflito de ideias rodeando-os. Asahi estava desesperado, mas isso não significava que os outros estavam calmos, eles apenas tinham um controle emocional maior. Naquele momento, tinham que ser racionais. Levados pelas emoções, eles não conseguiriam absolutamente nada. 

    “Eu sei como você se sente, Asahi, mas você precisa se controlar. Se desligarmos, mesmo que um pouco, vamos acabar no fundo do poço. E talvez seja isso o que eles querem.”

    Já tentaram uma vez com a foto de Yagami. 

    “Pode ser que eles estejam tentando nos afastar, e então vão nos capturar um a um. Por enquanto, seja paciente. Se ficarmos juntos talvez estejamos seguros…”

    “E quanto a Hana-nee?” Yui disse com sua voz baixa. “Ela não tá segura, não é? Se Hana-nee ficar sozinha, é perigoso.”

    O coração da garotinha balançava de dor apenas por imaginar, esse sentimento ressoou no coração dos demais também. Ela estava certa. Naquele momento, Hana poderia estar sofrendo com coisas inimagináveis. 

    “Imperdoável… Quando eu encontrar eles, vou fazer picadinho!”

    Esse era o desejo secreto de todos naquele momento. Mas sem terem a chance de se expor, alguém se aproximou. 

    “Ei, pessoal!”

    Eles olharam, Mei vinha correndo até eles. Ela parou com as mãos no joelhos, arfando.

    “O que aconteceu, Mei? Por que está correndo desse jeito?”

    “Ah… só um segundo…” Ela respirou fundo e recuperou o fôlego. “É que eu não vi Hana-senpai hoje… pensei que ela estivesse com vocês…”

    “Ah…”

    Um clima sombrio pairou sobre eles. Tudo o que menos queriam ver era alguém procurando por Hana naquele momento. 

    “Err… Parece que ela tinha um compromisso, então não pôde vir hoje”, Ryuunosuke proferiu a mentira e olhou para os outros, levando-os consigo. 

    “Sim… Era algo bem urgente.”

    “Entendi… Isso é uma pena. Ela disse que me ajudaria a treinar um pouquinho… Mas tudo bem. Eu falo com ela outra hora.”

    “É. Ela deve vir uma hora ou outra…”

    Antes que Airi terminasse de falar, o celular que estava no centro da mesa começou a tocar, surpreendendo a todos. 

    O nome na tela de chamada era visível. 

    “Esse celular…” 

    “Ah! É meu! Com licença, eu preciso atender.”

    Antes que dissessem alguma coisa, a mulher de cabelos arroxeados pegou o telefone sob os olhares confusos dos demais e se afastou rapidamente, indo além dos jardins e saindo do campo de visão deles. 

    Mayck. Era isso o que estava escrito na tela de chamada. O celular de Hana era bloqueado com senha, então aquela seria a única chance de Airi conseguir fazer algo por ali. Seu polegar direito tocou no ícone verde e a chamada foi conectada. 

    “Alô? Hana?” A voz do garoto vejo do outro lado da linha. Porém, a voz de Airi travou no momento de responder. “Ei… Tá me ouvindo?”

    Eu tenho que dizer algo…

    Mas o quê? Como ela explicaria o fato de estar com o celular de Hana e ela não estar disponível para atender? Se falar que ela não fazia ideia de como estava a situação dele. Talvez ele tenha percebido que Hana sumiu e ligou preocupado. 

    Mas… essa não é uma boa oportunidade para pedir ajuda?

    Se fosse uma pessoa comum, isso seria impensável. Mas ela estava falando com Mayck, um portador poderoso que estava até mesmo nos registros secretos da Strike Down. 

    “Escuta”, Mayck continuou após os segundos de silêncio. “Eu não sei o que você está fazendo, mas as garotas estão preocupadas. Eu falei que você estava em casa, mas isso não vai colar mais. Onde foi que você se meteu?”

    Hana esteve duas manhãs seguidas fora de casa. Já era domingo, logo seria segunda. O desaparecimento dela precisava ser resolvido antes que se tornasse um alarme grande demais. 

    “Err… Olá…”

    Tomando coragem, Airi pronunciou apenas uma palavras, mas foi o suficiente para Mayck perceber que não era Hana no telefone.

    “Eu já ouvi essa voz antes… Você é Airi-san?”

    “Você consegue dizer?”

    “Um pouco…”

    A mulher não pôde evitar a surpresa. Já se passaram vários dias desde que se falaram e Mayck ainda podia reconhecer sua voz. 

    “Não é isso o que importa agora… Como eu disse antes… Você sabe onde Hana está?”

    “Si— Quer dizer… Não. Eu não sei. Na verdade, tem algo que eu gostaria de falar com você.”

    Essa era uma esperança que ela queria segurar. Ela não conseguia dizer como realmente isso ajudaria, mas era apenas uma pitada de luz que surgiu de repente. Talvez fosse um sinal para chegarem a uma conclusão. 

    Então ela contou os incidentes recentes para Mayck. 

    “Entendi… Então foi isso.” Sua voz ficou mais baixa, ele parecia se sentir mal. “Olha, eu quero ajudar, de verdade. Hana é uma amiga preciosa, mas não parece que eu possa fazer alguma coisa. Minha mãos estão tão atadas quanto a de vocês nesse momento.”

    “O que isso significa? Você realmente não pode?” Aquela luz cintilante parecia falhar diante dos seus olhos. 

    “É uma questão complicada… Eu não posso sequer me envolver com a Strike Down por conta de um acordo… Mas mantenha o celular de Hana por perto. Vou te dizer a senha dela, então fique a vontade para me ligar quando precisar. E mais importante que tudo, tome cuidado. Grupos assim costumam ser insanos.”

    Airi assentiu e desligou o telefone. Mesmo que ainda tivesse ficado um pouco vazia, ela pôde sair com um sentimento diferente. Agora, parecia haver um caminho. 

    Ela voltou para o grupo e contou que era apenas Mayck procurando por Hana.

    Mei já tinha saído há alguns minutos. 

    “Hmpf! Só agora ele percebe que ela sumiu?” 

    “Asahi, não comece, por favor. Agora não é hora pra isso. De qualquer forma, vamos tentar descobrir como entrar em contato com o grupo. Mesmo que seja perigoso, a única forma de encontrarmos eles é caindo na armadilha.”

    “Huh? Mas nós não estávamos tentando evitar isso?” Ryuunosuke arqueou as sobrancelhas. Ele notou que Airi estava diferente depois da ligação. 

    “Sim, mas é nossa opção mais viável. Ainda que a gente procurasse imagens nas câmeras, elas provavelmente foram adulteradas, então a chance de conseguirmos algo útil é muito baixa.”

    “Você está certa sobre isso, mas…”

    “Hana está correndo perigo. Eu tenho certeza que nenhum de nós quer estender esse problema ainda mais, não é?”

    O silêncio dos demais concordou com sua pergunta. Embora todos tivessem suas ressalvas e quisessem encontrar algum caminho mais seguro, no fundo eles sabiam que a melhor forma era a mais rápida. 

    “Eu… Eu concordo com Airi-san.” Asahi cedeu. “É melhor do que a gente ficar parado aqui.”

    “Eu também!” Yui levantou a mão, embora sua expressão não fosse tão animada. 

    Dois votos a favor. Restava apenas a opinião de Ryuunosuke. Ele soltou um suspiro. 

    “Tá legal. Se essa é a única coisa no momento, então vamos nessa. Mas nem pensem em agir sem consultar os outros. Vamos nos organizar e pôr o plano em prática ainda hoje.”

    Uma nova esperança surgiu entre a equipe. Eles certamente resgatariam Hana e colocariam um fim nesse problema. 

    Era hora da equipe número oito usar tudo o que tinha para atacar em sua própria organização.

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