Índice de Capítulo

    Eles então deixaram o castelo e foram escoltados para fora. 

    Mas antes que saíssem, o rei ordenou aos servos que fornecessem vestimentas adequadas para os viajantes, para evitar que os moradores os olhassem de forma estranha. 

    “Qual é a desse cara?”

    “Tratou a gente igual lixo. Se ele soubesse quem nós somos…”

    Os dois garotos da Strike Down bufaram. 

    “Pelo menos não fomos mandados pra tal comissão… Acho que teria sido pior.”

    Eles tiveram sorte de acontecer um grande mal entendido naquele momento crucial. 

    “Não se distraiam com conversas paralelas. Ouçam. Vocês ficarão sob custódia e farão companhia à princesa Eirlys. Nossos homens estarão vigiando qualquer movimento que fizerem enquanto estiverem dentro de nosso reino”, disse um homem de cabelos grisalhos num tom ameaçador, que tinha uma ponta de desprezo.

    Esse era o capitão da guarda real, o qual o rei ordenou a acompanhá-los. 

    Parecia um absurdo ter que fazer aquilo. Eram sete soldados armados e um capitão para manter os olhos neles. O nível de desconfiança estava em altitudes muito elevadas para o gosto deles. 

    “Agora, vamos.”

    O capitão, chamado de Lawren, disse que iria mostrar a cidade e contar sobre o reino, apenas para Eirlys não desconfiar da falta de informações que eles tinham sobre o lugar onde, supostamente, viviam. 

    Eles então se afastaram do castelo e seguiram primeiro para o centro da cidade. 

    Agora que podiam ver com mais calma, eles observaram que havia feiras por todos os lados, decoração em diversos edifícios e alguns pilares com uma forma indescritível no topo. 

    “O que é isso? Algum tipo de evento?” Sora olhava maravilhada. Havia um clima festivo no ar. 

    “É como se estivessem se preparando para um festival.”

    Lawren ouviu a troca entre eles, então logo respondeu.

    “Estamos nos aproximando do Dia do Escolhido. Esse é um evento que acontece a cada década”, disse, sua voz com um tom indiferente. 

    Aliás, ele também falava japonês, o que deixava tudo ainda mais intrigante. 

    “Err… Do que se trata esse festival realmente?”

    Sora deu voz ao que todos queriam saber. 

    O capitão não queria estender a conversa. Ele coçou seus cabelos grisalhos e suspirou. Não tinha outra escolha se não quisesse que o rei pedisse sua cabeça. 

    “Nosso reino, Nevéria, é protegido por uma divindade ancestral. Ela é a responsável pela Nheria que corre pelo rio, pelas árvores, pelo ar e também por nossos corpos. Nosso reino foi capaz de prosperar graças a ela e suas bênçãos, que nos permitiram evoluir na alimentação, no poder militar e tudo o que Nevéria pode oferecer.”

    Resumindo, é um lugar que só pôde crescer graças à Nheria. 

    Mayck e os outros se perguntavam o que ela era realmente, mas imaginaram que seria aquele fluxo de energia que estavam sentindo desde que encontraram a tempestade.  

    Mas parecia estranho. Eles nunca ouviram falar sobre ela. Além do mais, era tão igual à energia que sentiam constantemente.

    O que essa energia é realmente?

    O vice-capitão dos agentes questionou isso em sua mente. Nunca tinha recebido uma resposta adequada sobre. Teria que pedir para Nikkie explicar quando voltasse para o Japão. 

    Eles continuaram desfrutando da paisagem gélida do reino, enquanto Lawren contava algumas coisas. 

    Ele disse que havia uma tradição desde eras antigas, que era passada de geração em geração. E esse era o Dia do Escolhido. 

    “Esse será o dia em que a pessoa destinada se levantará diante de toda a Nevéria e será agraciado com o chamado da divindade protetora, tornando-se seu novo ajudante e intercessor. Isso acontece a cada década e nós estamos a um passo dela.”

    Então era por isso o clima festivo. Para um povo vivendo sob aquelas condições, deveria ser um festival imenso. Dava para sentir a euforia dos moradores transbordando como odores suaves e doces. O ambiente naturalmente frio estava aquecido com a alegria e a união. 

    Passaram mais alguns minutos de aulas de história e Mayck percebeu que a área movimentada ficava cada vez mais longe, mas preferiu não dizer nada. 

    “Isso tudo é impressionante…” comentou uma das agentes. “Mas, vem cá, como é que vocês falam a nossa língua? Aqui não parece ter nada que mostre que tiveram contato com o Japão—”

    “Shhh!”

    Os demais fizeram sinal para ela não falar mais. Porém, era tarde demais para fingir que a garota não tinha dito nada. 

    O capitão olhou para eles por cima dos ombros, dava para ver uma expressão duvidosa em seus olhos, como se ele tivesse ouvido algo extremamente idiota. 

    “Vocês são os únicos que falam a nossa língua aqui. Usam roupas incomuns, não sabem nada sobre Nevéria. Eu que deveria fazer as perguntas. Como vocês são capazes de falar as palavras da segunda classe?”

    Foi a vez da equipe de agentes levantar uma sobrancelha. 

    “Palavras de segunda classe?”

    “Não sabem nem isso?” Ele estalou a língua.

    Eles chegaram a um beco. Ali estava bem mais vazio comparado ao centro de antes.  

    O capitão Lawren parou e virou-se para eles. 

    “Como eu pensei. Vocês são estranhos. Não possuem conhecimento adequado e isso não é normal. Não sabemos de onde vieram e segundo o relato dos meus homens, foram capazes de fazer frente a uma sentinela do céu.”

    Enquanto ele dizia isso, deixando suas intenções mais claras, os soldados se armaram ao redor deles, prontos para atacar. 

    “Isso só mostra que são perigosos. Com o festival próximo, não posso permitir que causem problemas numa época tão movimentada.” 

    Havia sombras em seus olhos. Sua intenção de matá-los estava tão visível quanto a energia que ele emanava. 

    “O-o quê?! Você enlouqueceu? O rei disse que faríamos companhia à princesa!”

    “E que ele julgaria a nossa conduta enquanto isso!”

    Eles contestaram. 

    “Você está quebrando ordens?!” Sora se juntou aos outros. “Vice-capitão!”

    Seus olhos se voltaram para Mayck, que tinha ficado em silêncio até agora. Afinal, ele já tinha percebido o que estava prestes a acontecer. O clima e as ações do capitão Lawren eram estranhas desde o começo. 

    Mayck abriu a boca, o que foi um alívio para os agentes. 

    “‘Mate-os, e então digam à princesa que seus convidados tiveram que partir por algo urgente.’ Essas são as ordens do rei, correto?”

    O capitão engoliu as palavras, talvez surpreso pela verdade ter sido descoberta tão facilmente. Mas então ele sorriu. 

    “Você é inteligente. Está correto. Essa é a ordem que eu recebi. Vocês são uma ameaça e é melhor eliminá-los antes que seja tarde.” 

    Ele desembainhou a espada de sua cintura, revelando uma lâmina branca com adornos de cristal azul. Então acenou para os soldados atacarem. 

    Sobreviveram ao ataque de uma sentinela do céu. Também foi relatado uma ondulação imensa no ar. Eles não podem ficar livres por aí. 

    Lawren sabia que eles provavelmente eram muito fortes. E embora confiasse em sua própria força e na capacidade de seus soldados, tinham que ir com tudo — eles não poderiam fugir.

    Os soldados brandiram suas lâminas frias. A intenção era matá-los sem fazer barulho. 

    Surpresos, Sora e os outros se perguntavam como prosseguir. Seus olhos voltaram-se para o vice-capitão.

    “Segurem eles”, Mayck ordenou. Eles sorriram. 

    E então…

    Clang!!

    Lâminas se chocaram. Os agentes tinham puxado suas próprias armas e bloqueado o ataque dos soldados. 

    Os olhos do capitão se arregalaram. Ele não esperava tamanha ousadia, apesar de esperar resistência. 

    Mas foram parados tão facilmente?!

    Foi com tanta suavidade que eles pareciam estar níveis acima dos guardas, que receberam treinamento intenso desde a infância. 

    “Atirem!”

    Então vieram os disparos dos mosquetes ao redor, mas os projéteis imbuídos com Nheria foram todos defletidos num piscar de olhos. 

    “Escuta. Assim como você está protegendo seu povo, eu tenho o dever de proteger minha equipe”, disse Mayck, sua lâmina faiscando em punho. 

    “Seus malditos bastardos…!”

    O capitão ergueu sua lâmina. Uma onda de energia circulou em seu corpo. Era tão densa que parecia sufocante para os espectadores próximos. Ele estava prestes a desferir um golpe que partiria Mayck e os outros em pedaços. 

    “Como têm a coragem de resistir…?! Vou garantir que todos morram aqui!”

    A luz sumiu, e parecia prestes a explodir num corte devastador. 

    Porém…

    Zzzt—

    Mayck foi centenas de vezes mais rápido. Sua lâmina parou sobre o pescoço de Lawren. Se havia uma habilidade ativa, ela se desativou nesse momento. 

    Seu coração estava acelerado, seus olhos tremiam. 

    Quando ele chegou tão perto?

    “Eu sei que você consegue me entender. Então vou te deixar ciente”, Mayck falou, quase sussurrando. 

    Apenas o capitão podia ouví-lo falar em português fluente. 

    “A gente não tá aqui pra causar problemas. Estamos só de passagem. Mas, se vocês tentarem contra nossa vida de novo… Você já entendeu, não é?”

    Os olhos brilhando com um azul intenso em meio a um breu aterrorizante.

    “Ah! E se contar isso para o rei, você terá um grande problema nas mãos”, completou. 

    A espada na mão de Lawren caiu atrás dele. Seu corpo não parava de tremer. 

    Como esse bastardo consegue falar a língua real?

    A energia que Mayck emitia era assustadora. Suas palavras ditas com extrema fluidez não pareciam ameaças vazias. 

    A intenção assassina de Lawren desapareceu num instante. Ele mandou os soldados se afastarem.

    “Ainda bem que você entendeu.”

    Mayck também se afastou e mandou os agentes guardarem as armas. 

    “Agora que estamos de acordo, vamos continuar com nossa excursão e ir até a princesa, não é?” 

    Ele voltou a falar em japonês, como se nada tivesse acontecido. 

    “Grr… Seu maldito…! Vamos embora!”, Lawren apenas concordou e continuou a andar, escondendo seu rosto pálido e assustado. Os guardas também estavam na mesma situação. 

    O que são essas pessoas?

    Enquanto isso, os agentes se perguntavam o que Mayck tinha feito para virar o jogo, ao mesmo tempo que ficavam impressionados com a forma que ele agiu tão calmamente. 

    Ele é tão forte…

    É por isso que Zero mantém ele por perto?

    Sora se lembrou que quando Zero falou sobre ele, algum tempo depois de anunciar as equipes para a missão. 

    “Não tentem controlá-lo. Ele é capaz de raciocínio frio, então podem confiar sem hesitar. Trair vocês é a última coisa que ele vai pensar.”

    E isso estava mais que provado. 

    Sora sorriu. Eles ficariam bem, não importava onde fossem.

    <—Da·Si—>

    “Ahh…” O capitão Takeda suspirou. “Como foi que chegamos a isso?”

    Estavam encurralados. Eram uns dez guardas com suas armas engatilhadas. 

    Takeda coçou a cabeça. Os agentes ao redor dele estavam preparados para entrar em combate assim que ele ordenasse. 

    “Bem… A gente não precisa seguir o caminho mais difícil, você sabe…”

    O rei Arden, porém, sentado sobre o trono, não parecia querer ouvir. Era o segundo grupo. Mayck tinha mencionado que haviam se afastado dos companheiros, então provavelmente eram eles, ele pensou. 

    Mas dessa vez, vou garantir que não ocorra nenhum imprevisto. 

    “Eu vou perguntar mais uma vez. Qual é o seu objetivo?” Sua voz era como um trovão. Os olhos frios pressionavam Takeda, que puxou um cigarro e começou a fumar descaradamente. 

    “Eu já te respondi. Estamos procurando um certo objeto. Não tem nada a ver com seu reino.”

    “Já ouvi essa desculpa. Vocês estão escondendo algo e eu quero saber o que é. Isso é o que vai determinar o futuro de vocês. Se vivem ou morrem, cabe a mim decidir.”

    Que pé no saco…

    Aquilo era realmente cansativo.

    Depois de se perderem por conta da tempestade, Takeda despertou em uma área desconhecida, perto de uma imensa e fantasiosa montanha com cristais brilhantes. 

    Ele pensou que talvez estivesse sonhando, mas o frio lhe acordou. Havia alguns agentes perto dele: Sky e Gunner, os outros três eram da Strike Down. 

    Estavam feridos, mas nada tão grave, então, depois de se recompor e colocar todas as informações em ordem, Takeda os guiou pelo deserto branco. Eles caminharam por bastante tempo, até serem rodeados por guardas, que estavam com os ânimos no máximo. 

    Takeda achou melhor não agir com hostilidade, então eles foram levados para o interior de Nevéria, e depois para o castelo, onde foram interrogados por um rei que parecia furioso, embora a superfície estivesse indiferente. 

    “Senhor rei, eu não sei o que você está pensando de nós, mas assim como você, temos várias perguntas. Meus subordinados estão feridos, então não vamos arriscar resistência. Se puder ser cooperativo, podemos nos entender.”

    “O que te faz pensar que eu deveria ouvir suas palavras?”

    “Olhe bem.” Takeda mostrou os agentes ao redor. “Eles estão feridos, atordoados e famintos. Como eu já disse, viemos parar aqui por coincidência. Não temos intenção de atacar.”

    Seus braços caíram, ele soprou a fumaça do cigarro. 

    “Como poderíamos fazer mal a um lugar bonito como este? Principalmente quando tem um exército visivelmente poderoso… Não somos tolos o bastante para isso.”

    “Aqueles que vieram antes de vocês foram capazes de fazer frente a uma sentinela do céu. Você espera que eu acredite nisso?”

    A menção causou uma reação em Takeda. 

    Então alguém chegou antes da gente?

    Ele se perguntava quem tinha sido. Havia muitos membros poderosos em sua equipe. Mas isso era uma oportunidade. 

    “Companheiros nossos estão aqui? Isso é perfeito. Podemos apenas nos juntar e ir embora. Isso seria ótimo pra você também, não seria?”

    “Não. Deixar vocês saírem depois de entrar aqui é impossível. Não vou arriscar ouvir suas palavras mentirosas. Até que eu tenha certeza de suas motivações, vocês serão mantidos na Prisão das Árvores Acentuadas, sob a investigação da comissão da Lâmina Fria.”

    O rei então acenou para os soldados e disse:

    “Não resistam.”

    Os portadores posicionados estavam prontos para atacar. À medida que os guardas se aproximavam para rendê-los, mais a hostilidade crescia. 

    “Se vocês chegarem mais perto, vou esmagar seus crânios na parede!”

    Gunner, impulsivo como sempre. Todos pensavam parecido, no entanto. 

    Mas então Takeda abriu a boca. 

    “Apenas façam o que ele disse, pessoal.”

    “O quê?!”

    “Isso mesmo. Não vamos resistir. Temos que provar que somos inocentes. Tenho certeza que esse rei é capaz de julgar se estamos ou não pensando em atacar o reino.”

    Aos olhos de todos, parecia ser realmente isso. Apenas Sky percebeu que havia outras intenções por trás dessas palavras. 

    Se eles estão aqui, provavelmente foram mandados para a mesma prisão. De qualquer forma, nós temos que encontrá-los e reunir todos. Não podemos perder nossa vida aqui. 

    Era um palpite arriscado, mas eles precisavam disso. 

    Havia algo naquele rei que o incomodava. Ele até parecia ter palavras relativamente leves, mas tudo em seu ser gritava que deveria matá-los na primeira oportunidade. Ficar tempo demais lá poderia ser perigoso. 

    Então os guardas os renderam violentamente. Algemas de algum material desconhecido foram postas em cada um deles e eles foram arrastados para uma área que ficava ao norte do reino, atrás da imensa montanha: a Prisão das Árvores Acentuadas. 

    <—Da·Si—>

    Enquanto dois grupos foram mantidos dentro do reino, um terceiro vagava pelas planícies nevadas. 

    Estava ali, o restante da equipe de Takeda. Liderados por Viktor, seguiam um caminho completamente sem rumo, embora ele dissesse ter a certeza de que estavam no caminho certo. 

    “Olha… eu acho que a gente devia…”

    “Cala a boca! Eu sou o vice-capitão. Eu estou no comando aqui.”

    Nem mesmo os soldados de Takeda conseguiam se opor a algo que o próprio capitão tinha decidido. 

    Rider suspirou. Chegar a algum lugar com alguém como aquele na liderança seria uma tarefa quase impossível. 

    Yoshiro também pensava assim, bem como todos os outros cinco agentes. Por que Takeda tinha colocado aquele garoto na liderança?

    “Nós devíamos ao menos tentar fazer contato…”

    “Não adianta”, ele respondeu. “Vocês sequer perceberam que os equipamentos deram pane? Não tem comunicação.”

    Pelo menos com isso ele foi sensato o suficiente para checar. Talvez houvesse um pouco de sabedoria por trás de toda aquela arrogância.

    De uma forma ou de outra, eles foram obrigados a sobreviver por alguns dias no meio daquele deserto branco, encarando nevascas poderosas e noites congelantes. 

    O frio fazia os queixos baterem. Eles sequer sabiam por quanto tempo tinham andado, ou até quando andariam, mas com certeza já fazia muito tempo e eles não encontraram uma pista sequer. 

    Mas então, quando a sensação de estarem em um lugar vazio começava a ficar mais forte, eles perceberam algo rastejando, chegando numa velocidade assombrosa. 

    Todos saltaram ao mesmo tempo, e uma gigante serpente albina de olhos vermelhos sibilou, saindo se deu esconderijo. 

    Shhhh!

    “Mais uma delas?”

    Eles encararam o monstro enquanto a corrente de vento carregava a poeira de neve que ela criou. 

    “Não é pra se surpreender! Ataquem!”

    Viktor juntou as mãos e as separou rapidamente, revelando uma esfera brilhante em chamas. Ela emanava um calor tão grande que derreteu a neve ao seu redor. Ele a lançou na serpente como um pequeno projétil, que explodiu ferozmente ao entrar em contato com ela, causando uma pequena cortina de fumaça. 

    “Estão esperando o quê?!”

    A surpresa estava estampada no rosto dos demais. Apesar de tudo, ele parecia ser forte. 

    Mas não tinha tempo para isso. A serpente foi ferida, mas ela se levantou claramente irritada, enquanto o ferimento abaixo da cabeça se curava lentamente. 

    Então os três soldados se posicionaram e apontaram suas armas para o monstro. Viktor ordenou e eles atiraram. Os projéteis não eram como balas comuns, elas eram carregadas com energia imbuída em cristais receptores, então causaram um efeito realmente fatal na serpente. 

    Em segundos, vários buracos foram feitos em seu corpo, mas a regeneração foi mais rápida que isso. 

    Então Rider passou na frente. Assim como antes, Yoshiro disparou uma flecha de vento que assoviou perto dele e atingiu o olho da serpente. Ela sibilou, atordoada. Foi a chance que Rider precisava. 

    A lâmina saiu de sua bainha, cintilando. Ele a brandiu, saltou, e então desferiu um corte horizontal na base do pescoço. 

    O sangue da serpente jorrou como uma cachoeira.

    Shhhhhh!!!

    “Abaixo da cabeça é menos resistente”, gritou Rider para os outros. 

    Os demais agentes também estavam com suas armas prontas. Vendo a abertura criada por Rider e Yoshiro, eles arrancaram. Suas armas em punho e então uma cadeia de ataques simultâneos atravessaram o enorme corpo do monstro, que se debatia loucamente. 

    “Continuem atacando! Não a deixem se recuperar!” 

    Tiros e sons assustadores ecoavam pelas planícies nevadas. E a serpente sentia todas aquelas dores a esfaquearam brutalmente. 

    Os danos estavam sendo severos. Eles causaram mais dano do que ela podia regenerar de uma vez. 

    Mas quando a vitória parecia certa para os agentes, em um último ato de tentar virar o jogo, luzes começaram a sair de seus ferimentos e então ela explodiu, engolindo o raio de gelo que estava pronto para ser disparado. 

    Houve silêncio por um momento, e então…

    “!!”

    Booooom!

    Foi como uma gigantesca bomba de gelo.

    Uma cortina branca foi erguida e estilhaços lançados para todos os lados a uma velocidade absurda. Poucos saíram ilesos daquela explosão. 

    Quando a neve baixou, havia uma enorme estrutura irregular proveniente do congelamento do corpo da serpente, que ainda tinha resquícios de sua forma. 

    “Droga…”, resmungou Yoshiro. Assim como os outros, ele estava no chão, mas o problema não era esse. “Mesmo com a roupa especial, esse negócio ainda me machucou.”

    Com um rosto decepcionado e levemente irritado, ele arrancou o estilhaço que estava fundo em sua pele. Causou dor, mas ele conseguiu suportar. 

    “Ei! Yoshiro!” Rider chegou logo em seguida. Seus olhos tinham uma preocupação estampada neles. “Você tá legal? Ah— Droga! Precisamos tratar isso rápido.”

    “Não esquenta comigo. Isso não é nada. Mais importante, como estão os outros?”

    Yoshiro olhou ao redor, Rider imitou o gesto. Estavam todos espalhados, até mesmo os três soldados. 

    Pareciam que estavam todos mortos, mas eles se levantaram um a um, o que foi um grande alívio.

    Rider decidiu verificar como eles estavam e recebeu ajuda dos que estavam em melhores condições. A explosão tinha sido praticamente à queima-roupa, sem dar a eles a chance de sequer tentar escapar, então havia bastante gente ferida, precisando de tratamento. 

    “Vocês estão de brincadeira?!” 

    Viktor, de repente, elevou seu tom, as veias saltando de seu rosto. Ele caminhou entre os agentes caídos, havia sangue escorrendo em seu rosto. 

    “Tanta gente aqui e ninguém foi capaz de perceber que ela poderia explodir? Vocês são um bando de incompetentes!”

    Sem dar a mínima para como os agentes estavam, ele continuou a xingá-los, afirmando que só estavam vivos graças a ele. 

    Os agentes só conseguiram assistir seus gritos em silêncio. Do que esse merda estava falando? Era o que eles pensavam, já que a participação do suposto você-capitão fora mínima e só tinha dado o pontapé necessário para começar.

    “Ei, Viktor”, a garota da equipe o chamou. “Você não acha que tá sendo arrogante demais?” Como a gente saberia que ela ia fazer uma coisa tão absurda?”

    “É. Vai dizer que você sabia?” O outro se intrometeu. 

    Então uma onda de rebelião contra Viktor se iniciou. Por que diabos ele tinha sido escolhido como vice-capitão? O alvo dos questionamentos, ficou extremamente irritado. 

    “Grr…! Porque eu fui escolhido não importa! Mas a partir do momento que o verme da Black Room me escolheu como vice-capitão, vocês estão sob meu comando! Se insistirem nisso, vou delatá-los por golpe e traição!”

    O clima pesou entre os agentes. Apesar de ser um completo idiota, ele tinha ciência das regras. E todos ali sabiam que desobedecer um superior era passível de punição de acordo com o grau da infração. 

    E naquele local, sem outras testemunhas além do que estavam ali, sem ao menos saberem se o restante do grupo estava vivo… Não havia muito que pudessem fazer. Provar a inocência deles no caso de uma falsa acusação seria extremamente trabalhoso. 

    Ainda mais quando nem estavam numa missão dada pela Strike Down. 

    Porém, enquanto suas cabeças martelavam as consequências disso, Rider se pronunciou, após ouvir tudo em silêncio. 

    “Olha, eu não quero interferir nessa discussão, mas vou pedir apenas duas coisas. A primeira é que não falem assim do nosso capitão e a segunda, temos feridos aqui, o ambiente é hostil, então peço um pouco de sensatez da parte de vocês.”

    Enquanto perdiam tempo com algo tão fútil, eles poderiam ser atacados novamente, e naquela situação, seriam todos eliminados se um grupo como o da outra vez surgisse ali. 

    Ficou um silêncio absoluto. Parecia que até mesmo Viktor sabia pesar as coisas numa balança. Furioso, ele estalou a língua e se afastou, deixando os outros lidarem com os feridos. 

    Rider e Yoshiro conseguiam ouvir os burburinhos quase céticos do comportamento arrogante de Viktor, além de receberem olhares desdenhosos vindos dos agentes da Strike Down. 

    Provando isso, eles e os três soldados eram os únicos que se ajudavam, já que os outros estavam focados em si mesmos, ignorando-os quase completamente.  

    Depois de algum tempo, eles estavam prontos para partir, quando uma sentinela do céu apareceu de repente e começou a voar em círculos acima deles, fazendo um barulho que parecia perfurar seus ouvidos e penetrar em suas mentes. 

    “Outro monstro! Façam direito dessa vez!”

    Viktor ficou observando enquanto esperava que os agentes ao seu suposto comando fizessem o trabalho. Ele simplesmente ignorou o fato de que estavam feridos — ele era do tipo que se assentava no pódio e deixava todos trabalharem por ele, sem mover um único dedo para ajudar. 

    Porém, antes que pudessem fazer algo, foram abordados com tiros congelantes que levantaram pequenas peças de gelo sob seus pés. E então uma tropa de guardas de Nevéria os cercaram antes que eles percebessem. 

    “Quem diabos são vocês?!”, gritaram. 

    Mas não houve resposta. Um homem de cabelos grisalhos atravessou no meio dos guardas. Dava para ver em seu olhar uma chama ardendo intensamente, assim como havia uma expressão raivosa no rosto. 

    “Eu vou mandar uma única vez”, disse. “Rendam-se e não tentem nenhuma brincadeira.” Sua voz carregava um tom severo, mostrando que Lawren estava farto de alguma coisa. 

    Sua lâmina fora da bainha tinha um brilho misterioso e parecia pronta para cortar quem fosse necessário. Dava para sentir sua hostilidade de longe. 

    “Quem é você?! Como consegue falar a nossa língua?!”

    Enquanto todos perceberam o perigo que estavam correndo, Viktor foi o único que deixou de ligar para qualquer coisa. 

    “Se me questionar mais uma vez, cortarei suas mãos e te arrastarei até a prisão. Fiquem calados e se rendam.”

    Os guardas também tinham uma aura densa. Eles não pareciam ser meros comandados. 

    São os nativos?

    Rider não pensou que os encontraria tão cedo. 

    Mas essa situação é ruim. Esse cara parece tá muito irritado com algo… Ele não tem obrigação nenhuma de ser cuidadoso. Seria melhor nos rendermos aqui. 

    Ainda mais quando tinham feridos no grupo. Lutar ali estava fora de cogitação. 

    Mesmo assim…

    “Vai pro inferno, seu merda!” Viktor partiu para cima de Lawren, a neve abaixo dele derreteu instantaneamente, havia brasas emanando de seu corpo. “Tá achando que pode aparecer assim e mandar em mim?! Vai se foder!”

    Ele apertou o passo, uma esfera em chamas em sua mão direita, a qual ele planejava empurrar contra o peito de um dos capitães de Nevéria. 

    “!”

    Ele estava perto, mas de repente o homem desapareceu de sua visão.

    “Girk—!”

    Viktor só percebeu quando mordeu a língua e caiu, após sentir uma rocha cair em cima de sua cabeça. Lawren estava atrás dele, desferindo uma cotovelada violenta no garoto impulsivo.

    “Eu já disse pra não resistirem.”

    Ele olhou para os demais, Viktor pateticamente sob seus pés. 

    “Eu nem vi ele se mover”, comentou Yoshiro, apoiado no ombro de Rider. 

    “Eu também não.”

    Certamente ninguém tinha visto, dadas as suas caras de espanto. 

    Com o vice-capitão incapaz, eles apenas aceitaram ir com eles. Era infrutífero tentar resistir, todos estavam cientes. E talvez fosse uma boa forma de conseguir ajuda para encontrar Takeda e os outros.

    Mas isso só durou até eles entrarem na cidade por um portal subterrâneo.

    Ficaram maravilhados com o reino a princípio, mas tudo isso ficou de lado quando Viktor acordou e teve um surto. 

    Ele incendiou os guardas e forçou toda a equipe a fugir pela cidade. Fazendo todos se tornarem fugitivos em menos de três horas após entrarem no reino de Nevéria. 

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