Capítulo 148 - Inverno festivo III
O anúncio chegou aos ouvidos de Kaelric como uma lâmina gelada rasgando o tecido dos planos criados antes — tão súbita quanto uma explosão.
No momento em que ouviu sobre manter o festival até a manhã seguinte, o ar travou em seus pulmões.
“Isso é insânia”, explodiu. “Até onde esse maldito planeja ir?!”
A frase foi cuspida como uma maldição. Foi a primeira vez que sua filha viu o homem por trás da máscara de líder: os olhos ardendo e os punhos cerrados sobre a mesa de madeira.
Mas ninguém podia culpá-lo — a sentença de morte havia sido decretada com tinta dourada ao som de tambores e urros de alegria.
Kaelric não hesitou. Ele logo deu a ordem.
“Preparem-se. Agora!”
A oposição logo se moveu. Inundaram as ruas com movimentos rápidos e ágeis. Os primeiros alvos foram os guardas, que sofreram golpes não letais, mas com a única intenção de semear a desordem.
Uma nova missão estava em suas mãos: transformar o primeiro dia do evento num dia caótico. Eles só precisavam assustar todos e fazê-los irem para suas casas, e para isso, tiveram de causar tumulto.
Um ataque contra o príncipe Kaeelen foi o gatilho para o caos.
Algo voou sobre a multidão e estourou aos pés da guarda real — uma esfera de fumaça negra e espessa. Quando a cortina engoliu o ar, sons de lâminas ecoaram como trovões.
Os guardas fizeram uma muralha em torno do herdeiro, e a Comissão emergiu das sombras, afiados como adagas.
A multidão se assustou. Ficaram em pânico.
Gritos cortaram o céu como flechas. A multidão que antes dançava, agora corria. Pés descalços raspavam o chão. Crianças choravam, velhos caíam. Mãos tentavam agarrar mãos, mas se perdiam num vai-e-vem de corpos sem direção.
As pessoas se empurravam, num campeonato selvagem pela sobrevivência.
“Não temos muito tempo”, reforçou Kaelric. “Obriguem todos a saírem das ruas.”
Eram os membros da oposição contra centenas de guardas e assassinos da Comissão. De todos os ângulos era possível vê-los se enfrentando ferozmente, enquanto fogos explodiam no céu e fumaças preenchiam as ruas extremamente agitadas.
“Agora é nossa chance”, disse Takeda aos seus companheiros, sinalizando a deixa para irem atrás de Viktor.
Eles não perderam tempo. Correram contra a multidão, trombando em várias pessoas, até onde tinham visto o garoto antes.
Gunner foi o primeiro a encontrá-lo. Ele avançou — o punho já estava no ar. Viktor percebeu no último segundo e se esquivou, sentindo o soco cortar o vento.
Ele tentou dizer algo, mas Gunner tinha um sorriso insano no rosto, então iniciou uma série de socos destrutivos contra ele. Cada punho rasgando o ar era como um aviso: se apenas um o atingisse, o dano seria irreversível.
Viktor estalou a língua ao desviar. Sabia que não tinha chances numa luta corporal. Ele saltou para longe, mas acabou sendo recebido pela adaga de Sky que cortou suas costas de forma impiedosa.
“Tsc”. A garota estalou a língua ao ver que não causou um único arranhão.
Viktor deu sorte daquele manto branco ser de um tipo de couro bem resistente.
Ele parou. Percebeu que estava cercado por seus próprios companheiros de equipe. Rider e Yoshiro se juntaram aos outros dois, bloqueando suas rotas de fuga.
Sem que o garoto percebesse, tinha sido guiado para longe do caos da cidade.
“Pensei que vocês fossem mais inteligentes que isso”, cuspiu com desprezo.
“E você se acha esperto depois do que fez?”
Takeda apareceu atrás deles, os passos pesados, e então parou ao lado de Sky, fitando o, agora, ex-vice-capitão.
“Eu só tomei a atitude que vocês deveriam ter tomado!”
“Suas ações inconsequentes custaram várias vidas”, rebateu o capitão com um tom sombrio que fez Viktor recuar um pouco.
“Bobagem! Que tipos de idiotas vocês são para jogar a própria vida fora por um bando de desconhecidos?! Qual é a grande dificuldade de ver que isso não é problema nosso?!”
“É essa sua visão que te torna um problema, Viktor”, disse Rider. “Você tá com medo? Um agente deveria estar sempre pronto pra lutar contra esse tipo de coisa.”
“Ah! Já entendi.” Gunner deu um passo à frente, dedo apontado como uma arma. “Você é daqueles que só entram nessa pelo dinheiro né? Hah! Um covarde mesmo… covarde e cuzão.”
Viktor rangeu os dentes. O sangue fervendo em suas veias. Ele esbravejou:
“Vai se foder! Você não entende porra nenhuma! Vocês não entendem! Se fossem minimamente racionais, a gente já teria ido embora. Mas, não! Os otários aqui decidiram bancar os heróis.”
Os punhos cerrados do traidor tremiam freneticamente, a ponto de fazer suas mãos sangrarem.
“Essa palhaçada de divindade… Vocês são um bando de cegos! Todos aqui são! Ficam cultivando essa merda e se matam por porcaria—”
“Já chega.” Takeda deu um leve suspiro. “O que você fez é imperdoável. Você vem com a gente. E quando voltarmos, vou relatar todo esse comportamento aos seus líderes. Se você se comportar, vou considerar não escrever uma carta de repúdio.”
Ele gesticulou para que seus soldados prendessem o garoto. Mas como esperado, Viktor reagiu. Suas mãos se incendiaram, e seus olhos queimavam com ameaças.
“Vão se ferrar. Se querem morrer aqui, dane-se! Eu não vou ficar!”
Ele encarou todos, seus olhos cheios de uma determinação quase doentia.
“Qual é o seu problema?!”
“O meu problema é que eu não tô nem aí se esse povo quiser se afundar nessa ilusão ferrada. Eu vou sair daqui com vocês ou sem.”
Todos prepararam-se para um embate, foi quando a pedrinha de Takeda brilhou mais uma vez.
Era Kaelric.
“Onde vocês estão? Precisam voltar agora!” Sua voz tinha um tom urgente.
“Não se preocupe. Logo voltaremos—”
O capitão mal terminou de falar e chamas cobriram toda a viela em que estavam, emitindo um calor que poderia fundir ferro em poucos minutos.
Era óbvio o que estava acontecendo.
Takeda se protegeu das chamas, ao mesmo tempo que gritava para não deixarem Viktor escapar, mas já era tarde demais quando o fogo se extinguiu num passe de mágica, deixando para trás apenas um calor residual, acompanhado de um silêncio frustrante e uma paisagem carbonizada.
“Aquele merda conseguiu escapar!” Gunner explodiu.
“Ele não deve ter ido muito longe. Se a gente for logo podemos encontrá-lo.” Sky também estava com o sangue fervendo.
A dupla estava pronta para a ação. Eles poderiam procurar Viktor de novo, e então prendê-lo sem falhas. Mas Rider gesticulou para eles esperarem.
Takeda guardou a pedrinha brilhante. Ele soltou um suspiro, e piscou os olhos lentamente. Logo voltou à sua equipe.
“Não. Não vamos atrás dele”, disse.
Sky e Gunner questionaram com olhares de indignação, mas então o capitão explicou de forma rápida e curta.
“Nós temos que voltar agora.”
“Vamos simplesmente desistir?”
“Eu também quero que ele pague por seus crimes de acordo com nossas regras. Mas ele vai ser punido de uma forma ou de outra.”
Takeda disse a última parte com certa frieza na voz, já sabendo o que esperar para o dia seguinte.
Não tinha como mudar o que estava para acontecer. Com sentimentos amargos e grande indignação por não terem capturado Viktor, eles saíram da viela.
A cidade estava coberta por fumaça, o cheiro de poeira e cinzas impregnou suas narinas. Já não restava ninguém além dos poucos soldados que corriam de um lado para o outro, fazendo uma última verificação atrás dos terroristas que atrapalharam o desfile.
Furtivamente, eles atravessaram as ruas, e então retornaram para a base da oposição, onde estavam todos.
<—Da·Si—>
Algumas horas antes.
Mayck e Eirlys estavam seguros depois de escaparem com êxito dos assassinos. Ainda andavam com cautela, mas puderam relaxar um pouco.
Eles caminhavam pela cidade, vagando entre a multidão extasiada com o festival, que escondia suas sombras por trás de tanta comemoração.
Cabisbaixa, a princesa encarava o chão de pedras retangulares sob seus pés. Após o frenesi da fuga abaixar, sua mente foi novamente inundada pelo que encontraram na câmara secreta de Arden.
Incomodado com o silêncio, Mayck pensou que deveria amenizar aquele clima estranho, ou pelo menos aliviar o peso da garota. Ele a olhou de relance.
“Então…, o que você pretende fazer agora?”
Quando ele perguntou, ela soltou um “huh?!” nervoso, ao ter seus pensamentos interrompidos tão abruptamente.
“Você parece tensa. Deveria relaxar um pouco. Já pensou no que fazer depois?”
A garota olhou para frente, a mão direita sobre o peito.
“É difícil responder assim, de repente… eu ainda não consegui pensar em nada. Foi… um pouco chocante… Sinceramente, não consigo acreditar que algo tão terrível realmente aconteceu naquela época…”
Seus olhos se guiaram para os residentes festejando. Havia algumas crianças brincando com o que parecia ser bandeiras representando Nivorah.
“E mesmo agora… Não quero acreditar que uma pessoa está para ser entregue a um…”
Ela parou de repente. Mayck completou:
“Um monstro?”
Ela certamente não conseguiria dizer isso de algo que foi sua crença desde que nasceu. Ela assentiu, hesitante.
“As pessoas saltam, dançam e sorriem. Elas dão adeus a pessoas amadas, confiando cegamente que os tais estarão num lugar divino, ao lado de Nivorah.”
“…”
“E também… a minha mãe…”
Ela abraçou o seu próprio corpo, tentando aquecer aquele frio repentino que pairou sobre ela.
“Minha mãe foi entregue a um monstro”, disse, por fim, sua voz soava dolorosamente, como se espinhos perfurassem sua garganta.
Mayck viu os olhos dela perderem o brilho, como se tudo ao redor estivesse se desvanecendo lentamente. O rosto de Eirlys ficou inexpressivo, frio. Ele sabia exatamente o que isso significava.
Ela estava afundando. E ele já estivera lá antes.
Mas não disse nada. Porque não sabia o que dizer. E porque, no fundo, talvez não houvesse nada capaz de aliviar aquela dor.
Eirlys falou de novo, com a voz contida.
“Naquela época, eu pensei que superaria logo. Pensei que minha mãe estaria me observando, ao lado da divindade…”
Ela fez uma pausa. Os olhos vagaram pelas lanternas do festival.
“Mas eu estava errada. Ao contrário de toda a minha ilusão, ela foi forçada a um destino terrível…”
Os punhos cerrados estremeciam, assim como os lábios e os olhos avermelhados.
“Que tipo de crimes ela cometeu para sofrer assim?”
Não haveria uma justificativa. Pelo menos não naquele momento.
“Talvez não tenha cometido nenhum crime”, respondeu Mayck. “As pessoas se vão. As vezes de forma injusta, e não dá tempo pra perguntar os motivos. A pergunta que tem que ser feita aqui é… O que você pensa sobre isso tudo?”
“O que eu penso…?”
“Mm.” Ele assentiu. “Você tem que escolher entre acreditar e não acreditar na sua mãe. O resto você pode decidir depois. Além do mais, você já sabe o caminho, não é?”
Eirlys o olhou. O brilho em seus olhos retornou.
Ele não estava errado. Se alguém tivesse as respostas que ela queria, esse seria o homem por trás de toda a sua aflição.
“Ao invés de se perguntar se sua mãe fez algo de errado, pense no porquê de Arden estar fazendo isso. Mude o foco, e então você pode resolver o problema.”
Mayck parou um pouco à sua frente. Ele a encarou. Então estendeu sua mão.
“Se a verdade for chocante demais, eu vou estar com você nesse momento.”
Suas palavras soaram como uma mágica suave, que paralisou o festival ao redor deles. Os passos e risos ficaram abafados, distantes. Algo balançou no peito de Eirlys… então ela sorriu.
“Você tem razão. Eu não posso simplesmente me deixar derrubar por esses sentimentos sombrios. Como a princesa de Nevéria, devo erguer minha cabeça, é assim enfrentar tudo o que vier. Como minha mãe fazia.”
Afinal, essa era a imagem que sempre estiveram em sua mente. A antiga rainha não era uma mulher frágil. Ela possuía uma força interior maior que a dos outros. Disso, a garota tinha absoluta certeza.
A minha visão sobre ela não vai ser manchada. Nunca.
Ela estendeu sua mão. A de Mayck era fria. As pontas dos dedos estavam avermelhadas. Isso valia para os dois.
Sem olhar para trás, seguiram rumo ao castelo, prontos para jogar as cartas na mesa, e então revelar a verdade por trás de tudo o que estava acontecendo.
<—Da·Si—>
Arden estava sentado sobre o trono. Os guardas nos pés das escadas, formando uma fila até a porta na outra extremidade da sala.
O clima ali era sufocante. Ainda pela manhã, Arden recebeu a notícia de que Eirlys havia desaparecido. Já estava quase na hora do desfile e nada dela.
Kaeelen entrou pelas portas com um baque.
“Ainda não a encontraram?” Ele parecia nervoso.
“Ainda não, meu senhor. Mas estamos fazendo o possível”, respondeu um dos guardas.
“Isso é terrível… O que pode ter acontecido?” Dava para ver os desespero nos olhos dele.
“Acalme-se, Kaeelen. Não é necessário tanto alarde”, Arden falou, repousando calmamente em seu trono.
O príncipe contestou:
“Como pode estar tão calmo, meu pai?! Eirlys não foi vista desde a noite anterior… Isso pode ser obra dos opositores. Até mesmo dos tais forasteiros.”
Se fosse um caso de sequestro, então ele estava certo ao se alarmar, mas a calmaria do rei o deixava confuso, um pouco atônito.
Então Arden disse:
“Você não está errado. Mas espere um pouco, e então verá o que vai acontecer logo.”
Kaeelen franziu o cenho, se perguntando sobre o que seu pai estava falando, mas antes que pudesse questionar, as portas da sala do trono rangeram e foram abertas.
A atenção de todos os presentes se voltaram para ela, e depois para a dupla que adentrou com passos leves. Eles seguiram até diante do príncipe, então pararam.
A expressão do jovem se aliviou brevemente ao ver sua irmã atravessar a sala.
“Eirlys! Onde você esteve esse tempo todo? M estava com você? Ah… Isso é ótimo. Não tem nada de errado, tem?”
Ele a verificou com toda a atenção que fora capaz de reunir, checando se ela estava bem. Avistou um pouco de poeira e sujeira em seu vestido branco que o deixou preocupado.
No entanto, ignorando seu irmão, Eirlys olhou diretamente para o rei.
“Meu pai. Tenho algo muito importante para discutir.”
Arden estreitou os olhos.
“Eu quero saber a verdade sobre o que aconteceu dez anos atrás… sobre o que aconteceu com a minha mãe.”
“Então você realmente esteve lá. Foi você quem roubou o meu anel?” Ele a enviou um olhar incisivo. Certamente já sabia a verdade, mesmo assim, Eirlys hesitou.
Então Mayck tomou a frente, vendo que ela precisaria de mais um empurrãozinho até que pudesse buscar toda a verdade.
“Eu a pedi pra fazer isso. Acho que você não tem mais escolhas, Arden.”
Kaeelen estava alheio a toda a situação. Seu olhar perplexo tentava acompanhar o ritmo da conversa, mas ele não conseguia chegar a uma conclusão por mais simples que fosse.
“O quê—? Onde estão os modos de vocês? Como podem se dirigir ao seu rei de forma tão rude?!”
Era um tom inimaginável de se usar com o homem à frente. Mesmo assim, ele não pôde deixar de pensar que algo estava errado.
Afinal, a tão sempre gentil e respeitosa Eirlys estava fazendo isso.
“Deixe-os, Kaeelen. Esse foi o caminho que sua irmã escolheu.”
“Hã? O que isso significa?”
“Já deveria estar claro, não? Esse garoto, M, ele é um dos forasteiros e sua irmã está aliada a eles”, afirmou o rei, como se armasse uma bomba e saísse para um jantar no meio da noite.
O príncipe engasgou com suas próprias palavras, tropeçando em cada tentativa de dizer algo. Sua expressão se contorceu, ficou sombria, atônita. Ele girou o pescoço na direção de Mayck.
“Você… Isso é verdade?”
O garoto não negou. Apenas manteve o silêncio, enquanto sua face inexpressiva gritava: não era óbvio?
“Eirlys… Você está ao lado de um terrorista.”
“Isso não é verdade, irmão. Você precisa saber o que está acontecendo de verdade. Tem muita coisa por trás disso.”
“Não dê ouvidos a ela, Kaeelen. Já faz muito tempo que ela foi corrompida pelos ideais da oposição, acreditando cegamente que nosso reino precisa mudar.”
“Pai! Por que está fazendo isso?!”
O rei olhava friamente para a princesa, pronto para rebater qualquer coisa que ela dissesse e puxar ainda mais o príncipe, que já estava desolado.
“Você traiu o nosso reino, Eirlys?”
“Não—!”
“Por qual motivo você faria isso?”
“Kaeelen! Você precisa me entender. Nada disso é real. Nivorah, o ritual. Isso tudo não passa de uma mentira—”
A garota se calou quando seu irmão lhe lançou um olhar de pena, como se visse um louco sem salvação à beira da estrada proferindo palavras sem sentido.
“Ela despreza Nivorah…”
Ele pôs a mão sobre o peito, sentindo um aperto imensamente doloroso. Seus olhos estremeciam, incapazes de enxergar a garota que estava ali à sua frente.
“Isso… não devia estar acontecendo. Por que minha irmã…? Por que justo ela se tornou uma corrompida?”
Impassível, Arden assistiu ao desenrolar sem mudar nada em sua expressão. Até que disse:
“Kaeelen. Tenho uma tarefa importante pra você. Quero que vá ao desfile e então anuncie ao povo. Diga que o desejo de Nivorah, é que continuemos oferecendo nossas preces e cantos até o amanhecer.”
Eirlys imediatamente ficou pálida.
“Huh…? O que você está dizendo? Você está tentando matar seu povo?”
“Tudo bem. Farei como o senhor deseja.”
Ao contrário de como seria normalmente, Kaeelen não questionou as ordens, embora soubesse o que estava em jogo; pelo contrário, ele simplesmente obedeceu.
“Irmão?! Isso é loucura! O que pensa que está fazendo?!”
Ele não deu ouvidos a ela. Quando tentou impedir, dezenas de espadas foram postas em seu caminho. O príncipe se arrastou para fora, as portas se fecharam atrás dele.
“Isso é divertido pra você?” Mayck se virou para Arden.
“Divertido? Não diga bobagens. Estou fazendo isso pelo bem de todos nós.”
“O bem? Você vai matar todo mundo!” Eirlys sentiu seus pés vacilarem, enquanto o brilho das lâminas a ameaçavam.
O rei se levantou. Ele desceu do trono lentamente.
“Como você mesma disse: isso tudo é uma mentira. Tudo o que existe aqui, foi baseado no medo e cresceu como uma ilusão.”
Ele parou diante de Eirlys. Sua estatura criou uma sombra sobre ela.
“Você nunca deveria ter feito isso, minha filha.”
Ele estendeu a mão. Eirlys hesitou, mas um toque de Mayck em suas costas a fez entregar o anel. Arden o colocou de volta no lugar do qual nunca deveria ter saído. Então deu as costas para os dois.
“O que você planeja de verdade?” O garoto tomou a frente.
“O que eu planejo? A libertação do reino. Eu quero acabar com essa mentira que já durou tempo demais.”
“E destruir tudo é a única saída? Você pretende salvar as pessoas enviando-as para a morte?”
“Mm… Essas palavras… Foi Kaelric quem te falou isso? Aquele tolo disse a mesma coisa anos atrás. Agora ele luta contra mim. Inutilmente, achando que pode parar algo que já está concretizado.” Ele deu de ombros, então sentou-se novamente.
“Acha que ele não tem chances?”
“A única garantia aqui, sou eu. Dessa vez… Ninguém vai me impedir.”
Ele apertou os punhos, encarando-o, como se estivesse prendendo algo entre os dedos.
Arden levantou os olhos, ele olhou diretamente para o rosto de Eirlys. Era a primeira vez que a via com uma expressão tão amarga. Não podia dizer que aquilo não lhe causou um aperto no coração.
Após uma breve pausa, ele disse mais:
“Desde o começo, esse lugar foi construído em mentiras. Não há divindade. Não há bênção. Quando o antigo rei… quando meu pai percebeu isso, ele tentou parar um ciclo de sacrifícios injustos, mas falhou. Então toda a família real pagou por isso.”
Apenas ele sobreviveu. Em meio a cidade em chamas, ele fora obrigado a fugir, enquanto sua família era forçada a se entregar ao monstro para redimir o pecado do rei.
“Mas sair de Nevéria é impossível. Há um efeito sobre essa cidade, e assim que pisei fora das barreiras, meu corpo começou a congelar desde o meu coração. Estava tudo perdido pra mim. Mas aquele homem me salvou. Ele me deu um propósito. Me fez voltar.”
Agora, Arden estava prestes a concluir seu objetivo de vingar sua família e destruir Nivorah, com o poder que aquele homem lhe deu.
“Esse lugar é uma prisão. As pessoas aqui estão fadadas a um ciclo de sacrifícios sem fim. Eu serei aquele a interromper isso e destruir aquele ser que me tirou tudo. Desde os meus pais, até a minha esposa.”
Por fim, ele acrescentou:
“Não posso permitir que vocês me atrapalhem. Guardas. Levem-nos.”
Os soldados obedeceram às ordens e se aproximaram mais, pontos para imobilizar os dois jovens.
“Isso é ridículo… Você só vai causar mais destruição!”
“O que eu comecei, está feito. Não há como voltar atrás.”
Ele gesticulou, então quatro soldados os empurraram para fora da sala do trono, tratando-os como criminosos.
Seriam conduzidos para a Prisão das Árvores Acentuadas, sem dúvidas.
Eirlys não tinha mais palavras. Passando pelas janelas, ela viu fumaça negra subindo aos céus. O caos tomando conta do lado de fora. Ela ficou horrorizada.
“O que eles estão fazendo…? O que está acontecendo lá fora?”
“Acho que a oposição não gostou muito da notícia.”
E então decidiram atacar.
Isso significava que o plano tinha dado errado? Era óbvio que a mensagem de Arden os faria se mover. Em hipótese alguma eles permitiriam que as pessoas ficassem fora de suas casas durante a noite.
Foi uma jogada realmente ousada por parte dele.
“E aí?” Mayck olhou para Eirlys enquanto eles eram conduzidos pelos guardas silenciosos. “Você já desistiu?”
Ela lhe lançou um olhar sem brilho, como se dissesse “não há nada que possamos fazer”, mas antes que pudesse colocar isso em palavras, Mayck continuou:
“Olha só, eu não sou do tipo que acende a fogueira e vai embora. Eu fico meio irritado se não conseguir terminar algo que eu comecei.”
“Mas o que a gente pode fazer agora…?”
Ao que tudo indicava, Arden tinha vencido. Esse era o prazo final para interrompê-lo.
“Relaxa. Eu tenho um plano.”
“Plano?”
“Uhum.”
A garota não conseguia dizer o que, mas ela viu algo nos olhos dele, e antes que pudesse piscar, os dois guardas da frente foram arremessados para longe por alguma força misteriosa.
“?!”
Antes que os guardas atrás deles pudessem compreender o que aconteceu, foram jogados contra a parede, que quebrou em forma de teia; ficaram inconscientes na mesma hora.
Eirlys, atônita. Ela gaguejou algumas palavras, mas Mayck a cortou.
“Eles não morreram”, disse, apesar das armaduras terem virado sucata.
Eles ouviram gritos. Eram os outros dois soldados e mais alguns que ouviram os barulhos e correram em socorro dos colegas.
“A gente vai fugir de novo?”
Eirlys olhou para a janela ao seu lado, enquanto os guardas vinham aos montes, gritando ordens de parada. Ela provavelmente estava torcendo para não a pularem outra vez.
“Não podemos sair, esqueceu?”
Embora não soubesse realmente o porquê, ele sabia que não poderiam estar do lado de fora após o sol se pôr. Aliás, o céu alaranjado estava lentamente escurecendo.
Sem mais perguntas, assim que os guardas se aproximaram, Mayck contraiu seu braço direito e então o jogou para frente. Uma corrente de ar rasgou o corredor, derrubando os soldados como pinos de boliche.
“Vem.”
Ele puxou a princesa pela mão e fugiram mais uma vez pelos corredores do castelo.
Olá, pessoal. Já faz um tempo…
Tempo, hein…
Primeiramente quero me desculpar pelo atrasos nos capítulos. Ultimamente tem sido bem corrido do meu lado, a cabeça cheia de coisas, e eu acabo deixando de escrever. Mas eu não pretendo parar com a história antes de acabar (a não ser que acontece algo inevitável)
Então me perdoem pelos atrasos e continuem lendo a história. Compartilhem com os amigos ara eu atingir mais leitores.
Muito obrigado e bom fim de semana ; )
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