Índice de Capítulo

    Alinhado ao erguer da espada de Arden, um urro abissal ecoou pelas terras de Nevéria — um chamado profundo, carregando um peso obscuro. 

    O reino inteiro ouviu. As lâminas caíram, calafrios se espalharam como uma doença, e as mentes imediatamente se perturbaram. 

    A praça principal foi tomada por um silêncio sufocante. 

    Então, um pavor recaiu sobre eles na forma de uma densa cortina de névoa, que refletia um brilho azul difuso. O ar úmido — sufocante, congelava seus pulmões. 

    Ninguém percebeu quando ela começou a cobrir seus pés. Agora, ela cobria o reino por inteiro. E o silêncio sobrenatural pesava em seus ouvidos. 

    Elira tentou contatar Kaelric. Mas não houve resposta — apenas um chiado na pedra, que se recusava a brilhar como sempre. 

    “O que está acontecendo?”

    Ela se via completamente isolada de todos, e não fazia ideia sobre a situação dentro do castelo. Primeiro uma explosão incomum, um uivo e então a névoa assustadora.

    Se tivessem vencido, o ritual seria terminado, e então a família Coldheart cairia. Mas se tivessem perdido… então essa sequência poderia ser o resultado.

    Um sentimento sombrio pairou sobre ela. 

    Estendendo a mão, ela parecia se perder em algum lugar desvanecido e seus pés pareciam mergulhados em algum mar de neve intocável. 

    De qualquer forma, nesse momento, ela precisava encontrar seus companheiros. Mas como vagar sem poder enxergar nenhum passo à frente?

    Antes de prosseguir, ouviu o estalo seco de gelo se rachando. Ecoou várias vezes e sempre era seguido de um grito distante. 

    E também…

    Isso dói…

    Vozes.

    Me salve…

    Cada uma parecia um pedido de socorro  direcionado assombrosamente à ela. E isso lhe causava calafrios intensos. 

    Olhou para todos os lados, ofegante, o coração disparado. 

    Ouviu sussurros. Também ouviu tiros e gritos apavorados. Alguns bem distantes, outros bem próximos. 

    Era como se uma peça tivesse começado de repente, sem nenhum aviso. 

    O que está havendo aqui?

    Seu corpo frio por fora, mas por dentro parecia incendiar. 

    Ela sentiu algo se aproximando e se virou instintivamente.

    Então uma lâmina deslizou perto de seu pescoço, mas ela pôde desviar no último segundo. 

    A lâmina tilintou aos seus pés. E uma garota caiu de joelhos, o rosto pálido. Os olhos em lágrimas e os tremores mostravam que estava com a mente completamente perturbada. 

    “Ei! O que aconteceu?!”

    Elira se abaixou para ajudá-la, mas a garota não estava em condições de responder. 

    “Não… não… eu não fiz nada…! Me deixem em paz!”, gritava, enquanto apertava as mãos contra os ouvidos em um surto completo. 

    “Se acalme, por favor…!”

    Ela continuou tentando acalmar sua companheira, mas não teve sucesso.

    E nunca teria, já que ela mesma estava cedendo àquela pressão sombria que se aproximava cada vez mais. 

    E que foi mais rápido do que ela esperava. 

    Em um momento de desatenção, algo surgiu atrás dela. Bem próximo. Uma sombra cujos olhos eram nada mais que um vazio, inconsciente. 

    Houve outro estalo. O coração de Elira disparou. Seu corpo paralisado não respondia aos comandos do cérebro. E uma voz, que não era a sua, ecoava em sua mente. 

    Devolva… Eu não quero morrer…

    Até mesmo seus próprios pensamentos se perdiam naquela enxurrada de lamentos perturbadores. 

    Ela apenas fechou os olhos, incapaz de ter qualquer outra reação. 

    “Elira! Abra os olhos! A luta ainda não acabou!”

    Um lampejo de salvação.

    A mulher abriu os olhos para a voz. Era um de seus colegas capitães. 

    Ele estava de pé, a espada empunhada na direção da sombra, que se recuperava lentamente. 

    “Levanta. Temos sérios problemas agora.”

    “Ce-certo…”

    Voltando a si, ela deitou a garota, que tinha ficado inconsciente, no chão, e olhou ao redor. 

    A névoa estava menos densa, mas seus olhos se arregalaram por testemunhar algo muito pior. 

    Eram centenas. Não. Milhares de sombras distorcidas avançavam freneticamente, como animais selvagens, sobre os soldados e opositores, sem exceção. 

    Eles passavam como um enxame de pragas devoradoras, e ao passarem, deixavam apenas rastros de sangue, carne e ossos — nem mesmo as fortes armaduras de aço dos soldados eram capazes de conter aquela fúria sanguinária. 

    O caos havia começado. Vários corriam horrorizados, outros tentavam desesperadamente frear aqueles seres macabros. 

    Mas mesmo causando feridas que deveriam ser fatais, seus oponentes não eram humanos; seus corpos se ligavam por fios de sombras, em meio a gritos pavorosos. 

    Eles não tinham chance alguma. Era como um extermínio macabro, onde eles eram as presas. 

    E não havia sequer uma rota de fuga. 

    ****

    Nesse momento, Arden se sentia realizado. Uma sensação de satisfação. Um calor em seu peito que era como a recompensa por todos os seus anos de trabalho árduo. 

    Enquanto isso, a lâmina irradiava a sala completamente com seu brilho vermelho pulsante, na névoa ligeiramente desvanecida, que entrou no castelo. 

    “Não há… um escolhido?”

    A informação ainda era demais para que os opositores pudessem digerir. 

    “Então… nós perdemos?”

    Eles se entreolharam, quase concordando que o futuro que os esperava era a destruição. 

    “Sim. Esse é o fim que aguarda Nivorah. Com essa espada, eu obterei seus poderes. E vocês estão prestes a testemunhar isso.”

    A espada deslizou com a ponta para o chão, e Arden desceu as escadas lentamente. 

    Kaelric fez o movimento de preparar sua arma e todos o acompanharam, mas ninguém fez o movimento real. 

    Então Arden disse:

    “Já começou. Ou vocês não perceberam o que está havendo lá fora? A partir daqui, eu sou o único capaz de proteger este reino destinado a ser soterrado pelo gelo.”

    Ele seguiu em frente até desaparecer pelas portas da sala, deixando para trás os opositores confusos. 

    Após sua saída, um burburinho começou entre eles. 

    “Ele está falando sério?”

    “Nivorah… vai ser destruída?”

    “Líder, a gente não deveria ir atrás dele?”

    “Líder. Diga alguma coisa.”

    “O que vai acontecer agora?!”

    Os questionamentos infindáveis direcionados à Kaelric encheram sua mente. Ele apertou o cabo da espada, suas veias saltaram. Os dentes rangidos e sobrancelhas tremendo. 

    “Kaelric”, repetiam sem parar, buscando um caminho. 

    A chama de determinação que eles possuíam minutos atrás agora era apenas uma fagulha. 

    Enquanto isso, o homem em questão, estava quase tendo um distúrbio mental. 

    Ele é o único capaz? Que porcaria está dizendo? Não há um escolhido. Nivorah vai despertar por completo. O que está acontecendo lá fora? Nós perdemos? Mas que—

    “Kaelric.” A mão de Takeda pousou em seu ombro, fazendo-o voltar a si e olhar para ele. “Você precisa manter o foco.”

    Todos os olhares estavam voltados a ele. Tinham certo brilho. Apesar de tudo, eles ainda não haviam desistido. 

    Mesmo que fosse apenas uma fagulha, se ainda tivesse fumaça, ainda poderia queimar. 

    O líder cerrou os dentes. Ele não queria mais esconder sua raiva naquele momento. 

    Virou-se bruscamente para a saída, um olhar feroz. 

    “Vamos atrás daquele lunático. Isso ainda não acabou.”

    Seguindo após ele a oposição marchou para fora do castelo. 

    Ainda tinham uma chance, se forçaram a acreditar.

    Mas então se depararam com a névoa, os gritos, os tiros e o genocídio aterrorizante. 

    “Estão vendo? É isso o que a divindade a qual vocês adoram cria. Ela sela destinos. Transforma os filhos desta terra em almas repletas de escuridão que agem como bestas selvagens, forçadas a buscar um lugar para retornar.”

    Arden estava à frente deles, olhando fixamente para fora, onde a tragédia acontecia.

    Enquanto os que vieram depois dele mal tinham forças para falar. Só conseguiam vislumbrar aquele terror que beirava a insanidade. 

    A fagulha então se apagou… ou estava quase. Foi quando Kaelric gritou para todos se moverem e ajudarem seus companheiros ou quem quer que fosse. 

    O choque os trouxe de volta à razão. Eles hesitaram, mas não podiam deixar que isso continuasse. 

    Juraram que entregariam sua vida pelo futuro promissor. 

    Mas agora só lhes restava lutar desesperadamente contra algo que sequer poderiam controlar. 

    Takeda acenou para os agentes ao seu lado. Lâminas e balas cortaram o ar, habilidades reluzentes voaram para diversas direções e almas foram derrubadas… apenas para se levantarem de novo, como se nada tivesse acontecido. 

    Os três soldados de Takeda mantinham-se compostos, atirando até onde seus cartuchos aguentavam, enquanto eram protegidos pelos agentes especiais da Strike Down. 

    Do outro lado, estava a Black Room. 

    “Essas desgraças não morrem não?!”

    Gunner recuou alguns passos, após ver a alma que tinha decapitado se reerguer com a cabeça grudada no lugar. 

    “Desse jeito fica impossível”, respondeu Yoshiro ao seu lado, enquanto disparava suas flechas reluzentes afastando mais delas. “A gente só vai se cansar à toa.”

    “Mas não dá pra parar, não é? Vai tudo acabar do mesmo jeito.” Sky se juntou a eles, depois de terminar uma série de cortes com sua adaga e resultar em nada. 

    “Sem falar nessa velocidade absurda. Isso é coisa de louco… Cuidado—!”

    Yoshiro girou seu arco no momento em que algumas almas saltaram sobre Sky, mas não conseguiu tempo para atirar as flechas. 

    Mas por sorte, Rider estava por perto. Numa passada veloz, manejando sua espada e conseguiu afastar a sombra, cortando-a de cima à baixo. 

    “Não se descuidem… Não estamos acostumados com esse tipo de situação.”

    O garoto não parou para vê-los. Seus olhos estavam focados nos inúmeros seres irracionais que trituravam os corpos na tentativa de possuí-los. 

    A neve foi tingida por uma enorme trilha de sangue. Os cristais agora refletiam um brilho vermelho. Os gritos pavorosos enchiam a cidade numa canção macabra, sem ritmo ou melodia.

    E a situação parecia não mudar nenhum pouco. Daquele jeito, tudo só tendia a piorar. 

    ****

    Takeda não se juntou ao combate com os demais. Ele ficou ao lado de Kaelric, ainda enfrentando Arden.

    Mas o rei não se deixou abalar pela presença dos dois. Ele empunhou sua espada e caminhou sobre as poças de sangue e vísceras, silencioso. 

    Enquanto lamentava a perda de seus súditos. 

    Cada passo firme e frio parecia destoar do restante da sinfonia doentia ao fundo. Logo, ele parou a alguns metros do castelo e ergueu a lâmina. 

    Várias almas avançaram contra ele, sem distinção. Mas antes que pudessem alcançá-lo, os capitães, percebendo o ataque, saltaram para proteger seu rei. 

    “Não deixem que se aproximem!”

    “Protejam o rei Arden.”

    Eles se sentiam impotentes diante daquela força fora do normal, mas ainda tentavam cumprir seu dever para com a realeza. 

    Lawren também estava entre eles. Seus olhos avermelhados ardiam em chamas. Mais cedo, recebeu a notícia do desaparecimento de sua esposa e não conseguiu encontrá-la até há pouco — quando foi atacado pelo que restou dela. 

    Nada mais lhe restava, além de lutar por seu filho, que, sinceramente, ele nem sabia se ainda estava vivo. 

    Mesmo assim, Arden não se importou com os homens que criaram uma barreira ao seu redor. Ele se concentrou na espada que começou a brilhar mais intensamente.

    Durante anos… durante longas décadas, eu aguentei toda essa dor. Meu pai não conseguiu parar você, então você destruiu tudo. Deixou o reino e nossas vidas em ruínas…

    “Mas isso acaba hoje”, disse ele, olhando fixamente para a montanha.

    Então, houve um estrondo. Um feixe de luz que dissipou a névoa e subiu ao céu. Uma explosão no alto da montanha, que lançou rochas e neve para o ar e as fez chover sobre o castelo e sobre a cidade. 

    Logo após isso, uma silhueta emergiu no topo, rastejando para fora.

    Os olhos azuis cintilavam intensamente, como estrelas congeladas, e o uivo gélido da criatura reverberou por todo o reino, junto ao som da tempestuosa nevasca que se iniciou com sua mera presença. 

    As auroras azuis profundas iluminaram sua cabeça, piscando e emitindo um som metálico que parecia acompanhar os batimentos acelerados da plateia abaixo da montanha. 

    Tudo parou por um instante — inclusive as almas que pareciam paralisadas, atentas ao chamado de quem as comandava. 

    “Aquilo…?”

    “É Nivorah…?”

    Kaelric tinha um olhar abismado. Aquela era a criatura que tanto temiam?

    Seu corpo era coberto por pêlos brancos, patas tão pequenas que mal se projetavam em seu corpo. Ela se assemelhava uma lagarta com uma forma bizarra. 

    Apesar disso, ninguém conseguia se mover. Vislumbraram sua aparição sem o fôlego em seus pulmões.

    Apenas um homem se moveu no meio disso tudo. 

    Arden. 

    A espada vermelha em suas mãos brilhava intensamente. 

    Primeiramente, venho aqui por meio deste me desculpar… Tá. Assim não funciona. Fiquei quase um mês sem trazer capítulo, peço perdão. Acabou que tudo foi meio arrastado, e eu estava cheio de tarefas, então enrolei muito.

    Mesmo assim, fiz tudo o que pude pra trazer a continuação desse arco que eu hypei tanto na minha cabeça.

    Por fim, muito obrigado pela paciência e por continuar lendo até aqui.

    ; )

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