Capítulo 15 - Prévia de aniversário I
Tendo já se passado uma boa parte das aulas, o horário de almoço se iniciou.
A noite anterior foi um tanto agitada para Mayck, por isso ele acabou não dormindo direito e teve a oportunidade de preparar algo para comer na escola.
Sua capacidade de se lembrar disso pode ter sido melhorada com o uso da ID.
A cantina sempre foi um campo de batalha.
Alunos faziam o que fosse preciso para conseguir algo para comer, como lobos que foram jogados ao deserto.
‘Se você não quiser passar por isso, traga sua marmita’, esse podia ser considerado um provérbio no colégio.
Livre do campo de batalha, algo raro de ocorrer estava sendo presenciado por Mayck naquele instante.
Chika, com toda a sua energia de extrovertida e seu ótimo faro para conseguir amigos, reuniu um belo grupo para o horário mais esperado pelos estudantes.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito e nove. Temos nove pessoas aqui, contando comigo. Isso pode ser considerado uma multidão, não é? Então, eu já posso querer sair?
Em silêncio, Mayck observava o grupo barulhento conversando, dividindo ou roubando a comida um do outro.
Entre todos esses amigos dele, haviam duas pessoas que ele não encontrava há um tempo e nem queria ter a chance de vê-los.
De um lado, uma garota ria alegremente das piadas de Chika, sem se importar com quem visse. Do outro, Haruki brincava com um garoto, Ren, um amigo do clube de futebol.
Embora essas pessoas estejam compondo o grupo, uma história problemática envolve três deles.
História essa que era desconhecida pelos outros e, aparentemente, era melhor assim.
“Oh, Mayck-kun, você tem uma refeição bem deliciosa, não é?” Chika voltou sua atenção para o garoto, que estava quieto até então.
“Você acha? Eu acabei fazendo na pressa…”
“Com seu consentimento, eu gostaria de fazer um teste de sabor.”
Ela abriu a boca, esperando seu desejo ser atendido.
“Aaah.”
“Você tem sua própria comida. Que garota abusada”, ele debateu, mas foi em vão, sua amiga não desistiria até seu pedido ser realizado.
“Fala sério.”
Mayck pegou um pouco de sua refeição e levou até a boca da garota, que se deliciou com o sabor da comida.
“Você cozinha muito bem, Mayck”, ela falou depois. “Talvez eu deva pedir para você me preparar uma marmita todo dia.”
“Quando se vive sozinho, você consegue algumas habilidades e eu me recuso a usá-la em prol do seu apetite.”
Os demais observavam os dois com diferentes reações. Alguns deles tinham sorrisos maliciosos e os outros tinham um rosto levemente irritado ou surpreso.
“Vo-vocês dois são assim sempre?” Rika, a pessoa com menor chance de dizer alguma coisa, se pronunciou.
“Bem, pode ser estranho pra vocês todos, mas para eles dois é algo bem banal.” Haruki tomou a frente e respondeu.
“Que sem vergonha.” Hana murmurou para Mayck, que olhou para ela, mas a garota virou o rosto rapidamente.
“Não vamos perder tempo com isso. O horário de almoço passa voando.” Mayck tentou tirar a atenção de todos do ocorrido.
Instantaneamente, eles voltaram a como estavam há alguns segundos.
Durante um tempo, um olhar sempre se direcionava a Mayck, que o notou, mas decidiu ignorar.
Uma expressão monótona era refletida no rosto de Saki, porém ela sempre tentava disfarçar com um sorriso.
Lembranças de um passado não tão distante pareciam machucá-la por dentro. O sentimento de culpa por algo, não lhe deixava ter uma conversa com o alvo de seus olhos.
O intervalo foi encerrado e os alunos retornaram para as salas.
O grupo em que Mayck estava se dividiu, já que eles estavam em classes diferentes.
No pequeno tempo entre uma aula e outra, o garoto resolveu dar uma volta pelo corredor.
Como a maioria dos estudantes preferia ficar na sala, o corredor estava, praticamente, vazio.
Matar aula não era recomendado, mas uma vez ou outra não faria tanta diferença.
Mayck desceu as escadas e, após andar sem ligar pros arredores, ele acabou indo parar proximo ao almoxarifado do colégio.
“Parece que andei demais… Talvez eu deva voltar?”
Ele considerou essa opção ao se ver mais longe do que esperava.
“Provavelmente já deve ter um professor na sala. Acho que eu vou relaxar por enquanto. Depois eu volto para as próximas…”
Um estrondo alto o assustou levemente e fez o garoto parar de falar.
O barulho veio do almoxarifado.
Será que tem fantasmas ali? Ele brincou com a situação.
Poderia ser um funcionário, afinal de contas, os professores e alunos deveriam estar na sala. Qualquer um que estivesse no corredor, nesse momento, fora eles, só poderia ser um delinquente ou alguém fugindo do trabalho.
Mas a imprevisibilidade da vida atacou novamente e Mayck decifrou algo que parecia risadas de garotas.
Pelos diferentes tons de voz, podia-se dizer que eram três garotas.
Os sons se aproximaram e o garoto se escondeu do outro lado do corredor para não ser visto.
A porta da sala se abriu e as garotas saíram rindo, alegres por ter feito algo.
“Será que essa vadia aprende agora?” Uma delas perguntou.
“Claro que não. Se for preciso, a gente dá mais alguns sustos nela.”
“Espero que não tenhamos exagerado.”
“Fica de boa. Ela vai ficar calada se não quiser mais disso.”
Mayck contemplou a conversa e não importa o que ele pensasse, apenas uma coisa chegava em sua mente: Bullying.
Essas coisas realmente acontecem, né?
O trio se distanciou e Mayck foi até o almoxarifado e olhou pela brecha da porta, tentando descobrir a identidade da vítima.
Aquele tom de violeta nos cabelos lisos, ele nunca poderia confundir essa pessoa, mesmo em uma multidão.
Um misto de surpresa e indiferença tomou-lhe ao ver Saki Itou agachada e com a cabeça baixa.
O mundo deu uma bela volta, não é?
Lágrimas desciam pelo rosto da garota.
“O que você quer? Vá embora.” Ela ordenou com sua voz trêmula.
“Se Chika ou Hana vissem uma cena dessas, elas ficariam furiosas.”
“Mi-Mizuki-kun?! O que você está fazendo aqui?”
Ela tentou esconder seu rosto atordoado ficando de pé e virando de costas.
“Eu estava passando e me deparei com essa confusão.”
Eu nem ao menos mexi na porta. Ela só teria me notado se tivesse olhado para o lado, mas esse não foi o caso. Ela ficou de cabeça baixa o tempo todo.
“De-de qualquer forma, não conte nada do que você viu a ninguém, tá bom?”
“Você tem certeza? Alguém poderia te ajudar-“
“Não!” Ela elevou a voz. “Não precisa. As coisas só iriam piorar.” Sua voz voltou a oscilar.
“Se é o que você quer.”
Antes de sair, Mayck deu uma última olhada em seu cabelo bagunçado e sua roupa desalinhada.
“Se não quiser que ninguém veja, é melhor ir para o banheiro primeiro.”
Mesmo sem ver, era óbvio o estado em que os olhos dela estavam. Ir passar uma água no rosto era o melhor a se fazer, foi o que ele pensou.
“Obrigada, mas não precisa se preocupar.
Mayck deu de ombros e saiu.
Ele não poderia se importar ou, ao menos, não queria se importar, porque, de certa forma, isso foi algo que ele quis que acontecesse.
Não possuía uma ligação direta com esse problema, mas há coisas feitas indiretamente que não podem ser revertidas. Na verdade, podem sim, mas depende dele se vai mudar algo ou não.
Eu preciso ficar de olho nela. Se o motivo pela qual ela me notou for uma ID, talvez eu possa usá-la de alguma forma.
Mayck continuou seu passeio pela escola. Voltar para a aula naquele momento, não era uma opção.
Era entediante não só para ele, como para todos os poucos alunos que decidiram matar aula naquele período.
Sem muito o que fazer, o tempo se passou e o garoto retornou para a sala, onde foi recebido por olhares surpresos de seus três amigos.
“É algo extremamente raro você fazer isso. Será que… você despertou seu lado rebelde?” Haruki começou a brincar assim que ele se aproximou.
“Claro que não. Eu saí para andar um pouco, quando me dei conta, não poderia mais voltar.”
“Que péssima desculpa, Mayck. Se você dissesse que tinha fugido da aula para ficar de pegação com uma garota, seria mais aceitável”, Chika o repreendeu.
“Essa é a pior forma de pôr isso.”
“Você é tão pegador assim, Mayck-kun?” Akari entrou na brincadeira.
“Confia.”
Não restando nada a fazer além de soltar um suspiro, Mayck desistiu de tentar se defender e deixou que seus amigos fizessem suas especulações.
|×××|
Depois do fim das aulas, Mayck se despediu de Hana que o acompanhou até certo ponto, mas disse que tinha algo a fazer e mudou sua rota.
O garoto decidiu pegar o trem e ir para Shibuya, não porque deu vontade, mas sim porque Keiko chamou-lhe para um passeio depois de saírem da escola.
“Ela poderia ter deixado isso para o fim de semana.”
Ele até tentou convencê-la disso, no entanto, a insistência dela era algo que nem Chika poderia suportar, considerando o quão animada ela costumava ser.
O trem estava bem lotado para um dia daqueles. Haviam pessoas de pé e Mayck era uma delas.
Ficar o trajeto todo assim até o local de destino era duro, mas nada insuportável, ao menos para quem estivesse em boas condições físicas e emocionais.
O garoto tentava se manter estável segurando uma das barras, mas ainda desejava que algumas pessoas descessem na próxima estação para que ele pudesse se sentar.
Ao seu lado, uma garota também seguia o exemplo e fazia o possível para manter o equilíbrio de seu corpo.
Mayck a observava, entretanto, não era a garota em si que lhe chamava a atenção e, sim, para o que ocorria com ela.
Um trem lotado onde ninguém pensa em nada além de si mesmo, era o palco perfeito para cometer atos hediondos e repugnantes, independente da idade.
O olhar da garota, claramente assustado e incomodado, pedia, indiretamente, por ajuda.
Que velho nojento. Ninguém percebeu? Eu gostaria de chamar a atenção de alguém para cuidar disso, mas não vai dar.
As pessoas se mantinham desatentas olhando para seus celulares ou dormindo.
Isso poderia ser considerado excesso de confiança? Se sim, era algo que Mayck nunca cogitaria em ter.
Ele espremeu seu corpo por entre os indivíduos atrás dele e se aproximou do homem, que possuía apenas alguns centímetros a mais que ele.
Antes de tudo, tirou seu celular e, com muita cautela, conseguiu uma boa imagem incriminatória.
Eu não vou só te dar um aviso. Você vai pra polícia, de um jeito ou de outro. E agradeça por eu não decidir cuidar de você eu mesmo.
Ele mudou para a câmera de selfie, tirou uma foto do rosto do indivíduo e guardou o celular. Era a hora de pôr um fim àquele ato repulsivo.
Colocou a mão sobre o ombro dele, chamando sua atenção.
“É bom você tirar sua mão daí. A não ser que queira passar por um tempo desagradável.”
Mayck se esforçou para fazer um olhar amedrontador, mas a preguiça era muita, por isso ele ativou sua ID e fechou um dos olhos. Foi o suficiente para o homem se mover e se espremer em silêncio na multidão; seu pavor era visível em seu rosto.
Voltando sua atenção ao seu celular, Mayck enviou uma mensagem para Keiko, dizendo-lhe para encurralar o homem da imagem que enviou para ela.
O ponto de encontro era na estação, então seria um pouco mais simples. A garota poderia levar a foto para um posto policial próximo e dar um jeito nisso.
A esta altura, uma boa parte das pessoas acordadas ao redor, já deveriam estar cientes do que aconteceu, ou assim era na cabeça do criminoso. Com medo de ser pego, ele desceria na próxima estação que, coincidentemente, era o mesmo local de destino para Mayck.
Em alguns minutos, o trem parou ao lado da plataforma e, como o garoto esperava, a polícia havia se posicionado cada uma em uma porta dos vagões.
Parece que eu venci.
Um sorriso de satisfação preencheu o rosto do garoto ao ver o homem ser conduzido pela segurança da estação.
“Mayck-kun!”
Uma garota animada corria até ele balançando a mão direita, a outra estava segurando sua mochila, mostrando que ela também estava na escola há poucos minutos.
“Eai, como vai?” Falou quando ela se aproximou. “Obrigado pela ajuda.”
“Nao há de quê. É só o normal a se fazer, não é?”
Com ela estavam mais quatro meninas, entre elas, Saori.
Mayck acenou para elas, que retribuíram o gesto.
“So de pensar que existem pessoas tão repugnantes assim… eu quase perco a fé na humanidade”, Aiko abraçou o próprio corpo, como se estivesse com frio.
“Mas também existem pessoas como Mayck-kun, que ajudam elas. Então dê um crédito.” Yuriko fez um joinha.
“Então, o que a gente vai fazer?” Keiko indagou.
“Eu vim aqui pensando que você teria algo em mente…”
“Bom, estamos falando da Kei-chan. Ela nunca tem nada planejado.” Midori afirmou.
“Até quando vamos a casa dela, é sempre a mesma coisa.” Saori completou.
“A vida de vocês parece difícil”, Mayck não pôde deixar de observar.
“Não me culpem. Vocês devem ter algo que queiram fazer, não é? Então, porque não compartilham suas ideias?”
“Ela pensou.” Aiko pôs a mão na boca, como se fosse uma mãe orgulhosa.
O grupo gastou por volta de 10 minutos até decidirem ir para uma lanchonete. E não era como se houvesse tanta coisa que eles pudessem fazer depois da aula.
Eles comeram, conversaram e se conheceram melhor, além de dividir histórias de seus respectivos grupos de amigos.
As garotas ficavam juntas a maior parte de seu tempo e eram um grupo bem organizado.
O clima estava agradável, mas Mayck teve que se despedir.
Nikkie o convocou, afinal, eles tinham muito trabalho a fazer.
Zero jogou uma boa parte das tarefas para os dois, já que, segundo ele, estaria colocando seus esforços na Operação Primavera.
Além dos problemas internos, o garoto tinha voltado sua atenção para outra situação: ele queria saber mais sobre si mesmo. Portanto, procurou uma forma de balancear as coisas e cuidar das tarefas sem se atrapalhar.
“Você disse que encontrou algo… o que é?”
“Isso aqui.” Nikkie pôs uma caderneta sobre a mesa.
Mayck abriu-a e olhou para todas aquelas folhas. Havia dados e mais dados. Inúmeros tipos de informações dos membros da Black Room.
“O que tem de mais aqui?” Mayck demonstrou que não havia entendido o ponto de sua veterana ao lhe mostrar tais documentos.
“Não notou? Analise-os melhor.”
O garoto franziu a testa, mas olhou mesmo assim. Quando reexaminou minuciosamente, algo parecia não se encaixar.
“A data de atualização está estranha.”
“Até que enfim notou. É isso mesmo. Esses documentos estão adulterados. Mesmo que essas pessoas tenham falecido, seus status ainda estão marcados como ativos e esses dados são da semana passada.”
“Então alguém realmente está brincando com isso, né? Mas qual seria o ponto em fazer algo assim? Existe algum benefício em deixar alguma ficha ativa?”
“Esse é o problema. Aqui na Black Room, somente pessoas ‘ativas’ podem fazer certas coisas, como adentrar sistemas complexos ou o acesso às armas e equipamentos especiais.”
“Em outras palavras, alguém está se passando por essas pessoas para ter acesso a essas coisas, certo? Existe algum registro sobre quem mexeu em cada coisa?”
“Hmm… existe um sistema que é atualizado diariamente e registra esse tipo de informação. A parte boa é que eu tenho acesso.”
“Podemos dar uma olhada?”
“Vamos até a sala de montagem. As salas de comando e de controle estão sendo usadas e como nossa investigação é sigilosa, seria complicado ir até esses locais.”
Mayck concordou. Não seria bom fazer algo que comprometesse sua tarefa e, em parte, ele estava gostando de parecer um espião.
Os dois seguiram da sala de Zero até onde Michio se isolava.
As pessoas não tinham muito o que fazer na sala de montagem e a garota, que lá reinava, preferia trabalhar sozinha.
Eles adentraram a sala sem problemas.
Urgh! Que bagunça. Mayck deu um passo atrás ao ver o estado da sala.
“Michio, onde você está?” Nikkie a chamou quando não a encontrou.
“Por aqui, Nikkie-chan.”
Uma voz abafada e sem emoção percorreu entre os inúmeros papéis e ferramentas espalhadas pelas mesas e chão.
Entendendo o recado, os dois seguiram até a parte mais ao fundo e abriram uma outra porta.
O ambiente estava escuro e apenas uma luz azul preenchia o espaço branco.
“Uou, eu não sabia que tinha um lugar desses aqui atrás.”
Embora Mayck já tivesse visitado Michio algumas vezes, essa era a primeira vez que ele adentrava a verdadeira sala de montagem.
No centro, havia uma enorme mesa com muitos monitores, que continham vários softwares diferentes abertos. Essas mesas rodeavam um grande tubo cilíndrico de vidro, onde outras máquinas operavam.
“Bem vindo ao meu laboratório, Ma-kun.”
“Obrigado, eu acho. Mas o que você está fazendo aqui?”
“Estou trabalhando no protótipo de um novo tipo de comunicador”, ela falou sem tirar os olhos da máquina.
“Hmm…”
“Enfim, Michio, nós precisamos usar alguns de seus computadores, então com licença.”
“Fique à vontade, Nikkie-chan.”
Os dois foram para uma parte diferente da sala e a garota continuou seu trabalho.
Os computadores utilizados na Black Room eram bastante poderosos. Quando os olhava, Mayck imaginava que tipos de jogos rodariam neles sem problemas.
“Vamos começar com os registros de uso.”
Nikkie digitou e clicou em algumas coisas e o resultado que eles procuravam apareceu.
Os dados estavam documentados em planilhas, e organizados entre tipos de sala, horários e tempo de uso, além de quem acessou.
Nas mais recentes, estava marcada a identidade de Nikkie, já que ela tinha acabado de adentrar a sala de montagem.
“Parece que está tudo funcionando normalmente”, Mayck observou. “Mas como vamos encontrar os dados de acesso dos fantasmas?”
“Primeiro, vamos adicionar o número de identificação dessas pessoas, assim, podemos filtrar para os registros dela.”
Após inserir o que era necessário, os resultados foram atualizados e várias planilhas foram exibidas.
“Como pensamos”, Mayck falou, olhando para as centenas de anotações.
“A datação dela é de três meses atrás.”
“E com as outras?”
“Vamos ver.”
Nikkie repetiu o processo com as identificações restantes. Enquanto analisavam, eles anotaram as datas recentes de cada uma delas para futuras referências.
“Seria bom revermos cada uma, certo?”
“Você tem razão. Dessa forma, podemos tentar entender o que o impostor está tentando.”
“Talvez… Primeiro, acesso a sala de comando no dia 14 de fevereiro. O segundo acesso à mesma sala só ocorreu em março, também no dia 14.”
“Também foram feitos acessos à sala de armas cinco vezes consecutivas em um período de três semanas.”
“Isso vai complicar as coisas mais do que já estão.”
“Olhando desse jeito, parece que são visitas sem motivo. Mas, se pensar bem, é muito estranho que a mesma pessoa só frequente esses lugares em um período tão longo de tempo, levando em consideração que Zero os chama para essas sala constantemente.”
“Pode ser que eles só estejam tentando manter as identificações em segredo. Afinal, estão usando de pessoas que já faleceram.”
“É difícil chegar em uma conclusão assim. Vamos procurar mais coisas.”
“Okay.”
Mayck sentou-se de frente para outro computador e começou a pesquisar de forma diferente à de Nikkie, mexendo em coisas aleatórias.
Aparentemente, a pessoa que estamos procurando é um pouco burra, mas, cautelosa. Apesar de deixar tantas pistas, ainda é difícil de entender seus motivos.
Depois de tanto se aprofundar, o garoto se perdeu entre as páginas abertas e não sabia como voltar.
Oh, droga. E agora?
Ele começou a procurar uma saída e pensou em pedir ajuda a Nikkie, porém algo o impediu de fazer isso.
Sol da meia-noite? Quem colocaria um nome tão esquisito assim?
Movido pela curiosidade, o garoto clicou na palavra e foi direcionado a outra janela.
Um documento se abriu. Ele se parecia com um jornal e possuía algumas imagens de satélites com vários tipos de dados.
Vejamos… ‘O Sol da meia-noite esteve participando de atividades comprometedoras. Apesar de terem em posse cerca de 15 indivíduos de número 5 na escala, eles ainda mantinham sua procura por portadores acima disso.
“Que povinho ganancioso”, ele sussurrou, mas continuou a ler.
Indo desde sequestro de crianças, eles pesquisaram incessantemente, não só por um portador 7, mas também por uma ID que fosse capaz de controlá-lo, The Fake Human.
“Isso de novo? Parece ser algo importante…”
Sua ganância os levou à ruína após entrarem em contato com um portador desconhecido, que eliminou toda a organização em uma única noite.
“Uma única noite?!” Mayck não pôde esconder sua surpresa e acabou chamando a atenção de Nikkie.
“Do que você está falando?”
“Ah… bem, é essa coisa aqui. Um portador que eliminou uma organização em uma noite.”
“Ah, sim. Lembra do que eu te disse, sobre a detecção de alguns anos atrás? Um fluxo de energia que chegou ao número 6 na escala de destruição.”
“Então é isso. É bem surpreendente.”
“Realmente. Mas ainda não sabemos quem é. Aparentemente a Strike Down tem mais informações sobre ele. Depois desse ocorrido ele simplesmente desapareceu.” Ela voltou seus olhos para seu computador.
“Desapareceu? Sem mais nem menos?”
“Sim. Pensando bem…” Nikkie o olhou de relance. “Nós identificamos um sinal parecido com ele há algum tempo.”
“Sério? Então é possível que esse portador tenha voltado?”
“Se ele voltou ou não, é um problema que pode ser adiado. Vamos terminar aqui logo.”
A garota dispensou esse assunto e focou em seu trabalho, mas Mayck acabou ficando mais curioso.
Alguém tão forte assim existe? Quer dizer, eu já lutei com Yang mas não pode ter sido ele quem fez isso, não é?
O garoto continuou pesquisando até que Nikkie o chamasse novamente.
|×××|
A rotina do garoto consistia em ir para a escola de manhã e, durante a noite, caçar Ninkais. Embora esta última fosse uma atividade sigilosa.
A gente não conseguiu evoluir em muita coisa. O motivo por trás das adulterações dos documentos ainda é um mistério.
Por não conseguirem muitas informações, eles escolheram parar por ali e Mayck decidiu sair pelas ruas.
Ia vagar pela noite por um tempo, mas logo voltaria para casa.
Zero me deu permissão para fazer o que eu quiser, mas eu não faço ideia do que fazer.
“Bom, não estou afim de ficar pensando nisso, então vou deixar pra lá.”
Mayck levantou seus olhos e notou que o céu estava limpo e tinha bastante estrelas visíveis.
Ultimamente eu nem tive tempo de aproveitar o clima. Falando nisso, meu aniversário já está chegando, daqui a uma semana. Onde será que eu vou dessa vez?
Por ser uma pessoa mais quieta, em relação ao seu grupo, o garoto também possuía o costume de passar seus aniversários sozinho. No começo, havia um sentimento envolvido, mas, com o passar do tempo, tornou- se um hábito.
Entre ficar em casa ou ir a um passeio solitário. O que importava era ele estar sozinho.
Não tinha nada contra festas de aniversário ou passar essa data com alguém, porém, ficar sozinho era uma preferência.
Mayck esfregou as mãos e continuou a caminhar.
Já era mais de 23:00, poucas pessoas estariam na rua nesse horário. Os outros caçadores de Ninkais preferiam locais como florestas, parques e outros do tipo, mesmo sabendo que os monstros apareciam onde houvesse mais alimentos: humanos ou animais.
Apesar de aqui ser uma parte do centro da cidade, está bem vazio.
Estava caminhando pacificamente, até um grito ecoar pelas ruas e fazê-lo parar de se mover.
“O quê? De onde veio?” Ele parou e olhou ao seu redor para identificar a direção da voz.
O grito veio uma segunda vez e ele correu para onde julgava que a pessoa estaria.
Enquanto corria, Mayck pôs a máscara no rosto e cobriu seu corpo com o manto preto, sabe-se de lá onde ele retirou esses equipamentos.
Chegando a um beco entre dois prédios, o garoto viu uma mulher encostada na parede, tentando fugir de uma enorme centopéia.
Um Dragging to death?
Mayck saltou e se pôs entre a mulher e o monstro.
“Fique aqui, okay?” Ele falou a ela, pondo sua mão a frente de seu rosto, que assentiu desesperadamente.
Agora, como eu lido com você, hein? Encarou a criatura e sentiu um pequeno calafrio ao ver suas pinças batendo uma contra a outra.
Ver um inseto perto de seu rosto é horrível. Agora, ver um com cem vezes o seu tamanho é pior ainda.
O monstro começou a correr na direção dos dois.
Por ser um beco pequeno, não havia onde ele pudesse se esconder, então era uma vantagem para Mayck. No entanto, para ser justo, a centopéia tinha uma velocidade impressionante e começou a subir pelas paredes.
É muito rápida. Se ela for muito pro alto eu não vou conseguir fazer nada.
A centopéia rodeou por cima e desceu, tentando chegar por trás do dois.
Como esperado de um ser irracional.
Ele puxou a mulher pelo braço e saíram do beco.
“Escute, corra o mais rápido que puder e vá para casa”, ordenou.
A mulher estava em choque e apenas balançou a cabeça e fugiu.
“Beleza. Agora eu posso cuidar de você sem problemas.”
A centopéia empenhou-se em seguir o seu alvo, mas foi impedida por Mayck, que retirou sua espada de algum lugar e preparou-se para a batalha.
“Quer ir atrás dela? Desculpe, mas eu vou te fazer companhia daqui pra frente.”
O garoto avançou e procurou atingir um corte no Ninkai, porém ele foi mais rápido e se esquivou, começando a rodeá-lo.
Ele observou atentamente os movimentos do garoto e parou, esguichando um líquido estranho.
Mayck não sabia o que era, mas esquivou mesmo assim. Quando olhou para trás, viu o hidrante atingido derretendo como se fosse açúcar e jorrando água em seguida.
Ele ficou perplexo. Se fosse ele no lugar daquilo? Não iria pagar para ver.
Um tipo de ácido? Não acho que esse manto seja capaz de impedi-lo. Vou precisar dobrar o cuidado.
A urgência da situação levou o garoto a recorrer às suas habilidades.
As armas feitas pela Black Room, eram criadas com um tipo de catalisador, onde, em contato com a essência de uma ID, ela poderia manifestar os elementos bases do indivíduo e foi uma das coisas que Mayck aprendeu com Nikkie.
“Certo. Vamos tentar.”
Ele empunhou a espada e focou em transmitir sua energia para os dois receptores em formato de pequenas pedras azuis na espada.
As pedras irradiaram um brilho e os efeitos começaram a surgir como pequenas faíscas saindo da espada.
O garoto correu e manejou a katana, desferindo um corte na sua antena esquerda da criatura, a arrancando.
Ela parecia ter sentido dor, mas continuou a correr. Ela avançou algumas vezes, tentando agarrá-lo com suas presas, porém, ele desviava habilmente e contra atacava em seguida.
Mayck pôs seus esforços em cortar as pernas dela.
A eletricidade na espada facilitava o corte e deixava as mãos dele mais leves.
Se vendo encurralada e sem poder correr, a centopéia usou sua última arma: o ácido.
Ela começou a disparar jatos finos e rápidos, como uma metralhadora, forçando o garoto a utilizar sua observação.
No intervalo de cinco segundos, Mayck avançou pela lateral e cortou a cabeça do Quilópode, finalizando a luta.
“Que problema…”
O garoto passou a mão na testa e olhou a rua cheia de buracos, que foram criados após o ácido corroer o asfalto. Haviam alguns buracos nas paredes dos prédios também, além do hidrante.
“Isso causou um belo prejuízo. De qualquer forma, eu vou dar o fora. Não me importo com o dinheiro que isso poderia render. Vou deixar para essas hienas que estão espreitando”, ele falou, com plena ciência dos caçadores que estavam observando o decorrer da situação.
Melhor eu vazar. Ele virou de costas e saiu de cena, deixando os olhares curiosos com uma ideia ruim.
“Aquele cara, ele é da Black Room?”
“Parece ser, mas não foi dito sobre nenhum novo membro lá.”
“Há algum tempo, a Ascension estava atrás de um tal ‘olhos azuis’. Será que pode ser ele?”
“Pode ser. Isso quer dizer que Yang vai dar uma recompensa para quem pegar ele?”
Esse tipo de rumor começou a surgir no dia em que o Yang fez contato com Mayck, o transformando em algum tipo de procurado entre as organizações grandes e pequenas.
Mas ninguém fazia ideia de quem ele era. Tudo o que sabiam, era que o alvo tinha uma ID muito poderosa e provavelmente teria uma recompensa por sua cabeça.
Mas Mayck não sabia os detalhes disso tudo e apenas continuou vivendo sua vida, ignorando os arredores, enquanto um tipo de movimento foi criado em busca dele.
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