Índice de Capítulo

    Os Ninkais geralmente saiam para se alimentar à noite, portanto, não existia motivos para se preocupar com eles durante o dia. 

    Entretanto, para caçá-los depois do pôr do sol, era necessário uma grande força de vontade, tanto para se manter acordado como para não chamar atenção da vizinhança, isso se o indivíduo quisesse permanecer anônimo. 

    Mayck subiu nos telhados novamente e se manteve em uma posição que o pássaro de quase três metros não o notasse. Claro, se ele não tivesse visão noturna. 

    Se ouvisse atentamente, poderia perceber um pequeno ruído ecoando no ar. 

    Ele deve estar procurando uma presa. Acho que é melhor eu agir como isca e levá-lo para longe. 

    Para não causar problemas às pessoas ao redor, este era o melhor a se fazer. 

    Qual era o nome dele mesmo? Se não me engano é… Bloodbird. Eles voam loucamente quando sentem cheiro de sangue… mas eu não quero me machucar, então não vou usar isso. 

    Como se fosse o ajudar de alguma forma, o garoto sentou e cruzou os braços, enquanto observava a criatura voando em círculos. 

    Hm… e agora?

    “Precisa de alguma ajuda?”

    “Eu não recusaria…” ele respondeu tranquilamente. “Espera… quem é você?”

    Sua reação foi atrasada, levando em consideração que ele estava sozinho a poucos segundos. 

    “Boa noite. Eu não quis te assustar. Enfim, você quer chamar a atenção dele, não quer?”

    “Bom, sim, mas…”

    “Então deixa comigo.”

    O garoto misterioso estava escondendo o rosto com uma máscara de meio rosto e um chapéu ‘pork pie’. 

    Que visual é esse? Apesar de ser completamente inútil no momento, Mayck acabou ficando intrigado com a forma que ele se apresentava. 

    “Como você vai chamar a atenção dele?”

    “Com isso.”

    Como se estivesse fazendo um ato honroso, o garoto pôs a mão por dentro do casaco que estava usando e tirou uma pequena bola de borracha vermelha e a levantou. 

    “Contemple a minha magia.”

    “Eh?” Mayck ficou ainda mais confuso. 

    Observando o autodenominado mago, viu ele tirando do outro lado do casaco, uma faca de legumes. 

    “Senhoras e senhores, fiquem atentos!”

    “Shh! Abaixa essa voz.” 

    Empolgando-se com seu próprio show, o misterioso garoto posicionou as duas mãos no ar e furou a bolinha, de onde vazou uma líquido vermelho. 

    O qu-

    Era surpreendente demais para dizer algo, mas de um jeito ruim. 

    Com o aroma de sangue chegando até suas narinas, o Bloodbird avançou com seu ruído digno de filme de terror. 

    “Tá vendo?” Esperando os elogios, o garoto fez um joinha e piscou o olho que estava à mostra, mas logo se deu conta de que seu companheiro tinha pulado do telhado e começado a correr. “Ei, espera aí!’

    Não grita, idiota.

    Apesar de ter se irritado com o visitante, Mayck teve que admitir que ele foi bem útil, até porque ele pode começar a pensar em como derrotar o monstro. Porém, seria difícil controlar a situação se o seu ajudante continuasse gritando atrás dele. 

    “Só cala a boca e me segue, okay?” Ele gritou sem parar de correr. 

    “Você tem um plano? Você vai me salvar, né? Diz que é verdade!”

    Que pé no saco. 

    Eles continuaram fugindo da criatura até se aproximarem de um local mais fechado e se esconderam em um beco. 

    “Ei, você tem certeza que tem um plano? Ele vai dar certo, não vai?” O garoto choramingou. 

    “Apenas faça o que eu te disser, Merlim.”

    “Tá bem. Eu vou fazer o que for preciso. Conte comigo.” Ele deu um grande sorriso e outro joinha, tentando se mostrar confiante. Talvez ser chamado de ‘Merlim’ despertou algo dentro dele. 

    “Apenas fique parado aqui por um tempo.”

    “É claro. Tudo pelo bem da missão, não é?” Ele falou sem perder sua autoconfiança excessiva. 

    “Não. Pelo bem da recompensa.” Mayck respondeu indiferente. 

    “Eh?! Tá falando sério?!”

    “É brincadeira. Agora fique quieto.”

    O garoto se afastou e deixou o outro para trás, pensando no que seria o plano. 

    Mayck resolveu não falar que tinha algo em mente e que esse algo seria usá-lo de isca. 

    Depois que ele furou a bola, suas mãos e roupas ficaram sujas e com a correria, não teve como ele se limpar. O que queria dizer que o pássaro iria seguir o cheiro até conseguir o seu prêmio. 

    “Beleza. Vamos nessa.”

    Com a ajuda do dispositivo, o garoto subiu em cima de um dos prédios que escondia o beco, onde havia deixado o mago esperando. Quando chegou ao topo, se abaixou e esperou a vinda do monstro, o que não demorou muito. 

    Ele tinha se sentado, olhando para o céu, até que os gritos desesperados de seu chamariz o avisasse da presença do alvo. 

    Foi bem demorado… mas não importa. 

    Foi até o parapeito e observou os movimentos do pássaro. 

    Ele parou de voar e começou a caminhar com as asas abertas, como uma ave comum, tentando amedrontar sua presa antes de pegá-la. 

    A cada passo lento, ele abria seu bico e emitia um som baixo, porém, apavorante. 

    Em sua cabeça, havia um par de chifres semelhantes ao de um Órix e suas asas pareciam mais asas de morcego do que de pássaro, apesar de conter penas. 

    Sua penugem era escura e um tanto avermelhada. 

    “Ei, amigo, cadê você? Já pode aparecer.” O mago se afastava com o medo implantado em seu coração. 

    “Se você não vir logo, eu vou acabar com esse monstro e pegar sua recompensa, ouviu?”

    Nenhuma resposta. 

    O garoto começou a suar frio e acabou não encontrando uma saída quando andava para trás, e sim, uma parede que acabou com suas esperanças. 

    “Hehe… você não é um passarinho que gosta de sementes, não é?” Sua voz trêmula mostrava seu estado mental. 

    O canto nada agradável da ave fez o garoto cair sentado e por as mãos em frente ao rosto involuntariamente. 

    Vendo o banquete em frente aos seus olhos, o pássaro avançou para destroçar sua presa, mas um brilho vindo de cima enterrou sua cabeça no chão, ao mesmo tempo que um estrondo e uma onda de choque passou pela área.

    “Você não pode relaxar um pouco? Fala sério, Merlim, você é muito medroso”, Mayck expressou seus pensamentos se pondo de pé em cima do Ninkai. 

    “Ah… Aah! Você não me abandonou, né? Eu sabia. Eu acreditei que você voltaria pra me salvar.” Ele começou a chorar e se jogou aos pés do garoto. 

    “Ei, ei, qual o seu problema? Me solta.” Mayck lutou para empurrar o garoto que grudou em suas pernas como um carrapato. 

    “Obrigado”, ele falou em meio a soluços. Seu nariz escorreu e ele assoou na calça da pessoa que considerava seu herói. 

    “Urgh! Sai daqui, seu idiota.” Mayck o empurrou e demonstrou seu desgosto ao ver a secreção nasal escorrendo na sua calça. 

    Tendo acalmado os seus ânimos, o garoto mago se recompôs ao seu estado de autoconfiança e teve um lenço roubado para que a sujeira pudesse ser limpada e ele também teve seu direito de reclamar negado. 

    Derrotar o Ninkai voador foi uma tarefa fácil e rápida, então Mayck tinha tempo e energia o suficiente para continuar rondando e foi o que ele fez, no entanto, havia aquela companhia que não queria ser deixada para trás. 

    “Ei, ei, o que você fez pra ficar tão forte?” Andava de costas a frente de Mayck com uma empolgação estampada no rosto. 

    “Eu não sou forte. O monstro que era fraco.”

    “Isso não pode ser verdade. Eu nunca tinha visto alguém derrotar um daqueles com apenas um ataque.”

    “E eu já vi pessoas derrotarem outros mais fortes com apenas isso. Você já ficou com metade da recompensa, o que você quer ainda?”

    “Eu quero que você me ensine, mestre”, ele anunciou parando de andar e balançando os punhos como uma criança. 

    “Aff… Não me chame assim. Não e nem pretendo ser mestre de ninguém.” Mayco passou por ele indiferente, tentando cortar qualquer relação que tivesse sido criada naquele pequeno espaço de tempo. 

    Contudo, o garoto não parecia querer desistir e correu após ele novamente ficando ao seu lado. 

    “Vamos, vamos. Não seja tão frio, mestre. Eu sei que você vai me fazer ficar forte o suficiente para derrotar até o The fake human.”

    Um termo fez Mayck reagir. Ele parou de andar e olhou para seu companheiro. 

    “Como assim? O que você falou?”

    “Que você pode me fazer ficar forte…”

    “Sobre esse tal The fake human. Onde ouviu sobre isso?” 

    “Ah, isso? Tem uns rumores circulando entre os caçadores… Você nunca ouviu?” Ele fez uma expressão de que está ouvindo algo estranho, como se esses rumores fossem algum tipo de senso comum. 

    Rumores? Mas isso era um segredo na Black Room… Será que tem algo a ver com a pessoa que está vazando informações? Se for isso eu preciso fazer algo logo. 

    “Sobre esses rumores, pode me dizer o quais são?”

    “Bem… eu ouvi esses dias de umas pessoas, que existe um monstro por aí um tanto enigmático. Ele é poderoso demais para apenas um caçador. Por isso, vários grupos têm sido formados para o encontrarem.”

    “Só isso?”

    “O que eu ouvi foi apenas isso.”

    Que problemático. Supondo que ele seja mesmo um Ninkai, isso pode ficar pior do que já está. Tenho que falar com Nikkie sobre isso. 

    “Também dizem que um portador tem o poder de encontrá-lo.”

    A afirmação veio de um homem vestido de preto que se aproximou, atraído pelo tópico. 

    Eu nem percebi. Quem é esse cara? Mayco se surpreendeu com a furtividade do indivíduo. 

    “Desculpem-me me intrometer, eu não pude evitar. Me chamo Hyu.”

    “Eu sou Merlin.”

    “Pode me chamar de… M.”

    Eles se apresentaram educadamente. 

    Merlin e Hyu começaram a conversar amigavelmente, discutindo sobre os rumores e coisas relacionadas, Mayck, porém, acabou ficando cauteloso, mas não deixou transparecer e decidiu buscar alguma informação. 

    “Então, Hyu-san, está caçando Ninkais também?” 

    “Eu? Não. Na verdade, eu estava procurando por você, M-kun.”

    Uma resposta inesperada quase abalou o garoto que estava com a guarda alta. 

    “Me procurando?”

    “Isso mesmo. Eu queria te pedir uma ajuda.”

    Como assim? O que ele quer? Esse cara…

    Por conta de ter sido surpreendido, Mayck não havia notado o uniforme que Hyu portava. 

    Ele é da GSN?

    “Nós já nos encontramos antes, certo?”

    “Certamente. Peraí, você não se lembrava? Nós até lutamos juntos.” A voz dele estremeceu enquanto encenava uma cena dramática. 

    “Eh? Vocês se conhecem?”

    “Eu acabei não lembrando…”

    “Assim eu fico triste. Mas, tudo bem, eu te perdoo se você vir comigo.”

    Sem esperar pela resposta, o agente se afastou indo na direção oposta. 

    Bom, acho que posso segui-lo. Mas o fato de que ele estava me procurando ainda é estranho. Melhor me manter atento. 

    Assim, Mayck e Merlin o seguiram. 

    |×××|

    Em um certo momento, Mayck teve que engolir um grande rancor que foi criado depois de alguns eventos. 

    Ele seguiu Hyu por ter pensado sobre o que era tão importante, mas, no fim, ele só queria alguém que agisse como isca para a captura de um Maddened Bull, um Ninkai semelhante a um touro que devorava qualquer coisa que aparecesse em sua frente. 

    O rancor nasceu por conta da falta de explicação. 

    “Hyu-san, porque você não nos contou sobre isso antes?” Arfando, Merlin tentava, ao máximo, se manter em pé. 

    Lidar com um Ninkai daqueles era muito pesado para ele, principalmente quando Mayck deixou-o cuidar de tudo sozinho. 

    “Foi mal. Eu não queria que vocês recusassem, então…”

    “Francamente, eu não confio mais em você”, Mayck disse, com os braços cruzados. 

    “Eu já pedi desculpas.” Hyu lutava para tirar a má fama que havia conquistado. 

    “Vamos deixar isso de lado e irmos para o assunto principal, o que acha?” Largando o clima de irritação, Mayck preferiu chegar ao ponto principal que levou Hyu a procurá-lo. 

    “Você não deixa nada passar, né? Bom, você está certo, é melhor irmos ao ponto logo.”

    Hyu se afastou e andou na direção de um banco de praça que estava por perto, se sentando em seguida. Merlin seguiu o exemplo. 

    Mayck, por sua vez, se manteve em pé um pouco mais longe deles. 

    “Então, por onde começo…” ele fingiu uma tosse quando falou. “Os meus superiores têm um pedido a você.”

    “Hã… Que tipo de pedido? Se for para me recrutar ou algo assim, eu terei que recusar.”

    “Hmm, é algo assim, mas”, ele falou e pôs a mão no peito como se tivesse levado uma facada. “Você não poderia ouvir tudo?”

    “Desembucha. Eu vou ouvir, mas minha resposta ainda permanece a mesma até que eu queira mudar isso.”

    “Já entendi, já entendi. Como eu ia dizendo, os líderes da GSN querem que eu coopere com você para encontrarmos onde a Ascension se mantém escondida.”

    “Cooperar comigo? E qual é o real motivo? Eu posso não ser um membro da Black Room, mas ainda estou aliado a eles. Porque vocês viriam pedir minha ajuda?”

    Hyu engoliu a seco. 

    “Be-bem, deve ser porque você foi a última pessoa a entrar em contato com Yang, talvez seja isso…” A voz dele ia diminuindo o tom ao ver os olhos amedrontadores do garoto. 

    “Isso ainda é estranho. Eu ainda acho que vocês têm um motivo oculto para virem até mim. Entretanto, não me importo de receber informações de vocês. Se fizerem isso, farei uma retribuição à altura. Essa é minha resposta.”

    “Se é assim, então posso ver isso como uma confirmação? Não tem problema se eu dizer que você aceitou, certo?”

    “O que eu falei agora pouco?”

    “Ah… bem…”

    “Repita palavra por palavra.”

    Hyu se debateu por dentro, mas acabou repetindo tudo o que Mayck havia falado.

    Sem mais motivos para continuarem aquela reunião, o agente da GSN se despediu e seguiu o seu caminho. Mayck se preparava para fazer o mesmo, mas algo estava o perturbando. 

    Toda a conversa que teve com Hyu, foi ouvida por um terceiro, que olhava surpreso  a cada palavra que saia da boca deles. 

    “Isso é sério?”

    Droga. Eu esqueci que ele estava aqui. 

    “É verdade isso o que eu ouvi?” Merlin se levantou e olhou nos olhos de Mayck. 

    “Do que está falando?” Ele fingiu indiferença. 

    “Você é um membro da Black Room?”

    “Bom, isso é…” 

    Ele já estava se preparando para mais uma explicação irritante, mas o garoto agarrou seus pulsos e olhou para ele com olhos cheios de admiração. 

    “Isso é muito insano. Agora está explicado o motivo para você ser tão foda. Porque não me disse antes?”

    “Ah, é que eu…”

    “Você é incrível, mestre. Por favor, me faça um de seus subordinados.”

    Aff… Que dor de cabeça. Mayck desviou seus olhos, tendo que aguentar mais alguns minutos daquela loucura. 

    O que ocasionou na sua salvação, foi um estrondo que veio de uma avenida próxima. 

    “Que merda foi essa?” Merlin caiu no chão assustado. 

    Mayck o deixou gritando e correu. Era a mesma direção na qual Hyu seguiu. Ele não estava preocupado nem nada, mas ainda tinha que verificar. 

    Isso foi forte demais para ser um Ninkai comum. Pode ser algo muito pior. 

    Ao chegar no cenário, se deparou com vários cacos de gelo espalhados e um pequeno grupo de pessoas envolta de uma única pessoa. 

    Aquele é o Hyu, né? O que tá rolando?

    Ele se escondeu atrás de um poste para ver como a situação se desenrolava.

    A distância era um pouco grande para que algo pudesse ser ouvido, mas uma coisa era certeza: não se tratava de uma reunião amigável. 

    O clima parecia muito hostil e levando em conta o cenário, eles estavam prestes a se atacar novamente. 

    “Qual é pessoal. Vocês não estão a fim de conversar, é?” Hyu tentava manter a calma. 

    “Não vem com essa merda. Vocês da GSN sempre se fazem de bonzinhos só pra nos ferrar depois”, um deles gritou, dando um passo à frente. 

    “É isso aí. Vocês vêm, roubam nossas presas e não pagam a recompensa que prometem pelos Ninkais.”

    “Se acalmem. Eu não tenho nada a ver com isso…”

    “Não importa. Se levarmos a sua cabeça eles vão aprender a nos respeitar.”

    “Essa lógica é estranha…”

    “Por isso, seja um bom garoto e morra pelo nosso bem.”

    A batalha se iniciou com o primeiro movimento pertencendo ao grupo, que usaram várias habilidades elementais diversas, causando uma grande fumaça após se chocarem umas contra as outras. 

    Vendo aquela cena, Mayck levou em consideração que Hyu realmente morreria naquele momento, mas ele era um membro da GSN, então não poderia pensar de forma tão superficial. 

    Com a fumaça dissipada, a imagem de uma grande esfera de gelo foi revelada e derreteu lentamente. 

    “Eu disse para conversarmos com calma, mas vocês não me dão escolha… que idiotas.”

    O único presente na plateia ficou um pouco intrigado, mas era a oportunidade perfeita para ele ver do que seu novo colega de trabalho era capaz de fazer, podendo, enfim, criar contra medidas no caso de uma traição. 

    Ele sabia que pensar assim era cruel demais, porém, com o tempo, uma barreira de desconfiança foi criada em seu coração e ele não confiava totalmente nem em seus próprios amigos ou família. 

    Em sua vez, Hyu parecia querer acabar com tudo de uma só vez e, ao pisar com força no chão, a rua imediatamente se congelou, assim como o grupo, com exceção de duas pessoas que pularam e se mantiveram em cima dos postes. 

    “O que vocês estão fazendo? Prestem atenção. Essa é nossa única chance”, eles gritaram entre si. 

    Provavelmente eles estavam bem desesperados com algo para fazerem um ataque tão descoordenado. 

    Merlin chegou até Mayck arfando segurando o próprio corpo e se apoiando na parede. 

    “Não me deixe… assim… mestre.”

    Quando recuperou o fôlego, levantou seus olhos e viu a situação e logo percebeu o que estava acontecendo ali. 

    “Eh?! Hyu-san? Porque eles estão lutando?” Curioso, ele olhou mais atentamente, tentando reconhecer as vozes que bradavam ferozmente. 

    “Fique quieto aí. Vamos apenas observar.” Mayck o puxou. 

    “Mas…”

    “Shh!”

    Acatando as ordens, Merlin se manteve quieto e Mayck pôs seus olhos no grupo que resistia fortemente contra a força que Hyu demonstrou. 

    “Ei, mestre.” O garoto pôs a mão em seu ombro, buscando sua atenção, mas Mayck apenas o ignorou. 

    “Mestre…” Ele tocou novamente. 

    “Que droga. O que você quer?”

    Quando ele se virou, viu o rosto pálido de Merlin fixado no céu. Moveu sua cabeça nessa direção e se deparou com uma cabeça no final de um longo pescoço os observando de cima de um telhado. 

    Observando alguns detalhes, o rosto bizarro parecia estar sorrindo. 

    Oh, merda…

    Empurrando Merlin para o lado, Mayck se afastou rapidamente e esticou a mão para o lado, onde uma espada surgiu depois de um brilho. 

    Como se teleportando, a criatura rapidamente se moveu até ele, dando menos de um segundo para que pudesse se esquivar, mas o garoto acreditava que não perderia numa disputa de velocidade, desviando com sucesso. 

    O ataque feito atingiu o solo, criando uma rachadura enorme, o que chamou a atenção dos outros presentes na área. 

    Mesmo sendo uma tartaruga, ele é muito rápido. O quão irônico esse mundo pode ser?

    A tartaruga que foi nomeada simplesmente de ‘Quickie’, alongou seu pescoço e investiu várias vezes, tentando abocanhar o garoto, que desviava todas as vezes. 

    O grupo que estava ocupado até então, viu a oportunidade de derrotar um monstro que valia bastante. 

    Com esse pensamento, eles lutaram para se soltarem do gelo e lutar contra o monstro. 

    Isso é ruim. Além de rápida, ela tem uma capacidade de correr sem descansar por 30 minutos. Isso é o dobro do que eu já consegui. 

    Com o único caminho sendo derrotar o monstro rapidamente, Mayck não pensou duas vezes antes de ativar sua ID e se mover até o casco da tartaruga, disparando uma grande de energia de cima o que obliterou o monstro em questão de segundos. 

    Todos os que presenciaram a cena ficaram chocados. Seus olhos abismados se enchiam de dúvidas sobre quem era o caçador que apareceu de repente. 

    Uma pessoa teve uma reação diferente, no entanto. Ao contrário dos olhos que lançavam um certo grau de admiração ou temor, essa pessoa transbordava de um puro ódio. 

    Esses olhos, esse poder de destruição… Não tem como não ser o mesmo. 

    Hyu se moveu dentre as sete pessoas que ficaram paralisadas e se aproximou de Mayck, que repousava sobre o corpo destruído da tartaruga. 

    Um tipo de líquido que seria o sangue dela decorou as paredes e a rua, além de grandes e pesados restos do casco que foram arremessados. 

    Com o desespero, Mayck acabou ignorando as consequências de um ataque tão poderoso no meio da cidade. Logo, a polícia e os demais civis apareceriam por lá. 

    “Ei, M-kun”, Hyu falou ao se aproximar. 

    “Hum? O que foi?”

    Seu rosto evitava que seus olhos o encontrassem, mas esse semblante logo se desfez e se tornou um sorriso amigável. 

    “Você é bem forte, né?”

    “Não, foi apenas sorte.” Ele negou imediatamente. 

    “Isso é impossível.” Hyu cruzou os braços. “Até porque um Quickie é um dos de classificação mais alta.”

    “…” Mayck virou sua cabeça. 

    Depois de ter lutado contra as inúmeras perguntas vindo de Merlin e desviar a atenção do grupo que atacou Hyu, o garoto voltou para casa e fez uma ligação para Nikkie, deixando algumas informações que seriam úteis no futuro. 

    |×××|

    Na escola, Haruki falava animadamente sobre um anime que estava acompanhando. 

    Mayck ouvia cada detalhe atentamente para que pudesse responder às questões que seriam feitas por Chika mais tarde. 

    Acabando o relatório semanal de seu amigo, o garoto avisou que iria até o banheiro e saiu da sala. 

    Depois de saciar suas necessidades, ele foi parado no corredor no caminho para a sala. 

    Saki parecia um tanto perturbada e não fazia muito contato visual. 

    “Então, sobre o que queria falar?”

    “É… bem, você disse que ia me ajudar, então eu queria fazer algumas perguntas.”

    “Eu gostaria que você esperasse até o fim das aulas…”

    “Ah, é verdade, né? Me desculpe por te interromper. Eu posso esperar até lá, então…” A garota se mostrava um pouco assustada, como se estivesse segurando um objeto frágil, temendo que ele escapasse por entre seus dedos. 

    “Tá tudo bem. Vou te ouvir agora. Mas não prometo responder a tudo.”

    “Nã-não tem problema? Você pode ter coisas mais importantes para fazer.”

    “Não se preocupe com isso.” Mayck encostou na parede, vendo que o assunto não seguiria se ela continuasse daquele jeito. 

    “Então… a primeira pergunta é: o que é esse poder que eu tenho?”

    Vai começar aí, é? 

    “Bom, eu não posso te dizer qual é o seu poder exatamente, mas ele é, basicamente, algo que você precisa. Então não pense que é um tipo de maldição ou algo assim.”

    “Entendi. E qual é o meu poder de verdade? Eu já usei ele algumas vezes, mas não entendo muito bem.”

    “Bom, vamos ver, de acordo com o que você me disse, ele pode ter algum tipo de poder de hipnose ou talvez algo mais complexo que isso. A nossa única explicação no momento é essa. Até que possamos descobrir o que ele é de verdade, você não deve mostrá-lo a ninguém e nem usá-lo de forma descuidada.”

    “Tá bem. Eu vou fazer o meu melhor.” Pela primeira vez, um sorriso apareceu no rosto da garota. 

    Ela levou a mão ao peito e respirou fundo. 

    “E-e você? Você também tem um, né?”

    A pergunta fez Mayck se falar por completo, fazendo Saki se assustar e pensar que não devia ter aberto a boca. 

    “Não precisa me falar se não quiser. Foi só uma pequena curiosidade só isso…” Ela se desculpou desesperadamente. 

    “Tá tudo bem. Eu tenho sim. Mas você deve manter segredo sobre isso.”

    Mayck pensou que não tinha sentido em esconder a esta altura. Se ele quisesse que a garota confiasse totalmente nele, precisaria manter as revelações em um certo nível. 

    “Tem mais alguma coisa?”

    “Não. Por enquanto é só isso.”

    “Então vamos voltar. Não quero receber reclamação se já tiver algum professor na sala.”

    “Você tem razão. Me desculpe por tomar seu tempo.”

    Saki saiu primeiro. Em sua cabeça, ela não queria ser vista junto com Mayck, por achar que ele não gostaria da situação, já que suas classes ficavam no mesmo corredor. 

    Mayck entendeu os sentimentos dela e esperou alguns segundos antes de retornar. 

    As aulas se passaram e chegou a hora da saída. 

    Como sempre, Haruki e Chika foram para seus clubes e Akari decidiu acompanhar Mayck na volta, já que, assim como ele, não fazia parte de um clube. 

    Eles conversavam sobre coisas sem muita importância, até se despedirem em um ponto do caminho. 

    Minutos depois, Mayck passou de frente a um mercado, de onde viu uma conhecida sair. 

    “Apesar de não fazer nada depois da aula você leva muito tempo até em casa”, Haruna falou andando ao lado dele. 

    “Haruki ficou me prendendo na sala. Por isso eu perdi um pouco de tempo”, ele se justificou. “Mas você não pode falar de mim. Está matando as atividades do clube.”

    “Não estou matando. Hoje eu preciso voltar para casa logo. Espera aí, como você não sabe?”

    “Do que tá falando?” O assunto começou a ficar intrigante para ambos. Em um momento da conversa, eles deram de cara com uma bifurcação. 

    “Eh?”

    “‘Eh?’, digo eu. Porque eu deveria saber?”

    “Nós vamos receber alguns parentes em casa hoje… Você e seu pai marcaram presença, não é?”

    “Sério?”

    “Sério.”

    “Aquele cara… Fazendo planos sem nem me avisar.” Mayck exalou um suspiro. 

    “Sua relação com seu pai é algo misterioso, não é?”

    “Se é assim que você vê, então tem algo errado. E que horas vai ser isso?”

    “Às oito horas.”

    “Vou tentar não me lembrar.”

    “Não seja tão cara de pau”, ela o repreendeu. “Mas você não é obrigado a ir.”

    “Uhum…”

    “Bem, eu vou por esse lado. Não se preocupe em aparecer por lá.” Haruna acenou e se afastou, seguindo para o outro lado da rua, onde o semáforo permitiu que ela passasse. 

    “Não me preocupar em aparecer… Olha a ousadia. Se bem que eu nem me preparei mentalmente para isso.”

    Eu deveria ter perguntado quantas pessoas estarão lá. 

    Com um desânimo visível, Mayck foi para sua casa se aprontar para o encontro em família. 

    Apesar de se ver como um invasor no meio deles, se era algo que seu pai aceitou participar, ele não conseguiria contrariá-lo. Claro, o garoto poderia apenas recusar dessa vez, mas ele acabaria se sentido mal depois do drama que seu pai fizesse. 

    Ele conseguia ver perfeitamente seu pai aos prantos dizendo aos familiares de Suzune que seu filho o odiava. Poderia não chegar a este ponto, mas também poderia passar dele. 

    As horas se passaram rapidamente e como ele havia previsto, Takashi chegou um tempo depois dele. 

    As 19:30 ambos estavam a caminho da residência dos Yukino. 

    Ao se encontrarem frente a ela, não puderam deixar de notar a bela casa que elas possuíam. 

    “Eu vou tocar a campainha, okay?” Takashi caminhou lentamente até o portão. 

    “Porque você está tão nervoso? Aqui é a casa da sua noiva, não é?”

    “Mas é a primeira vez que vou me encontrar com os familiares dela.”

    Mayco pôs a mão sobre o rosto, reprimindo a vontade de repreender o homem corajoso que ele chamava de pai. 

    “Saiu daí.” Ele tomou a frente e tocou a campainha. 

    “Ei espera-“

    De dentro da casa, pode-se ouvir uma voz animada e energética, familiar para Mayck, mas não era a voz de Haruna.

    “Pode deixar que eu atendo”, ela dizia. “Sejam bem-vindos”, falou, por fim, ao abrir a porta para recepcionar os convidados. 

    “Keiko-san?”

    “Mayck-kun?”

    A reação dos dois era inesperadamente a mesma. 

    Em hipótese alguma Mayck pensaria que Keiko Suzuki teria alguma relação com Haruna.  

    “O que foi, Kei-chan?” Haruna perguntou se aproximando e vendo Mayck e Takashi  frente ao portão. “Ah, sejam bem-vindos. Podem entrar.”

    “Obrigado por nos receber”, Takashi entrou e cumprimentou a todos os presentes na casa. 

    “Mayck-kun! O que está fazendo aqui?” Keiko saltou sobre o garoto e agarrou-se em seu pescoço. 

    “Ei, ei, o que tá fazendo? Me solta.” O garoto lutava contra a animada garota. 

    “Que? Vocês se conhecem? Ou melhor, que nível de intimidade é essa?”

    “Me solta, Keiko-san.”

    Após muita luta, ela finalmente o soltou. 

    Mesmo tendo explicado a verdade, Mayck ainda sofreu com os olhares opressores vindos de sua futura irmã. 

    Quando entrou, ele cumprimentou a todos educadamente e foi convidado a se sentar. Olhou em volta e notou que havia cerca de 15 pessoas na casa, com a maioria sendo mulheres e crianças. 

    Os homens eram sete, contando com a adição de Mayck e Takashi. 

    Depois de um bom jantar, os adultos se reuniram para conversarem e descartaram as crianças nas mãos de Mayck e companhia. 

    “Ei, ei, você é o ‘mamão’ da Haru-neechan?” Uma garotinha de cerca de cinco anos puxou a perna da calça de Mayck. 

    “‘Mamão’?” Ele ficou intrigado com o jeito que a garotinha falava. “Bom, talvez seja eu sim.”

    “Você gosta dela?”

    “O que você está perguntando, Rin-chan? Ele gosta de mim.” Keiko se intrometeu. 

    “Poderia, por favor, não responder as coisas por mim?”

    “Hmm, então quer dizer que não gosta?”

    “O que você tá falando também?”

    “Está vendo, Rin-chan, Mayck-onii chan disse que me odeia. 

    “Hmm! Não seja mal com Haru-neechan.” Irritada, a criança inflou as bochechas e deu tapinhas nas pernas de Mayck. 

    “Que tipo de pressão é essa? Vamos parar com isso?”

    Em meio a confusão criada, Keiko apenas ria e rolava no chão com a situação.

    Depois de mais algumas horas, a reunião familiar foi encerrada e todos retornaram para suas casas, cerca de 23:30. 

    Mayck estava exausto, já Takashi, parecia muito feliz. 

    “E aí? Se divertiu?”

    “Se eu me diverti? Foi tanto barulho que eu só quero minha cama.” Mayck se lembrava de como foi torturado pelas três crianças que queriam, a todo custo, uma parte da atenção do garoto. 

    “Bom, mas não foi uma experiência ruim, não é? Você sempre foi bom em lidar com crianças.”

    “Embora tudo o que eu fazia era entretê-las com alguma coisa e fugir.”

    “Hahaha, você vai ter que lidar muito com elas depois da união das famílias.”

    Realmente… que problema. Hã? Espera aí…

    “Afinal de contas, quando vocês vão se casar mesmo?”

    “Hum? No meio do verão. Porque?”

    “Não é nada. Eu apenas tinha me esquecido.”

    “Mas deixando isso de lado, nossa, Suzune estava tão linda que eu mal me aguentei. Queria abraçá-la e beijá-la ali mesmo.” Mergulhando em suas ilusões, Takashi abraçou o próprio corpo. 

    “Urgh! Para com isso. É vergonhoso e você já não está muito velho pra ficar falando isso?”

    “Certamente, meu corpo pode estar velho, mas meu coração é eternamente jovem.” Ele apertou em punho em pose de vitória. 

    “Fala sério…”

    Eles voltaram para casa e encerraram o dia, ao menos Takashi fez isso, porque Mayck não conseguia tirar da cabeça o fato de Haruna e Keiko serem primas. 

    Era, sem dúvidas, a maior surpresa para ele nos últimos meses. 

    Quem poderia imaginar? Nos conhecemos há pouco tempo e acabamos nisso. O mundo ama pregar peças em mim, não é mesmo?

    Engolindo o fato, o garoto fechou seus olhos e dormiu, se preparando para o dia seguinte. 

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