Capítulo 20 - Um deslize para um erro
Cerca de 8 horas da manhã, Mayck acordou já se sentindo bem. Finalmente poderia voltar para casa. Uma noite fora dela foi um tanto difícil para ele.
Ainda despertando de seu sono, o garoto bocejou e alongou os braços.
“Até que enfim acordou.”
Com um pequeno susto, Mayck olhou rapidamente para o lado, onde Hana estava sentada com um sorriso no rosto.
“Podia ter me acordado antes…”
“Eu não consegui. Faz tempo que eu não te via assim, então decidi aproveitar um pouco.” Ela mostrou-lhe o seu celular com várias fotos do garoto dormindo.
“Eu gostaria que você apagasse…”
“Pedido negado. Assim eu posso te chantagear de vez em quando.”
“Nem tenta esconder seus motivos, né?”
Ele tirou as cobertas de cima de si e se sentou na borda da cama.
“Ah, essa bolsa tem algumas roupas suas. Seu pai me pediu para trazer.”
“Hmm… Obrigado. Eu gostaria de me trocar, então…”
“Tem vergonha de tirar sua roupa na minha frente?”
Ela cruzou os braços enquanto o encarava.
“Você acordou com o que hoje?” Ele sabia que ela apenas estava provocando-o, portanto optou por entrar nesse jogo. “Se você não se importa, então vou trocar aqui mesmo”, dizendo isso, ele tirou a camiseta, que foi entregue pelos funcionários do hospital.
“Ei, espera, era brincadeira.” Hana esticou as mãos em frente ao rosto corado e virou os olhos para evitar contato visual.
“Imaginei.”
“E-eu já volto.” Apressadamente ela correu para fora da sala, deixando o garoto sozinho.
Alguns minutos depois ela voltou e ainda parecia um pouco constrangida, já que entrou com a cabeça baixa.
“Não precisa se preocupar. Eu já me troquei.”
“Eu sei.”
Mayck inclinou a cabeça sem entender o motivo dela em evitar olhar para ele, mas deixou por isso mesmo.
“Vamos indo? Os funcionários, que vieram aqui depois que você saiu, me disseram que eu podia deixar a roupa em cima da cama.”
“Tudo bem.”
Ele pegou a mochila e os dois deixaram a sala, indo até a recepção. Lá eles fizeram as formalidades e se dirigiram para a saída.
Perto do portão principal, estavam quatro garotas esperando pelo retorno deles.
“Mayck, Bom dia~” Ao contrário do dia anterior, Chika já parecia ter voltado ao seu humor natural.
Depois de uma troca rápida de cumprimentos, eles voltaram para casa e Mayck decidiu tomar um banho.
As cinco garotas se reuniram na cozinha e discutiram entre si, quais seriam as tarefas de cada uma delas.
“Ainda é cedo, então eu gostaria de preparar o café da manhã”, Akari se pronunciou.
“Se é assim, eu posso te ajudar, se você não se importar”, Rika disse.
“Mas, basicamente, só há o café da manhã para fazer agora. E o que vamos fazer então?”
“Haruna está certa. Não é como se tivéssemos tantas coisas para fazermos no momento.”
“Isso não é verdade, Hana-chan, ainda há uma coisa a fazer”, Chika afirmou com um sorriso suspeito.
“O que você tem em mente?”
“Podemos ajudar ele a tomar banho.”
Com a afirmação, cada garota teve uma reação diferente. Rika cobriu o rosto de vergonha, apenas por imaginar a situação. Haruna demonstrou seu desgosto, mas também envergonhada. Hana preferiu ignorar e Akari sorriu.
“É claro que isso não está na agenda, idiota.”
“É brincadeira, brincadeira. Mas se não há outra coisa, então vamos apenas relaxar.”
“Parece ser a única coisa a fazer. Podemos decidir quem faz o almoço quando a hora chegar.”
Finalizando a discussão, Akari e Rika foram para a cozinha e as três restantes ficaram na sala, assistindo TV e esperando o garoto retornar.
O banho estava confortável. Depois de se lavar, Mayck relaxou seu corpo na banheira, mas sua mente ainda trabalhava constantemente.
O dia em que revelaria o traidor da Black Room e descobriria seus motivos; esse era o principal ponto em que colocaria seus esforços no momento.
“Isso é cansativo…”
Parcela de culpa do cansaço que o garoto sentia era de Zero e Nikkie. Poderia culpar os dois por isso depois.
Se Kihon for mesmo o culpado de tudo, então tem uma grande chance de ele estar relacionado com outros problemas. Isso, levando em conta que eu estou certo. Mas se algo sair errado, eu volto pra estaca zero e quero evitar isso ao máximo.
Não haveria sentido em quebrar a cabeça em uma teoria e, no fim, ela estar errada. Portanto, Mayck relembrava cada informação que tinha para ter total certeza no final.
Seus cálculos não poderiam estar errados.
Depois de alguns minutos ele decidiu sair do banho.
“Eu esqueci de trazer uma toalha…” ele observou o gancho do banheiro vazio.
Fechou o box e abriu o armário em busca do objeto para se cobrir.
“Mayck, nós estamos-”
A porta foi aberta repentinamente e Haruna estava prestes a dizer algo.
“Ah…”
O rosto da garota ficou vermelho e ela não falou nada por alguns segundos.
Naquela cena constrangedora, Mayck pensou que seria bom explicar sua situação.
“Eu esqueci de pegar uma toalha, então…”
Haruna fechou a porta e saiu.
Hana, que estava indo atrás dela, parou no meio do caminho.
“Haruna, o que foi?” Ela se preocupou com o rosto avermelhado da garota.
Mas, sem dizer uma palavra, levantou as mãos e abriu um espaço entre elas, como se estivesse medindo alguma coisa.
“O que está fazendo?” Hana não entendeu.
As duas voltaram para a cozinha e Haruna permaneceu em silêncio, independente das perguntas sobre seu rosto corado.
Minutos depois, Mayck chegou à cozinha e tomou seu café na companhia das cinco garotas, sem dizer nada.
Após a refeição, Hana obrigou, ou pediu honestamente, que todos colaborassem na limpeza da casa.
O almoço foi deixado nas mãos de Haruna e Hana.
Chika e Mayck passaram esse tempo sem fazer nada além de comer e jogar videogame.
“Que tédio.” a garota de cabelos vermelhos resmungava enquanto se estudava no sofá.
“Vocês não precisavam passar o dia todos aqui.”
“Mas Hana-chan estava preocupada que você acabasse passando mal de novo.”
“Não diga coisas desnecessárias.” Hana deu um peteleco na testa de Chika.
Mas, inevitavelmente, todos se sentiam do mesmo jeito.
“Já sei. Porque não maquiamos o Mayck?”
“Negado.” O garoto não queria nem ao menos saber da ideia.
“Mesquinho.”
“Eu não sou seu brinquedo.”
Em retaliação, Chika bateu o calcanhar na cabeça do garoto que estava sentado no chão à frente do sofá.
“Qual o seu problema?” Ele pôs a mão na cabeça para amenizar a dor e reclamou, mas a garota mostrou a língua.
“Se acalmem vocês dois…” Rika tentou interceder.
“Se estão tão entediados assim, então porque não saímos um pouco? Todos juntos.”
Enquanto as garotas pensavam que era uma boa ideia e concordaram quase que imediatamente, Mayck expressou sua objeção com todas as suas forças; estava, supostamente, doente e ainda teria que andar?
Sem tempo para suas reclamações. Era cerca de 14h20 e eles estavam na estação.
“Já que é assim, que tal irmos até Akiba? Ou então Shibuya?”
“Porque vamos tão longe?”
“Nem é tão longe assim.”
Apesar de tudo, Chika e todos os presentes ali eram um tanto voltados para a cultura otaku, por isso, não teriam problemas se todos decidissem ir para Akihabara.
“Por que não vamos a todos os lugares então?”
“Não temos tanto tempo para isso. Bom, eu vou deixar vocês decidirem. Vou para qualquer lugar.” Mayck tirou seu cavalo da chuva.
“Qualquer lugar, hein?”
“Já que é assim…”
Naquele momento o garoto não tinha pensado que sua opinião causaria uma revolução tão grande nesse grupo; em menos de 1 hora eles estavam numa grande loja de roupas.
Eu nunca mais deixo elas decidirem algo. Segurando mais de cinco sacolas, o garoto se lamentava.
Estava sentado em uma banco enquanto via suas amigas correrem de um lado para o outro experimentando roupas e vez ou outra vindo pedir a sua opinião.
Passaram mais de 30 minutos nisso.
Por alguns motivos, Mayck odiava lojas de roupas. Ele não sabia lidar com os vendedores que vinham e o faziam vestir roupas e tentavam convencê-lo a comprar roupas da moda e coisas do tipo.
Por esse motivo, o garoto sempre optava por ir com alguém quando existia a necessidade de visitar esses locais.
“Ei, ei, Mayck, por que não experimenta algo também?” Chika, vestindo algumas roupas que não eram comuns para ela. Era uma blusa branca e uma saia preta e um cinto da mesma cor, com um casaco cinza escuro.
“Você parece gostar de coisas desse tipo.”
“Hehe. O que você achou?” Ela fez pose com um gesto de vitória.
“É bem diferente do seu estilo comum, mas eu gostei disso.”
Meio envergonhada, Chika pôs a mão atrás da cabeça com um sorriso tímido.
Seu cabelo estava solto, o que era raro também.
“Por falar nisso, Rika-chan está muito fofinha com uma roupa que a Haruna-chan e Hana-chan deram a ela. Por que não dá uma olhada? Ela ficaria feliz de receber um elogio seu.”
“Hmm… o problema é que estou com preguiça de levantar.”
Chika deu um sorriso malicioso.
“Deixa que eu resolvo”, ela falou e saiu correndo, indo até um dos provadores.
Em alguns minutos ela voltou puxando Rika. De longe, isso poderia até ser confundido com um sequestro.
“E-e-espera, Chika-chan. Eu ainda não…” A garota envergonhada lutava para se livrar da insistente energética, mas parou quando encontrou os olhos de Mayck e cobriu o rosto vermelho.
“Tá tudo bem, não precisa se esconder”, Chika falou, abaixando as mãos dela e revelando seu rosto.
Mayck a olhou atentamente e deu um pequeno sorriso.
Ela estava usando uma saia com estampa quadriculada azul, que chegava um pouco mais acima do joelho e se estendia até sua barriga, cobrindo a blusa de manga comprida branca e uma gargantilha preta com um laço.
Que fofa, era o que estava em sua mente, mas não conseguia dizer tão fácil.
“Gostei.” Ele respondeu depois de analisar um pouco.
Aquela palavra foi o suficiente para a garota ficar ainda mais corada.
“‘Gostei’? É só isso?”
“O que você quer que eu diga?”
“O que está no fundo do seu coração.” Ela parecia orgulhosa falando isso.
“Bom, está muito fofa.”
Não aguentando a pressão, Rika fugiu.
“Ela fugiu. Bem, significa que fez efeito.”
“Parece que sim.”
Mayck não podia se fazer de desentendido. Ele tinha plena ciência dos sentimentos da garota por ele.
“Eu vou ver como as outras estão.”
“Até mais.”
Ficando sozinho novamente, ele colocou as sacolas no chão e pegou seu celular para navegar na internet por um tempo.
Suas redes sociais estavam como sempre. Haviam informações, postagens e várias outras coisas.
Como possuía duas contas, ele alternava entre elas.
Rolando a tela passou por uma postagem de uma garota que ele conheceu na escola quando ainda estava no Brasil. Olhou por um segundo e estava prestes a rolar a tela outra vez, mas de repente Hana se aproximou por trás dele.
“Uma garota bonita essa aí.”
“Não fique espiando minhas coisas. Isso é falta de educação.”
“Não com você.” Ela deu a volta e sentou-se ao lado dele.
“O que eu sou para você?” Mayck perguntou retoricamente.
“Eu estou brincando. Ou será que você está escondendo algo?”
“Por que não foi trocar de roupas junto com as outras? Eu gostaria de te ver com uma roupa fofa.”
“Eu tentei, mas não sou muito de comprar roupas.”
“Prefere doces, eu sei.”
Mayck guardou seu celular.
Os dois observaram as garotas de longe brincando e provando mais e mais peças de roupas.
“Eu só gostaria de ir pra casa.”
“Você realmente odeia ficar em lugares lotados, não é? Lembro de uma vez quando fomos a um fliperama pela primeira vez e você ficou perdido.” Uma pequena risada escapou de seus lábios.
“O que eu poderia fazer? Nunca tinha ido a um local como aquele e…” Mayck interrompeu sua frase.
Que dia foi isso?
Ele respondeu a garota normalmente e com facilidade, mas sua mente ficou em branco, como se esse dia nunca tivesse acontecido, embora soubesse que aconteceu.
“Hum? O que foi?”
“Não é nada. Mas você não tem o direito de me zuar. Eu lembro que você ficou vários minutos em uma fila da biblioteca pensando que era para a sorveteria.”
A lembrança fez o rosto de Hana ficar vermelho e ela desviou o rosto.
“Isso foi…”
Mayck riu.
Os dois trocavam palavras animadamente e deixavam o tempo passar. Até que suas amigas se aproximaram.
“Desculpem a demora”, Akari falou diminuindo a distância.
“Vocês demoraram bastante.” Hana respondeu.
“Desculpe. Nós nos empolgamos.” Chika sorriu amargamente.
Os olhos de Mayck voltaram para as sacolas em suas mãos. Ao notar isso, Rika olhou para o chão e virou um pouco a cabeça; seu rosto ainda estava um pouco vermelho.
“Hmm? Onde Haruna está?” Hana notou a ausência de alguém do grupo.
“Ah! Ela foi com uma garota de cabelos verdes até outra loja. Logo ela volta.”
Cabelos verdes…? Essa descrição foi o suficiente para Mayck exalar um suspiro. Se ela está aqui, então adeus minha volta para casa.
O suspiro dele foi tão profundo que todas perceberam.
“Aconteceu alguma coisa?”
“Uhum. Não se preocupe.”
Mal terminou de falar e Haruna voltou arfando com algumas sacolas nas mãos e acompanhada de uma pessoa um tanto problemática.
“Ah! Makkun. Há quanto tempo.” Keiko acenou alegremente.
“Há quanto tempo… e que apelido é esse?”
Os olhos de todas as presentes se voltaram para o garoto com uma mesma questão em mente: quem era Makkun?
Dali, eles foram para uma praça de alimentação sendo acompanhados pela nova integrante que não hesitou em fazer amizades com as demais garotas do grupo.
“Então, Keiko-chan, qual a sua relação com Mayck?” Chika perguntou o que todos queriam saber.
O assunto da conversa continuou quieto tomando seu refrigerante, pensando que não tinha nenhum problema com a resposta dela, claro, isso dependia de como ela explicasse.
Ele olhou para Haruna, dizendo a ela para desfazer qualquer mal-entendido que pudesse surgir da conversa.
“Nossa relação? Nós somos uma família.” Ela respondeu.
“U-uma família? Tipo primos?”
“Não. Do tipo de casamento.”
Akari, que se manteve neutra até o momento, quase cuspiu seu suco.
Como eu pensei. Ela não vai explicar direito. Haruna, é com você.
“Ca-casamento? Como assim?” Rika parecia a mais chocada.
Hana ria em segredo.
“Não é bem assim, Rika. Na verdade, nossos pais vão se casar, então seremos uma família em breve.”
“Hã?” A reação delas foi perfeitamente igual.
“Ué? Mayck-kun nunca contou nada?” Ela olhou para ele.
“Eu pensei que você teria contado.” O garoto se defendeu.
“Por que eu deveria contar?”
“Eu me pergunto a mesma coisa.”
Eles discutiam quem tinha a responsabilidade de revelar esses detalhes, mas como não iam a lugar algum, Hana interferiu e fez os dois se acalmarem.
Depois de terminarem suas refeições, se colocaram no caminho para casa.
Agora que penso nisso… por que a Keiko estava lá e não na escola?
Com essas perguntas, Mayck retornou para casa.
As garotas tomaram seus caminhos e prometeram se encontrar na escola, no dia seguinte.
|×××|
Já havia passado das 18 horas.
A ida até a Black Room estava mais próxima e o mistério do traidor seria resolvido.
“Bom, acho que estava na hora.”
Mayck olhou para o relógio e viu que eram 20h30. Era hora de partir.
Em meia hora ele estava com Nikkie, nos corredores da instalação.
“Você vai fazer o exame daqui a pouco, não é?”
“Hm. Eu me pergunto que resultados terei hoje.”
“Bem, mesmo que não tenha nada outra vez, nós já sabemos que você é forte.”
“Resolveu admitir? Que estranho ouvir isso de você.” A Nikkie que ele estava vendo no momento parecia diferente da Nikkie que ele havia conhecido antes.
“Eu não sou nenhuma criança para ficar negando a realidade.”
“Isso é…”
“Não fique pensando em coisas desnecessárias. Não se esqueça que você ainda tem trabalho a fazer.”
“Ah, sobre isso, não se preocupe.”
“Hm? Você quer dizer que já está resolvido?”
“Não exatamente, mas eu já tenho minhas ideias. Então gostaria de sua colaboração.”
Nikkie parou de andar e olhou para o garoto atrás dela.
“O que você quer que eu faça?”
Mayck explicou o que gostaria de pedir a ela e ela concordou. Do seu ponto de vista, não era algo tão problemático ou comprometedor, portanto, poderia ser feito sem problemas.
“A propósito, Nikkie-san, sobre a sua irmã, você não tem ideia de onde ela pode estar?”
A pergunta surpresa fez a garota se calar por alguns segundos e ela ficou claramente nervosa.
“Não. Eu não faço ideia de onde ela possa estar. Tudo o que eu sei é que ela foi levada…”
“Mas você não tentou procurar nenhuma vez?”
“É claro que eu tentei. Mas não obtive nada que me ajudasse.” Ela voltou a andar.
“Bem, não há o que fazer. Desculpe ficar te questionando o tempo todo.”
“Não importa. É seu trabalho afinal.”
Eles tinham um acordo. Em troca de suporte e várias outras coisas, Mayck ajudaria Nikkie a encontrar sua irmã perdida.
Já havia se passado um mês desde que esse acordo foi firmado mas, em nenhum momento, o garoto se esqueceu dele e já tinha feito seus preparativos.
“Bem, eu estou indo agora. Conto com você.”
Em uma bifurcação, os dois pegaram caminhos opostos e Mayck seguiu até a sala de Kihon.
Já na sala, tudo o que iriam usar para o teste rotineiro já estavam prontos.
“Finalmente chegou. Estávamos à sua espera.” O homem de jaleco branco se levantou de sua cadeira.
“Desculpe. Eu estava um pouco ocupado.”
“Não se preocupe com isso. Vamos começar, então?”
Mayck acenou com a cabeça e se deitou na cama em que foi designado, após retirar algumas peças de roupa.
Um tipo de capacete foi posto em sua cabeça e com alguns toques em botões, o teste foi iniciado.
Os computadores mostraram o andamento, enquanto um ‘bip’ saía do painel acima da cama.
“Primeiro teste: localização elemental. Terminada”, um dos pesquisadores dizia ao fim de cada teste.
Era a mesma coisa de sempre e após 30 minutos, chegou ao final.
O equipamento foi desligado e Mayck pôs suas roupas de volta.
“Como foi dessa vez?” Ele perguntou se sentando.
“Então, M-san, não houveram mudanças desde a última vez, mas…”
“Existe algum problema?”
Kihon se voltou para o garoto e andou até ele com um rosto sério.
“Você não tem usado sua ID recentemente, não é?”
“Hã? Do que tá falando? É claro que usei.”
O desenvolvimento que ele esperava acabara de começar.
“Os registros mostram uma ausência de energia no seu corpo. Quando sua ID é usada, restos dessa energia ficam no seu corpo.”
“E isso quer dizer…?”
“Que não adianta você mentir pra mim. Está tentando esconder alguma coisa?”
“Não tem como eu ficar sem usar a minha ID. Como eu poderia lutar contra os Ninkais sem ela?”
“Eu ouvi que você pediu a Nikkie-san que te ensinasse a usar armas.”
“De onde você ouviu isso?”
Mayck se levantou e ficou frente a frente com Kihon, esperando sua resposta.
“As notícias correm por aqui.”
O garoto tinha feito esse pedido a Nikkie, mas não o mencionou a ninguém. Ela também garantiu que não diria a terceiros. A não ser que alguém tenha ouvido e soltado para os outros.
Mas isso era inviável.
Sempre que os dois iriam ter alguma conversa, eles tinham a certeza de estarem completamente sozinhos.
Por causa do anonimato pregado pela Black Room, a instalação não possuía câmeras. Portanto era impossível que alguém os tivesse espiado por elas.
Mayck exalou um suspiro, respirou fundo e abriu a boca.
“Vamos parar com esse teatro, Kihon.”
“Ao que se refere? Não estou te entendendo.”
“Não existe uma forma de descobrir a ID de alguém. Não foi isso o que você disse?”
“Realmente. Mas o que isso tem a ver?”
“Qual o objetivo desses testes que fazemos?”
“…” Kihon se calou, já que não tinha uma resposta.
“Não existem equipamentos capazes de analisar e dizer de quem é a energia detectada. Mas se você sabe que eu não usei minha ID, quer dizer que conhece o meu fluxo de energia.”
“E então?”
“Isso só pode ser feito com uma ID.”
“Está dizendo que estou usando minha ID para afirmar que você está mentindo?”
“Isso mesmo.”
“Isso é ridículo…”
“Se continuar negando, eu vou ter que forçar você a falar.”
Mayck mudou seu semblante e direcionou um olhar intimidador para Kihon, que mordeu os lábios, mas não tinha intenções de recuar.
“Como você pode provar isso?”
“Eu não posso. Por isso você vai confessar. Os caçadores sabiam sobre o ‘Olhos azuis’ por que foi Yang quem contou. Mas ele não falou sobre a ligação dele com o tal The fake human.”
“Não tem como você saber se ele não falou mesmo.”
“E não tem como você provar que ele falou. Ou será que tem?”
“Então porque não me diz sua teoria? Se você diz com tanta certeza, então deve ter uma prova, não é?”
“Claro. Já que insiste. Vamos voltar um pouco, mais especificamente, para algumas semanas antes de eu vir para cá. Shinobu Yuuko foi sequestrada e sua irmã mais velha foi chantageada a realizar suas exigências: conseguir um portador poderoso.”
“Onde pretende chegar? Está dizendo que eu sequestrei Shinobu Yuuko? Por que eu faria isso?”
“Por poder. Mesmo sendo um homem talentoso, você ainda foi posto em terceiro lugar, abaixo de uma novata. Então eu sei que você queria uma forma de derrubá-la.”
“E essa forma era raptar sua irmã?”
“Se fosse só isso seria fácil para você ser pego. Mas isso é um objetivo pessoal.”
“Oh?”
“Você vem cooperando com Yang há bastante tempo. No dia em que eu usei minha ID pela primeira vez, Yang me encontrou, mas eu não faço ideia de como. O estranho está no fato de eu ter sido descoberto quando ele ligou. Por que ele ligaria tão calmamente para uma organização inimiga?”
“Ele podia apenas querer ameaçar Zero.”
“Isso não é normal. Yang não faria algo tão infantil quanto ameaçar alguém por ligação. Eu sei disso porque ele fez algo parecido comigo.”
Mayck cruzou os braços e continuou.
“Você deu informações para ele, já sabendo quem eu era e quando estaria aqui.”
“Mas isso não faz sentido. Eu te conheci somente no mês passado.” Kihon mostrava sinais de estar nervoso.
“Realmente. Esse ‘eu’ de agora você só conheceu mês passado.”
“Esse sua teoria está incompleta. Como pode me chamar de traidor com algo tão vago? Qualquer outro poderia estar em contato com Yang.”
“Mas apenas uma pessoa teria motivos para ficar ao lado dele. Vamos supor que Yang prometeu que te ajudaria a chegar no topo da Black Room. Porém, para isso ser feito, você deveria encontrar um certo portador para ele. Foi quando você se lembrou de mim e armou aquela armadilha para que eu voltasse a usar minha ID.”
“Armadilha?”
“Montar uma instalação de pesquisa perto da minha casa e raptar uma pessoa que estava próximo a mim. Fala sério, não tem como existir tanta coincidência.”
“Supondo que não seja uma coincidência, porque raptar alguém tão aleatório?”
“Não há motivo especial. Desde que eu me metesse, estaria valendo. A segunda vítima foi para me provocar e me trazer até aqui. Fingir estar fazendo ‘testes’ quando, na realidade, estava tentando encontrar algo no meu corpo com sua ID. E eu imagino que seja a tal chave.”
Mayck via objetivamente tudo o que aconteceu com ele nas últimas semanas. Depois de quebrar a cabeça em busca de respostas para cada problema que passou, ele chegou a conclusão que nenhuma era coincidência.
A lacuna de sua memória, o fato de Hana estar na Strike Down e o motivo pelo qual ele foi encontrado pela Black Room tão facilmente.
No dia em que lutou contra Yang, apenas a Strike Down sabia sua real identidade, porém, mesmo assim, o garoto foi levado até Zero. Alguém de dentro da organização já sabia sobre ele.
Se Yang quisesse levá-lo, o grupo que foi enviado para resgatá-lo, não teria chance. Mas ele apenas foi embora, dando a entender que estava confirmando algo e isso seria a identidade de alguém.
“O rapto de Shinobu Yuuko foi apenas para manter Nikkie quieta e quando chegasse a hora, iria tratá-la como a traidora e tomaria o lugar dela, não estou certo?”
O rosto de Kihon endureceu, mas logo ele começou a rir.
“Incrível. Como conseguiu chegar tão fundo nisso?”
“Então eu acertei, hein? Bom, agradeço as pessoas que me deram pistas.”
Se estivesse errado eu só passaria vergonha.
“Então, um descuido meu me derrubou, é?”
“Pois é. Se você me dissesse um outro motivo para os testes, então eu nunca teria suspeitado de você. Pelo menos, não tão rápido.”
Kihon ria como se um show de comédia tivesse começado, provando que Mayck havia acertado em cheio.
“Você realmente me pegou. Eu pensei que estava tudo indo bem, mas quem diria que meu alvo traria minha ruína.”
“Eu acabei descobrindo isso, mas ainda não sei o que você planeja de verdade. Ficaria feliz se me desse essas informações.”
“Você vai me perdoar, mas eu não vou te dizer. Embora eu também tenha uma armadilha para você.”
“Ah, é? Você não para quieto?”
“Quero ver como você vai lidar com isso agora. Confesso que me encontrar foi um pouco fácil demais.”
“Realmente. Mas, o que vai fazer com ele agora? Como líder, a decisão é sua, certo, Zero?”
Mayck desviou seus olhos para a porta automática, por onde entrou Zero acompanhado de Nikkie.
“Primeiro, me deixe parabenizá-lo, M-kun. Eu te entreguei esse trabalho, mas não esperava que pudesse lidar com ele tão facilmente.”
“Se não esperava nada, porque pediu?” Mayck estalou a língua.
“Certo, Kihon. Venha até minha sala. Vamos ter uma breve conversa”, Zero falou e virou de costas.
Quando passava por Mayck, o garoto sussurrou para ele, o olhando de relance.
“Você já sabia de tudo, não é?”
Zero deu um leve sorriso e deixou a sala, mas antes de sair, ordenou aos soldados presentes que levassem os pesquisadores para uma sala que funcionava como prisão.
Assim como Kihon, esses pesquisadores estavam com ele, portanto eram cúmplices.
Com esse desfecho, Mayck e Nikkie ficaram a sós na sala.
“Você me surpreendeu. Eu não esperava que conseguisse esse feito.”
“Eu também não. Mas tenho algumas reclamações, Nikkie-san.”
“Reclamações?”
“Você mentiu pra mim. Sua ID não foi bloqueada. Não deve existir tal coisa, pelo menos não que eu saiba. Seu intuito sempre foi me usar, não é?”
“Se já chegou a esse ponto, então não tem o que esconder.” Ela respirou fundo. “Sim. Eu realmente quis te usar para isso.”
“Imaginei. Não havia registros de energia no dia do sequestro da sua irmã. Kihon usou o nome de Yang para te assustar e te usou para conseguir um portador poderoso. Quando me encontraram, você teve a ideia de me entregar imediatamente, mas eu ofereci ajuda e você levou em consideração o fato de que Zero não iria gostar nadinha se nosso contrato fosse quebrado.”
Nikkie aproveitou o ódio do garoto e usou de mentiras para que ele fosse atrás de Yang.
“Mas não importa muito. Até porque chegaria ao mesmo resultado.”
“Olhando para trás, dá pra ver que não importa mesmo. Mas deixe que eu me desculpe por ter mentido. Se eu tivesse usado minha ID naquele dia, poderíamos ter evitado a morte de Flame.” Ela abaixou a cabeça.
“Isso também não importa mais. Porém, você vai ficar me devendo.”
“Acho que não tenho escolha.”
“Não mesmo. Bom, agora só precisamos descobrir onde sua irmã está e esse problema está encerrado.”
“Sim…” Nikkie respondeu vagamente.
“Aconteceu algo?”
“Não. Nada.” Ela se virou de costas. “Você pode ir na frente.”
O garoto acenou e saiu da sala.
Estando sozinha, Nikkie se sentou na cama de testes e retirou sua máscara, deixando que as lágrimas escorressem por seu rosto.
“Ainda bem…”
O alívio extremo que ela sentiu ao ver o fim do cativeiro de sua irmã, foi transformado em lágrimas.
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