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    O que é esse mundo afinal?

    Eu sempre mantive essa pergunta na minha cabeça. Ele sempre existiu ou alguém o criou?

    Desde que eu usei minha ID pela primeira vez três anos atrás, minha vida passou por um turbilhão de mudanças e às vezes eu nem sabia se estava fazendo a coisa certa. 

    Eu vi pessoas irem embora e outras se culparem por sua incompetência, assim como vi pessoas que deixaram tudo escapar por entre seus dedos. 

    Desde pequena eu me dediquei aos estudos e me esforcei para ser a melhor na minha turma e orgulhar meus pais, mas eu também queria ser uma boa irmã mais velha que ela pudesse admirar e desejar ser igual. 

    Meus pais viviam viajando de um lado para o outro por causa do trabalho, então eu passei mais tempo com a minha irmã do que com eles. 

    Eram dias pacíficos. 

    Um certo dia, eu acabei estudando até tarde e perdi o sono. Isso me levou a sair de casa antes que o alarme tocasse às 6 horas da manhã. 

    Eu aproveitei para fazer uma pequena corrida antes do sol raiar. 

    Foi algo que eu nunca tinha experimentado. 

    Nesse mesmo dia, após o fim das aulas, eu levei muito tempo na escola por conta das atividades do clube. 

    Já se passavam das 18 horas, o dia já estava quase caindo. 

    Eu precisava pegar o trem para ir de casa até a escola por conta da distância. 

    O sono me derrotou no vagão silencioso em que eu estava. 

    Quando despertei, o silêncio era total, assim como a escuridão que pairava sobre o trem. 

    “Essa é a última estação?” Eu me perguntei ainda sonolenta. 

    Saí do vagão e comecei a andar pela plataforma, sozinha, apenas eu e minha própria companhia; ou assim eu pensava. 

    Cada passo que eu dava, ecoava por todos os lados da estrutura e eu torcia para que pudesse sair de lá sem problemas. 

    Com o passar do tempo, o medo começava a se apossar de mim e minhas esperanças queriam me abandonar, já que eu não conseguia encontrar a saída. 

    Yuuko deve estar preocupada, eu pensei. Ela ainda era só uma criança, não conseguia fazer nada sozinha. 

    Eu preciso voltar logo, martelava em minha mente. 

    Os sons dos passos começavam a dobrar e eu me via correndo até que pudesse localizar a saída.

    Mas esse foi meu maior erro. 

    Meus pés batendo forte contra o chão desviaram a minha atenção de outros passos que me seguiam. 

    De repente, minha boca foi coberta e meu corpo gelou. 

    Aquela mão prendendo minha respiração, sem dar sinais de me libertar enquanto eu me debatia. 

    A primeira palavra que veio à minha mente foi: socorro.

    Em um piscar de olhos, o corpo que me prendia com força desapareceu com um clarão e eu fiquei livre para encontrar a saída. 

    Depois desse dia, eu comecei a ser perseguida por inúmeras pessoas, que diziam querer a minha ID. 

    Na época, eu não entendia o significado, mas com o tempo eu aprendi que os humanos possuíam poderes e que eles eram parte de sua existência. 

    Depois de ser perseguida inúmeras vezes, tomei a decisão de aprender e controlar esse poder. Assim, poderia me livrar das pessoas que me perseguiam. 

    Nos noticiários da TV, eram relatados o desaparecimento de muitas pessoas ao redor do mundo. Eu não sei o porquê, mas eu soube imediatamente que as pessoas que usavam roupas pretas e me perseguiam estavam relacionadas a isso. 

    Flor solar. Esse é o nome que deram para minha ID. 

    Em uma batalha eu sou capaz de armazenar fótons de qualquer fonte de luz e usá-la como bem entender. 

    Fui recrutada por Zero, para uma organização que tinha como objetivo manter as pessoas seguras dos portadores e qualquer outra ameaça 

    Passei por um rigoroso treinamento para que pudesse lutar contra os meus inimigos. 

    Meu desempenho foi ótimo. Todos me elogiavam e diziam o quão boa eu era. 

    No entanto, eu só fui capaz de me dedicar porque eu possuía um objetivo; proteger a minha irmã de qualquer coisa. 

    Meus esforços foram reconhecidos pela organização e cerca de um ano depois eu já fazia parte do alto escalão, sendo a segunda no comando da base na região de Kanto. 

    Com a posição, mais trabalho. 

    Eu fiquei responsável pelos times especiais que eram compostos por 5 portadores, nomeados com o alfabeto grego. 

    Eu acabei ficando absorta com meus deveres e acabei negligenciando o meu objetivo principal. 

    Os portadores manifestavam suas IDs quando completavam 15 anos, mas havia exceções. Exceções essas que eu deixei de lado. Acho que posso chamar de karma ou talvez destino. 

    Eu não notei os sinais de que Yuuko pudesse manifestar sua ID com apenas 14 anos. 

    Na verdade, eu nem prestava mais atenção a ela. 

    A energia foi liberada e minha irmã foi localizada não só pela Black Room, como também pela Ascension. 

    Uma noite depois de terminar os meus trabalhos na instalação, não encontrei Yuuko dormindo como sempre. Ela não estava no banheiro, na cozinha nem na sala. 

    Eu me desesperei, fiquei com medo, mas no fundo eu sabia que a culpa era minha. 

    Corri pelas ruas. Ainda era inverno, então o clima estava frio. 

    O ar que saia da minha boca se dispersava como uma fumaça branca. 

    Meu peito apertado clamava para que estivesse tudo bem e minha mente reprimia minhas lágrimas. 

    Eu a encontrei, porém, não foi do jeito que eu esperava. 

    “Você quer sua irmã de volta? Então é melhor prestar atenção nas suas ações.”

    Um homem vestido de preto me avisou, enquanto outras cinco pessoas seguravam Yuuko desacordada. 

    Eu não conseguia ver aquela cena. Em um momento de fúria eu os ataquei e eliminei três deles, mas havia um que era mais difícil que os outros. 

    Ele foi um problema. 

    Sua habilidade de manipular a gravidade arrancou de mim a única chance que eu tinha de resgatá-la. 

    Era doloroso. Todos os meus movimentos foram restringidos. 

    “Yang quer um certo portador. Se você não quiser que sua irmã desapareça, então é sua obrigação trazê-lo para nós.”

    Essas foram as palavras que se gravaram em minha mente como uma cicatriz de um metal quente em contato com a pele. 

    Ao acordar no dia seguinte, vi que, mais uma vez, eu estava no fundo do poço. 

    |×××|

    A minha infância foi comum, assim como a da maioria das crianças. 

    Eu não tinha um talento especial nem nada do tipo. Era apenas uma criança alegre que gostava da sua própria família. 

    Quando eu tinha cinco anos, minha mãe adoeceu. Isso fez com que ela fosse para o hospital frequentemente. 

    O tratamento que ela recebia era caro, então meu pai começou a trabalhar mais e mais e quase não voltava para casa. 

    Com o tempo eu pude me virar, mas também ficava cada vez mais solitário. 

    Eu tentava manter meu sorriso alegre em público, mas quando estava sozinho me sentia ansioso. 

    “Me desculpe, Haruki. Hoje o papai vai trabalhar até tarde.”

    Eu ouvi ele dizer essas palavras antes de sair de casa e não retornar. 

    Uma amiga da nossa família cuidava de mim quando eu voltava da escola. 

    Ela preparava o café da manhã e o jantar. 

    Quando eu perguntava algo relacionado ao meu pai, ela hesitava em responder e fugia do assunto. 

    Isso durou uma semana. 

    Quando ele retornou, parecia cansado e eu não tive coragem de falar com ele. 

    Eu me convencia de que ele estava fazendo o seu melhor e que eu devia apoiá-lo sem questionar. 

    Mas era só uma forma que eu encontrei para me confortar na solidão. 

    Foi quando tudo aquilo aconteceu. 

    Antes de sair novamente, ele me disse que iríamos nos divertir quando voltasse. 

    Eu fiquei feliz e esperei… mas ele não voltou. 

    Tomei coragem para esperar em frente ao portão de casa, porém a cidade estava estranha naquele momento. 

    Em meio a escuridão da noite, haviam luzes ao longe e também fumaça. 

    Eu conseguia ouvir o som das sirenes de polícia e também de ambulâncias. 

    Fui incitado pela minha própria cabeça a ir até lá. 

    Foi o meu maior erro. Não. O meu maior erro foi ter aceitado a situação como estava. 

    Eu deveria ter dito a ele que queria passar tempo com ele. Queria abraçá-lo e dizer o quanto o amava. 

    Mas essa oportunidade foi destruída por um raio de luz que desintegrou o seu corpo e limpou o solo onde atingiu. 

    Nesse dia eu jurei que iria me vingar. 

    Alguns meses depois, algumas pessoas entraram em contato comigo e me levaram para um lugar que eu imaginei que só existiriam em filmes. 

    Eles se denominavam GSN. 

    Eles me ensinaram o que era um ID e também como controlá-la. 

    “Fique forte para poder vingar o seu pai. A pessoa que você está procurando… está muito acima do seu nível.”

    Essas palavras me levaram a treinar até o limite. 

    Eu me especializei no uso de adagas e me tornei um dos melhores novatos da época, fazendo parte da divisão de serviços pesados. Mais precisamente, assassinato. 

    A partir daí, eu comecei uma vida dupla. 

    Enquanto não trabalhava com todas as minhas forças no meu tempo livre, eu ia para a escola. Por algum motivo, eu não consegui largá-la. 

    Mesmo que fosse para vingar o meu pai, eu não tinha coragem o suficiente de contrariar os conselhos que ele me deu. 

    ‘Estude e seja sábio. Ninguém vai te dar as coisas por pura bondade, sempre há uma segunda intenção.’

    Eu refletia sobre essas palavras. Eu sabia que tirar uma vida era algo sujo e repugnante. Qualquer coisa que eu fizesse ou dissesse seria apenas uma desculpa para me justificar. Foi o que eu aprendi depois de observar um amigo.  

    Mas nenhuma palavra me fazia mudar de ideia. 

    Por que meu pai foi morto daquele jeito? Por que aquele garoto disse que não se importava?

    Eu queria descobrir isso. Eu iria saber o porquê e o faria pagar.

    Minhas investigações não me levaram tão longe, por isso eu percebi que não iria conseguir sozinho. 

    Meus amigos da escola estavam se preocupando porque involuntariamente eu acabei me fechando. 

    Não sabia se, depois do que estava para acontecer, eu conseguiria agir como antes. 

    Mas eu não queria jogar isso fora. 

    Depois de pesquisar sem parar, eu acabei conseguindo um meio de descobrir tudo. 

    Um homem entrou em contato comigo e me falou que sabia de alguém que poderia me dizer a identidade do meu alvo. 

    Segui alguns passos e cheguei no fim do túnel que era a minha vida. 

    “Seu alvo é… Mayck Mizuki.”

    Essas palavras saíram da boca do indivíduo que iria me dizer a verdade. 

    Minha mente se recusava a acreditar, mas meu coração estava indeciso. 

    Será mesmo? Meu melhor amigo é o assassino do meu pai? 

    Eu não parava de pensar nisso. 

    Eu fiquei sabendo por Akari, que Mayck havia tido um problema de saúde e foi levado ao hospital, mas eu não tinha coragem de visitá-lo. 

    Depois de tomar a minha decisão, eu fui até o hospital e confirmei para mim mesmo, não, meu melhor amigo me confirmou o que eu deveria fazer. 

    Assim como meu pai, Mayck era um amigo importante. Eu não queria ter que lutar contra ele, no entanto, meus sentimentos em relação a minha vingança pesaram na balança. 

    Eu vou fazer o que planejei desde o início. 

    Mesmo que meu pai tenha sido um lixo, eu amava a versão carinhosa e gentil que ele me mostrava, então, em resposta ao seus sentimentos por mim, eu vou vingá-lo, mesmo que isso signifique matar o meu amigo.

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