Índice de Capítulo

    As palavras “eu vou me esforçar” começaram a fazer parte de seu vocabulário desde aquele dia. Chika jurou para si mesma, não como Ruby, mas como Ichinose Chika, que se tornaria uma líder digna de substituí-la. 

    Incidente após incidente, ela dava o seu melhor para resolvê-los. Ela era um prodígio na Academia de Desenvolvimento, então era o esperado. Entretanto, um efeito colateral começou a se manifestar, mas ela se recusava a aceitá-lo e deixar que os outros fizessem o trabalho por ela. 

    Ela não se deixaria derrubar pelo cansaço mental. 

    Eu vou me esforçar muito mais… Clair-senpai. Não vou deixar acontecer com eles o que aconteceu com Flame, ela jurou.

    Ela acreditava que tinha recebido um ponto negativo de sua senpai quando deixou Flame morrer. 

    Isso não vai acontecer de novo. 

    Seus desejos, no entanto, não foram revelados para os demais integrantes do time Delta e nem precisavam.

    Afinal… ela só precisava protegê-los, mas sua realidade não permitia isso, então ela decidiu se espelhar totalmente em alguém. Se fosse dessa forma, então ela conseguiria fazer tudo corretamente, assim como ”ela” fazia. 

    Ela era perfeita. Era o seu exemplo de vida e ninguém poderia tomar o lugar dela. 

    “Se entendeu, então não faça de novo. Não vai ter uma segunda chance.”

    “Si-sim. Me desculpe.” 

    Com a cabeça baixa e uma expressão envergonhada no rosto, um garoto saiu correndo sem olhar para trás. Ele era mais um do tipo de portador que usava seus poderes para benefício próprio e estava tentando invadir uma casa, sabe-se lá o motivo.

    Entretanto, suas ações foram paradas por um grupo de pessoas que utilizavam máscaras brancas e que não hesitariam em acabar com ele ali mesmo, caso julgassem que tal portador fosse uma ameaça muito grande. 

    “Francamente…” Isha suspirou. “Esse pessoal está ficando muito agitado. Já é o quarto só nesta semana.”

    “Desde que alguns deles ficaram mais ativos, os demais começaram a pensar que tinham liberdade para fazer mais do que eram permitidos. Ainda mais agora, que mais portadores estão se dando conta de suas habilidades.”

    “Hmm… No fim, nosso trabalho não mudou muita coisa. Nós só temos que ficar mais rígidos e atentos”, Stella apontou, como se estivesse dando uma aula. 

    O time Delta continuou em sua patrulha por mais algum tempo antes de retornar para a base, onde fizeram o relatório para os superiores. 

    “Bom trabalho por hoje.” Eles se despediram e cada um voltou para o seu quarto. Com exceção de Ruby que morava em um pequeno apartamento perto da escola onde estudava. 

    Então ela seguiu em frente até sua casa. Do começo até o meio do trajeto, foi tudo tranquilo, mas ao dobrar uma esquina, foi coberta por uma sensação arrepiante que a deixou em alerta. 

    Ela olhou para os arredores. A sensação vinha da presença de um Ninkai e não um comum, mas um de classe Pesadelo. Baixar a guarda ali seria o mesmo que dar um fim à própria vida. 

    Onde você está?

    Não demorou muito para ela o avistar a poucos metros de distância dela. Ele já a havia notado e estava só esperando uma chance de atacá-la. 

    Aí está você… Que bicho esquisito. 

    Ela tirou uma conclusão assim que encontrou os olhos brancos e aterrorizantes da criatura humanóide. Ela tinha uma estatura muito parecido com a de um homem alto e magro, o qual usava um capuz e um manto negro sobre seu corpo. Suas mãos, a única parte visível de seu corpo, eram pálidas e magras. 

    Chika deu um passo para trás. Aquele certamente era um Ninkai que ela nunca tinha visto antes, mas, no fim, era só um Ninkai. 

    Eu posso acabar com ele num instante. 

    Ela planejou seu primeiro movimento. Com vinhas, iria prendê-lo e depois o cortaria com uma lâmina que ela tinha guardada em seu inventário. 

    Isso é o suficiente. Foi o que ela pensou, mas no momento em que se preparou para executar suas ações, o Ninkai simplesmente desapareceu de seu campo de visão. 

    “O quê-”

    Ela mal teve tempo de se surpreender com isso, pois o monstro reapareceu a poucos centímetros de seu rosto. 

    Foi um susto imenso, mas ela saltou instintivamente para trás. Seu coração estava agitado. 

    Como ele fez isso? Teleporte? Eu não vi um único movimento dele. 

    Nesse momento, Chika percebeu que ele não se tratava de um monstro como os outros. 

    “Haha… Você é o primeiro Ninkais que conseguiu me assustar”, ela disse com um sorriso amargo. De fato, suas mãos tremiam um pouco. 

    Eu acho que não vou mudar meu plano. Talvez não funcione, mas assim eu posso descobrir mais sobre ele e achar uma forma de derrotá-lo. 

    Ela se decidiu e no mesmo instante moveu as mãos, fazendo algumas vinhas surgirem e se agarrarem ao corpo magro do Ninkai. Mas, com apenas isso, ela sentiu uma exaustão chegando. O motivo era simples, ela precisou usar mais energia para fazer as vinhas quebrarem o asfalto.

    De qualquer forma, a primeira fase foi um sucesso. Em seguida, a garota fez surgir uma adaga em sua mão como mágica e disparou contra o Ninkai antes que ele pudesse se mover novamente. 

    Em um salto, ela perfurou o monstro no rosto ou era para isso ter acontecido, mas ela simplesmente passou por ele como se não houvesse nada ali. 

    An?!

    Ela se virou para trás; as vinhas desapareceram por não terem energia para serem mantidas. Enquanto isso, a criatura virou-se para Chika com o mesmo olhar sem expressão. 

    Eu passei por dentro dele…? Como assim? Ele é intangível? Não. Eu consegui prendê-lo de primeira, então talvez seja uma habilidade dele. O que eu posso fazer nesse caso?

    Durante a análise da garota, os olhos brancos da criatura brilharam mais intensamente e revelaram uma espécie de máscara de caveira em seu rosto… não. Na verdade, aquele era o seu rosto. Um tipo de caveira, sem o orifício do nariz e a mandíbula. 

    Chika sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Ela recuou por instinto e não quis dar nem mais um passo. 

    Essa coisa não é um Ninkai de classe Pesadelo normal… alguma coisa me diz que estou em grande perigo. 

    Ela mordeu seu lábio inferior e tentou controlar seu corpo agitado, respirando profundamente. 

    Se acalma. Ele pode parecer diferente, mas ainda é só mais um monstro. Eu consigo dar um jeito nele. 

    Ela recuperou sua confiança. Que tipo de líder seria, afinal, se não conseguia dar conta de um monstro sozinha? E fez outra vinha brotar do chão, gastando mais uma enorme quantidade de energia. Dessa vez, uma maior e mais rígida que as anteriores, cheia de espinhos, e a lançou contra o Ninkai, que permanecia parado. 

    A vinha o atravessou e desapareceu em seguida, porém, Chika já havia previsto isso e imediatamente outra vinha surgiu atrás dele e o perfurou nas costas, saindo em seu abdômen. 

    “Funcionou…”

    Ela prendeu a respiração inconscientemente até ter certeza de que o monstro morreu. A vinha desapareceu como poeira e o Ninkai caiu no chão sem reação. A luz em seus olhos foi lentamente se apagando, até que não restou nada dele; nem uma gota de sangue.

    Enfim, Chika foi permitida a respirar. Seus braços caíram e ela encostou num poste que estava perto dela, arfando, como se tivesse corrido uma maratona. 

    Caramba… foi fácil, mas, de certa forma, isso foi muito difícil. Nunca pensei que um Ninkai como esse fosse existir. Na verdade, Mayck me disse sobre ver um monstro diferente dos outros, não é? Será que são do mesmo tipo?

    “De qualquer forma, é bom estudar essas coisas de novo. Pode ser que mais problemas surjam em breve.”

    Mas eu preferiria ter encontrado ele em um lugar vantajoso para mim… agora estou morrendo de sede. 

    Ela deu as costas prestes a sair dali, mas uma chuva de aplausos começou de repente. 

    “An?”

    Da direção oposta à dela, um pequeno grupo de quatro homens vinha andando lentamente. 

    “Uau, você é incrível, senhorita. Conseguiu derrotar aquela coisa tão fácil.”

    “E quem é você?” Ela os olhou firmemente. 

    “Ah, não precisa se alarmar. Somos apenas caçadores que tiveram dificuldade em matar aquele monstro”, o homem loiro e alto afirmou. Ele parecia ser o líder do bando. “Nós vimos que você é muito forte. O que acha de se juntar a nós?”

    “Não. Obrigada.” Ela recusou instantaneamente, mas parecia que o homem estava confiante em sua aparência e acabou se surpreendendo ao ser rejeitado.

    “Eh… se o problema for o dinheiro… nós dividimos com você…”

    Mas ele insistiu. 

    Chika, no entanto, trocou seu modo de trabalho para seu modo casual e sorriu brilhantemente. 

    “Desculpa. Mas eu não quero me juntar a vocês. Procurem outra pessoa. E não pense que eu não sei quais são suas intenções. Acha que vai encontrar uma garota conveniente que vai aceitar ser dividida entre quatro caras? Não sejam imundos.”

    A resposta os pegou de surpresa. Era bem grosseira para ser dita com um sorriso tão amável. 

    Enquanto o loiro sentiu as perfurações das palavras, seus companheiros seguraram a risada ao máximo e isso só o envergonhou mais ainda. 

    “Haha… você é muito brincalhona… não é…? Eu nem tinha pensado em algo assim.”

    Desviando os olhos, ele tentou mascarar com uma mentira esfarrapada e, novamente, o olhar de Chika mudou, voltando ao modo sério. 

    “É mesmo? Então saíam da minha cola. Não quero vê-los de novo.” Dito isso, ela se virou e continuou seu caminho, deixando o grupo para trás. 

    Enquanto uns riam, o outro se afundava em uma vergonha que rapidamente se tornou ódio e ele o projetou como uma esfera de fogo, o qual foi disparado contra Chika, queimando tudo em seu caminho. 

    “Sua vadia… Acha que vai me humilhar e sair de boa?! Vai aprender uma lição agora!”

    A bola de fogo rasgou o solo numa velocidade incrível e quando ela se dissipou após percorrer uma boa distância, não havia nem resquícios do que uma vez foi uma Chika irritada. 

    “Ei… isso foi necessário mesmo?” Um garoto do grupo de cabelos castanhos bagunçados, perguntou, um olhar de quem dizia “pra que exagerar?”

    “Hmpf. Eu não tô nem aí. A culpa é totalmente dela.”

    “Se ninguém contar, ninguém descobre, então vamos ficar apenas calados.”

    “Caras… vocês não prestam.”

    Quatro gargalhadas diferentes ecoaram pela rua e eles deixaram o local. 

    “Foi mal me intrometer assim… você gostaria de bater neles?”

    “Não. É melhor que eles tenham pensado que eu morri. Assim não virão mais atrás. E você também não queria dar uma de herói, né?”

    “Você tem razão…”

    De cima de um edifício próximo, Mayck e Chika observaram o grupo ir embora com expressões tediosas. 

    Os dois suspeitaram em sincronia. 

    “Esse tipo de gente está em todos lugares. Mas, realmente, nós vamos ter que começar a inspecionar melhor. Vai saber se pessoas mais problemáticas não estão soltas por aí.”

    “… Pois é… tem muitas coisas a serem feitas ultimamente…” Mayck olhou para o céu, desejando ser uma estrela, simplesmente porque elas não tinham que ficar lidando com outras estrelas.

    “A propósito, Zero-san te colocou no caso dos vazamentos, não é? Como está indo?”

    “Ele te contou? Bem… não tem nenhuma novidade ainda. Ainda estou trabalhando baseado num traidor da polícia, mas se for algo totalmente diferente vai ser apenas perda de tempo.”

    “Hmm… Bem, boa sorte.” O sorriso habitual assim como o comportamento de Chika apareceram de repente. “Ah, eu acabei de encontrar um Ninkai igual ao que você descreveu. Ele podia ficar intangível ou algo assim.”

    “Sério? Você deve ter passado por uns perrengues…”

    “É, isso mesmo. Aquele monstro chato. Quero que ele morra. Embora eu já tenha o matado.”

    “Sim, sim. Boa garota. Você vai voltar pra casa, não é? Eu vou indo também. Temos aula daqui a pouco.”

    Já eram mais de três da manhã, então ele podia dizer isso sem problemas. 

    “Entendido.” Ela prestou continência. 

    Com um salto, ambos desceram de cima do edifício depois de garantirem que não havia ninguém nas redondezas. 

    Em seguida, estavam prestes a se despedir, mas…

    “Não vai acompanhar uma dama até a sua casa?” Com olhos brilhantes e fazendo uma pose sedutora, Chika tentou convencer Mayck a levá-la até em casa.

    “Que desnecessário…” o garoto resmungou com os olhos apertados. Sua amiga tinha apelo para tal, mas ela não precisava fazer isso, de verdade. 

    Então ele a acompanhou. Por sinal, a casa dela era meia hora de distância da casa do garoto. 

    Depois de algum tempo, eles se despediram e a garota entrou em sua casa. Com Mayck, só restou o silêncio e o frio da noite, já que Chika era quem emanava uma energia alegre, que ele já nem sabia dizer se era real ou não. 

    Ele deu meia volta e seguiu para sua casa. 

    Mais cedo, depois de ir com Hana até uma loja onde compraram o chá Biwa, ele foi até a casa de uma parente, uma pessoa que ele já não via há bastante tempo. 

    Reine, prima de seu pai.

    O que ele queria descobrir poderia perguntar ao seu pai, porém, por motivos que já foram explicados, ele preferiu contatar a mulher que cuidou dele por seis meses quando ele ainda era uma criança. 

    Foi bom encontrar a mulher naquele dia. A princípio, ela ficou surpresa com a visita repentina do garoto, mas também ficou bastante feliz e não hesitou em convidá-lo para tomar um café. 

    Ela era mais velha que Takashi, estando na casa dos quarenta anos. Não possuía filhos. Seu marido falecera alguns anos atrás e ela não pensou em se casar novamente. 

    Cabelos escuros, olhos castanhos claros, uma pele branca e uma baixa estatura. Eram o que compunham o ser humano chamado Tachibana Reine. 

    Em suma, essa visita foi totalmente útil, pois, com ela, ele descobriu coisas sobre Masato que nunca passaram em sua mente. 

    Coisas como um passado um tanto quanto conturbado do homem que era enérgico e sempre tinha um sorriso no rosto. 

    Quem iria imaginar que ele tinha um irmão… será que isso tem alguma coisa a ver com o que ele está fazendo hoje? Tem uma grande chance de ter relação com tudo isso. 

    Descobrir sobre o passado fez Mayck imaginar os motivos que levaram Masato a vazar informações da polícia. Seguindo essa linha, assim como ele tinha ligação com Kihon, ele deveria estar junto com Yang, mas aí só aumentava a esfera de possíveis motivações. 

    Bom… agora eu acho que vou pesquisar outras coisas. Não acho que as informações vazadas tenham algum significado. Imagino que elas só sejam pra causar bagunça, então não vou procurar algum padrão. Além do mais, tenho que me cuidar para não seguir um rastro falso. 

    Seria ótimo se houvesse mais pessoas para ajudá-lo a reunir informações, mas ele tinha receio em entregar os detalhes para terceiros e tudo acabar da pior forma possível. 

    Então ele queria cuidar de tudo sozinho. 

    A propósito… Hana sabe sobre isso?

    Ela não tinha a obrigação de contar se soubesse, mas se ela soubesse sobre seu falecido tio, em algum momento, ela o teria mencionado. Essa era a parte estranha. 

    “Eu vou ter que ver isso pessoalmente.”

    <—Da·Si—>

    Em outro lugar, a situação também não era diferente, embora aquele lugar estivesse mais relaxado quanto a todos os fatores recentes. 

    Mas era o papel da GSN ser a organização mais quieta, ou melhor, aquela que só observava tudo o que estava rolando e se juntava com o lado vencedor. 

    Por esse lado, eles parecem ser apenas um grupo de assassinos que não dá pra confiar quando necessário, porém, não era bem assim. Eles tinham seu lado sujo, assim como todas as outras, mas eles não se envolviam em cada incidente ou matavam pessoas inocentes à luz do dia. 

    Seu propósito principal era apenas para o crescimento da organização em tecnologia e poder financeiro, nada muito além disso. 

    Eles estavam de olhos abertos para qualquer mudança que pudesse acontecer na cidade e estavam prontos para se aproveitar de qualquer oportunidade que encontrassem. 

    Uma sala escura, onde apenas um monitor iluminava. Havia uma mesa redonda no centro e três taças e uma garrafa de vinho repousavam sobre ela, assim como um cinzeiro artesanal. Três figuras conversavam. 

    “Por falar nisso, nossas fontes disseram que o governo está em cima da Strike Down desde os incidentes com os institutos. E a coisa piorou agora com os vazamentos.”

    Sentado em uma cadeira de couro e com os pés na mesa, um homem expeliu a fumaça de seu cigarro no ar. 

    “Não vai demorar muito até eles contatarem a Black Room e nós também. Afinal, a situação não está nada boa para a sociedade. É capaz de organizações de fora se envolverem também.”

    “Pelo bem da sociedade?”

    “Também. Mas, é claro, eles não vão querer perder a oportunidade de tomarem o pódio da Strike Down. São um bando de egoístas que só pensam no próprio lado, afinal de contas.”

    “Não que não sejamos assim também. Hahaha.”

    A fumaça do cigarro subiu outra vez enquanto Tobias gargalhava. 

    Ali, reunidos, estavam os três chefes da GSN. Não era uma organização grande como a Black Room, mas eles tiveram seu nome reconhecido pouco tempo depois de sua fundação. 

    Começou com um pequeno trio de amigos: Tobias, Kaori e Tatsuya, que abandonaram seus sobrenomes para viverem unicamente de seus poderes. Começaram como membros da Strike Down, mas, como meros subordinados, perceberam que ajudar pessoas e eliminar ameaças seguindo as regras não era o que queriam.

    Então eles largaram tudo o que tinham e começaram a recrutar portadores que pensavam iguais a eles. Foi quando eles interferiram em uma luta contra a Ascension que eles fizeram sua verdadeira estreia. 

    Tudo o que lhes interessava de verdade era o dinheiro e a liberdade, mas eles decidiram seguir algumas regras da sociedade para não ter problemas, mas também não hesitariam em quebrá-las caso vissem alguma brecha. 

    “Bom, mas nosso objetivo ainda não mudou. Se a Black Room decidir se aliar totalmente à Strike Down, o contrato acaba. Fim. Então nós vamos nos mover mais livremente.” Kaori entrelaçou os dedos e apoiou os cotovelos na mesa, observando seus dois amigos. 

    “Você acha que isso pode acontecer? Depois de tudo aquilo, não acho que Zero e os demais líderes da Black Room vão aceitar mais que uma pequena aliança”, Tatsuya apontou. 

    “Você pode ter razão. Mas, se for para proteger o Japão, eles podem fazer coisas absurdas.”

    “Por esse lado, é verdade. Eu estou genuinamente curiosa sobre o desfecho disso tudo. Eu queria agitar as coisas, mas parece que a Ascension começou a brincar de novo.”

    “Hm… verdade… se Yang for o cabeça disso tudo, então talvez nós tenhamos alguns benefícios.”

    Tatsuya ponderou sobre a possibilidade de serem envolvidos nos problemas recentes e que, com certeza, iriam piorar em breve. 

    “Enfim, fico feliz que vocês não tenham perdido a essência. Vamos ficar atentos a qualquer mudança e agir de acordo. Não queremos nos tornar as pessoas más, nem as boas.”

    Os três riram com a afirmação quase sem sentido.

    De repente, a luz se acendeu, acabando com todo o clima de mistério do local, revelando Kaori, uma bela mulher alta de cabelos loiros e olhos azuis, Tobias, um homem também alto e magro com uma barbicha bem feita, mas com um rosto apático e Tatsuya, um homem robusto, de cabelo curto e preto, penteado para trás. 

    Os três usavam terno, o que deixava claro as patentes a qual pertenciam. 

    “Bom. Vamos acabar por aqui. Todos temos outros afazeres, correto?” Kaori levantou após ingerir o restante do vinho em sua taça.

    Tobias e Tatsuya levantaram em seguida.

    “Você tem razão. Vamos nos reunir de novo quando mais novidades surgirem. Foi bom encontrá-los hoje.”

    “Está emotivo hoje, Tobias. Você não era assim.”

    “Só estou um pouco bêbado. Fique quieto.” Ele torceu o nariz. Tanto Tatsuya quanto Kaori sabiam que seu amigo amava se afogar em álcool no fim de semana, então eles deram de ombros. 

    “Você deveria cuidar mais da sua saúde.”

    “Não vem com esses papos pra mim.” Ele abanou as mãos. “Estou caindo fora. Até mais.”

    Ele se foi, deixando Kaori e Tatsuya para trás. Ambos se olharam e sorriram, mas logo deixaram o local também. 

    Apesar de serem da mesma organização, cada um deles cuidava de uma divisão alocada em diferentes pontos da cidade, denominadas como base sul, base norte e base leste de Tóquio.

    Então cada um lidava com situações diferentes, mas quando algo grande estava por vir, eles faziam reuniões desse tipo. 

    <—Da·Si—>

    Não alheios aos eventos recentes, a Strike Down também realizava reuniões frequentemente, visando encontrar a melhor solução para tantos incidentes. Eles eram responsáveis pelo Japão, mas ainda estavam de olhos no que acontecia por fora também. 

    Isso era um fator importante nas decisões que eles tomariam, não pelo bem do Japão, mas pelo bem de todos os civis e portadores do mundo todo. 

    Com informações confidenciais sendo vazadas uma atrás da outra, eles foram pressionados pelo governo que insistia para que o caso fosse solucionado antes que tudo fosse a público e causasse uma desordem sem precedentes. 

    O primeiro vazamento foi sobre a explosão do prédio que aconteceu no início do verão, o segundo vazamentos foi sobre outra explosão que aconteceu numa das avenidas principais da cidade e que varreu uma grande parte do centro comercial e ceifou algumas vidas. 

    Depois disso, houveram diversos relatos de pessoas lutando umas contra as outras usando poderes misteriosos e até mesmo avistamentos de Ninkais. 

    A Strike Down estava usando todas as suas forças para cobrir cada um deles. Mas, à medida que mais rumores surgiam, ficava cada vez mais difícil suprimir as fontes e eles não podiam se dar ao luxo de serem fotografados como da outra vez. 

    Sentados em volta da mesa redonda e todos em silêncio, eles buscavam uma solução para parar de vez com os vazamentos. 

    Nenhum deles abriu a boca simplesmente porque não tinham nenhuma ideia e até a luz do monitor parecia ter mais vida que o restante daquela sala. 

    “Não descobrimos nada sobre quem está causando isso tudo?” Amélie quebrou o silêncio com uma voz um tanto quanto exasperada, mas recebeu apenas um suspiro de Akira. 

    “O que você acha? Não temos um time decente que consiga investigar coisas tão a fundo.”

    “Mas nós temos agentes na polícia, não temos? O que eles estão fazendo?”

    “Se acalme, Amélie. Eles estão fazendo o que podem. Contudo, se a pessoa que estiver vazando as informações estiver afiliado com a Ascension, então ele vai conseguir se esconder por um bom tempo. Não se esqueça de que nós não temos ideia de onde eles estão agora”, John interviu, para tentar acalmar os ânimos de sua colega. 

    Um estalo de língua veio da mulher. O silêncio imperou mais uma vez até que Kuon decidiu revelar seus pensamentos. 

    “Eu não gosto de como as coisas estão indo. Nesse ritmo, nós não vamos ter outra opção a não ser contatar outras sedes. E eu não quero ter que lidar com eles.”

    “Se nós fizermos isso vamos acabar sendo despostos… eu também não gosto disso.”

    “Ei, ei… vocês estão sendo muito pessimistas. Não esqueçam que nós ainda temos outras opções…”

    “Está dizendo se aliar à Black Room e  GSN de novo? Aquele bando de oportunistas com certeza estão esperando por isso.”

    “Mas acredito que a Black Room já esteja promovendo sua própria investigação, certo? Porque não deixamos isso com eles enquanto seguramos a mídia?” Jin Li sugeriu sem se importar muito. Para ele, essa era uma ótima opção. 

    Como a Black Room só se importava com o bem estar do Japão, eles não se recusariam a trabalhar nisso sozinhos. 

    “Você tem um ponto… Eles realmente concordariam com isso, mas nós temos que fazer a nossa parte. Se eles descobrirem quem foi, pode ser que o eliminem imediatamente, e nós queremos ele vivo. Não tem como tirar informações de alguém que não pode falar.”

    John se pronunciou em alto e bom som, deixando claro suas intenções. De certa forma, ele era quem mais tinha influência ali, mesmo que todos estivessem no mesmo patamar. Os outros líderes iam muito pelas ideias deles geralmente. 

    “John, John… Você ainda acha que pode encontrar Yang desse jeito? Mesmo que capturemos um subordinado dele, não vai ser tão simples fazê-lo falar. Não se esqueceu do que aconteceu com o último, certo?”

    Akira fez questão de lembrar de um caso que ocorreu há algum tempo quando eles conseguiram capturar um membro da Ascension. Após uma pequena sessão de tortura, quando o cativo estava prestes a falar, lágrimas negras derramaram de seus olhos e ele simplesmente morreu, sem mais nem menos. 

    “É claro que eu me lembro…”

    “E você não pensou em tirar informações daquelas garotas pelo menos motivo, correto? Então porque não para de insistir nisso? Se quer ir atrás de Yang, temos que seguir os rastros dele.”

    “O que está sugerindo, Akira?” Amélie o fuzilou com um olhar ameaçador, entendendo o que o homem insinuava com seu sorriso malicioso.

    “É bem simples, na verdade. Deixemos os vazamentos continuarem e vamos ficar de olho nos movimentos da Black Room também. Uma hora ou outra, Yang deve aparecer. Lembram-se de que ele estava atrás daquele garoto? Então vamos ficar perto dele também.”

    “Você quer que a gente fique em silêncio apenas observando enquanto usamos Mayck Mizuki como isca?”

    “Bingo.”

    Quando George pôs seu entendimento na mesa, Amélie bateu nela e levantou da cadeira ainda mais irritada.

    “Você tá maluco?! É claro que não. Isso é muito perigoso. Já pensou no tanto de riscos que tem nesse plano? Se os vazamentos continuarem, a população em geral corre risco.”

    “Sim, eu sei. Mas, se você tiver um plano melhor, fique à vontade para nos dizer. Então? Que tal começarmos os votos?”

    Todos na sala ficaram em silêncio, refletindo a eficácia do plano de Akira. Era arriscado? Muito. Como Amélie disse, a população corria um grande risco, assim como os portadores. 

    Mas, na situação em que se encontravam, não parecia haver outros caminhos naquele momento. Embora cada um tivesse suas ressalvas, eles levantaram a mão um por um. 

    “O quê?! Vocês estão falando sério?! Qual o problema de vocês?!”, a única que não levantou a mão, questionou seus colegas. 

    “Eu entendo você, Amélie, mas não temos outra opção por agora. Vamos fazer isso como medida preventiva. A qualquer mudança, vamos abandonar a ideia, e seguir com uma nova. Está tudo bem pra você?”

    “…” A mulher mordeu o lábio inferior. Ela não concordava com aquilo, mas tinha que olhar para a realidade. Ela não tinha uma opção melhor. “Tá bom… eu vou aceitar isso. Mas, eu tenho uma condição: nós vamos filtrar as informações que serão vazadas.”

    “E como planeja fazer isso?”

    “Vamos reforçar nossas unidades de patrulha e evitar ao máximo que Ninkais fiquem soltos até a luz do dia. Também vamos aumentar a rigidez com que tratamos os portadores.”

    “Quer mantê-los em silêncio… hein?”

    “Acho justo. Faremos isso então. Ninguém tem objeções, certo?”

    Ele perguntou e olhou para cada um e não obteve respostas negativas, o que implicava que estavam todos de acordo, inclusive Akira que ainda tinha um sorriso pretensioso estampado no rosto e isso irritava muito Amélie. 

    Então, a decisão foi informada aos times de Ataque, Inteligência e Provisão, além dos agentes infiltrados e as equipes de patrulha, que eram responsáveis por observar e pagar os caçadores que derrubavam os Ninkais. 

    O que os líderes não tinham ideia, era que tal decisão foi um erro.

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