Índice de Capítulo

    Era mais um dia comum ou deveria ser, mas algo estranho começou a acontecer no entorno de Haruna. Não tão estranho, até porque tinha tudo uma explicação simples. 

    Por ter sido fortemente rejeitado por ela, Hiroshi decidiu pedir ajuda aos seus amigos arruaceiros, os quais deram um passo à frente para dar o troco pela humilhação sofrida pelo garoto.

    Desde o início da manhã, quando chegou na escola, no dia seguinte ao ocorrido, ela foi surpreendida com a visita dos arruaceiros que não a deixaram em paz e ficaram sussurrando palavras maliciosas e fazendo atos de mau gosto — como jogar os cadernos dela como se fosse um brinquedo. 

    O barulho na sala estava anormal, mas, mesmo em tal situação, ninguém moveu um único dedo para intervir; pelo contrário, alguns até riram para não serem feitos de alvo pelos delinquentes, que eram apenas bagunceiros sem princípios e que não sentiam empatia por quem estavam atormentando. 

    Rika foi a única a tentar, mas Haruna a mandou ficar quieta para que a atenção não voltasse para ela. 

    “Isso aí, burrinha, escuta sua amiga.” Um deles bateu o caderno na cabeça de Rika levemente, mas incessantemente.

    “Pare já com isso.” Haruna arrancou o caderno da mão dele. 

    “Ah, coitadinha. Ficou brava. Me desculpa, tá bom? Quer que eu dê um beijinho para alegrar?”

    Risos sarcásticos dos outros garotos ao verem a encenação de Hideki, o qual foi para cima de Haruna fazendo bico. 

    “Sai já daqui!” Haruna estava furiosa por dentro, mas ela tinha que manter em um certo nível para não se tornar alvo de coisas piores. Ela gostaria de se levantar e acertar todos os cinco com algum objeto, mas tinha que se conter. 

    “Tá bom, tá bom. Vou parar.” Sua risada irritante ecoou pela sala sob os olhares confusos dos outros estudantes. 

    Naquele momento, eles pensavam que era culpa da própria Haruna por ter rejeitado Hiroshi daquela forma. Ela tinha trazido para si todo aquele tormento. 

    “Ei, ei, que tal nós irmos pro depósito de educação física? Lá fica bem vazio durante o dia inteiro. Ninguém pode nos ouvir lá.” Outro deles, Sota, sugeriu com um olhar malicioso, mas só recebeu um olhar de nojo e repugnância. 

    “Morra.”

    Mais gargalhadas exageradas. 

    “Ei, vocês, voltem para suas salas imediatamente.” Um professor entrou na sala e tomou uma atitude rápida ao entender a situação. 

    “Eh… agora que estava ficando divertido?”

    “Espere só mais um pouquinho, sensei.”

    “Não vou esperar. Ou vocês querem fazer companhia para o diretor? Me escutem e voltem para a sala de vocês.”

    Eles eram delinquentes. Uniformes vestidos da forma mais descolada que eles achavam, sem ligar para as normas, cabelos tingidos e comportamentos incômodos. Eram do tipo que só gostavam de regras porque podiam quebrá-las, mas, mesmo eles não queriam ter um papo com o diretor, então estalaram as línguas e saíram da sala, prometendo que voltariam. 

    Assim que a tempestade passou, o professor voltou-se para Haruna. 

    “Yukino… não, Mizuki-san, se essas coisas começarem a acontecer de novo, não hesite em falar com um professor. Você é uma ótima aluna, não tem porque passar por isso.”

    “Sim… entendi.” A garota restringiu seu vocabulário, enquanto sentia os olhares dos seus colegas de classe e até burburinhos sobre o ocorrido. 

    “Runa-chan… me desculpa… eu não pude fazer nada.”

    “Não se preocupe, Rika. Eu estou bem. Vamos, a aula já vai começar”, ela disse com um sorriso para confortar sua amiga cabisbaixa. 

    E então, a aula começou.

    **** 

    Para evitar novas surpresas, Haruna decidiu não ir para as atividades do clube e pegou o caminho para a saída após se despedir de Rika. Ela tinha medo que sua amiga virasse um alvo por estar com ela, mas o pensamento de que seria seguida na rua a confortou por esse lado. 

    Ela parou ao lado da entrada e esperou. 

    Alguns minutos depois, Mayck passou por ela e um sorriso se formou em seu rosto. 

    “Mayck~” Ela correu para o lado dele com um fantasma, sorrindo. 

    “Haruna? Não vai para o clube hoje?”

    “… Por conta de alguns motivos eu vou passar hoje.”

    “Motivos… eu fiquei sabendo do que aconteceu hoje. Você está bem?”

    Eles começaram a caminhar. 

    “Ah, sim, sim. Eu estou bem. Não foi nada demais.”

    “Isso é bom. Mas se acontecer de novo, não demore em pedir ajuda, okay?” Mayck olhou para ela e encarou um sorriso malicioso. Ele franziu o cenho. “Que foi?”

    “Hmm… Você está preocupado comigo, é? Que bonitinho.”

    Era claro que ela estava tentando provocá-lo, porém, para o azar dela, ele já estava esperando por isso. 

    “Você é minha preciosa irmãzinha. Eu tenho que me preocupar.” Pra completar, ele deu tapinhas na cabeça dela, deixando-a completamente vermelha. 

    “Não me toque…” Ela desviou o olhar, com uma falsa expressão de raiva apenas para esconder sua vergonha. 

    “Além disso, você percebeu que estamos sendo seguidos, né?” Mayck sussurrou para ela. 

    “Tem razão…” Seu rosto endureceu ao perceber que talvez o tormento piorasse. 

    Eu não posso deixar eles mexerem com Mayck… Tenho que desviar a atenção deles. 

    “Eu… eu vou passar no mercado rapidinho. Você pode ir na frente.”

    Mayck a olhou de relance. Haruna estava segurando seu pulso direito para esconder alguma coisa. 

    “Eu vou com você. Não estou com pressa para chegar em casa.”

    “Não precisa, é sério…”

    “Se você quer assumir todo o problema, desista. Eu vou ficar com você.”

    Os olhos de Haruna brilharam e um arrepio percorreu seu corpo. Mayck estava mesmo dizendo aquilo? 

    Hein? De verdade? Como isso… Não. Talvez ele seja assim mesmo. Ele não é o Mayck que eu conheço. O Mayck lerdo que teria ido embora sem pensar duas vezes imaginando que nada aconteceria. 

    Seu coração palpitou forte e rapidamente. Estava realmente em um mundo diferente do que conhecia, embora não soubesse o motivo. 

    “Então… por favor… me ajude.”

    “Uhum. Claro.”

    Os dois seguiram para o mercado como o planejado e fizeram as compras normalmente. Mayck olhava cautelosamente pela vitrine para saber a posição dos delinquentes que estavam armando uma emboscada. 

    Cinco, hein… tudo isso para atormentar uma única garota. Esses caras se unem nas piores partes. Talvez eu possa usá-los para outra coisa. 

    Era uma situação claramente problemática, mas era conveniente para ele. 

    Depois de pagar pelas compras, ambos saíram do estabelecimento. Os delinquentes os olhavam com sorrisos maliciosos descaradamente. E alguns passos depois de saírem da área movimentada da loja, eles foram abordados. 

    “Ei, Haruna-chan, nós voltamos. Sentiu nossa falta?”

    “Agora você está livre para ir com a gente até algum lugar, né? Que tal ir na minha casa? Eu vou estar sozinho lá.” 

    Hideki atacou novamente, e junto aos seus quatro companheiros, ignoraram completamente a pessoa que acompanhava a garota. 

    “Com licença.” Mayck interrompeu as gargalhadas deles, atraindo a atenção para si. 

    “Hã? O que você quer?”

    “É falta de educação não cumprimentar um colega.” Mayck sorriu levemente. 

    “Hahaha. Não liguei pra isso, Mizuki-senpai. Mais importante, o que você tem com ela?”

    “Ela é minha irmã mais nova. Eu vou pedir que vocês não atormentem ela, se possível.”

    “Sua irmã?” Eles ficaram chocados com a revelação, a princípio, mas depois trataram-na como irrelevante. 

    “Bom. Isso foi inesperado. Mas agora fica mais fácil. Você pode ir pra casa e dizer aos seus pais que talvez ela não volte para casa hoje.”

    “Talvez só amanhã à noite.”

    Eles gargalharam novamente. 

    “Que nojentos…” Haruna cerrou os dentes.

    “Isso não dá. Nossa mãe acabaria se preocupando muito, então eu não vou deixar. O que vocês querem pra deixar passar só dessa vez?”

    “Você quer fazer um acordo?”

    “Isso aí.”

    “Humm. Isso é interessante. O que você está disposto a pagar pela virgindade da sua irmã?”

    “Que porcaria é essa, seu idiota?” Haruna deu um passo para frente, mas foi interrompida pela mão de Mayck.

    “O que você gostaria de ter em troca disso?”

    “Você sabe… olho por olho…”

    “… dente por dente. Hahaha.”

    Eles se dava tão bem que pareciam um grupo de comediantes. 

    “Nos apresenta umas amigas suas. Sabemos que você conhece várias na escola. Até de classes diferentes.”

    “É só isso? Bom, tudo bem. Mas vai ter um desafio.” Mayck meteu a mão no bolso e tirou seu celular. 

    “Desafio?”

    “O que você está pensando, hein?”

    Uma hostilidade cresceu entre o grupo. 

    “Calma aí. É bem simples. Vocês só precisam descobrir a senha do meu celular. Se fizerem isso, vão conseguir o número de todas as garotas que eu tenho aí sem contar que vocês vão ter acesso a tudo o que me pertence virtualmente. simples, certo?”

    “Mayck, você enlouqueceu? Pra que tudo isso?”

    “Tá de boa. Relaxa. Eu não acho que eles vão conseguir mesmo.”

    Dizendo isso, Mayck atacou o orgulho do grupo que com sorrisos irritados aceitaram o desafio. 

    “Então tá bom. Se é isso o que você quer, se prepare. Hoje ainda você vai se fuder totalmente.”

    Hideki tomou o celular da mão do garoto e deu as costas, junto com os demais, e saíram. 

    Haruna observou tudo com os olhos bem abertos, desacreditada de tudo o que aconteceu. 

    “Você tá falando sério mesmo? Vai fazer isso com suas amigas?

    “É como eu te falei. Não tem como eles conseguirem. Vem comigo.”

    Sem mais palavras, ele seguiu em direção ao seu objetivo principal, com Haruna ainda confusa. 

    Algum tempo depois, eles estavam na delegacia, onde Mayck relatou que fora roubado há poucos minutos. 

    Por sorte, estava conversando com Nakata e tudo correu sem mais problemas. 

    Lembrando do conflito com o Ninkai que roubou metade de sua alma, Mayck não pôde evitar de verificar se Nakata estava bem. 

    “Eu tinha estado um pouco pra baixo há um tempo, mas já estou bem melhor. Não faço ideia do que aconteceu.”

    “Isso é bom.”

    “Poderia me dar a descrição dos que te roubaram?”

    “Sim. Eles eram cinco. O que parecia ser o líder tinha cabelos castanhos escuros, um pouco mais baixo que eu e tinha olhos castanhos claros. Eles estavam usando o uniforme da minha escola. Infelizmente eu só peguei essa descrição.”

    “Hmm… tudo bem. Isso é o suficiente. Mas se são da sua escola, então fica muito mais fácil de encontrar. Eu vou passar as informações para a equipe de análise e logo as buscas serão iniciadas.”

    “Certo, muito obrigado, Nakata-san.” Mayck fez uma leve reverência. 

    “Não há de quê. Além do mais, aquela garota que veio com você é…”

    “Ah, aquela é Haruna, minha irmã mais nova. Ela é filha da Suzune-san.”

    “Oh, certo. Eu vi ela no casamento do seu pai, mas não dei muita atenção. Ela realmente é parecida com a mãe. Incrível.”

    “Não é? A semelhança dá a entender que são irmãs. Mas ninguém duvida delas serem mãe e filha.”

    “Você tá certo. Bom, eu vou seguir com o boletim. Posso avisar seu pai sobre isso?”

    “Sem problemas. Eu vou indo então. Até mais.”

    “Sim. Até. Vou ligar pra você quando tiver algum resultado.”

    Mayck assentiu e se retirou, indo até Haruna, que estava nervosa, esperando na sala de espera. 

    “Tudo certo. Vamos?”

    “Uhum.”

    Eles saíram da delegacia e tomaram o vinho de casa. 

    O sol já estava se pondo, então o dia se encerrou. 

    <—Da·Si—>

    Na manhã seguinte, antes de sair para a escola, o telefone fixo da sala tocou e Mayck atendeu sem querer tocasse demais. 

    “Alô?”

    “Alô? Mayck Mizuki?”

    “Sim.”

    “O seu telefone foi encontrado. Poderia comparecer à delegacia?”

    Não era a voz de Nakata no telefone. 

    “Ah, sim, claro. Eu passarei aí no fim da tarde, tudo bem, Masato-san?”

    “Tudo bem. Te vejo em breve.”

    O telefone foi desligado. 

    Por algum motivo, Masato parecia uma pessoa completamente diferente por telefone e Mayck sempre sentia algo estranho quando falava com ele dessa forma. 

    Eu espero encontrar você ou Nakata-san mais tarde. Se for meu pai, vai ser complicado. 

    O plano de Mayck era usar um dos dois para conseguir informações, mas ele não podia simplesmente chegar lá e bater um papo — precisava de uma desculpa para criar uma ligação. 

    Por isso era importante que fosse com alguém fácil de conversar. 

    “Além do mais…” Seus olhos se dirigiram para a televisão. Haruna e Suzune estavam assistindo ao noticiário da manhã. 

    1° Ministro fala sobre possíveis ataques terroristas em diferentes pontos do país. 

    “Nossa maior preocupação, no momento, é o bem estar dos cidadãos. Vamos resolver esses incidentes o mais rápido possível e garantir que tantos ataques e desaparecimentos acabem.”

    ‘Incidentes’

    “Esses vazamentos têm que parar”, Mayck disse a si mesmo ao desviar os olhos da televisão. 

    Desde o último vazamento, mais três foram levados à público: um sobre ataques terroristas, como dito no noticiário, e outros dois sobre desaparecimentos e assassinatos em massa. 

    Quando portadores arrumavam confusão entre eles ou lutavam por presas, era comum que aparecesse um morto ou dois, mas a Strike Down sempre estava a postos para sumir com a evidências e lidar com eles em segredo. 

    Contudo, por causa dos grande números de incidentes que vinham acontecendo, eles estavam cada vez mais ocupados e sem agentes o suficiente para guardar o país inteiro. 

    Por esse motivo, Mayck recebeu aquele email de Hana na noite passada. 

    Precisam que medie um acordo com a Black Room outra vez. 

    Hana não sabia que ele estava sem celular, mas mandou um e-mail formal. Isso mostrava o quão séria estava toda aquela situação. 

    “Eu preciso me apressar”, ele pensou alto. 

    “Hm? Disse alguma coisa?” Haruna, que estava passando por ele, perguntou. 

    “Não… nada.”

    “Mmm… já está na hora de irmos. Está pronto?”

    “Sim, estou.”

    ****

    Talvez não fosse a melhor decisão, mas Mayck viu que podia dar um passo com tudo o que tinha e também era hora de pôr algumas cartas na mesa. 

    No horário de almoço, ele decidiu reunir Chika e Hana. A situação entre elas teria que ser resolvida naquele momento. Independente do que elas pensassem sobre isso — não dava para deixar tudo estagnado por muito tempo. 

    Do jeito que está, a situação vai fazer todo mundo desmoronar. Eu não posso deixar Yang controlar toda a situação como bem quiser. 

    Seu novo plano: Juntar a Black Room e a Strike Down. 

    Se isso não der certo, então…

    Antes de completar seu pensamento, percebeu que suas convidadas haviam acabado de chegar. 

    Ele as inspecionou enquanto elas se aproximavam. A situação estava da forma de sempre. Nenhuma mudança. 

    “Eh… então, Mayck-kun, porque nos chamou aqui?”

    Chika não demonstrou querer prolongar o assunto, não importava qual fosse. Os olhos de Hana também diziam a mesma coisa.

    “Tem algo importante a nos dizer? Haruki não está aqui… o que houve?”

    “Esperta como sempre.” Mayck encheu seus pulmões e os esvaziou rapidamente. “Bom, é um assunto simples que vocês duas já devem saber o que é.”

    “Você está falando…”

    “Sim. Vocês duas são portadores. E de organizações rivais. Aceitem isso.”

    As duas engoliram a seco. Eles realmente esperavam algo assim, mas não imaginavam que seria abordado com tanta frieza. Mayck era paciente e geralmente enrolava em assuntos delicados antes de ir direto ao ponto — um fato que ambas conheciam — então algo estava acontecendo para ele ser tão objetivo. 

    Ainda assim, nenhuma das duas conseguia encontrar as palavras certas para dizerem o que realmente queriam. 

    “Isso é complicado, eu sei, mas preciso da ajuda das duas e ter que ficar escondendo coisas é um saco.”

    Ele olhou para as duas com olhos firmes, esperando que elas dissessem algo. 

    Nisso, Hana respirou fundo e fechou os olhos por um breve momento. Quando os abriu, ela moveu os lábios. 

    “Eu estava esperando o momento certo para abordar o assunto, mas, já que é assim, então não há o que fazer.” Ela olhou de Mayck para Chika. Não havia mais hesitação em seu olhar. “Chika, eu sou membro da equipe de ataque n°8 da Strike Down e uma portadora de ID.”

    Chika recebeu essa declaração como um golpe forte em seu corpo. Ela mordeu os lábios e sua seriedade que só se via quando ela estava no modo de trabalho apareceu de repente. 

    “… Eu sou a líder do time Delta da Black Room, Ruby. Também sou uma portadora formada na Academia de Desenvolvimento.”

    O clima ainda estava estranho. Embora estivesse mais reconfortante que antes. Com o silêncio que se seguia, Mayck deu um passo à frente. 

    “Já que estamos resolvidos… Chika, a Strike Down quer uma aliança com a Black Room. Você pode comunicar isso à Zero?”

    “Hein? Uma aliança…?” Chika se surpreendeu a princípio, mas considerou os incidentes recentes, então o motivo ficou claro. “Entendi. Mas é você o intermediário, não é? É seu trabalho fazer isso.”

    “É, eu sei. Mas eu não vou poder agir assim por muito tempo, então eu queria que você convencesse ele a falar com os demais e criar uma aliança de longo prazo, e não apenas para esse problema.”

    “Espera aí… você quer dizer… que pretende juntar as duas organizações?”

    Hana também se surpreendeu com a conclusão da garota. 

    “É sério? Você pensou bem no que está dizendo agora?”

    Para elas, parecia uma loucura repentina. Talvez Mayck estivesse sendo pressionado por tanta carga. 

    “Eu pensei bastante. Já faz algum tempo que eu venho pensando: se lutam por objetivos parecidos, então porque não se aliam? Sendo sincero, eu não consigo entender os motivos de agirem separados.”

    “Parando para pensar… eu também não entendo muito bem. Se as duas organizações trabalhassem juntas, então haveria muito mais benefícios”, Hana observou. 

    “Acontece que são os ideais entre os superiores. Eu não deveria estar dizendo, mas houve um atrito entre os líderes da Strike Down e da Black Room, o que os levou a cortarem laços. Eu não sei o que aconteceu de verdade, no entanto.”

    “Estão vendo? Não parece haver motivos problemáticos de verdade para isso. Espero que não seja surpresa pra vocês que o que tem acontecido ultimamente seja coisa de Yang.” 

    Mayck as olhou cautelosamente, verificando suas reações, que foram melhores do que ele esperava. 

    “É… todos chegamos a uma conclusão parecida.”

    Chika assentiu. 

    “Pois bem, se as coisas continuarem assim e as duas organizações estiverem firmadas sobre uma pequena aliança, o menor dos ventos vai fazê-los desabar. E eu não tenho certeza se consigo manter uma cooperação entre eles por muito tempo.”

    “Se algum evento que requeira medidas drásticas aparecer e os dois lados não chegarem a um consenso, qualquer esforço vai ser inútil”, Hana pensou alto. 

    Mas ela tinha razão. Todos finalmente compreenderam a situação e pareciam dispostos a mudá-la. 

    “Olha, eu entendo o ponto de vocês e posso até conversar com Zero. Mas de uma coisa eu tenho certeza: não vai ser tão fácil assim. Aquela aliança entre as duas organizações está em andamento, mas os demais líderes não estão muito felizes com isso.”

    “Pois é… mas eu peço que você faça isso. Eu também vou tentar. Se não funcionar assim, então teremos que mudar o método. Tudo bem pra você, Hana?”

    “Sim. Eu vou ficar na espera, já que o pedido veio do nosso lado. E mais uma vez, eu peço a cooperação de vocês dois.”

    “Vou fazer o possível.” Chika sorriu e sua seriedade se desfez rapidamente. “Agora, mudando de assunto, nós temos que nos preparar. Amanhã temos o nosso campeonato. Você vai vir torcer pela gente, né?” Ela olhou com olhos brilhantes para Mayck. 

    “Se nada der errado, sim. Boa sorte para as duas.”

    “Ehh… isso não me anima. Torça de um jeito mais alegre, vamos, você é capaz de fazer isso. Grita comigo. Ei ei oou!” 

    Chika jogou sua mão direita para o ar como uma criança alegre e Mayck repetiu o gesto, embora um pouco mais reservado. Isso fez Hana sorrir de canto. 

    “Você pode fazer melhor que isso, Mayck-kun.”

    “Não bote lenha na fogueira, Hana-chan.”

    Ao notarem a presença de outros alunos chegando ao telhado, eles rapidamente mudaram o tópico da conversa. 

    “Bom, eu vou voltar para a sala. Nos vemos depois.” 

    “Sendo assim eu também vou voltar. Deixei Akari-chan sozinha na sala, ela pode estar solitária.”

    “Okay.”

    As duas então acenaram e desceram do telhado. Mayck ficou um pouco mais, afinal, havia algo que ele não podia deixar passar. 

    “E… o que você vai fazer, sabendo disso, Haruki?”

    Ele se direcionou à pessoa que estava deitada na pequena construção feita para abrigar as escadas para o telhado. 

    “Como esperado do meu melhor amigo. Não se preocupe. Eu não pretendo repassar informações. Nem estou sendo pago pra isso.”

    “Nesse caso, eu pagaria pra você ficar quieto. Mas eu também tenho uma proposta pra você.”

    “Eh? Isso parece interessante.” Com um salto, ele se juntou à Mayck. “Conte-me mais.”

    **** 

    Saindo da escola, Mayck se separou de Haruna e seguiu para a delegacia, onde iria recuperar seu celular roubado. 

    Ao chegar na recepção, foi recebido por Masato, que, com um sorriso gigante no rosto, o recebeu. 

    “Ei, Mayck. Quem diria que logo você seria roubado assim.”

    “Boa tarde, Masato…”

    “Hahaha. Não quer perder o orgulho, hein. Não há o que fazer. Seu celular foi encontrado facilmente. Alguns garotos com as descrições foram vistos nos arredores da escola e foram abordados por uma viatura de patrulha.”

    “Isso é bom. Ficar sem celular hoje em dia é complicado.”

    “Falou e disse.” Ele gargalhou com sua voz grave e amigável. “É incrível como você fica tão calmo com isso. Nem parece um moleque que ainda está na puberdade.”

    “Isso não é coisa que se fale aqui…” Mayck o repreendeu, sentindo os olhares dos outros funcionários sobre eles. 

    “Bom. Indo ao ponto, eu preciso que você assine alguns papéis, e então vou liberar seu celular.”

    “Certo.”

    Masato pegou um fichário e tirou alguns papéis de dentro e entregou, também, uma caneta. 

    “Assine aqui, por favor.”

    Mayck pegou a caneta e leu rapidamente algumas linhas. Não era nada de mais, Masato apenas sussurrou para ele:

    “Como é você, eu mexi alguns pauzinhos e não vamos precisar de tanta burocracia.”

    “O que você anda fazendo …”

    Enquanto trocava algumas linhas com ele, Mayck não podia evitar de verificar se havia algo diferente com ele. Masato estava escondendo alguma coisa? Ele parecia estar mal com alguma coisa? Nenhum desses pontos era visível apenas olhando. 

    “Muito bem. Eu vou levar esses documentos para os arquivos e pedir para alguém entregar seu celular. Tente não ser roubado de novo no caminho.”

    “Okay.” O garoto acenou. 

    Ele observou Masato entrar em uma sala e depois correu seus olhos pelos arredores da delegacia. 

    Estava agitada como sempre. Era uma atmosfera familiar.

    “Ei, Mayck.” Uma voz chamou por ele. “Você conseguiu?”

    “Ah, Nakata-san. Consegui, sim. Muito obrigado.”

    “Não, não. Não precisa agradecer. É o meu trabalho.”

    “Se você diz… Masato disse que voltaram com o meu celular daqui a pouco. Então vou esperar aqui.”

    “É mesmo? Isso é ótimo. Ouvi dizer que ele mexeu alguns pauzinhos para não ter tanta burocracia.”

    Mayck fez uma expressão amarga. 

    Por que ele faz parecer segredo se tanta gente já sabe?

    “Pois é… Aliás, Nakata-san, você tem visto algo estranho por aqui?”

    “Algo estranho? Essa é uma pergunta difícil. Todos os dias nós vemos casos diferentes, então é complicado dizer o que é estranho, realmente, e o que não é.”

    Nakata era um homem sério. Ele não parecia estar escondendo algo pessoal. Não era por Mayck ser próximo a ele que ele revelaria informações confidenciais.

    “Entendo… então, reformulando, você tem notado algo estranho em Masato-san?”

    “O que isso quer dizer?”

    “Err… eu sinto como se ele estivesse meio cansado e de baixo astral ultimamente.”

    “Sério? Eu não notei nada do tipo.”

    “Parece que ele é bom em esconder. Eu não sei o que aconteceu, mas sinto que ele está com alguns problemas. Eu queria poder ajudar, mas meu pai anda muito ocupado para eu conseguir algumas dicas.”

    Mayck fez uma expressão decepcionada, enquanto olhava para baixo. 

    “Está preocupado com ele, né? Talvez eu possa te ajudar.”

    “Hm?”

    “Você quer descobrir se ele está com problemas, certo? Eu posso dar uma olhada por você. Mas já deixo claro que não vou me meter em circunstâncias pessoais.”

    “Não, não precisa de tanto. Só saber se ele está bem é o suficiente. Obrigado, Nakata-san.”

    “Não há de quê. Enfim, eu vou voltar ao trabalho. Tome cuidado na rua.”

    “Certo. Obrigado.”

    Nakata acenou e saiu. 

    Ótimo. Agora eu tenho alguém para ver Masato de perto. 

    A expressão dele endureceu assim que Nakata deu as costas. Seu verdadeiro objetivo ali estava concluído. 

    Se eu não posso perguntar diretamente, então eu preciso reunir informações para ter certeza. Enquanto isso, eu vou tentar juntar mais pistas quando visitar os Tsubaki de novo. 

    O tempo era curto. Ele só precisava encontrar mais uma ligação entre Masato e o mundo dos portadores para ter certeza de que ele era o responsável pelos vazamentos de informações policiais. 

    Espero que eu não esteja sendo muito frio com isso. 

    Maycon fechou os olhos brevemente. Não conseguia não se sentir o vilão ao pensar daquela forma, mas não havia escolha. 

    Alguns minutos depois, Masato voltou com o celular dentro de um saco plástico e lhe deu um último aviso para tomar cuidado. 

    Mayck agradeceu novamente e se retirou. 

    **** 

    Com o fim do dia, Mayck só queria descansar até que fosse obrigado a sair de seu quarto. Havia muitas coisas a serem pensadas, mas o garoto estava farto disso. 

    Eu poderia deixar pra quebrar a cabeça com isso depois. Mas eu não posso deixar tudo dessa forma. O mundo não vai ficar parado esperando eu me mover. 

    Ele se levantou do conforto da sua cama e mergulhou em seu computador em busca de novidades no site dos caçadores — Tinha conseguido acesso ao perturbar Otohiko por algum tempo. 

    Hm… isso é incrível. É como uma mina de informações…

    Ele estava surpreso com a quantidade de dados e notícias que ele não via em sites comuns. 

    “As pessoas se dedicam muito quando querem…” Seu olhar caiu quando ele viu que havia um grupo de jornal especialmente criado para o site. 

    Era como uma rede social que se via por qualquer lugar, mas todos os usuários eram anônimos, usando apelidos e fotos aleatórios de perfil. 

    É… não é muito diferente da internet que eu conheço…

    Ao rolar o feed por algum tempo, ele acabou se deparando com uma publicação que chamou sua atenção apenas por ele ver as palavras “olhos azuis”.

    “Um ranque? Era disso que eles estavam falando?” 

    Um garoto aleatório e até mesmo Hana já haviam falado sobre isso. 

    Lá, havia uma lista de apelidos classificados de 1 a 20, sendo 1 o mais alto. 

    “Olhos azuis está em segundo… hein? Eu tinha ouvido falar que estava em terceiro. O que será que ele fez para subir…?”

    O motivo estava explicado logo abaixo da primeira linha que dizia: atualização do ranking semanal de portadores. 

    “Olhos Azuis subiu uma posição ao lidar com Ninkai de classe Pesadelo sem dificuldades e fugir da Strike Down…?”

    Ele se lembrava disso. Fora há poucos dias. 

    Mesmo que fosse interessante subir uma posição…

    “Mas que motivo é esse?!” 

    De repente ele ficou irritado. 

    *Toc, toc, toc*

    As batidas na porta o interromperam. Ele fechou o site para não ser descoberto por quem quer que estivesse ali. 

    “Pode entrar.”

    A porta se abriu, revelando uma Haruna com o rosto levemente perturbado. 

    “O que houve?”

    “Err… eu posso entrar?”

    “Sim, claro…”

    Ela o fez e fechou a porta atrás de si, encostando-se nela. Suas mãos se movendo apressadamente e os olhos que não paravam fixos em um ponto.

    O pijama mostrava que ela estava prestes a dormir. 

    “E…?”

    “Ah bem… desculpa vir esse horário… err… sabe, amanhã tem um campeonato do clube…”

    “Sim. Eu soube.”

    O que há com ela? Está nervosa demais. Nunca participou de um campeonato?

    “Então… já faz muito tempo que eu larguei o clube, então…”

    Um silêncio se instaurou no quarto. Mayck captou a mensagem facilmente. 

    Aquela Haruna visitante tinha uma história diferente, de onde quer que ela fosse. 

    “Você… não sabe mais como jogar?”

    Hesitante, ela concordou com a cabeça. 

    Se Haruna não sabia jogar tênis, então sua participação seria nula no campeonato do dia seguinte. 

    “Que tal desistir?”

    “Eu não posso fazer uma coisa dessa.” Ela bufou. “Eu prometi a Rika-chan que venceríamos juntas.”

    “Mesmo que você não saiba jogar?”

    “… É…”

    Mayck a encarou fixamente, deixando-a envergonhada. Ela virou o rosto irritado.  

    “…O que é?”

    Mayck suspirou. 

    <—Da·Si—>

    No site dos caçadores, um grupo privado foi criado pelo usuário Lâmina Fervente. O grupo não tinha nome, mas dezenas de usuários foram adicionados. 

    “Olá, pessoal, meu nome é Lâmina Fervente e criei esse grupo para fazer uma proposta aos melhores dos melhores.”

    “Hein? Quem me colocou aqui?”

    “Precisa de permissão para adicionar os outros em grupos, não é?”

    “‘Lâmina Fervente’? Que tipo de nome é esse?”

    “Mais importante, que proposta é essa?”

    Os usuários adicionados rapidamente iniciaram uma conversa. 

    “É bem simples, na verdade. Estou oferecendo cinco milhões de ienes para um certo trabalho.”

    “Cinco milhões?”

    “Parece Fake.”

    “Mas e se for verdade?”

    “E se não for?”

    “Que trabalho é esse afinal?”

    “Como eu disse, é bem simples. Quero que descubram a identidade do Olhos Azuis.”

    “Tá falando sério?”

    “O que está em terceiro no ranque?”

    “Em segundo*.”

    “É ele mesmo. Quem me trouxer a identidade dele primeiro, sai com os cinco milhões. É pegar ou largar.”

    “Não acredito muito nisso não…”

    “Parece interessante.”

    “Por cinco milhões eu topo qualquer coisa.”

    Os usuários ficaram indecisos, mas a maioria deles aceitou a proposta. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota