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    “Sem pistas, hein.” 

    Takashi suspirou pesadamente. Estava em sua sala pessoal, com o silêncio dominando por completo. Olhou para o computador mais uma vez, como se esperasse que algo fosse surgir do nada como uma chama de esperança. 

    Já fazia mais de duas semanas desde o desaparecimento de Masato. Foi muito repentino. Sua última conversa com ele se resumiu a um simples cumprimento de “até amanhã” depois de uma discussão prolongada sobre a tentativa de hackeamento que também não foi resolvido. 

    “Já não bastava tudo aquilo… o assassinato, os vazamentos e tudo mais.”

    Takashi se sentia cada vez mais atordoado. Sua vida estava virando tanto que ele se perguntava se havia sido amaldiçoado por alguma coisa. 

    Revendo tudo o que lhe aconteceu no último ano, apenas desgosto era o que sentia. Sua maior emoção tinha sido seu casamento, que, lamentavelmente, foi marcado pela morte de seu pai em solo japonês. 

    O que tem de errado?

    Ele já estava convencido de que tudo aquilo era consequência das ações de portadores. Ele só queria saber como.

    “O governo veio de repente e mandou parar todas as investigações pendentes. Isso não foi só aqui, mas em vários outros distritos.”

    Apenas isso já deixava tudo óbvio.

    Todos os policiais tinham aceitado as ordens. Eles não podiam ir contra o órgão supremo do país, mas ainda restavam aqueles que não conseguiam simplesmente abaixar a cabeça e aceitar. O lema “Justiça e Confiança” não podia ser quebrado tão facilmente. 

    Eu vou investigar isso, nem que seja sozinho. E vou encontrar quem está por trás de tudo. 

    O que Sophia enfrentou naquela época, o que ela removeu sozinha por meses.  

    Ele olhou firmemente para a tela do computador que não estava mostrando nada específico. Takashi ajeitou sua postura e pegou o mouse do computador. Assim que a tela saiu do modo de hibernação, ele acessou arquivos de câmeras espalhadas pela cidade. 

    Havia centenas ou milhares de fotos de diferentes lugares em diferentes horários e estavam organizados de forma que ele pudesse encontrar alguém em algumas delas, começou a analisá-las uma a uma. 

    Num determinado momento, alguém bateu à porta e perguntou sobre quando ele iria embora. 

    “Eu vou apenas terminar algo e já vou. Não se preocupe comigo”, respondeu. 

    Takashi virou a noite verificando uma a uma, algo que ninguém tinha feito até então. Porém, apesar de parecer loucura, ele encontrou algo estranho. 

    Era uma imagem de câmera de segurança de uma área de Sumida, não muito longe da Tokyo Skytree. 

    O policial franziu o cenho, seus olhos carregavam olheiras pesadas e mal se mantinham abertos, mas a curiosidade os forçou a isso. 

    “O que é isso?”

    Ele colocou no mouse para voltar às imagens. Numa sequência de três imagens, a segunda foi completamente bloqueada, como se um apagão tivesse ocorrido de repente, mas na imagem seguinte não havia nada estranho. 

    Mas porque Takashi ficou tão atônito? Era simples. O horário em que o suposto apagão ocorreu era 03:17 da manhã, a imagem seguinte marcava 05:23. 

    O coração de Takashi errou suas batidas por um segundo e logo acelerou. Aquilo com certeza era uma pista. 

    Movendo o mouse, ele pesquisou por outras imagens na região com os mesmos horários e, coincidentemente — ou não —, todas mostraram o mesmo fenômeno. 

    “Do que isso se trata? Não ouvi nada sobre uma queda de energia na região nos últimos dias.”

    Encontrando aquela mina de ouro, ele não pôde deixar de procurar por mais e não iria parar enquanto aquela sede por pistas não fosse saciada. 

    “Todas essas perdas de imagens não podem ser só coincidência. Se tem algo a ver com portadores, então alguém está envolvido nisso… Não. Esse alguém pode ser muito mais do que aparenta.”

    Uma única pessoa não poderia controlar tantas informações assim. 

    “E se o governo tiver relação com isso? Quer dizer, seria muito conveniente eles afastarem o departamento de polícia desses casos tão de repente. Masato agiu estranho quando fomos hackeados da outra vez… Será que ele sabia?”

    Poderia ser apenas teoria da conspiração, mas Takashi estava realmente empolgado com aquela chuva de informações e conexões que sobreviveram até ele como uma tempestade impetuosa. 

    Câmeras de segurança por toda a cidade tendo pane num mesmo momento, casos trancados sem explicação aparente, o sumiço de Masato depois de uma tentativa hacker, a existência de portadores. 

    Takashi se levantou bruscamente, arrastando sua cadeira para trás, suas mãos batendo na mesa com força. 

    Sua língua estava coçando para contar a alguém, mas ele recobrou sua consciência. 

    É verdade. Mesmo que faça sentido e seja real, não é bom eu alarmar meus colegas. Se o governo estiver encobrindo isso tudo, então tem um motivo perigoso por trás. Além disso, eu não tenho certeza. Preciso investigar com mais calma…

    Seus pensamentos foram interrompidos pelo som de notificação do celular. Takashi ficou tão absorvido pelos achados que nem percebeu que havia mais de cinco mensagens de Olívia. 

    “Eu conversei com Caleb. Aparentemente, ele estava longe da sua casa quando tudo aconteceu.”

    Olívia deu ênfase na irresponsabilidade do garoto. Ela estava falando sobre o caso envolvendo Haruo. Devido a isso, não tinham conseguido provas que Mayck tinha ligação com os portadores e nem o que tinha acontecido realmente naquela noite. 

    Takashi respondeu dizendo para ela não se preocupar, afinal, ele tinha escolhido acreditar em seu filho. Não que isso tivesse apagado as chamas de sua desconfiança. 

    “Aproveitando, eu encontrei algumas coisas aqui. Será que você pode dar uma olhada e me dizer o que acha?”

    Depois de fazer o download das imagens em seu celular, Takashi as enviou para Olívia, que não demorou muito a responder. 

    “Isso é realmente estranho. Parece que aconteceu antes de eu chegar aqui. Mas eu tenho certeza que isso está escondendo algo. Vou procurar alguns contatos e tentar obter uma resposta. Te aviso assim que possível. Também vou tentar encontrar algo sobre Masato.”

    “Certo. Muito obrigado. Me desculpe por exigir tanto de você.”

    “Não se preocupe com isso. Eu prometi a Sophia que iria ajudar vocês, afinal. Vamos nos encontrar para falarmos sobre isso.”

    Takashi respondeu com “sim” e se despediu. 

    Olívia era realmente confiável. Takashi estava sentindo até uma leveza em seu coração. Recostou-se em sua cadeira e se espreguiçou, levando as mãos entrelaçadas acima da cabeça. 

    “Mmm…”

    Em seguida, seus ombros caíram. Seus olhos se fechavam lentamente e ele quase cedeu ao sono, mas levantou-se rapidamente e foi até o banheiro lavar o rosto. 

    O silêncio na delegacia era quase perfeito. Quando passou pela sala principal, notou vários colegas adormecidos. Não passou por sua cabeça acordá-los até porque eles todos tinham passado sufoco nos últimos meses. 

    Estão todos exaustos. 

    Depois de saciar suas necessidades e lavar o rosto, Takashi se olhou no espelho. 

    O que é isso cara? Você está horrível. 

    Estava trabalhando demais ultimamente. Ele mesmo reconheceu isso. Porém, não podia se dar ao luxo de deixar as coisas tomarem o rumo que queriam. Não podia largar tudo apenas porque quem estava no topo queria esconder algo. 

    Isso não é justiça. Eu preciso saber o que está acontecendo de verdade. 

    Seu pai sempre lhe ensinou o significado de bondade. Mostrou-lhe que mesmo um mundo tão corrompido podia ser salvo, como uma flor que se erguia no lixão. 

    Eu vou descobrir o que aconteceu com você, Masato. Eu vou resolver tudo isso. 

    Takashi secou suas mãos e voltou ao seu escritório. 

    <—Da·Si—>

    Poucos dias depois de se encontrar com Fuka e Haruki, Mayck pôde perceber muito bem as mudanças que afetaram seu amigo desde o encontro com aquele youkai. 

    “Yukimura-kun, você está me ouvindo?”

    Um professor alto, sem cabelos e com um olhar sério no rosto o chamou. 

    “Yukimura!”

    O garoto, porém, parecia estar divagando em pensamentos e não dava ouvidos, até ser cutucado pela ponta de uma caneta, que causou um pequeno choque em seu corpo. 

    “…! Ai!”

    Ele rapidamente voltou a si. Seus olhos e movimentos pareciam perdidos, como se ele tivesse acabado de despertar de um pesadelo.

    “Yukimura-kun, o que está fazendo no meio da aula? As provas já estão chegando, lembra?”, o professor gesticulou, seu olhar era severo. 

    “Ah— sim, me desculpe…”

    “Tudo bem. Preste mais atenção, está bem? Certo, turma, vamos voltar.”

    O professor voltou para a lousa e continuou a escrever no quadro negro, explicando sua matéria de história japonesa. Haruki, por sua vez, sentou-se um pouco envergonhado, suspirando, como se não restasse energia em seu corpo. 

    “Você parece ter ido dormir tarde. É bom mudar esse hábito, não?”

    Mayck olhava para o quadro negro e fazia anotações em seu caderno. Sua caligrafia não era das melhores, mas definitivamente estava entre as normais, sem nada de especial, nem melhor nem pior. 

    “Mmm… não é bem assim, eu tenho tentado dormir cedo, mas o problema é outro…”

    “Tem a ver com aquilo?”

    “Provavelmente… Me impressiona que você esteja se sentindo bem. Nada estranho aconteceu?”

    “Na verdade não…”

    Pelo contrário, a cada noite Mayck se sentia melhor. Nada lhe afetava exatamente além dos arrepios que percorriam seu corpo, como a sensação de estar sendo observado. 

    Haruki apoiou os cotovelos na mesa e pôs a cabeça nas mãos, um olhar fatigado estampado no rosto. 

    “Por que será, hein?”

    Mayck o observou um pouco. Se fosse realmente algo relacionado à Hachishakusama, então isso deveria afetá-lo também, mas não era o caso. Tinha algo a ver com a diferença de tempo em que eles se encontraram com o youkai? Possivelmente. Esse era um fenômeno que precisava ser analisado. 

    De qualquer forma, depois das aulas, Mayck se prontificou a acompanhar seu amigo até sua casa, visando que nada estranho acontecesse. E também o orientou a ligar ou mandar mensagem assim que sentisse algo fora do normal. 

    Haruki concordou, mas Mayck sinceramente não esperava que isso acontecesse. Afinal de contas, se a maldição de Hachishakusama fosse verdadeira, então ele poderia acabar fazendo coisas de forma inconsciente, impedindo qualquer contato com alguém. Era bom ficar de olho nisso. 

    ****

    Depois de jantar, Mayck foi para o quarto e ligou o computador. Havia algo em sua caixa de e-mails. 

    Sem nome de quem enviou, o e-mail continha a seguinte mensagem:

    A maioria dos detalhes foram decididos. Venha até a base assim que possível para saber o restante. Também precisamos da sua opinião. 

    Mayck abriu um sorriso sem graça, sabendo que uma mensagem assim só poderia ser de Nikkie. Sem ter outra coisa específica para fazer, ele decidiu ir naquela noite. 

    Chegando na base, que estava agitada como sempre foi, ele se dirigiu imediatamente à sala de Zero e entrou depois de ter seu acesso permitido. 

    “Com licença…”

    Sua voz baixa foi recebida pelo olhar feroz de uma garota de cabelos azuis escuros, que parecia estar reclamando alguma coisa à primeira vista. Ela não estava usando sua máscara, então dava para ver sua pele branca e lábios avermelhados, bem como seus olhos num tom azul claro.

    “Oh, M-kun. Há quanto tempo. Seja bem-vindo”, disse Zero, como se estivesse ignorando completamente a garota. 

    “Ah, claro. Faz um tempo mesmo… er… eu cheguei em má hora?”

    “Não, exatamente. Só houve um pequeno desentendimento.” 

    Foi Nikkie quem respondeu, estando de pé ao lado de Zero. 

    “Essa aqui é Sora-san. Ela faz parte da equipe Beta.”

    “Hm. Eu sou M, prazer em conhecê-la.”

    Mayck se apresentou de forma educada e a garota fez o mesmo, saindo de seu estado de irritação. 

    “Eu sou Sora. Muito prazer. Agora…” Voltou-se para Zero. “Eu não aceito que diga que eu não posso ir. Já falei que estou perfeitamente bem. Até mesmo os exames médicos dizem que não tem nada de errado.”

    Ao que parecia, Zero e Nikkie haviam afastado-na devido a algum acidente ou problema de saúde. 

    “Mesmo assim, não dá pra saber quando você terá problemas de novo. Lembre-se que suas circunstâncias são muito delicadas e…”

    “Eu sei disso! Mas eu não posso simplesmente deixar minha equipe lutar sozinha”, ela retrucou por cima de Zero. 

    “Sua equipe não vai estar sozinha, Sora. Confie mais neles.”

    “Eu já confio bastante! Mas preciso estar com eles. Preciso estar por perto quando algo acontecer.”

    Nikkie e Zero suspiraram, pareciam já estar cansados daquilo. No entanto, a teimosia de Sora acabaria convencendo os dois naquele ritmo. 

    “Escute, Sora—”

    “Ei! Sora!”

    A porta foi aberta de repente e uma garota entrou. Seus cabelos curtos num tom claro de rosa, quase branco, na altura dos ombros balançavam com seus movimentos apressados. Ignorando tudo à sua volta, ela foi até Sora, seus olhos avermelhados fixaram-se nela. 

    “S-Sky? Por que veio até aqui?” Sora inclinou-se para trás, devido à proximidade da outra garota, que parecia cair em cima dela. 

    “Eu que deveria perguntar isso, mas já sei a resposta. Veio reclamar de novo?”

    Enquanto Sky dava bronca em sua amiga, Mayck só conseguia pensar que a base ficou animada enquanto ele estava fora. 

    “O-o que você tem a ver com isso?”

    Sora tentou se esquivar, desviando os olhos e mantendo sua teimosia. Sky estreitou os olhos. Ajustou sua postura e cruzou os braços. 

    “Eu tenho tudo a ver com isso. Tenho a obrigação de cuidar de você, esqueceu? Além do mais, você me deixou muito mais preocupada que o normal. Não acha cruel falar dessa forma?”

    “I-isso…”

    “Não é, né? Então venha, vamos logo. Se quiser voltar à ativa, esteja descansada.”

    “Esse não é o problema…!”

    Sky tomou a mão de Sora, com a intenção de levá-la à enfermaria provavelmente. Sora, porém, resistiu antes de sair e se soltou da amiga. Ela correu até a mesa de Zero, seu olhar não era mais tão feroz como antes, mas estava lacrimejando e seu rosto estava vermelho. 

    “Mmm…! Zero-san. Eu te peço, de verdade, me deixe participar da missão. Meus companheiros precisam de mim lá. Eu não posso permitir que eles arrisquem suas vidas sozinhos.”

    Ela se curvou quase acertando a mesa com a testa, fazendo uma petição genuinamente emotiva.

    Mayck observava todo o desenrolar com uma expressão curiosa no rosto. Ele olhou para Zero e Nikkie, ambos em silêncio, esperando a resposta que o líder daria. 

    Sora, apesar da forma que se dirigia aos seus superiores, sabia qual era o limite traçado até onde ela podia agir daquele jeito, então se Zero dissesse que ela definitivamente não iria, então só lhe restava aceitar o destino amargo. 

    Zero manteve silêncio por alguns segundos, até que suspirou e entrelaçou os dedos por cima da mesa. 

    “Está bem. Eu vou permitir que vá.”

    “Zero-san?”

    Um alívio caiu sobre Sora, porém, surpresa em Nikkie e Sky. 

    A verdade era que Zero era um homem flexível e coração mole, então não conseguia repreender alguém tão duramente, sabendo que todos tinham seus limites e suas próprias condições. 

    “É-é sério?”

    “Sim. É sério. Agora dê o seu melhor e tente não ultrapassar seus limites. Estamos entendidos?”

    “Sim!” A expressão da garota se iluminou. 

    “Que bom, não é, Sora?”

    Sora acenou. Contente, ela deixou a sala junto à Sky, encerrando aquele assunto e deixando Zero e Nikkie aliviados. 

    “Será que isso é bom mesmo?”

    “Hum, não posso dizer que vai ficar tudo bem, mas ela não deve se arriscar como da última vez e arriscar a vida de seus companheiros. Bom, vamos mudar de assunto. Desculpe por isso, M-kun.”

    “Não, não. Está tudo bem. Não se importe comigo. Como vão as coisas por aqui?”

    “Digamos que está tudo nos eixos apesar dos pesares. Lidar com parte da Strike Down tem sido mais difícil do que imaginávamos. O preconceito entre os membros das duas organizações ainda é muito grande”, Zero falou com um tom meio cansado. 

    “Temos tido diversos conflitos entre ideais, mas nada que não possamos resolver. O maior problema, no entanto, tem sido a distribuição de equipes. É difícil fazer parte deles concordar em trabalhar com equipes misturadas”, Nikkie completou.

    “Hmm… imagino. Não deve ser tão simples. A Strike Down e a Black Room cultivaram uma rivalidade por muito tempo, afinal.”

    “Nós até pensamos em deixá-los escolher por conta própria, mas isso não daria certo. Imagine só o caos que se tornaria.”

    Mayck sorriu forçadamente, ao conseguir criar uma imagem em sua cabeça. Seria uma disputa sem fim. Nada iria para frente. 

    “Foi por isso que optamos por selecioná-los por um programa de compatibilidade que nossos desenvolvedores criaram. Ele pega as informações dos indivíduos e cria as melhores equipes baseadas em suas habilidades e contribuição para as equipes. Óbvio que não é com por cento preciso, mas é o melhor meio até agora.”

    Zero também afirmou que não seriam todas as equipes que seriam enviadas nessa missão, a qual foi chamada de ‘Operação Busca Invernal’.

    “Parece ser a melhor solução mesmo… E quanto a mim?”

    “Isso já está planejado também. Sabe as duas que acabaram de sair? Pois bem. Elas são da equipe Beta. Você vai trabalhar com elas e com mais alguns membros vindos da Strike Down. Sugiro que se enturme com eles logo. Diferentes das outras equipes, cada um deles tem uma personalidade forte.”

    Ouvir ‘personalidade forte’ fez algo balançar dentro de Mayck, que esboçou uma careta. Podia ser sua imaginação, mas ele tinha percebido um certo tom de ironia na voz de Zero. 

    “Como esperado de Zero-san. Na primeira oportunidade de se aproveitar de mim, ele se aproveita ao máximo. Bom, eu não vou reclamar de nada, mas como vai fazer para que eu participe dessa missão?”

    Afinal de contas, Mayck não podia simplesmente sumir por tempo indeterminado e esperar que ninguém se preocupasse com isso. Havia pessoas que ficariam malucas com o seu sumiço repentino — principalmente com as circunstâncias nada boas ao seu redor. 

    “Quanto a isso, eu já tenho um plano. Mas não se preocupe com isso, afinal de contas, vai levar um tempo até a operação começar de verdade.”

    “Ué? Foi adiada?”

    “Infelizmente. Eu planejava iniciar o mais rápido possível, mas as disputas parecem que vão levar um tempo a mais para se acalmarem. Então não vou forçar a barra no momento.”

    “Entendi. Okay. Então me avisem se houverem mudanças.”

    “Claro. Fique tranquilo. Nada vai começar tão rápido, então não pense muito sobre isso.”

    “Sim. Até mais.”

    Se despedindo, Mayck deixou a sala. Assim que saiu, viu Sora e Sky do lado de fora. Parecia que Sora ainda estava levando bronca, mas não estava se importando muito, já que sua postura inabalável e que emanava orgulho estava intacta em seus braços cruzados, olhos fechados e expressão ranzinza. 

    Acho que poder participar dessa missão significa muito para ela. 

    Ele acabou encarando-as por um tempo e foi notado. As garotas o cumprimentaram com um aceno e um sorriso de Sky. Mayck retribuiu um pouco constrangido. Acelerou o passo e saiu daquele lugar o mais rápido e natural que pôde. 

    ****

    Eu acho que deveria ter as cumprimentado de forma mais adequada. Vamos trabalhar juntos, afinal de contas. Mas vamos deixar isso para outra hora. 

    Com seus passos mais relaxados, ele seguiu pelos corredores, quando uma voz o chamou. 

    “M-san!”

    Ele se virou e viu a equipe Alfa se aproximando. 

    “Oh, pessoal. Há quanto tempo.”

    “Não é? Como tem estado? Não vemos você desde que fez aquela maluquice envolvendo todo mundo e foi punido. Hahaha!”

    Ethan riu alto, apontando o que o garoto fez sem hesitar. 

    “Não seja tão barulhento”, Kai o repreendeu. 

    Mayck inclinou sua cabeça ligeiramente. 

    “Bem, eu precisava me recompor depois de tudo. Não foi nada fácil.”

    “O que seria tão difícil para nosso aliado mais maluco?” Luna comentou em tom de piada, enquanto dava tapinhas nas costas de Mayck.

    Lily deu um passo à frente, cessando as brincadeiras de seus amigos. 

    “Enfim. É bom ver que você está bem. Já falou com Zero?”

    “Já. Ele me deu alguns detalhes da missão… mas falou que tem uma pequena bagunça por aqui. Não deve ser fácil lidar com membros de outra organização.”

    “Hmpf. Nem me fale. Eu não tenho nenhum problema com isso, mas esse pessoal da Strike Down acha que está no direito de se apossar de tudo.” Mia bufou, seu tom de voz carregava um leve tom de irritação. 

    “Vamos, não fique remoendo isso. Não há muito o que fazer. Se continuarmos todos pensando assim, não vamos mudar nada.”

    Mayck levantou uma sobrancelha, perguntando-se sobre o que as duas estavam falando, então Luna respondeu. 

    “Ontem nós fomos treinar no estande de tiros e, bem, Mia tem um lugar especial que ela gosta de usar, mas quando chegamos lá, um pessoal da Strike Down estava usando. Mia pediu para eles cederem, mas se recusaram e uma briga começou.”

    “Francamente, tivemos sorte de não ter sido nada além de ameaças”, Kai balançou a cabeça em reprovação. “Nós provavelmente seríamos punidos se fizéssemos besteira. Os guardas controlaram a situação bem na hora.”

    “Vocês passaram por um belo sufoco…”

    “Mas tudo se resolveu. Tenho certeza que essa tempestade vai passar em breve. Ah! M-san, você está ocupado agora? Marcamos de nos encontrar com o time Delta no refeitório para uma refeição. Se estiver tudo bem, que tal se juntar a nós?”

    “Hm… eu não vejo problemas. Não tenho nada para fazer, em particular.”

    “Ótimo, ótimo. Então vamos nessa!”

    Animados com o novo participante da reunião, eles seguiram para o refeitório. Apesar do horário já avançado, não era algo incomum que eles jantassem, já que os agentes não tinham um horário fixo para seus trabalhos, qualquer hora era qualquer hora — mas as divisões do dia permaneciam a mesma com café pela manhã, almoço à tarde e jantar à noite.

    As duas equipes, Alfa e Delta eram bem unidas, já tendo participado de várias missões juntos. Além de que seus membros foram colegas na Academia de Desenvolvimento. Então isso os tornava mais próximos que qualquer outra equipe. 

    “Aliás, vocês sabem sobre a equipe Beta?”

    Enquanto caminhavam, Mayck perguntou sem nenhum alvo em específico, apenas esperando uma resposta, a qual veio de Lily primeiro. 

    “A equipe Beta, né? Bom, eles não tem nenhum problema em particular. São bem unidos na verdade, embora tenham algumas circunstâncias bem pessoais. São uma equipe fácil de lidar, além de serem bem confiáveis.”

    “O que quer dizer com circunstâncias pessoais?”

    “Hmm… Você está bem curioso sobre eles, hein?” 

    Luna estreitou os olhos, tentando ler através do garoto com um olhar aguçado. O garoto, porém, recuou levantando um pouco as mãos. 

    “Não é nada demais. Zero me disse que eu vou trabalhar com eles, então eu queria saber que tipos de pessoas são.”

    “Ah! É só isso… espere. Isso significa que você não vai trabalhar com a gente dessa vez?”

    “É o que parece.”

    “Poxa…” Uma expressão tristonha surgiu no rosto de Ethan, que tinha ficado animado por poder trabalhar com Mayck, porém, suas esperanças foram derrubadas com aquela afirmação. 

    “Bem, como Lily disse, eles são bem unidos. O líder deles, Rider, é um cara confiável e inteligente. Yoshiro é gentil e forte. Sky é carismática e alegre. Gunner…, bem, ele é cabeça quente, mas uma boa pessoa. Sora, por outro lado, é bem teimosa, mas é uma boa garota também.”

    Mayck pôde ver a tal teimosia em primeira mão minutos atrás. 

    “Se dissesse que eles tem um problema é relacionado a Sora.” Lily baixou seu tom de voz, como se estivesse tocando em um assunto delicado. 

    “O que ela tem?”

    Mayck, porém, só aguçou sua curiosidade, então ele olhou fixamente para as garotas. 

    “Ao que parece,” disse Luna. “Sora tem uma particularidade nada legal. Por causa de seu poder, ela tem alguns problemas de saúde que podem matá-la caso seja descuidada. É por isso que a equipe Beta participa pouco de missões de grande escala.”

    “Eu até pensei que eles ficariam de fora dessa vez. Me surpreendi quando Zero escalou as equipes”, comentou Kai, andando ligeiramente na frente. 

    “Não dá pra saber o que se passa na cabeça de Zero-san.” Luna levantou as mãos levemente até a altura dos ombros. “Mas ordens são ordens. Não temos direito de recusá-las. Ainda temos que agradecer por ele estar sendo tão gentil nos últimos meses.”

    “Hm? O que quer dizer?”

    “Bem, você não estava aqui na época, mas Zero-san costumava ser mais frio e rígido com todos, então nós aprendemos a nunca desobedecer suas ordens. De repente ele ficou assim”, Ethan respondeu. 

    “Foi uma mudança repentina. Surpreendeu todo mundo. Se alguém souber o que aconteceu, essa pessoa é Nikkie, mas ela nunca disse nada. Enfim, vamos sair desse assunto, hoje é um dia de folga!” Proclamou Luna vitoriosamente, levando Ethan e os outros na mesma animação. 

    Mayck ponderou um pouco sobre as informações que recebeu. Desde que conheceu Zero, nunca tinha visto levantar o tom de voz ou agir grosseiramente. 

    O que pode ter acontecido?

    A questão ficou em sua mente e não seria respondida tão cedo. Certamente, isso iria atormentá-lo por um tempo. 

    Depois de um tempo eles chegaram ao refeitório. Na verdade, chamar de refeitório talvez não fosse tão correto. Era mais parecido com um grande karaokê. A primeira coisa a ser vista era a grande vitrine que cercava uma enorme mesa com self-service, onde haviam vários tipos de alimentos, desde grãos e vegetais a frutas e sobremesas. 

    Do outro lado, ainda atrás da vitrine, haviam máquinas automáticas, onde era possível comprar produtos que não eram servidos com os demais, como bebidas energéticas, doces e outros do mesmo nível. 

    Devido a isso, uma enorme fila de visitantes era criada e cada um deles pegava o que preferia. 

    Após isso, se dirigiam às salas privadas em grupos ou sozinhos, que eram divididas em quartos não muito grandes com uma mesa redonda no centro e um banco estofado que se estendia ao redor da sala em volta da mesa. 

    Mayck não pôde esconder sua admiração. Em todo esse tempo, nunca tinha visto aquele local, apesar de já ter sido convidado várias vezes. 

    Afinal, havia um pequeno problema. Algo que lhe preocupava bastante desde que ele pensou que para comer, precisava tirar sua máscara. 

    “Hum… Isso está cheirando muito bem”, Ethan respirou fundo enquanto o vapor e o odor dos alimentos na bandeja de porcelana subiam até seu nariz. 

    “Realmente. Parece delicioso”, Luna concordou com brilho nos olhos. 

    Todos se acomodaram na sala e colocaram as bandejas na mesa, e um a um foram retirando suas máscaras e revelando seus rostos. 

    Enquanto isso, Mayck ficou em silêncio, pensando descontroladamente no que fazer. Na realidade, ele não estava pensando, mas enrolando sem saber o que fazer. 

    Ele olhou de um lado para o outro. O rosto de cada um deles era diferente da imagem que ele tinha em sua mente, já que era uma coisa que ele  criava baseado nas vozes e em seus próprios julgamentos. 

    Ethan tinha um rosto mais sério, o que não condizia com a forma como agia, diferente de Kai, que mais parecia uma irmão mais velho tranquilo. 

    Quanto às garotas, cada uma tinha suas particularidades. Luna tinha um semblante mais aberto, o que condizia com sua personalidade transparente. Mia tinha uma aura tranquila, mas instável, teria uma rápida mudança se fosse provocada. 

    Porém, o que mais impressionou o garoto foi Lily, com seus olhos possuindo cores diferentes — o esquerdo azulado e o direito esverdeado — os quais ficavam em uma bela harmonia com sua pele clara e cabelos rosa. 

    “O que foi?” Perguntou Ethan de repente. Ele olhava Mayck curioso, questionando se havia algo errado. 

    Os outros também perceberam que ele estava inquieto, então Lily sorriu e moveu os lábios gentilmente. 

    “Olha, eu sei que você deve estar hesitante sobre mostrar seu rosto aqui, mas está tudo bem. Mesmo que te conheçamos de algum lugar, definitivamente não vai mudar nada.”

    “É isso aí. Não vamos nos meter em sua vida pessoal”, Kai se pronunciou. 

    O restante acenou com sorrisos atenciosos nos rostos. 

    Mayck correu seus olhos por todo o grupo. Era inseguro mostrar seu rosto ali. Apesar de terem trabalhado juntos algumas vezes, ele não podia dizer, com certeza, que confiava naquelas pessoas. 

    Será que eu devo…?

    Talvez ele ainda não tivesse começado a confiar nos outros seriamente. Revelando sua identidade, muitas pessoas estariam em risco. 

    Ele abriu a boca, um silêncio de alguns segundos perdurou enquanto a equipe Alfa continha esperança nos olhos. 

    “Desculpem”, disse, por fim. “Eu acho que não devo fazer isso. Pelo menos, não agora.”

    Entre revelar e deixar a vida seguir conforme a dança mandava ou esconder e cuidar de tudo, ele optou pela segunda opção. 

    Os ombros de Ethan caíram junto com o brilho em seu olhar, que desapareceu num instante. 

    “Ah, cara, não precisa esconder. Somos amigos, não é?”

    “Ethan, não vamos obrigá-lo. Se revelar ou não é escolha dele. Assim como foi para todos nós, não é? Tudo bem, M-san, não se preocupe. Você tem o direito.”

    Lily sorriu gentilmente, enquanto os demais, excluindo Ethan, compreenderam a situação de forma pacífica. Logo Ethan também mudou de ideia e se conformou com isso. 

    “Mas, nesse caso, como você pretende comer?”

    “Hmm… só me resta ir para outro lugar—”

    Antes que Mayck terminasse, a porta foi aberta de repente. 

    “Desculpem a demora”, disse Isha com uma bandeja, duas tigelas e alguns talheres. 

    “Ah, vocês chegaram. Estávamos prestes a começar. Vamos, sentem-se.”

    Isha entrou e logo os outros integrantes do time Delta seguiram após ela. Keize teve que se abaixar para passar pela porta que era menor que ele. Dentre eles…

    “Boa noite, pessoal.”

    “Stella!? Você já está melhor?” Luna saltou de seu assento e analisou cada canto da garota, que tinha um leve sorriso no rosto. 

    “Ah, sim, sim. Ainda estou me recuperando, na verdade, mas já me sinto bem.”

    Enquanto todos se levantaram para cumprimentar a amiga, Mayck apenas observou. Ele não sabia o que sentir realmente. Se era alívio por ela estar bem, arrependimento por ter sido o culpado dela ter ficado daquela forma. Não seria exagero se fosse um pouco de cada. 

    Stella notou o garoto ali, seus olhos tremeram. Ela pôs um sorriso sem graça nos lábios. 

    “O-olá, M-kun…”

    “Olá. É bom ver que você está bem.”

    “Obrigada…”

    A estranha interação deixou todos um pouco atônitos. Não era como Stella costumava agir perto de Mayck, já que eles sabiam que ela tinha um apego extra ao garoto. 

    Porém, sem saberem do real acontecido, eles partilharam a ideia de que ela só não estava nas melhores condições para brincadeiras. 

    Por outro lado, Chika lançou um olhar severo para o garoto, que acabou se encolhendo um pouco. Ela com certeza tinha muitas coisas a dizer, mas a recuperação de sua amiga era mais importante que qualquer discussão. 

    “Bom, eu vou indo nessa.” Mayck se levantou com a bandeja em mãos. 

    “Hein? Já vai? Mas você nem comeu…” 

    “Não se preocupe. Eu vou fazer isso depois. Tenho algumas coisas para falar com Nikkie ainda. Até mais.”

    O garoto saiu da sala e seguiu pelos corredores lotados para sair do refeitório, quando seu braço foi puxado por alguém. 

    “Espera, Mayck-kun.”

    “O que foi?”

    O garoto se virou para ver Stella, ou melhor, Akari atrás dele. 

    “Eu só queria conversar um pouco… Chika me contou sobre o que aconteceu… você me usou, não foi?”

    Mayck baixou os olhos, suspirou e respondeu:

    “Sim. Você tem o direito de estar brava. Eu coloquei sua vida em risco…”

    “Não, não. Não entenda errado. Eu não estou brava. Muito pelo contrário. Mayck-kun, obrigada.”

    Ela apertou um pouco o braço do garoto, como se para impedir que ele fugisse. Diante da leve expressão confusa do Mayck, ela continuou:

    “Por sua causa, eu consegui que Clair-senpai fosse vingada. Embora não tenha sido como eu esperava. Você foi aquele que me deu um empurrão para isso. Sem você, eu tenho certeza que estaria remoendo isso até agora.”

    “Você está satisfeita com isso?”

    “Sim… quer dizer, eu não sei ao certo, mas tem um alívio no meu peito que diz: Clair-senpai pode descansar tranquila agora. Não sei o que vai ser de mim no futuro, mas eu quero continuar a proteger meus amigos. O mesmo vale pra você, Mayck-kun.”

    “Eu?”

    “Sim.” Ela sorriu brilhantemente. “Eu não me importo com o que você fez, só peço que não abandone quem você é de verdade. Mayck-kun, mesmo que não perceba, saiba que você é uma ótima pessoa.”

    Mayck encarou aquele sorriso inabalável de Akari, que finalmente tinha se tornado uma com Stella. Podia dizer que aquela era ela de verdade e suas palavras o abraçavam tão calorosamente quanto sua mão ligeiramente menor que a dele que o tocava com um simples toque delicado. 

    “Bom, eu vou voltar agora. Espero que nós continuemos nos dando bem. Até mais, Mayck-kun.”

    Ela se virou. Mayck observou suas costas até sumirem no meio da multidão. Seu olhar escondia algo por trás da expressão de indiferença que ele carregou por quase toda a sua vida. 

    Uma boa pessoa? Eu?”

    Ele respirou suavemente. Até onde deveria levar essas palavras? Ele não sabia, mas elas se alocaram em seu coração e causaram uma dor terrível. 

    Não me iluda desse jeito, Akari…

    ****

    Um traço suave de água riscou o ar, enquanto a lâmina cortava tão suavemente quanto uma faca passando em uma manteiga. 

    A cabeça de um Ninkai parecido com um camaleão gigante caiu no chão antes que o próprio se desse conta. Um grunhido antes que sua morte fosse declarada e seu sangue escorresse pela rua. 

    “Faz um tempo que não faço isso. É até estranho.”

    Mayck guardou a lâmina na bainha. Já havia verificado antes, então não havia ninguém naquela área, o que era algo bom, mas só por um breve momento. 

    “Uau! Isso foi insano. Derrotar um Ninkai de classe A sem muito esforço é um feito e tanto.” Alguém aplaudiu, se aproximando por trás. 

    “Eu agradeço os elogios, mas muita gente pode fazer melhor.”

    “Não, não. Não precisa ser tão modesto. Eu sou  Caleb, muito prazer”, apresentou-se o garoto de cabelos pretos com tranças jogadas para a direita. Sua pele escura e olhos prateados não deixavam dúvidas de quem ele era.

    Caleb Cesarini… então essa pessoa que estava me perseguindo?

    “Hey, mano, relaxa. Não precisa levantar a guarda perto de mim. Só estou aqui para te fazer algumas perguntas, pode ser?”

    “O que você quer?” Mayck perguntou com um tom leve, escondendo sua cautela, que parecia já ter sido descoberta.

    “Você é o famoso ‘Olhos azuis’?”

    “Olhos azuis? Até onde eu sei, não.”

    “Ah, vai. Não precisa mentir. Manto negro e máscara branca. Só pode ser você. Nesse caso, vou mudar a pergunta. Você é Mayck Mizuki?”

    Seus olhos tornaram-se maliciosos. Ambos se encararam por um momento, em um duelo de quem conseguia ver através de quem. 

    “…”

    “O que foi? Não vai responder?”

    Era uma armadilha. Mayck decidiu ficar em silêncio justamente porque a pergunta foi feita em português. Respondê-la era a mesma coisa que fazer algo em frente a câmera e dizer que não fez; algo fútil. 

    Os segundos de silêncio foram espessos. Nenhum lado queria ceder, até que Caleb levantou sua voz em um suspiro exausto. 

    “Ah! Tá legal. Você não me entendeu, não é? Eu já sei quem você é de verdade, então não precisa mentir, tá okay?”

    “Olha, eu realmente não sei do que você está falando. Deve ter me confundido. Seja o que for, eu prefiro que me deixe em paz.”

    Mayck virou as costas, visando encerrar a conversa ali, porém Caleb o impediu. 

    “Ei, ei, ei. Não vá embora agora.”

    “Cara, me larga. Eu não tenho nada a resolver com você.”

    Caleb cruzou os braços, sobrancelhas apertadas e um tom de voz agressivo. 

    “É sério. Eu já tô perseguindo Mayck Mizuki há um tempo e nunca consigo pegar ele no pulo. Sempre aparece uma coisa para interferir. Na última vez, acabei me distraindo com alguns idiotas e aconteceu uma bagunça.”

    “E o que tem a ver comigo?”

    “Ahh! Vai continuar fingindo, é? Só assume logo!”

    “…”

    “Argh!!” 

    O garoto estava claramente atordoado. O fingimento de Mayck estava parecendo cada vez mais real e o próprio Caleb estava ficando convencido que tinha pego o cara errado. 

    “Ali! Achamos ele!” Uma voz repentina e furiosa. 

    “Ah, merda! Já me encontraram?!”

    Ao se virar instintivamente, Caleb viu um grupo de três pessoas correndo até ele. Os passos apressados e pesados pareciam fazer o chão tremer. 

    “Ei! Me ajuda a me livrar desses caras”, disse antes de sair correndo sem nenhuma explicação complementar. 

    “Eu me recuso. Não tem nada a ver comigo.”

    Mayck retrucou indiferentemente, gesticulando o óbvio. Porém…

    “Ei! Você é companheiro dele?! Peguem ele também!”

    É claro que seria assim! Pensou Mayck. 

    Para sua sorte, não foi reconhecido, então ele pôde correr atrás de Caleb imediatamente. 

    “Então decidiu vir me ajudar no fim?”

    “Nem crie esperanças. Eu só quero saber o que está acontecendo.”

    Ambos correram até acharem um local adequado para se esconderem, o qual foi um templo que Mayck conhecia bem, pois era o local que ele enfrentou um dos inimigos mais problemáticos que já teve. 

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