Capítulo 11: Promessas do Amanhã
— Como está indo sua viagem, minha criança? — uma voz surgiu das sombras, logo depois um ser encapuzado brincando com um dado, jogando-o para o alto.
Era Vallfen, Deus do Caos, e pai de Ivar.
— O que você quer? — perguntou Ivar, com um tom de raiva.
— Só queria saber como que meu filho está e em como ele está se saindo em sua jornada.
— Depois de todo esse tempo, agora decidiu se importar? Você não me engana, pai.
— Eu sempre estive com você, meu filho. Sempre me importei com você e com sua família, mas mesmo sendo um Deus, tenho minhas limitações. Porém, não se preocupe, quando eu ascender a liderança dos Deuses, tudo vai mudar.
— E como planeja tomar o controle sobre os Deuses?
— Com sua ajuda, meu filho. Você recebeu uma benção que ninguém jamais teve, e isso o ajudará a ficar mais forte, e você estando mais forte, irá me ajudar em minha conquista.
— Ter que se alimentar dos corações de outros seres parece ser uma benção pra você? Acha que eu gosto disso? Eu não tenho escolha, e a culpa é sua!
— Acalme-se, criança. Logo você será um dos seres mais poderosos que já existiu, e deixarei um lugar para você ao lado de meu trono.
E da mesma maneira que Vallfen chegará, se foi, como uma sombra, sem vestígios de sua presença.
Quando Ivar volta ao acampamento, encontrou todos adormecidos próximas ao fogo, suas figuras iluminadas pelo brilho das chamas.
Ele sentou-se perto delas, mantendo a vigília enquanto a madrugada se aproximava.
O vento soprava suavemente, e em meio ao silêncio, ele fechou os olhos por um instante, permitindo-se um breve momento de paz.
Amanhã estariam mais próximos de Thirel, e os mistérios que procuravam resolveriam mais do que apenas o destino de Ivar.
A névoa ao redor da colina parecia ter se intensificado após a aparição de Vallfen, como se o próprio ambiente refletisse o conflito dentro de Ivar.
O encontro inesperado com seu pai reacendera a raiva e a confusão que ele havia tentado suprimir.
As palavras de Vallfen sobre sua bênção, e o destino sombrio que ela carregava, ecoavam em sua mente.
Apesar da promessa de poder, Ivar sentia o peso da maldição de ter que consumir corações para conseguir mais poder, uma escolha que nunca lhe fora dada.
Enquanto observava seus companheiros dormindo à beira do fogo, Ivar se perguntou até onde essa jornada o levaria e se realmente encontraria as respostas em Thirel.
A ideia de ser uma peça no jogo de poder de Vallfen era insuportável, mas ele sabia que não podia ignorar a influência de seu pai ou a promessa de uma força avassaladora que, de algum modo, ele poderia usar para seus próprios objetivos.
Ele apertou o punho, determinado a não ser apenas um peão no plano de Vallfen.
Se ele realmente tinha uma bênção, usaria esse poder para traçar seu próprio caminho, longe das manipulações divinas.
O desafio, agora, seria balancear o que Vallfen lhe oferecia com o que ele próprio desejava alcançar, um destino que fosse apenas dele.
Enquanto a madrugada se aproximava, Ivar fez uma promessa silenciosa. Ele não cederia facilmente ao jogo de Vallfen.
E, mesmo que tivesse que confrontar o próprio pai, ele não desistiria de encontrar uma forma de concretizar seus planos.
A madrugada se desenrolava lentamente, e a névoa envolvia a colina em um manto etéreo, quase mágico.
O silêncio da noite parecia ser um reflexo da turbulência interna de Ivar.
Ele se levantou, afastando-se do calor da fogueira e dos sonhos tranquilos de seus companheiros. Precisava de clareza, um momento para processar tudo o que acabara de ouvir.
Então caminhou até a borda da colina, olhando para o vale que se estendia abaixo, a luz da lua refletindo nas pedras antigas e nas ruínas que pareciam vigiar cada movimento seu.
O vento soprava fresco, como um sussurro, e a brisa trazia consigo o aroma da terra molhada e da vegetação ao redor.
Com a mente ainda confusa, Ivar começou a se lembrar de seu treinamento com os Guardiões da Noite.
Ele havia aprendido a dominar suas habilidades, mas a cada passo, o peso de sua herança se tornava mais evidente.
A bênção de Vallfen poderia ser um trunfo, mas também era uma maldição.
O caminho que ele escolheria não poderia ser guiado por sombras, e ele não permitiria que o desejo de seu pai o desviasse de seu verdadeiro objetivo.
Sentado em uma pedra fria, ele se permitiu um momento de reflexão. Ele se lembrou de sua mãe, de suas palavras de amor e esperança, e do legado que ela deixara.
Aquela lembrança trouxeram um pouco de calor ao seu coração, uma centelha de determinação.
Ele não lutava apenas por si mesmo, mas por um futuro que poderia ser diferente, não apenas por ele, mas por sua filha e por todos que sofriam sob o peso do ódio humano e das expectativas e manipulações divinas.
O som de passos na grama o fez olhar para trás. Elara se aproximou, com uma expressão de preocupação nos olhos.
— Você está bem? — perguntou, sua voz suave quebrando o silêncio da noite.
Ivar assentiu, embora soubesse que não era verdade. O peso de seus pensamentos ainda oprimia sua mente, mas não queria preocupar a amiga.
— Só… pensando. Às vezes, o passado parece mais presente do que o próprio presente.
Ela se sentou ao seu lado, olhando para o horizonte. A conexão entre eles era palpável, e Ivar sentia-se grato por ela estar o acompanhando.
— O que você realmente quer, Ivar? — ela questionou, sem desviar o olhar — Você tem a chance de trazer sua filha de volta e de se vingar, e sei que você conseguirá tudo isso. Mas e depois? O que você quer depois que conseguir isso tudo? — Seus olhos brilhavam de curiosidade e esperança.
As palavras dela o atingiram como um raio. O que ele realmente queria? Poder? Vingança? Ou algo mais significativo?
— Quero liberdade, a minha e a de todos… — ele finalmente disse, sua voz baixa e triste — E quero respostas, não apenas sobre meu passado, mas sobre quem eu sou agora e sobre o que eu posso me tornar.
Elara sorriu, um sorriso que parecia iluminar a escuridão ao redor. Ela se achegou para mais perto dele e pegou em sua mão.
— E você não precisa enfrentar tudo sozinho. Eu estou aq… quero dizer, estamos aqui com você… — ela estava vermelha de vergonha.
A conexão entre eles transcendia a simples amizade, envolvendo-os em um laço profundo e pulsante.
Ivar voltou seu olhar para Elara, sentindo o calor emanando de seus corpos enquanto seus rostos se aproximavam lentamente.
Então, seus lábios se encontraram pela primeira vez, em um beijo que, embora breve, carregava uma intensidade avassaladora.
Aquele toque despertou em Ivar emoções adormecidas há muito tempo, um calor que percorria sua alma, revelando a essência do amor que ele achava ter perdido para sempre.
Eles se olharam novamente, sorriram e em seguida levantaram e foram em direção ao acampamento.
Embora quisessem aproveitar o momento, o dia estava perto de amanhecer, eles não tinham tempo para outras coisas, por enquanto.
Ivar parou e respirou fundo, sentindo o peso se dissipar, enquanto Elara seguia andando.
A jornada para Thirel seria longa e cheia de desafios, mas com aliados como Elara e Nyara ao seu lado, talvez ele pudesse encontrar a força para confrontar seu destino.
O que quer que esperasse em Thirel, Ivar estava preparado para enfrentar, não apenas como um semideus, mas como Ivar, um guerreiro em busca de seu próprio caminho.
Com um último olhar, ele observou a lua, um farol solene no céu, e então ele se virou e caminhou de volta para o acampamento, enquanto seu coração pulsava com as novas emoções que afloravam em seu peito.
A madrugada se desdobrava lentamente, e a névoa que cobria a colina parecia ganhar vida própria, como se dançasse ao ritmo do vento.
O beijo com Elara fora inesperado, mas ao mesmo tempo, um lembrete poderoso de que ele não estava sozinho nessa jornada.
A conexão que compartilhavam era algo que ele jamais esperara encontrar, especialmente em meio a tanta confusão e dor.
Com os pensamentos ainda ecoando sobre o que havia acabado de acontecer, enquanto caminhava de volta para o acampamento, tinha um leve sorriso nos lábios.
As sombras da noite pareciam menos opressivas agora, e a ideia de enfrentar o futuro parecia um pouco menos assustadora.
Ao se aproximar da fogueira, ele notou Nyara acordada, observando-o com uma expressão de curiosidade.
— Ivar, você ficou fora por um tempo. Estava pensando muito? — seus os olhos brilhando nas chamas.
Ele hesitou por um momento, mas a sinceridade de sua amiga o incentivou a abrir um pouco de seu coração.
— Eu… precisei de um tempo para refletir. Sobre o que está por vir e sobre o que eu realmente quero.
Nyara arqueou uma sobrancelha, interessada.
— E o que você decidiu?
– Quero liberdade, para todos nós. Não apenas sobreviver, mas viver de verdade, com um propósito. E isso inclui descobrir quem sou e como posso usar meu passado para moldar meu futuro.
Ela assentiu, um brilho de compreensão em seus olhos.
— Isso é muito bom, Ivar. Não é apenas sobre vingança ou poder, mas sobre encontrar a paz dentro de você. E você não está sozinho nessa. Temos um objetivo a cumprir, e vamos conseguir juntos.
O calor da fogueira envolveu-os enquanto Ivar se sentava entre as chamas dançantes e as sombras projetadas no chão.
O som da natureza ao redor deles se misturava ao crepitar da madeira, criando uma sinfonia suave que acalmava sua mente.
— O que você fará quando chegar a Thirel? — Nyara questionou, puxando-o de volta à realidade.
Ivar refletiu por um momento.
A visão do futuro ainda estava nebulosa, mas agora, com Elara ao seu lado e a determinação renovada, ele sentia que estava mais perto de descobrir seu verdadeiro caminho.
— Primeiro, preciso saber onde nas Montanhas Muralha está acontecendo o ritual e como posso usar o artefato.
Nyara sorriu, claramente satisfeita com sua resposta.
— Hmm… isso é um bom começo. Então, vamos descansar, amanhã será um longo dia, e precisamos renovar nossas forças.
Ivar acenou em concordância e se deitou sobre a grama macia, olhando para as estrelas que brilhavam intensamente.
Cada uma delas parecia contar uma história, e ele se lembrou do que Elara havia dito: Ele não precisava enfrentar essa jornada sozinho.
O pensamento o acalmou, e logo o sono o envolveu, trazendo sonhos de luz, amor e um futuro em que ele poderia finalmente ser livre.
Quando a manhã finalmente chegou, Ivar despertou com uma sensação de renovação.
Os sóis despontavam no horizonte, banhando a colina com sua luz dourada e azulada, aquecendo a terra fria.
Ele se levantou, sentindo o vigor em seu corpo, e olhou para seus companheiros, prontos para enfrentar o desconhecido.
Ele sabia que a luta pela liberdade e pela verdade exigiria coragem, mas, acima de tudo, ele estava preparado para lutar por aquilo que realmente importava, sua vida, sua filha e o amor que começou a florescer em meio à nefasta escuridão.
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