Capítulo 14: A Verdade Oculta
Ivar abriu os olhos lentamente, ajustando-se à luz suave que invadia o quarto.
Ele se virou e viu Elara ao seu lado, seus olhos e cabelos brilhando com ternura e um sorriso que parecia iluminar todo o ambiente.
Por um instante, o peso de suas preocupações desapareceu, substituído por uma calma que ele mal lembrava existir.
— Bom dia — disse Elara, sua voz suave e cheia de doçura.
— Bom dia — respondeu ele, sua voz mais grave, mas repleta de algo que se assemelhava à paz.
Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas se olhando, como se quisessem capturar a essência daquele instante.
Foi Elara quem quebrou o silêncio, suas palavras carregadas de emoção.
— Eu nunca pensei que poderia ser tão feliz… Não assim.
Ivar estendeu a mão, tocando delicadamente o rosto dela, como se temesse que tudo aquilo fosse um sonho prestes a desaparecer.
— Nem eu, Elara. Você trouxe algo que eu achava impossível de recuperar… esperança.
Ela segurou a mão dele contra seu rosto, fechando os olhos por um instante.
— Então, por favor, não me deixe, Ivar. Não importa o que aconteça, não importa o que enfrentemos… só não me deixe.
Ele inclinou a cabeça, aproximando-se dela, seus olhos fixos nos dela.
— Nunca. Enquanto eu viver, estarei ao seu lado.
O momento foi interrompido pelo som de vozes e risadas vindas do andar de baixo.
O grupo já estava acordado, e o cheiro de pão fresco parecia ainda mais convidativo.
— Acho que os outros já estão se preparando para o dia — disse Elara, com um sorriso ligeiramente embaraçado.
Ivar assentiu, mas não parecia com pressa de deixar o quarto.
Ele se inclinou, dando um beijo suave na testa dela antes de se levantar.
— Vamos nos arrumar. Ainda temos um longo caminho pela frente.
Elara o observou por um momento antes de também se levantar, determinada.
Naquela manhã, o mundo parecia um pouco menos sombrio, e juntos, eles sabiam que poderiam enfrentar qualquer desafio.
Ivar vestiu sua camisa preta, ajustando o tecido sobre seus ombros enquanto observava Elara se preparar.
O olhar dela agora parecia diferente, mais confiante, como se algo nela também tivesse mudado durante a noite.
Ele não conseguiu evitar um pequeno sorriso enquanto apertava o cinto que segurava suas armas.
— Pronta? — ele perguntou, pegando seu manto escuro.
Elara olhou para ele, seu sorriso iluminando o quarto.
Ela prendeu o cabelo com e ajustou as botas antes de pegar sua espada, que estava encostada na parede.
— Sempre! — respondeu com determinação.
Eles desceram as escadas lado a lado, e o clima na taverna era acolhedor.
O restante do grupo já estava sentado em uma mesa, compartilhando o café da manhã. Nyara foi a primeira a notar os dois.
— Finalmente! Pensei que iríamos precisar de um sino para acordar vocês. — Ela riu, mas seu tom era mais brincalhão do que acusatório.
Elara corou levemente, mas Ivar permaneceu impassível, como de costume.
— Precisávamos descansar — disse ele, direto, enquanto puxava uma cadeira para Elara antes de sentar-se ao lado dela.
Nyara olhou de Ivar para Elara com um leve arquejo de sobrancelha, mas não disse nada.
Ela sabia que Ivar não era homem para lidar bem com perguntas desnecessárias.
— Temos planos para hoje? — perguntou Elara, cortando um pedaço de pão e servindo-se de um pouco de chá quente.
— Sim, preciso ir até a grande biblioteca para procurar algo que me ajude a entender como o artefato funciona.
Nyara cruzou os braços, parecendo pensativa.
— A Grande Biblioteca… Vocês sabem que há histórias sobre aqueles que entraram nas áreas restritas e nunca mais foram os mesmos, certo?
Ivar olhou diretamente para ela, impassível.
— Não importa. Se há respostas, é lá que irei encontrá-las.
Ela suspirou e inclinou-se na cadeira, claramente contrariada, mas sem disposição para discutir mais.
— Tudo bem. Só… tome cuidado.
Elara observou Ivar com um leve sorriso, claramente pronta para acompanhá-lo.
— Eu vou com você. Não vou deixá-lo enfrentar isso sozinho.
Ivar hesitou por um momento, mas a determinação no olhar dela o fez ceder.
— Muito bem. Apenas nós dois.
A manhã estava fresca quando Ivar e Elara deixaram a taverna, caminhando pelas ruas movimentadas de Thirel.
A cidade era viva, com mercadores gritando suas ofertas, crianças correndo pelas calçadas e bardos tocando melodias animadas em esquinas.
A entrada da Grande Biblioteca era ainda mais imponente de perto, com pilares altos decorados com runas antigas que pareciam brilhar suavemente sob a luz do sol.
Ivar e Elara pararam diante dos portões principais, trocando um olhar de entendimento antes de entrar.
— Ninguém pode saber o que estamos procurando — disse Ivar em voz baixa, enquanto puxava o capuz de seu manto para cobrir parcialmente o rosto. — Se alguém perguntar, estamos apenas estudando textos históricos.
Elara assentiu, ajustando sua postura.
— Entendido.
Eles passaram pelas portas de madeira esculpida, entrando em um vasto salão repleto de prateleiras que alcançavam o teto.
As paredes eram adornadas com tapeçarias detalhadas representando eventos históricos e figuras lendárias.
O som suave de páginas sendo viradas e penas escrevendo em pergaminhos ecoava pelo ambiente.
O bibliotecário-chefe, um homem magro de expressão severa, os cumprimentou com um leve aceno de cabeça.
— Bem-vindos à Grande Biblioteca de Thirel. Como posso ajudá-los?
Ivar falou com calma, escolhendo suas palavras com cuidado.
— Estamos em busca de textos sobre rituais antigos e mitos relacionados a divindades esquecidas.
O bibliotecário arqueou uma sobrancelha, mas não fez perguntas.
— As prateleiras do terceiro nível podem ter o que procuram. Não levem nada sem permissão e, por favor, respeitem as regras.
Com um agradecimento breve, eles subiram as escadas para o terceiro nível.
Assim que chegaram, Ivar puxou Elara para um canto discreto entre as prateleiras.
— Aqui é seguro — murmurou ele. — procure algo que mencione rituais de ressurreição ou artefatos divinos.
Elara assentiu, começando a examinar os títulos.
A ala era vasta, com livros e pergaminhos empoeirados organizados de maneira quase caótica.
Cada um começou a vasculhar as prateleiras, silenciosos e meticulosos.
As horas passaram lentamente enquanto Ivar e Elara mergulhavam no oceano de conhecimento que preenchia o terceiro nível da biblioteca.
O silêncio era interrompido apenas pelo farfalhar das páginas viradas e pelos murmúrios ocasionais de outras pessoas que também pesquisavam.
Ivar estava sentado em um canto, rodeado por uma pilha de livros, cada um mais antigo e desgastado que o outro.
Seus olhos corriam rapidamente pelas páginas, mas nenhuma das informações parecia relevante.
Elara, do outro lado, estava folheando um volume sobre mitologia esquecida.
Ela suspirou, esfregando os olhos cansados, quando um detalhe chamou sua atenção.
Uma ilustração de duas figuras, uma feminina e outra masculina, cercadas por runas que brilhavam fracamente mesmo no papel desbotado.
— Ivar, venha ver isso — ela chamou, mantendo a voz baixa.
Ele se levantou imediatamente e se aproximou, inclinando-se sobre o ombro dela para observar.
— O que é isso?
— O livro fala de dois irmãos: a Deusa dos Vivos e o Deus dos Mortos. Diz que eles governaram o ciclo da vida e da morte em equilíbrio perfeito há milhões de anos atrás, pouco depois do grande colapso, mas foram mortos por outros deuses na grande guerra divina.
Ivar estreitou os olhos, absorvendo cada palavra enquanto lia o texto com ela.
— Continue — ele pediu.
Elara virou a página, revelando um mapa antigo que apontava para uma localização mítica, aproximadamente a mesma nas Montanhas Muralha.
— Há uma lenda de que, antes de serem mortos, eles criaram um artefato, colocando suas próprias essências nele, ele é capaz de quebrar o ciclo natural. Algo que poderia trazer a alma dos mortos de volta à vida, transplantado em outro corpo, mas apenas um deus seria capaz de usá-lo.
O coração de Ivar acelerou.
— Um artefato que só um deus pode usar…
Elara olhou para ele com preocupação.
— Isso significa que, mesmo que o encontremos, pode ser impossível usá-lo.
Ivar fechou o punho, as unhas cravando na palma da mão e sem pensar falou.
— Talvez para um mortal comum. Mas minha linhagem pode ser a chave. Se houver uma chance, qualquer que seja, eu a tomarei.
Elara hesitou por um momento antes de colocar a mão sobre o braço dele surpresa.
— Sua linhagem? Como assim, Ivar?
— Tudo bem… irei te contar toda a verdade, sente-se.
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