Capítulo 20: Quem é essa mulher?
O núcleo de carne pulsava fracamente em sua mão, quente e úmido, como se ainda estivesse vivo.
Havia algo profundamente errado com aquilo, mas Ivar não ousava soltá-lo.
Se a criatura era algum tipo de experimento ou servia a uma entidade maior, esse fragmento talvez guardasse respostas.
Elara o observou com desconfiança.
— Você tem certeza que quer carregar isso?
Ivar bufou.
— Prefiro entender que merda aconteceu aqui antes que outra aberração apareça — ele diz enquanto cuidadosamente colocava o núcleo em sua bolsa.
Ela não discutiu, apenas assentiu, voltando a atenção para a prisioneira. A mulher ainda tremia, o olhar fixo no chão, mas pelo menos conseguia andar por conta própria agora.
— Vamos sair daqui antes que algo mais dê errado.
Eles seguiram pelo corredor escuro, os passos ecoando nas paredes de pedra úmida.
O cheiro de sangue e putrefação impregnava o ar, mas enfim chegaram até a porta secreta pela qual entraram.
Ivar olhou rapidamente ao redor, não havia sinal dos funcionários da biblioteca, ele fez um sinal para as duas, pegou sua capa e deu para a mulher, ela vestiu e eles seguiram descendo o resto das escadas até a saída da biblioteca.
Ao saírem pela porta, viram a praça central da cidade e a taverna Porto Seguro mais adiante, ao qual estavam hospedados, da chaminé saía fumaça e o ambiente lá dentro parecia festivo.
Ivar lançou um olhar rápido ao redor, sempre atento a qualquer sinal de problemas. A cidade continuava com sua rotina noturna, sem qualquer indicação de que alguém suspeitasse do que havia acontecido na biblioteca.
Ele olhou para Elara e a mulher.
— Vamos até a taverna. Lá podemos descansar e conversar com mais calma.
Elara assentiu e puxou a prisioneira pela mão, guiando-a com passos rápidos.
Eles atravessaram a praça em silêncio.
O ar fresco da noite era um alívio após tanto tempo respirando poeira e o cheiro fétido dos mortos.
Ao chegarem à entrada da taverna, foram recebidos pelo calor da lareira e o som de risadas e canções de embriagados.
O salão estava cheio, marinheiros e mercadores brindavam copos enquanto uma barda tocava um alaúde em um canto.
Ivar se adiantou, guiando as duas até uma mesa mais reservada nos fundos.
— Elara, leve-a até nosso quarto e pegue roupas para ela e para você também — ele disse — Irei falar com Balrik e ver se consigo um lugar para tomarmos um banho.
Enquanto caminhava até o balcão onde o taverneiro estava, sentiu um par de olhos sobre ele.
— Ivar! Seu desgraçado, por onde você e Elara estavam? Ficaram fora o dia inteiro e me deixaram sozinha — era Nyara, seu olhar era uma mistura de curiosidade e raiva.
Ivar soltou um suspiro pesado.
— Tivemos problemas e precisamos resolver.
Nyara arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Problemas, é? E isso inclui trazer uma pessoa estranha encapuzada com vocês?
Ele não respondeu de imediato, apenas apoiou um cotovelo no balcão enquanto esperava Balrik. Nyara se aproximou, seus olhos estreitados em desconfiança.
— Não vai me dizer nada?
— Nyara… agora não.
Antes que ela pudesse protestar, Balrik surgiu do outro lado do balcão, limpando as mãos em um pano sujo.
— Veio buscar algo, grandão?
— Conhece algum lugar onde possamos tomar um banho, uma casa de banho talvez — Ivar disse, direto ao ponto.
— Bem, temos casas de banho na cidade, mas a essa hora estão todas fechadas — ele coça o queixo enquanto pensa — Mas não se preocupe, tenho uma banheira na despensa, podem usá-la.
— Seria de grande ajuda, mas tem certeza, Balrik? Não quero incomodar.
— Imagina, não me incomoda em nada. Irei colocar alguns baldes com água para esquentar, e aí você leva até lá. Vai ser rápido!
— Obrigado… Balrik — Ivar fica pensativo por uns segundos, não era normal alguém ser tão amistoso com ele — Eu agradeço, de verdade.
Ivar então sobe até o seu quarto para avisar Elara e a mulher para irem até a despensa.
Ao abrir a porta do quarto, encontrou Elara ajudando a mulher a tirar o manto sujo. Ela ainda estava visivelmente abalada, seus olhos sempre evitando contato direto.
Elara ergueu o olhar quando Ivar entrou.
— Descobriu algum lugar onde podemos tomar um banho?
— Balrik nos deixou usar sua banheira na despensa. A água quente já está sendo preparada, irei buscar os baldes.
Elara assentiu, pegando algumas roupas limpas da bolsa que haviam trazido antes.
— Isso vai ajudar. Ela precisa se limpar e trocar essas roupas imundas.
Ivar olhou para a prisioneira, que ainda permanecia em silêncio.
— Você consegue andar?
Ela hesitou, mas assentiu.
— Sim… eu acho que sim.
— Ótimo — ele se virou para Elara — Elara, espere junto com ela na despensa, irei buscar a água.
Ele saiu primeiro, descendo as escadas com passos firmes. O salão da taverna continuava cheio, mas ninguém prestava atenção neles.
Nyara ainda estava por ali, mas, por sorte, não insistiu em segui-los.
Ivar atravessou o salão e foi direto até Balrik, que já o esperava ao lado de um barril de madeira, com alguns baldes fumegantes ao redor.
— Aqui está, grandão. A água está quente, mas cuidado pra não se queimar — Balrik disse, enxugando as mãos no avental encardido.
Ivar pegou dois baldes, sentindo o calor da madeira contra os dedos.
— Obrigado, Balrik.
— Sem problema. Se precisar de mais, só avisar.
Ivar fez um sinal com a cabeça e seguiu para a despensa. Quando entrou, encontrou Elara ajudando a prisioneira a se sentar em um banco de madeira.
Ela parecia um pouco mais calma, mas ainda abraçava os próprios braços, como se estivesse tentando se proteger de algo invisível.
— Aqui está a água — ele falou, colocando os baldes ao lado da banheira — cuidado, está bem quente. Vou pegar mais alguns.
Elara se aproximou, pegando um dos baldes e despejando a água cuidadosamente dentro da banheira de madeira. O vapor subiu, espalhando um calor agradável pelo ambiente.
— Obrigado, Ivar — ela disse, e em seguida olhou para a mulher — Você consegue tomar banho sozinha ou precisa de ajuda?
A mulher hesitou, olhando rapidamente para Ivar saindo pela porta.
— Eu… não, eu não consigo.
Elara franziu a testa, abaixando-se ao lado da mulher.
— Tudo bem. Eu posso ajudar, se você permitir.
A prisioneira mordeu o lábio, as mãos tremendo ligeiramente em seu colo. Por um momento, pareceu querer recuar, mas então concordou devagar.
— Sim… obrigada.
— Sem pressa. Vamos devagar, certo? — ela dá um sorriso fofo e tranquilizador — Irei tirar minhas roupas primeiro e aí te ajudo com as suas.
Depois de se despir, começou a ajudá-la a tirar a túnica suja, rasgada e impregnada com o cheiro do subterrâneo. Os cabelos tão escuros por causa da sujeira, pele pálida dela estava coberta de hematomas e cicatrizes antigas, algumas quase apagadas pelo tempo, outras ainda escuras e recentes.
A porta se abre.
— Acho que só mais esses dois baldes serão o suficien… — ele trava, olhando para elas e tentando manter o rosto sem expressão.
A mulher embora não estivesse realmente nua, puxou a túnica e se cobriu de vergonha.
— Ivar, bata na porta antes de entrar, seu tapado!
— Eu disse que iria trazer mais baldes, você que não me ouviu — ele caminha até banheira e joga a água quente lá dentro — Estou surpreso por você não estar com vergonha, mas também nem precisa. Eu já vi cada parte do seu corpo mesmo — ele dá um sorriso de canto.
Elara de início não entende o por que dele dizer isso, até lembrar que já estava completamente sem roupas. Ela imediatamente fica corada de vergonha.
— V-vai se catar, i-idiota — ela joga um dos baldes na porta depois que Ivar sai.
Ivar da uma risada leve, pega uma cadeira e senta ao lado da porta da despensa esperando elas saírem.
Enquanto lá dentro elas entravam na banheira e tinham uma longa e delicada conversa.
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