Bem cedo pela manhã, Ivar e Elara se preparam para partir. As elfas haviam enchido suas mochilas com suprimentos para a viagem. 

    — Continuem cuidando um do outro, vocês formam um lindo casal! — grita uma das elfas.

    Elara brevemente fica corada de vergonha enquanto Ivar responde andando.

    — Não somos um casal!

    Com a mochila reabastecida e a missão ainda em mente, Ivar e Elara continuaram seu caminho para Thurtem. O ataque à tropa humana havia os atrasado um pouco, mas eles sabiam que não poderiam demorar mais.

    Enquanto caminhavam, Elara não pôde deixar de sentir uma nova admiração por Ivar. Apesar de seu exterior endurecido e de sua missão aparentemente egoísta, ele havia arriscado sua vida para proteger os inocentes. 

    Ela decidiu que, independentemente de seu passado e dos perigos à frente, o seguiria para descobrir o verdadeiro propósito de sua jornada.

    A estrada para Thurtem tornou-se uma trilha de reflexão silenciosa para ambos. As árvores ao redor pareciam mais densas, a atmosfera mais pesada. 

    Eles sabiam que o caminho à frente seria repleto de desafios, mas agora, juntos, estavam mais preparados para enfrentá-los.

    Quando a noite caiu novamente, a cidade de Thurtem apareceu no horizonte, suas luzes brilhando como um farol na escuridão. Eles estavam mais perto de desvendar os segredos do artefato e do destino que aguardava Ivar.

    Ao avistarem Thurtem mais de perto, Ivar e Elara sentiram um misto de alívio e antecipação. 

    A cidade, com suas torres altas e muros fortificados, parecia um bastião de civilização em meio à selvageria da jornada até ali, mesmo ela sendo uma cidade de aparência sombria e intimidadora. 

    Através do portão principal, os guardas mantinham vigilância, mas a entrada estava aberta, permitindo o fluxo de mercadores e viajantes.

    — Se você realmente vai me seguir, mantenha um perfil baixo — disse ele, olhando para Elara — Precisamos encontrar informações sobre o artefato, mas não podemos mencionar nada sobre ele e nem podemos chamar atenção.

    Elara assentiu, ajustando seu manto para esconder melhor suas asas de cor carmesim. Eles se misturaram à multidão, passando pelos portões sem incidentes. 

    A cidade estava cheia de vida, com comerciantes gritando suas ofertas, crianças correndo pelas ruas e o cheiro de comida sendo preparada nos mercados ao ar livre.

    — Precisamos de um lugar para ficar e um contato que possa nos dar informações — disse Ivar enquanto guiava Elara pelas ruas movimentadas.

    — Conheço uma taverna onde podemos começar a buscar por informações — respondeu Ela — Chama-se “O Lobo e a Lua”. É conhecida por ser um ponto de encontro de viajantes e mercenários. Alguém lá deve saber algo útil.

    Então seguiram para a taverna, localizada em um beco discreto. Ao entrarem, foram recebidos por um ambiente acolhedor, embora um pouco sombrio. 

    O som de conversas baixas e o estalar da lareira preenchiam o ar. Ivar escolheu uma mesa no canto, de onde podiam observar a sala sem serem facilmente notados.

    Uma garçonete Demi-humana gata se aproximou, sua expressão um pouco alegre, mas atenta.

    — O que vão querer? — perguntou ela, lançando um olhar curioso para os novos visitantes.

    — Dois hidroméis e algo para comer — respondeu Ivar, enquanto Elara observava os arredores, procurando por rostos familiares ou figuras que pudessem ser úteis.

    Enquanto aguardavam, Ivar inclinou-se para frente, falando em um tom baixo.

    — Precisamos ser cuidadosos! Qualquer um aqui pode ser um possível inimigo e tentar nos atrapalhar, não mencione o artefato. Se te questionarem, diga que somos apenas exploradores e que estamos querendo ter uma melhor dimensão das ruínas nas Montanhas Muralha.

    Elara concordou, mantendo um olho atento na entrada da taverna. 

    A garçonete logo retornou com as bebidas e uma refeição simples de pão, legumes e carne. 

    —São dez moedas de prata ou quatro de ouro cada.

    Ivar agradece pelo atendimento e então entrega as oito moedas de ouro.

    Eles comeram em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.

    Após algum tempo, um homem robusto e muito alto entrou na taverna. Ele era um Meio-gigante e tinha o ar de um veterano de guerra, ele parecia ser bem conhecido ali, pois vários clientes o cumprimentaram.

    —Marcus! Beba conosco! — um elfo já meio bêbado chama o meio-gigante até o bar.

    Ele se sentou, e a garçonete rapidamente trouxe-lhe uma bebida.

    — Eu já ouvi falar dele, aquele é Marcus, um mercenário de renome — sussurrou Elara — Se alguém souber de algo, é ele.

    Ivar assentiu. 

    — Vou falar com ele. Fique aqui e se atente para qualquer coisa suspeita.

    Ivar levantou-se e caminhou até o bar, posicionando-se ao lado de Marcus.

    — Ouvi dizer que você é um homem que sabe de muitas coisas — Ivar manteve a voz baixa e controlada — Estou procurando por informações sobre as ruínas antigas nas Montanhas Muralha. Sei que existem diversas ruínas escondidas e até tesouros por lá. 

    Marcus levantou uma sobrancelha, estudando Ivar com interesse.

    — E por que eu compartilharia isso com você? — perguntou, tomando um gole de sua bebida.

    Ivar olhou diretamente nos olhos de Marcus, sua expressão implacável.

    — Porque eu posso fazer valer a pena seu tempo. E talvez te dar uma boa recompensa caso eu encontre o que estou procurando, mas claro, pagarei pela informação. O que me diz?

    Marcus ponderou por um momento antes de acenar com a cabeça lentamente.

    — Muito bem. Vamos falar, mas não aqui. Encontre-me no beco atrás da taverna em dez minutos.

    Ivar voltou para a mesa, onde Elara aguardava ansiosamente.

    — Ele concordou em falar. Vamos encontrá-lo do lado de fora em dez minutos.

    Elara assentiu, pronta para qualquer coisa que viesse. Eles sabiam que as respostas estavam próximas, e a cada passo dado, estavam mais perto de desvendar os segredos que poderiam mudar o destino de Ivar e trazer de volta a vida de sua filha.

    Dez minutos haviam se passado, Ivar e Elara saíram discretamente da taverna e caminharam até o beco escuro atrás do prédio. 

    O local estava vazio, exceto por uma leve brisa que fazia os trapos estendidos em um varal balançarem levemente. As sombras das paredes altas engoliam o lugar, criando uma atmosfera de tensão. 

    Ivar, sempre vigilante, manteve a mão próxima à lâmina em sua cintura, enquanto Elara sussurrava palavras de proteção, pronta para reagir caso algo desse errado.

    Logo, o som de passos pesados ecoou no beco. Marcus surgiu da escuridão, com a mesma expressão dura que exibia na taverna, mas agora havia uma certa desconfiança em seus olhos. Ele parou a uma curta distância de Ivar e cruzou os braços, analisando a dupla.

    — Então, vocês querem saber sobre as Montanhas Muralha e suas ruínas? — disse Marcus, seu tom estava mais sério — Mas vocês não são apenas viajantes comuns, não é? Posso sentir que há algo mais.

    Ivar manteve o olhar fixo no mercenário, sem revelar nada em sua expressão.

    — O que somos ou o que buscamos não é importante. O que importa é a informação que você tem e o que você receberá em troca.

    Marcus soltou uma risada baixa e amarga.

    — Sempre direto ao ponto, não é? Gostei de você. Muito bem! Vou dizer o que sei. Há ruínas nas Montanhas Muralha, sim. E não são ruínas comuns. Há um grupo, um culto, que foi visto por lá a alguns meses, mexendo com forças que não compreendem. Dizem que eles estão atrás de um antigo poder que pode trazer algo… ou alguém de volta dos mortos, não sei ao certo.

    Os olhos de Ivar brilharam por um breve momento de interesse. A menção de ressuscitar alguém mexia profundamente com ele.

    — Continue — disse ele, mantendo o tom calmo.

    Marcus fez uma pausa, seus olhos examinando o rosto de Ivar, como se tentasse decifrar suas intenções.

    — Esse grupo é perigoso. Eles têm aliados em toda a região, muitos são nobres de todo o continente, e talvez até de todo o mundo e você não vai querer chamá-los de inimigos, a menos que tenha certeza do que está fazendo. Eles não hesitam em matar ou sacrificar qualquer um que fique em seu caminho. Alguns dizem que eles têm acesso a um poder antigo, mas ninguém sabe ao certo o que é ou como funciona… — ele coça a cabeça — tudo o que sei é que estão se preparando para um grande ritual nas ruínas em breve. Se você realmente pretende ir atrás deles, esteja preparado para enfrentar mais do que apenas os soldados comuns.

    Ivar permaneceu em silêncio por alguns instantes, processando a informação. Um culto, Nobres, um ritual, um artefato que possivelmente poderia trazer alguém de volta dos mortos. 

    As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar, mas ainda havia muito que ele precisava descobrir.

    — Onde eles estão se escondendo? — perguntou Elara, quebrando o silêncio.

    Marcus a olhou brevemente antes de responder.

    — Nas cavernas profundas das montanhas, não sei em quais exatamente, existem diversas cavernas por lá. Mas sei que o local é protegido por magia antiga e guardiões warforgers. Não vai ser fácil entrar, mas se vocês forem loucos o suficiente para tentar, vão precisar de guias, alguns mercenários ou caçadores que conhecem bem a região. Não adianta ir sozinho.

    Ivar assentiu lentamente.

    — E o que você quer em troca dessa informação?

    Marcus sorriu, um sorriso frio e calculado.

    — Eu quero uma parte do que quer que vocês encontrem lá. Não importa o que seja, quero uma porcentagem. Se é poder, se é tesouro, não me importa. Eu apenas quero garantir que meu tempo foi bem pago.

    Ivar olhou para Elara e, em seguida, de volta para Marcus.

    — Você terá sua parte. Agora, nos diga quem são esses guias de confiança e quando esse ritual vai acontecer.

    Marcus deu outro sorriso sombrio e fez um gesto para que se aproximassem.

    — A garçonete mulher gato que serviu a refeição de vocês na taverna, ela conhece todo o caminho até as Montanhas Muralha. Ela seria uma excelente guia até lá.

    Ouvi dizer que esse tal ritual acontecerá em quatro meses. Se quiserem chegar lá antes e encontrarem seu tesouro, terão que se apressar, o caminho até lá é longo.

    Ivar e Elara se entreolharam. O tempo estava se esgotando.

    — Muito bem! — disse Ivar, estendendo a mão para Marcus — Temos um acordo. Aqui está o pagamento pela informação, vinte moedas de ouro são o suficiente?

    O mercenário apertou sua mão firmemente, o olhar astuto de quem sabia que estava fazendo um negócio perigoso.

    — Isso é mais que o suficiente, você é bem generoso. Espero fazer negócios com vocês novamente hahaha. Boa sorte. Vocês vão precisar.

    Com isso, Marcus anda pra fora do beco e segue seu caminho, deixando Ivar e Elara sozinhos no beco. O ar parecia mais pesado agora, e a urgência da missão era palpável.

    — Temos que ir falar com a garçonete — diz Elara — Se ela realmente conhece o caminho até as montanhas, será nossa melhor chance de chegar ao ritual a tempo.

    Ivar concordou, mas havia algo mais em sua mente. O artefato que poderia trazer alguém de volta dos mortos. Poderia realmente ser sua resposta? Poderia finalmente devolver sua filha à vida?

    Com essa dúvida ardendo em seu coração, Ivar e Elara saíram do beco e voltaram à taverna para conversar com a mulher gato.

    Ao entrarem novamente na taverna, o ambiente parecia ter mudado levemente. A agitação das conversas continuava, mas para Ivar e Elara, o peso das informações recém-reveladas tornava tudo mais sombrio. 

    A garçonete mulher gato, que os havia servido antes, agora estava no balcão, aparentemente distraída, mexendo em alguns pratos e copos.

    Ivar se aproximou com passos firmes, enquanto Elara observava os arredores, mantendo-se atenta a qualquer movimento suspeito. Ao chegar ao balcão, ele fez um leve sinal para chamar a atenção da garçonete.

    Ela se virou, seu olhar felino avaliando Ivar com uma mistura de curiosidade e desconfiança. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela inclinou a cabeça, um sorriso malicioso curvando seus lábios.

    — Então, você quer saber sobre as Montanhas Muralha, certo? — perguntou em um tom suave, mas cheio de segundas intenções — Marcus fala demais quando está bebendo hahahahaha.

    Ivar cruzou os braços, mantendo a postura calma, mas firme.

    — Ele mencionou que você conhece o caminho. Precisamos de um guia que possa nos levar até lá… discretamente.

    A mulher gato riu baixinho, seus olhos brilhando na luz fraca da taverna.

    — E o que faz vocês pensarem que vou arriscar minha vida por dois estranhos? — perguntou ela, enquanto suas garras afiadas deslizavam de leve sobre o balcão de madeira — Não é todo dia que alguém vai até as Montanhas Muralha e volta vivo para contar a história.

    Ivar olhou para Elara rapidamente, depois de volta para a garçonete.

    — Sabemos que não será uma viagem fácil. Mas podemos pagar bem, além de garantir sua segurança. Estamos lidando com algo grande, e você seria recompensada de maneira justa pelo seu serviço.

    A mulher gato ficou em silêncio por um momento, suas orelhas ligeiramente se movendo enquanto ponderava a proposta. Finalmente, ela inclinou-se sobre o balcão, seus olhos estreitados.

    — Eu posso levar vocês até lá. Mas vocês vão precisar de mais do que dinheiro para sobreviver à jornada. O caminho até lá está cheio de perigos, tanto naturais quanto sobrenaturais. E quanto ao culto… não quero nada com eles. Se vocês se meterem com eles, estarão por conta própria.

    Elara se aproximou, sua voz calma e persuasiva.

    — Nós sabemos o risco. Não estamos pedindo que lute por nós. Só precisamos que nos mostre o caminho e nos guie com segurança. Depois disso, você poderá partir e ninguém saberá que esteve envolvida.

    A mulher gato pareceu considerar por mais alguns instantes, então deu um leve suspiro, como se estivesse se resignando.

    — Muito bem. Iremos ao amanhecer. Preparem-se para uma jornada longa e cheia de surpresas. E lembrem-se, não hesitarei em abandonar vocês se as coisas ficarem muito perigosas.

    Ivar assentiu, ciente de que estavam lidando com uma profissional que valorizava sua própria pele acima de tudo.

    — Qual é o seu nome? — perguntou ele.

    Ela sorriu de canto, seus olhos felinos cravados em Ivar.

    — Me chamo Nyara. Só não façam eu me arrepender disso, ou vai ser a última vez que ouviram meu nome.

    Com o acordo fechado, Ivar e Elara sairam da taverna para se prepararem, e alugaram dois quartos em uma hospedaria próxima para passarem a noite e terem um bom descanso. 

    O sol logo nasceria, e com ele, começaria a perigosa jornada rumo às Montanhas Muralha, onde segredos antigos e um artefato de poder inimaginável os aguardavam.

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