Capítulo 6: O Preço da Perda parte 1
Na manhã seguinte, o céu estava cinzento, prenunciando uma viagem difícil. Ivar e Elara, já prontos e equipados, encontraram-se com Nyara na entrada da taverna.
A mulher gato os esperava, seu semblante descontraído, mas seus olhos atentos como sempre. Ela vestia roupas leves e ágeis, próprias para a viagem, e carregava apenas o essencial em uma pequena mochila.
— Prontos? — perguntou Nyara, observando-os de cima a baixo — Espero que vocês tenham trazido o que precisam, porque não chegaremos lá tão cedo.
— Vamos! Não temos tempo a perder — respondeu Ivar, firmemente.
Nyara assentiu e começou a caminhar na frente, levando-os pela rua principal e saindo rapidamente da cidade.
— Vocês poderiam ter comprado uma carroça, andar até lá será mais cansativo e levará muito mais tempo.
— Não tenho dinheiro suficiente para comprar uma carroça e para te pagar também, irei priorizar o seu pagamento.
Ivar leva sua mão até seu bolso e pega uma bolsa pequena de couro, de onde podia-se ouvir o som de moedas.
— Te darei metade agora e a outra metade quando chegarmos lá. Trinta moedas de ouro está de seu agrado?
— Isso é bem mais do que eu pediria, mas considerando que a inflação está o dobro do que era antes, eu aceito, obrigada.
— Não precisa me agradecer, pagarei o quanto for necessário para conseguir o que procuro — ele diz com seriedade e convicção em seu olhar.
Elara ao ouvir isso, sentiu um aperto no peito. Ela não pode imaginar a dor que Ivar sente, mas ela sabe que ele sofre por tudo que sofreu e causou.
Depois disso, o trio seguiu em silêncio por horas, até que avistaram uma caravana de mercadores parada em meio a estrada. As carroças quebradas, com marcas de luta e flechas cravadas em sua madeira.
Ivar e Elara trocaram olhares tensos ao se aproximarem da caravana destruída. Nyara, sempre alerta, parou alguns passos antes, seus sentidos aguçados captando algo no ar.
— Isso parece recente… — disse ela, inspecionando as flechas cravadas nas carroças — Os bandidos devem ter passado por aqui há alguns minutos.
Elara aproximou-se de uma das carroças, examinando os corpos dos mercadores caídos ao chão. O sangue ainda morno, e o cheiro de morte era forte.
— Não podemos perder tempo aqui! — murmurou Ivar, observando a cena com olhos sombrios — Precisamos continuar antes que algo pior aconteça.
Então um dos corpos começou a se mexer.
— S-so-socorro.
Era um homem elfo, muito ferido, mas ainda vivo.
— Sa-salvem as crianças — diz ele pouco antes de ficar inconsciente novamente.
Ivar então olhou ao redor, tentando encontrar as crianças, mas não avistou nenhuma.
— Talvez não tenhamos escolha, Ivar, eles estão por perto! — disse Nyara, seus olhos felinos se estreitando. — Estamos sendo observados!
De repente, o som de passos rápidos ecoou ao redor deles. Das sombras das árvores próximas, uma dúzia de figuras emergiu.
Eram bandidos escamosos, uma espécie de homens lagartos, vestidos com roupas sujas e armaduras diversas armados com espadas e arcos, provavelmente tudo roubado.
O líder, um escamoso robusto com uma cicatriz no rosto, deu um passo à frente, sorrindo com malícia.
— Vocês chegaram tarde para a festa — disse ele, apontando para as carroças destruídas — Mas não se preocupem, ainda há tempo para negociações.
Ivar, com os olhos fixos no líder, desembainhou sua foice lentamente. A lâmina escura refletia a pouca luz que passava pelas densas árvores.
— Não estamos interessados em negociar com ladrões — respondeu ele, com a voz baixa, mas perigosa — Agora digam, onde estão as crianças? Se entregá-las a mim, pouparemos suas vidas.
— E o que você planeja fazer com essa coisa de fazenda? — o líder dos bandidos riu alto, seguido por seus comparsas — Está procurando por essas crianças?
O líder faz um sinal para um de seus comparsas, ele logo em seguida aparece segurando duas crianças tieflings, da mesma raça que Ivar, elas estavam amarradas e amordaçadas.
— Olhe para elas! Eu irei ganhar um bom dinheiro vendendo elas como escravas para o povo humano.
Ivar sentiu mais raiva em seu coração quando o ladrão mencionou vende-las aos humanos, seus olhos roxos brilhavam de puro ódio.
— Vocês não sabem, mas estão em desvantagem, lagarto — Zombou ele.
— Três contra doze? Acho que quem vai poupar vidas aqui somos nós — disse o líder dos ladrões.
Nyara, mantendo-se calma, estalou os dedos, fazendo suas garras aparecerem.
— Vocês já deviam saber que números nem sempre são a chave para vencer — ela retruca com um sorriso afiado.
Elara, que até então se mantinha em silêncio, abriu suas asas, com uma mão ela ergueu sua espada, e com a outra conjurou uma magia. Sua expressão era serena, mas seus olhos brilhavam com uma energia mágica prestes a ser liberada.
— Não queremos violência — ela diz calmamente — Mas se insistirem, não teremos outra escolha.
Ivar desfez sua ilusão, e agora seu manto branco juntamente com seus chifres e seu rabo estavam visíveis.
O líder dos bandidos hesitou por um breve segundo.
— Um demônio vestindo o manto da Deusa da vida? Já ouvi sobre isso em algum lugar.
Nyara sem acreditar no que estava vendo, ficou apavorada.
— Está tudo bem, Nyara — Ivar olha para ela e diz na intenção de confortá-la.
Elara também mostra para ela que estava tudo bem.
E então Nyara se voltou para os bandidos novamente, pegou seu arco e assumiu uma posição estratégica.
— É o Darklurker, chefe! — diz um dos ladrões — Dizem que ele é a própria encarnação da morte.
Mas o orgulho do líder o impediu de recuar.
— Ele não passa de um homem com truques baratos, não tenham medo. Atacar! — gritou ele.
Os bandidos avançaram em direção ao trio, mas antes que pudessem chegar, Elara levantou sua mão, pronunciando palavras antigas em uma língua mágica. Um círculo de luz brilhou ao redor dela e, em um instante, uma onda de força invisível varreu os bandidos, jogando-os para trás com um impacto surpreendente.
Nyara, ágil como o vento, começou a disparar suas flechas, acertando os bandidos com precisão. Em segundos, dois bandidos estavam no chão, incapacitados.
Ivar, por sua vez, avançou em direção ao ladrão que estava segurando as crianças, sua foice brilhando com determinação. Ele desferiu um golpe rápido, forçando o homem a recuar.
— Vocês estão bem? — Ivar pergunta às crianças. Mas permanece sem respostas, pois elas estavam apavoradas de medo.
Por um segundo Ivar se distraiu do combate por conta da preocupação com as crianças, o líder dos bandidos então desferiu um golpe com sua clava nas costas de Ivar, o fazendo cair no chão e deixando-o meio atordoado.
O líder dos bandidos parou de frente para ele, e conseguiu ver o colar que Ivar carregava, que com a pancada, acabou saindo para fora de suas vestes.
Então ele puxa o colar, arrebentando a corda que o prendia ao pescoço de ivar, e em seguida manda todos recuarem.
Ele se vira para Ivar, chega bem perto de seu ouvido e agradece.
— Obrigado pelo presente!
Eles então recuam.
— Chefe, e as crianças? — pergunta um dos ladrões
— Deixe elas aí, esse colar vale muito mais que dez crianças dessas — ele responde dando uma risada.
Minutos depois Ivar recobra a consciência.
— O que aconteceu? — ele pergunta a Elara.
Elara abaixa a cabeça.
— Sinto muito, Ivar.
Ivar rapidamente coloca sua mão onde estaria o colar.
— Onde est..? ONDE ELA ESTÁ? — Ivar se desespera e começa a procurar pelo chão, remexendo as folhas secas das árvores e os corpos dos ladrões mortos.
— Nós estávamos lutando contra os outros ladrões e não conseguimos impedir que o líder pegasse seu colar… sinto muito.
Ivar então com um olhar de enfurecido, parte para cima de Elara, agarrando e levantando ela pelo pescoço.
— A CULPA É SUA! É TUDO SUA CULPA!
SE EU NÃO TIVESSE DEIXADO VOCÊ VIR COMIGO, NADA DISSO TERIA ACONTECIDO!
— Eu sinto muito… — Ela já quase sem ar.
De repente, um dos ladrões que aparentemente estava morto, começa a se mexer.
O ladrão olhou em volta e viu os outros ladrões caídos, mortos. Engolindo em seco, ele levantou as mãos em sinal de rendição.
— Por favor… poupe-me — implorou ele, com a voz trêmula.
Ivar rapidamente olha para ele, soltando Elara que já estava ficando quase inconsciente.
Ivar manteve o olhar fixo nele e partiu para cima, agora enforcando o ladrão.
— ONDE É O ESCONDERIJO DE VOCÊS?
MOSTRE O CAMINHO E TALVEZ EU NÃO TE MATE!
— Tudo bem… eu levo vocês até lá… por favor… não consigo respirar…
— Elara, venha comigo.
Elara concorda e se dirige até onde Nyara estava.
— Nyara fique aqui com as crianças e cuide do ferimento do elfo. Nós já voltamos.
— Tudo bem, irei aproveitar e montar acampamento aqui perto.
— Vamos, verme! Mostre o caminho — Ivar diz ao ladrão.
Então Ivar e Elara adentraram a floresta seguindo o ladrão até seu esconderijo…
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