Capítulo 7: O Preço da Perda parte 2
Ivar, com os olhos cheios de raiva e determinação, empurrou o ladrão à frente enquanto caminhavam pela floresta densa. O vento soprava entre as árvores, criando um ambiente sombrio e misterioso.
Elara o seguia em silêncio, seu coração pesado pelo recente confronto, mas focada na missão. Ela sabia que o colar significava muito para Ivar, e sentia-se responsável por ajudá-lo a recuperá-lo.
— Estamos perto, e-eu juro… — o ladrão respondeu com sua voz trêmula, enquanto eles seguiam por uma trilha oculta entre as árvores.
Ele olhava nervosamente para Ivar a cada passo, temendo que seu tempo estivesse se esgotando.
Ivar, mantendo sua foice em mãos, sentia sua paciência se esvaindo.
A memória de sua esposa e filha, agora intrinsecamente ligada ao colar, queimava em seu peito como uma ferida que nunca cicatrizava.
— Se você estiver mentindo, farei questão de que sua morte seja lenta — ele ameaçou com uma frieza que fez o ladrão engolir em seco.
Após algum tempo, eles chegaram a uma colina onde uma caverna se escondia entre arbustos e pedras.
O ladrão parou abruptamente.
— E-está ali… — apontando para a entrada escura e gélida — …nosso esconderijo! P-por favor, me deixe ir. Já fiz minha parte.
Ivar olhou para a caverna e depois para o ladrão. Sem hesitar, ele decapitou sua cabeça com a foice, deixando-o caído no chão.
— Vamos! — disse olhando para Elara — Não podemos perder mais tempo.
— Você não iria poupá-lo? — ela pergunta, com um olhar de confusão e horror.
— Disse a ele que eu talvez não o mataria, e que se ele estivesse mentindo, sua morte seria lenta… — seu olhar parecia não ter nenhum pingo de empatia — Dei a ele uma morte rápida. Agora vamos!
Eles adentraram a caverna, os passos ecoando nas paredes de pedra fria.
A escuridão era quase total, mas Ivar, com sua visão aguçada, avançava sem dificuldade.
Elara, por sua vez, conjurou uma pequena esfera de luz para iluminar o caminho.
As paredes da caverna eram úmidas e cheias de musgo, e o ar carregava um cheiro acre de podridão.
Conforme se aprofundavam, vozes começaram a ecoar à frente.
Eles se aproximaram com cautela e, à distância, puderam ver uma câmara maior, iluminada por tochas rústicas.
Lá, o líder dos bandidos e alguns de seus homens estavam reunidos ao redor de uma mesa, onde o colar de Ivar brilhava à luz do fogo.
— Esse colar vai nos fazer ricos — o líder ria, passando os dedos pelo item roubado — É mais valioso do que qualquer coisa que já saqueamos.
A raiva de Ivar crescia a cada segundo. Ele se virou para Elara, o olhar determinado.
— Eu vou até o ele, cuide dos outros — sua voz estava baixa, mas repleta de ódio.
Ela assentiu, preparando sua magia para o confronto iminente.
Enquanto Ivar usava magia de invisibilidade em si e se esgueirava pelas sombras, ela começou a murmurar palavras arcanas, invocando o poder de sua magia celestial.
Com um movimento rápido, ele avançou contra o líder dos bandidos. Sua foice cortou o ar com um silvo mortal, perfurando das costas ao peito do líder.
— V-você de novo?! — disse o ele, com seu último suspiro de vida.
— Vocês deveriam ter ido embora, seus vermes! — diz ao resto dos ladrões, sua voz cheia de ameaça.
O som da batalha ecoou pela caverna enquanto Elara lançava bolas de fogo contra os outros bandidos, derrubando-os um por um.
Suas asas brilhavam com uma luz etérea, e cada golpe seu era preciso e devastador.
Um dos ladrões, ofegante, tentou contra-atacar, mas Ivar era implacável.
Ele girava a foice com destreza, forçando o lagarto a recuar mais e mais.
Até que, em um movimento final, Ivar o desarmou, derrubando-o ao chão.
— Onde está sua coragem agora? — erguendo sua foice sobre a cabeça do ladrão.
— E-eu… me perdoe, só estamos seguindo ordens! — suplicou o ladrão, a voz cheia de desespero — Pegue o colar! Pegue tudo, é tudo seu!
Mas Ivar não hesitou. Com um movimento rápido, ele desceu a lâmina, ceifando a vida do lagarto.
Em seguida, pegou o colar da mesa e o prendeu de volta em seu pescoço, o alívio misturado com tristeza e dor.
Elara aproximou-se, suprimindo os ferimentos menores que havia sofrido no confronto.
Ela olhou para Ivar, sem dizer uma palavra, mas seu olhar transmitia compreensão e empatia.
— Está feito! — disse guardando sua foice — Vamos sair daqui.
Juntos, eles deixaram a caverna e retornaram à clareira onde Nyara os esperava, o ar da noite agora pesado com a tensão da batalha recém-concluída.
O colar estava seguro, mas as cicatrizes internas de Ivar pareciam apenas ter se aprofundado.
Enquanto caminhavam em direção à clareira, o silêncio entre Ivar e Elara era denso, preenchido pela recente violência e pelo peso do passado que o atormentava.
A lua cheia iluminava o caminho, e as árvores ao redor pareciam assistir em silêncio ao desenrolar de sua história.
— Você está bem? — Ela pergunta, finalmente quebrando o silêncio, sua voz era suave, mas cheia de preocupação.
— Não, Elara… não — ele continuou andando, o colar em seu pescoço, pesando como uma âncora. Olhando para frente, seus olhos carregados de dor.
Elara respirou fundo, compreendendo a profundidade do sofrimento que Ivar carregava.
Ela sabia que nada que dissesse poderia aliviar a dor que ele sentia.
Ainda assim, ela decidiu acompanha-lo, pronta para enfrentarem o que viesse.
— Não precisa fazer isso sozinho, Ivar. Eu estou com você — sua voz era firme, carregada de determinação.
Ivar apenas assentiu, sem palavras.
A cada passo que davam, sua raiva e sua dor eram reafirmadas.
Mesmo que ele não dissesse em voz alta, a presença de Elara trazia um consolo silencioso em meio ao caos que o consumia.
Chegando à clareira, Nyara os aguardava, suas orelhas atentas a qualquer sinal de perigo.
Ela levantou a cabeça ao vê-los, o olhar questionador.
— Conseguimos, Nyara — disse Elara, olhando para o céu estrelado.
O vento soprou suavemente pela floresta, como se estivesse trazendo a promessa de um descanso temporário.
Mas Ivar sabia, e Elara também, que essa batalha estava longe de ser a última.
As cicatrizes em sua alma, embora cada vez mais profundas, serviam apenas para alimentar sua determinação.
Eles ainda estavam no começo, havia um longo caminho pela frente, e ele o trilharia com ódio e dor, mas agora, com uma companheira ao seu lado.
— Qual o próximo passo? — perguntou Elara.
Ivar respirou fundo, seu olhar firme no horizonte.
— Agora, iremos a cidade de Thirel buscar mais informações sobre o artefato. E depois… — ele hesitou por um momento, seus olhos ficando mais sombrios — Depois, vamos atrás de todos que ousaram tomar tudo de mim.
Elara manteve o olhar em Ivar, sentindo a fúria pulsante por trás de sua determinação.
Ele era um homem consumido pela dor, mas o desejo de vingança que o guiava agora também lhe dava força.
Embora soubesse que Ivar trilhava um caminho sombrio, ela decidiu seguir ao seu lado, seja para ajudá-lo ou, quando fosse o momento certo, impedir que ele se perdesse completamente.
— Thirel então — murmurou Ela, sentando-se perto da fogueira enquanto o vento frio da noite soprava e balançava as árvores ao redor — Precisamos ser cautelosos. Se esse artefato for realmente tão poderoso quanto Dorian disse, certamente nós e os nobres nas montanhas não seremos os únicos em busca dele.
Ele olhou para Elara, seus olhos endurecidos pelo luto e pelo ódio, mas… ao mesmo tempo, havia uma faísca de gratidão.
Ele sabia que Elara estava ao seu lado não apenas por dever, mas por escolha.
Isso, de alguma forma, lhe dava um motivo para seguir em frente, além da simples sede de vingança.
— Cautela não é o suficiente — disse enquanto sentava ao lado de Elara — Precisamos ser implacáveis. Thirel é uma cidade de intrigas, cheia de olhos atentos e bocas traiçoeiras. Vamos entrar e sair antes que alguém indesejável perceba nossa presença.
Elara assentiu, ciente do perigo que os aguardava. Thirel, conhecida por suas guildas de mercadores e vendedores de informações, era um ninho de cobras, e uma palavra mal colocada poderia atrair atenção indesejada.
No entanto, o artefato que buscavam era crucial, e Ivar sabia que com tal artefato em mãos ele estaria mais perto de trazer sua filha de volta.
Nyara entrega a cada um dos dois um prato de sopa que ela havia preparado antes.
— Aqui, comam. Preparei enquanto vocês não chegavam
— Obrigado! — eles agradecem.
— Não podemos deixar rastros — acrescentou Ivar, sua voz baixa e séria — Qualquer um que souber demais… terá o mesmo destino dos bandidos.
Elara estreitou os olhos, notando a frieza crescente em Ivar.
O perigo não vinha apenas de Thirel, mas também daquilo que ele estava se tornando.
Mesmo assim, ela seguiu ao lado dele, seus passos firmes enquanto se afastavam da clareira, com Nyara liderando o caminho pela floresta.
Nyara ouviu toda a conversa, mas permaneceu em silêncio.
O homem elfo com os ferimentos já enfaixados estava em um sono profundo, e as duas crianças estavam também dormindo ao seu lado.
A lua cheia iluminava os arredores do acampamento, mas a escuridão no coração de Ivar parecia ser mais intensa do que a noite ao redor.
A fogueira crepitava suavemente, lançando sombras dançantes nas árvores ao redor enquanto Ivar e Elara terminavam a refeição.
O silêncio pairava entre eles, um silêncio tenso e cheio de subentendidos.
Nyara, atenta, observava cada detalhe ao seu redor, pronta para qualquer eventualidade.
Ela sabia que a viagem até Thirel seria arriscada, mas também estava consciente da transformação que estava acontecendo em Ivar.
E isso a preocupava tanto quanto os perigos que poderiam encontrar na cidade.
Ivar olhou para a fogueira por um momento, perdido em pensamentos. O calor das chamas parecia incapaz de aquecer o vazio dentro dele.
Ele se lembrou da última vez que havia sentido qualquer coisa além de dor e raiva, da época em que sua esposa e filha ainda estavam vivas.
A lembrança trouxe consigo uma onda de amargura, e ele apertou o colar ao redor do pescoço, como se o peso físico pudesse de alguma forma aliviar o peso emocional.
— Thirel será apenas o começo — disse ele, finalmente quebrando o silêncio. Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregada de determinação — Depois que eu trouxer minha filha de volta, aqueles que me tiraram tudo vão desejar nunca terem cruzado meu caminho.
Elara o observou por um momento, preocupada com o rumo que ele estava tomando.
Ela também sentia o peso da vingança em seus ombros, mas não da mesma maneira destrutiva que Ivar.
Ele estava cada vez mais imerso na escuridão, e ela temia que, no final, não sobrasse nada além de um homem consumido por ódio.
— Só não se esqueça, Ivar… — disse Elara, com sua voz calma, mas firme — Ainda há vida além da vingança. Ainda há coisas pelas quais vale a pena lutar… além da dor.
Ele a olhou, seus olhos eram sombrios…
Ele queria acreditar nas palavras dela, mas a ferida em sua alma era profunda demais.
Talvez, em outro tempo, ele pudesse ter enxergado a sabedoria em suas palavras.
Mas agora, tudo o que ele via era o caminho à sua frente, um caminho manchado de sangue e destruição.
— Um dos meus outros desejos era resgatar as pessoas da vila em que nasci, mas depois que ela foi destruída, muitos dos habitantes morreram, ou viraram escravos — ele coloca a mão em seu peito e abaixa a cabeça — A vida pela qual valia a pena lutar já me foi tirada, Elara —sua resposta foi dura, encerrando a conversa com um tom definitivo.
Elara suspirou e voltou seu olhar para o céu estrelado. Ela sabia que, por enquanto, não havia nada que pudesse dizer para mudar a visão de Ivar.
O melhor que poderia fazer era estar ao lado dele, para garantir que ele não se perdesse completamente nesse caminho sombrio.
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