Um mês de viagem havia se passado desde Thurtem.

    A estrada sinuosa que cortava a floresta logo se abriu em um caminho mais amplo, cercado por árvores altas que criavam um túnel natural. 

    A luz do sol se filtrava entre as folhas, desenhando sombras dançantes na terra. 

    A calmaria do cenário era quase enganosa, pois o grupo sabia que estavam se aproximando cada vez mais de Thirel e dos perigos que os aguardavam.

    — Quanto tempo até Thirel? — perguntou Elara, quebrando o silêncio e olhando para Ivar, que segurava as rédeas com firmeza.

    — Se mantivermos o ritmo, devemos chegar em três dias. — ele respondeu, sem desviar os olhos do caminho —Mas precisamos estar atentos. Esta estrada é conhecida por ter bandidos e monstros.

    — Como se isso fosse novidade. Esse lugar inteiro é um ninho dos infernos. — murmurou Nyara, fazendo uma careta e olhando ao redor com desconfiança.

    Elara suspirou, percebendo a tensão crescente entre todos. 

    Thirel não era apenas uma cidade, era um lugar de muito conhecimento, um símbolo de tudo o que Ivar buscava, um lugar onde ele poderia, talvez, encontrar respostas para as perguntas que o atormentavam e um caminho para sua vingança.

    Depois de algumas horas de viagem, o grupo fez uma pausa para descansar e deixar os cavalos beberem água em um pequeno riacho que serpenteava pela floresta.

    Enquanto eles desciam da carroça, Ivar se afastou um pouco, observando as águas claras do riacho com um olhar distante.

    Elara, percebendo a sombra em seu semblante, aproximou-se dele em silêncio.

    — Ivar… — ela hesitou por um segundo — …sei que você está decidido a fazer o que for preciso, mas… já pensou no que virá depois? Quando a vingança for cumprida, quando tudo acabar… o que vai sobrar?

    Ele permaneceu em silêncio por um momento, fitando o reflexo das árvores na superfície da água.

    — Honestamente… não sei, Elara — respondeu, a voz estava baixa, quase um sussurro — Passei tanto tempo consumido por esse desejo que é difícil imaginar qualquer outra coisa. Às vezes, me pergunto se ainda resta algo em mim além disso… ou se me tornei apenas uma sombra.

    Ela assentiu, tocada pela confissão. Por trás da armadura emocional que ele carregava, havia uma vulnerabilidade que ela raramente via. Ela queria dizer algo que o confortasse, mas as palavras pareciam insuficientes. Em vez disso, colocou a mão suavemente em seu ombro, oferecendo um apoio silencioso.

    Nesse instante, Nyara, que estava cuidando dos cavalos, gritou.

    — Temos companhia!

    Ivar e Elara se viraram rapidamente. Do outro lado do riacho, um grupo de Orcs armados surgia entre as árvores, os rostos marcados pela dureza e malícia de quem está acostumado a sobreviver em meio ao caos. A líder do grupo, uma mulher Orc de aparência feroz, ergueu uma mão em um sinal de parada, observando o trio com um sorriso predatório.

    — Ora, ora… o que temos aqui? — sua voz estava carregada de sarcasmo — Viajantes solitários e… não tão bem armados. Que conveniente para nós.

    Ivar deu um passo à frente, o olhar gelado e implacável.

    — Se vierem pelo ouro, estão perdendo seu tempo! — respondeu empunhando a espada com destreza — Mas, se ousarem atrapalhar meu objetivo… posso garantir que irão morrer tão fácil como porcos.

    A mulher riu, puxando sua própria arma e incentivando seus homens a avançarem.

    — Muito bem, então. Mostrem-nos o que têm, forasteiros!

    Os Orcs avançaram lentamente, cercando o grupo com olhares de predadores avaliando suas presas. 

    Ivar não desviou o olhar, seu corpo estava tenso, mas os movimentos eram calculados, com a mão firme na espada, pronta para o primeiro ataque. 

    Elara e Nyara também se prepararam, cada uma assumindo uma posição de defesa, aguardando o momento certo.

    A líder orc avançou, os olhos faiscando com uma excitação sombria.

    — Vamos acabar com isso rápido! — Gritou ela, brandindo a lâmina em um arco largo em direção a Ivar.

    Ele esquivou com agilidade, contra-atacando com um golpe preciso que cortou o braço de um dos comparsas dela, fazendo o Orc gritar e cair de joelhos. Sem dar tempo para reação, Ivar girou a espada e bloqueou o ataque de outro Orc e jogando-o para trás com uma força feroz.

    Ao mesmo tempo, Elara conjurou e disparou duas flechas mágicas de suas mãos, atingindo mais dois que avançavam furtivamente pela lateral.

    Nyara, por sua vez, avançou diretamente sobre um dos agressores com um punhal em cada mão, desviando de seus ataques e cortando seus tendões, fazendo-o cair no chão e permanecer imóvel.

    Em meio ao caos, Ivar avançou para a líder orc. Ela era forte, mas ele notou pequenas falhas em sua postura, e sabia que poderia explorá-las. Eles se enfrentaram em uma troca rápida de golpes, faíscas saltando a cada impacto das lâminas.

    — Você fala como se fosse especial, humano — Ela provocou, pressionando-o para trás — Mas não é nada além de outro tolo com um sonho tolo.

    — Está enganada, não sou humano, e você não passa de mais um obstáculo para eu destruir! — sua voz estava baixa, mas ameaçadora. 

    Ivar aproveitou uma brecha e girou, desferindo um golpe poderoso que acertou a lateral dela, que recuou, grunhindo de dor e ódio. 

    Ivar e seu grupo começaram a se posicionar em círculo, impedindo que os orcs fugissem.

    Nesse momento, os bandidos que ainda restavam hesitaram, percebendo que estavam em desvantagem. 

    A líder deles, cambaleando, olhou para os comparsas e rosnou.

    — 

    Eles são fortes, mas tenham coragem, nós vamos sobreviver!

    Enquanto a líder orc dizia essas palavras, Ivar consegue ver três pequenas sombras escondidas em a arbustos em um morrinho mais acima, eram crianças Orcs. 

    Ele para e pensa um pouco, o ódio e um resquício de compaixão lutam dentro dele, mas ele chega em uma conclusão.

    — Já chega! — ele grita — Não precisamos lutar. Imagino que vocês precisem de recursos e alimentos, mas não temos nada que vá durar muito. Indo mais ao sul tem uma caverna que era de bandidos, matamos todos eles, nela tem muitos recursos e comida, e vocês podem ficar com a caverna. É só seguir os rastros de sangue quando virem — ele começa a guardar sua espada lentamente — Então abaixem suas armas, vocês podem ir embora. Vejo que vocês tem crianças, por favor vão embora.

    A líder Orc para e olha para Ivar com um olhar de surpresa misturado com confusão.

    — Nyara, Elara, guardem suas armas, está tudo bem — diz Ivaz.

    Elas assentiram e abriram espaço para que os Orcs pudessem ir.

    A líder Orc se aproxima de Ivar e estende sua mão. 

    — Isso é bem incomum, mas eu agradeço. Embora nós que tenhamos começado a luta, você quis nos poupar e ainda nos ajudar. Obrigado pela ajuda e informação, não me esquecerei disso… Senhor?

    – Me chamo Ivar — Responde estendendo sua mão.

    – Ivar… não me esquecerei desse nome. Eu sou Krisha. Que nossos destinos se cruzem novamente… Até breve, Ivar.

    Krisha recuou, ainda mantendo o olhar fixo em Ivar, como se tentasse decifrar o que o levara a oferecer uma trégua. Ela então fez um sinal para os seus, e os orcs, um a um, abaixaram suas armas. 

    As crianças orcs saíram cautelosamente de trás dos arbustos, seus olhares revelando uma mistura de medo e alívio.

    Elara observava tudo em silêncio, surpresa pela compaixão súbita de Ivar, mas também compreendendo que, apesar da sede de vingança que o consumia, ele ainda tinha algo de bom em seu coração. 

    Nyara, por outro lado, cruzou os braços, insatisfeita, mas respeitou a ordem de Ivar, observando os orcs enquanto eles se afastavam, ainda cautelosos.

    — Não entendo você, Ivar — sussurrou Nyara, quando os orcs desapareceram na floresta — Um instante atrás, você estava pronto para matá-los, e agora… os deixa ir embora?

    — É uma longa história, Nyara. Talvez algum dia você entenda — respondeu desviando o olhar para a estrada à frente.

    Krisha parou ao lado dos arbustos antes de desaparecer, lançando um último olhar a Ivar e inclinando a cabeça em sinal de respeito. 

    Ele apenas assentiu, e ela e seu grupo se foram, deixando um silêncio curioso no ar.

    Elara quebrou o silêncio, com a voz suave.

    — Talvez essa bondade seja o que o separa daqueles a quem odeia… Ivar. É bom saber que há algo em você além da vingança.

    Ele a olhou brevemente, mas não disse nada, apenas respirou fundo, os olhos voltando à estrada. 

    Mesmo sem palavras, Elara pôde ver o conflito silencioso que ainda fervilhava dentro dele.

    Depois de se certificarem de que os orcs haviam ido embora, o grupo voltou aos cavalos e retomou a viagem. 

    Ivar permaneceu em silêncio, absorto em pensamentos, enquanto Elara e Nyara trocavam olhares curiosos, mas sabiam que aquele não era o momento para perguntas.

    O caminho até Thirel continuava diante deles, mas agora parecia carregado de um novo peso.

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