Capítulo 129: Humilhação no acampamento.
Várias horas já haviam se passado desde que Ken e Crystalline haviam partido da cidade de Crystenold, junto da comitiva da grande família Skarsgard.
Mesmo estando sentada por cima da carruagem, Crystalline já não conseguia ver nem a silhueta das altas muralhas da cidade.
“…”
Aquela cidade, a terra que ela havia reivindicado para si mesma milhares de anos atrás antes de ter sido selada, estava mais uma vez deixando-a para trás.
Mesmo que a terra tivesse já deixado de ser dela e tenha sido reivindicado por outra força, que era a Vinland, ela ainda sentia como se estivessem arrancando uma parte importante de seu corpo.
Agora deitada, ela virou a cabeça e olhou para o banco de condutor e olhou para Ken que estava sentado ao lado do líder do grupo de mercenários Guerreiros amaldiçoados, Brodwilf, que conduziam a carruagem.
“…”
Esta pessoa, Ken, era a razão pela qual ela abandonou sua terra sem pensar nem duas vezes apenas para segui-lo. Não porque tinha sentimentos românticos com ele ou nada do tipo, embora ela mesma não saiba direito o que sente por ele.
“…”
A principal razão pela qual ela decidiu segui-lo era para saciar sua dúvida que era maior do que o sentimento que sentia pela sua antiga terra. Um homem que poderia ser mas ao mesmo tempo não podia ser o homem misterioso da sua época. Seja seu salvador, ou seu destruidor.
Sua altura e voz eram claramente diferentes, mas a maneira de falar, agir e suas artes marciais eram ligeiramente parecidas, sem contar com o estranho poder que eles possuíam e a magia de selo que eram idênticos.
Se for verdade, quem Ken é de verdade? O homem misterioso que a salvou, ou o homem que a selou?
E se o homem misterioso e a pessoa que a selou forem a mesma pessoa? Então isto faria Ken ser as duas pessoas? E se ele realmente não for nenhum deles, ou nem um, nem outro?
E o pior era que Ken não parecia saber de nada, e Crystalline podia saber disso apenas interagindo com ele nestes poucos dias que interagiam, mesmo na primeira vez que se encontram, Ken agia como se fosse realmente a primeira vez que se viam.
Estas eram perguntas que ela queria desesperadamente descobrir, mas não queria simplesmente perguntá-lo.
‘Porquê não posso simplesmente interrogá-lo?’
Ela também não sabia o porquê de seu comportamento.
Nesta interação que tiveram, Crystalline ficou sabendo que era mais forte que Ken, e embora se lutassem seriamente ela teria que admitir que saíria com ferimentos, ainda assim seria capaz de derrotá-lo. Ou seja, ela tinha o poder de interrogá-lo à força.
Mas ela não tinha planos de recorrer desta forma, e também não planejava perguntá-lo diretamente, porque embora ambos tenham se aberto um com o outro, ambos ainda tinham coisas sensíveis que não queriam compartilhar, e ambos sabiam bem disso.
Mas Crystalline, por causa do pecado do orgulho, não era o tipo de pessoa que se importava com os sentimentos dos outros, ou seja, sua atitude normal seria perguntar diretamente para Ken, e se por acaso Ken não respondesse, ela realmente iria recorrer à força.
Mas a questão era, porque ela não está fazendo isso?
‘Tenho medo?’
Ela achava que tinha medo, não, ela sabia que tinha medo de saber.
E se o Ken realmente contar que era o homem misterioso, e que também era o homem que a selou, o que ela faria então? Estaria feliz por ter reencontrado o homem que a salvou, ou estaria zangada por reencontrar o homem que a selou?
E depois, o que faria? Que tipo de atitude você teria que ter? Estas eram perguntas que nem mesmo ela sabia como responder para ela mesma, o que a deixava envergonhada.
Mas, e se Ken realmente não for nenhum dos dois? Então, neste aspecto, ela não teria mais razão em segui-lo.
“…”
Sabendo disso, Crystalline voltou a olhar para Ken com os olhos semicerrados. Era como se ela estivesse hesitante em perguntar, com medo de não ter mais razão de acompanhar Ken, como se estivesse propositalmente ignorando a pergunta para continuar andando com ele.
“!”
Quando esta questão apareceu em sua mente, ela arregalou os olhos e seu coração acelerou ligeiramente, não entendendo o porquê de estar pensando nisso.
Foi nesse momento, como se estivesse sentindo alguém olhar intensamente para ele, Ken levantou ligeiramente a cabeça e olhou para Crystalline com o canto do olho.
“?”
Percebendo o olhar de Ken, o coração de Crystalline acelerou mais e instintivamente desviou o olhar, como se nada tivesse acontecido.
“?”
Ken, que observou Crystalline desviar o olhar, achou um pouco estranho, mas decidiu ignorar e voltar sua atenção para frente.
Os sons dos pneus das carruagens e dos passos dos guerreiros percorriam a estrada de terra asfaltada, criada pela constante movimentação de muitas outras pessoas que usavam o mesmo caminho.
Mesmo que os guerreiros da casa Skarsgard estivessem andando durante horas, não demonstravam cansaço em seus rostos, pelo contrário, eram firmes, como se andar durante um dia inteiro não fosse nada demais, apenas mais uma rotina diária deles.
Além do mais, o sol já estava para se pôr, então, mesmo que eles não estivessem cansados, não podiam seguir caminho ao anoitecer.
Vendo isso, Bárbara andou até a lateral da carruagem montada em seu cavalo e falou com sua jovem senhorita.
“Jovem senhorita, o sol está quase se pondo. Devemos preparar o acampamento?”
“Por favor, faça isso.”
A voz de Aela veio logo em seguida, permitindo o pedido de Bárbara como se estivesse esperando por isso.
Então, após receber a ordem, ela olhou para trás e gritou.
“Preparem-se para o acampamento!”
Seu alto grito foi ouvido por todos, tanto os guerreiros quanto os mercenários.
O local onde se encontravam era mais como uma planície, e muito á frente podia ser vista uma floresta, mas eles decidiram montar um acampamento ali mesmo ao invés de uma aleatória floresta, onde poderiam encontrar animais selvagens e no pior, monstros.
Então, com as ordens de Bárbara, os guerreiros imediatamente começaram a montar o acampamento. Para além da carruagem de Aela, eles andavam com mais uma carroça, onde carregava alguns utensílios importantes para acampar.
O local que escolheram para montar foi limpo, colheram galhos e montaram uma fogueira usando um artefato mágico com magia de fogo, pegaram alguns bancos de madeira e espalharam a volta da fogueira, e um em especial se destacava, feita de madeira de carvalho e pintada em uma cor dourada.
Tendas foram montadas, como uma em especial e maior se destacando entre todas. Com o equipamento preparado, Bárbara andou até a carruagem e abriu a porta. De dentro, Aela Skarsgard desceu e andou até seu assento especial em volta da fogueira e se sentou.
Este é o acampamento especial preparado para Aela e seu grupo de guerreiras, o Espinho de Rosas. Os guerreiros teriam que preparar seus próprios acampamentos um pouco distantes.
Isto não é uma descriminação contra os homens, na verdade, em Vinland, mulheres devem ser acompanhadas por guerreiras e não guerreiras, e na hora do acampamento, a nobre não pode dormir perto de guerreiro, é um costume bastante comum na nobreza Vinlandeza.
Enquanto os guerreiros também preparavam seus acampamentos, uma mesa ao lado foi preparada onde estavam preparando a refeição da noite, enquanto o restante dos guardas se espalharam ao redor do acampamento agindo como sentinelas.
Enquanto alguns preparavam o acampamento, outros formaram um círculo por todo o acampamento, agindo como vigílias, para impedir qualquer um de se aproximar.
A carruagem dos mercenários também já havia parado, e todos desceram da carruagem para que pudessem ajudar na montagem do acampamento.
“Parem.”
“!”
Mas foi então que foram parados de se aproximar pela vice-líder do grupo Espinhos de rosas, Erika, uma guerreira de aura de duas estrelas
Ela deu um passo mais adiante deles, e continuou falando.
“Vocês mercenários não podem entrar no acampamento, nem mesmo onde se encontram os guerreiros.”
“?”
O líder dos mercenários, Brodwilf, achou estranho a afirmação da guerreira.
Embora fosse normal não comparecer ao acampamento perto de uma nobre, não se podia dizer o mesmo do acampamento dos guerreiros. Afinal, eles precisam interagir, conversar sobre os planos da missão e garantir um sistema de segurança para todo o acampamento, e para isso, é necessário que compartilhem o mesmo acampamento.
Isto era algo que já havia sido discutido no momento do contrato, então ver Érika dizer que não podem compartilhar o mesmo acampamento era estranho.
Vendo isso, o líder dos mercenários desceu da carruagem e ficou de frente a Érika. Ele estava com raiva, mas resolveu se acalmar antes de falar.
“Desculpe, mas o que vocês estão nos dizendo é estranho. Por favor, chame o responsável aqui para que possamos resolver isso.
Disse ele.
“…”
O pedido do líder dos mercenários havia deixado Érika inquieta. Porque, na verdade, quem havia dito para Érika impedir o grupo de mercenários de se aproximar do acampamento dos guerreiros não eram nem Aela e nem a Bárbara.
“Eu posso confirmar o que a guerreira Érika falou.”
Foi então que uma outra voz surgiu. Era Corgard, que se aproximava deles do acampamento e parou bem na frente ao líder dos mercenários.
Sua postura e maneira que olhava para o líder dos mercenários era arrogante, levantando arrogantemente o queixo para cima enquanto falava com ele.
“Foi nos dito que o trabalho de vocês, mercenários, é apenas de agir como uma força reserva para proteger e guiar o caminho para a nossa jovem senhora. Portanto, não têm direito ao acesso ao nosso acampamento.”
Disse ele de maneira direita enquanto cruzava os braços.
“Mas isto não foi o que conversamos!”
Mas o líder dos mercenários ainda não parecia convencido. Antes de assinarem o contrato, eles já haviam combinado de antemão que iriam compartilhar o mesmo acampamento, e que a acomodação e refeição seria distribuída por eles mesmo, por causa disso, não haviam trazido muitas coisas na própria carruagem deles.
Agora eles estão dizendo que não estavam dispostos a compartilhar o acampamento deles, deixando-os em uma situação complicada.
Vendo isso, Corgard cruzou os braços e encarou eles de maneira ainda mais arrogante.
“O que foi, você está duvidando da gente? Você realmente quer que eu traga nossa jovem senhorita para confirmar isso?”
“?…”
O argumento de Corgard havia deixado o líder dos mercenários inquieto. Afinal, a pessoa a sua frente era um nobre grande guerreiro da casa Skarsgard, duvidar de suas palavras era o mesmo que pisar em sua honra, e nenhum guerreiro gosta que sua honra seja pisada, principalmente os arrogantes.
Ou seja, o líder dos mercenários se encontrava em uma situação difícil, fazendo seu rosto se contorcer em desgosto.
O certo nesta situação seria cancelar o contrato e irem embora, mas infelizmente, nesta situação, eles não podiam simplesmente ir embora. Já estava de noite e todos estavam cansados.
“Tsk.”
Então, sem escolha, ele estalou a língua em frustração.
O líder dos mercenários não tinha escolha senão desistir da situação, ele não sabia o que os fez mudarem de ideia, mas como não tinham planos de mudar de ideia, apenas podia aguentar a raiva em seu coração.
“…”
Vendo Brodwilf hesitando, Corgard sentiu-se satisfeito.
Afinal, tudo que estava acontecendo não passava de um plano maléfico seu. Para se vingar da humilhação que sofreu de Ken na cidade de Crystenold, Corgard planejava se vingar dele, e isto apenas seria possível no momento que eles deixassem a cidade, que era seu território.
Nesta planície isolada, ele teria mais chances de vingar-se, mas para isso, ele precisava de apoio. Então, ele juntou outros guerreiros que também tinham preconceitos contra mercenários, que eram esses que estavam de vigília ao redor do acampamento, e também precisava da ajuda das guerreiras, e para isso, ele persuadiu a vice capitã das guerreiras, Érika.
Para ter Érika ao seu lado, ele a encheu de mentiras, dizendo que Ken estava enganando a todos e ainda o humilhou na frente da jovem senhorita quando simplesmente tentava proteger a honra da família Skarsgard.
Érika, embora cética no início, foi gradualmente acreditando em suas palavras, já que ela, secretamente, tinha uma paixão pelo Corgard.
Corgard sabia desta paixão, mas ele não tinha planos de corresponder, já que em sua mente, ele merecia alguém melhor, como a Bárbara que para além de ser bela, ainda era uma guerreira habilidosa, ou até mesmo Aela Skarsgard.
Então, com apoio suficiente, ele decidiu botar o plano em ação. O cerco ao redor do acampamento era longo o suficiente para que Bárbara e as guerreiras não conseguissem ouvir o que estavam falando, e assim, impedir que os mercenários entrassem em seu acampamento.
Seria complicado se os mercenários insistissem em falar com Barbara em Aela, mas com a insistência de Corgard, felizmente isso foi evitado, e o plano de Corgard estava seguindo sem problemas.
Assim, eles iriam acampar no escuro, no frio, e o pior é que não teriam nada para comer a noite toda. Deste modo, ao amanhecer, eles estariam sem forças para continuar os acompanhando, e se surgirem situações inesperadas que obrigassem a levantar as espadas, e eles demonstrarem fraqueza? Naturalmente eles iriam quebrar o contrato.
Para o Corgard, este era simplesmente um plano incrível. Graças a isso, nem Aela e nem Bárbara sabiam dos planos de Corgard e Érika, e para tornar o plano a prova de falhas, caso Aela e Bárbara suspeitassem, ele já havia planejado algo.
Uma das guerreiras do lado da Érika e Corgard havia se aproximado do acampamento de Aela e forneceu uma informação.
“O quê? Eles disseram que montariam o próprio acampamento?”
Perguntou Bárbara, parecendo surpresa.
A guerreira estava começando a se sentir desconfortável.
“…”
A guerreira ficou em silêncio por um momento, já que diferente dos outros, ela estava mentindo diretamente para sua capitã e para uma das herdeiras da casa Skarsgard. A punição para isso seria inimaginável, mas como alguém que já havia concordado com o plano, ela não tinha escolha a não ser continuar.
Então, suportando o nervosismo, ela continuou.
“Sim, esta foi uma informação que nos foi dito pela vice capitã.”
Disse a guerreira, suas palavras claramente colocando toda a responsabilidade na vice capitã. Desta forma, mesmo que for descoberta que ela mentiu, sua punição será reduzida.
“…Certo, pode ir.”
Disse Bárbara, deixando o assunto de lado já que foi algo dito pelos próprios mercenários.
“Ah, espera.”
“?”
Mas antes que a guerreira fosse embora, a voz pesada de Bárbara soou de repente, fazendo a guerreira parar de andar.
Bárbara então olhou diretamente para ela com um olhar sério, deixando a guerreira ainda mais nervosa, e falou.
“Por favor, informe para a Lady Crystalline que a senhorita Aela convidou.a para comparecer ao nosso acampamento, caso esteja interessada.”
“?”
A guerreira ficou surpresa por um momento, então, um alívio surgiu em seu coração e ela respondeu.
“Imediatamente.”
Após dizer isso, ela então partiu e foi em direção ao local onde se encontrava Corgard e Érika.
“Pfft.”
Daquele lado, de frente ao acampamento, Corgard bufou um sorriso zombeteiro.
“Hmph, aposto que eles apenas queriam comer nossas comidas.”
Ao seu lado Erika zombou com um sorriso desdenhoso.
“Ahahaha, de fato.”
“Sim, ahahaha, como esperado deste tipo de gente.”
Corgard, Érika e os guerreiros que estavam de sentinela por perto começaram a rir baixinho, mas alto o suficiente para que o líder dos mercenários e os mercenários pudessem ouvir, fazendo-os se sentirem ainda mais humilhados.
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