Capítulo 132: Sannridr.
Os mercenários só se aperceberam da presença de Bárbara no momento em que ela começou a falar, pelo contrário, Ken e Crystalline já haviam se apercebido que ela estava se aproximando antes mesmo de deixar seu próprio acampamento, e Brodwilf apenas se apercebeu quando ela já estava perto deles.
Ela parou bem ao lado de Ken que devorava o último pedaço de carne no seu décimo espeto, olhando-o com os olhos estranhamente ansiosos.
“Ken Wolff.”
Disse finalmente ela, chamando a atenção de Ken.
Ken, que terminava de devorar e engolir a carne em sua boca, lambeu o polegar antes de olhar diretamente para Bárbara.
“Posso ajudar?”
“?”
Por alguma razão, ter visto Ken lamber o polegar enquanto lançava um olhar para ela fez seu coração acelerar ligeiramente. Ela teve que admitir, embora Ken não fosse tão bonito, tinha alguma coisa em seu olhar e seu modo de agir que fazia os corações das mulheres agirem estranho.
Mas ela se forçou a esconder este sentimento, e depois falou, com o rosto sério.
“Desculpe interromper, mas acontece que a jovem senhora se sentiu atraída pelo belo cheiro do javali de chifres dourados que vocês assaram. Se possível, ela gostaria que você pudesse compartilhar um pouco com ela.”
Disse ela, de maneira respeitosa.
Mas após ela terminar, o olhar dos mercenários tornaram-se frios e com ódio, mas de alguma forma esforçando-se para não transparecer.
“?”
Bárbara, que não sabia da situação, ficou confusa pela reação deles, afinal, ela apenas tinha pedido carne.
“Engraçado você dizer isso.”
Então a voz de Ken soou contendo um ligeiro tom de zombaria enquanto erguia o lábio em um ligeiro sorriso, como se tivesse finalmente pegado sua presa. Mas logo escondeu este sorriso e olhou friamente para Bárbara, e continuou.
“Não foram vocês quem disseram que não deveríamos comparecer ao vosso acampamento? Portanto, é irônico ver você pedindo nossa comida.”
“!”
Os olhos de Bárbara arregalaram-se em surpresa e confusão depois de ouvir as palavras de Ken, ela ficou parada por um tempo, tentando processar estas palavras.
Claro, Ken sabia que ela não fazia ideia dos planos de Ken, mas isso também não significa que ela está isento da oportunidade, e se ele puder obter um benefício disso, porque ignorar?
“Espera, o que foi que você disse?”
Finalmente tendo recuperado a compostura, Bárbara pediu para que Ken repetisse as palavras com um tom sério. Não porque achasse que ouviu errado, mas como se ela pudesse entender o que havia se passado, fazendo-a olhar de relance para o acampamento dos guerreiros, na direção de Corgard,
Ken ficou satisfeito com esta sua reação, mas fingindo ignorância, continuou.
“Por acaso você está dizendo que não sabia? Estranho, aquele guerreiro de cabelo ruivo e a guerreira de cabelo curto azulado nos disseram especificamente que não deveríamos comparecer ao vosso acampamento, sob ordens de você.”
“!”
Bárbara ficou ainda mais surpresa pela informação recebida, ela sabia que Corgard provavelmente havia planejado alguma coisa, mas não que fosse ao ponto de colocarem seu próprio nome na fogueira, fazendo uma raiva fervente surgir dentro dela.
“Ele está mentindo!”
Foi então que um alto grito ecoou e Corgard apareceu correndo a toda velocidade, parando entre Ken e Bárbara.
“Eles estão mentindo, capitã Bárbara! Foram eles quem disseram que não queriam comparecer ao mesmo acampamento que o nosso!”
“Sim!”
Em seguida, surgiu Érika, que continuou tentando se explicar.
“Eu estava presente quando eles mesmo disseram estas mesmas palavras! Aposto que planejaram isso para que não pudessem compartilhar a carne deles com a gente!”
“Sim, é verdade!”
Gritou outro guerreiro que surgiu.
“É verdade!”
“É verdade!”
Antes que Bárbara percebesse, para além de Corgard e Érika, outros guerreiros começaram a se aproximar e protestar contra os mercenários em alto e bom som.
Nem todos os guerreiros faziam parte ou sabiam do plano de Corgard, mas decidiram se juntar quanto Érika mencionou a carne deles, e como queriam provar, decidiram intervir.
“…”
No meio dos protestos, Bárbara estava inquieta e sem saber o que fazer.
Ela sabia que Corgard e Érika eram provavelmente os culpados, mas com os guerreiros do lado dele e sem que ela tenha uma prova concreta, ela não podia fazer nada, caso contrário, se ela tomasse partido de Ken, a confiança que os guerreiros têm por ela seria drasticamente reduzido.
Ela realmente queria estar em bons termos com Ken, e principalmente com Crystalline, mas agora ela estava de mãos atadas por causa do plano de Corgard. Só de pensar nisso fez uma raiva surgir em seu interior.
“Vocês!…”
O líder dos mercenários, não querendo mais ser humilhado levantou-se com raiva querendo enfrentá-los.
“!”
Mas foi impedido pela mão de Ken que se estendeu à sua frente. Depois, ele levantou a cabeça e olhou para os guerreiros da casa Skarsgard.
“E pensar que os bravos guerreiros da casa Skarsgard abandonariam o orgulho por causa de um pedaço de carne, que lamentável.”
“!”
“!”
“!”
As palavras de Ken causaram um silêncio quase ensurdecedor, chamando a atenção de todos, pois eles sabiam que Ken havia realmente tocado no ponto.
Mas uma coisa é estar certo, outra coisa é aceitar as palavras, pôs um dos tabus em Vinland é quando você menciona o orgulho de um guerreiro como falso, o que inevitavelmente acendeu uma fúria no interior dos guerreiros.
Bárbara também ficou chocada, ao ponto de começar a suar frio. Ela queria terminar esta discussão de forma amigável ou pelo menos em bons termos, mas agora que Ken mencionou o orgulho dos guerreiros, esta tarefa acabou por se tornar ainda mais difícil.
Até Bárbara ficou sem reação, porque as palavras de Ken eram uma clara provocação contra todos os guerreiros, e como esperado, isto gerou uma ira em todos.
“Como você se atreve?…”
Corgard, vendo a reação dos guerreiros, decidiu aproveitar esta oportunidade. Contorcendo o rosto de raiva enquanto olhava para Ken e apontava o dedo para ele.
“Como te atreves a humilhar a honra dos guerreiros da casa Skarsgard!? Não permito isso!”
Logo, ele desembainhou sua espada e apontou-a para o rosto Ken de forma ameaçadora.
“Eu convoco o Sannridr!”
Gritou ele.
“!”
“!”
“!”
“!”
Imediatamente todos os presentes ficaram surpresos pela sugestão sugerida pelo Corgard, mais uma vez preenchendo o espaço em um longo silêncio.
“Sim! Convoque o Sannridr!”
“Convoque!”
Os guerreiros, antes em silêncio, começaram a ficar do lado de Corgard.
gritar em uníssono em um tom ainda mais alto, apoiando a decisão de Corgard com animação.
“Sannridr!”
“Sannridr!”
“Sannridr!”
“Sannridr!”
“Sannridr!”
Todos os guerreiros da casa Skarsgard começaram a gritar em uníssono e em um tom ainda mais alto, apoiando decisivamente a ação de Corgard.
Os mercenários ficaram ansiosos, e a Bárbara ainda mais confusa.
‘Que confusão…’
Neste ponto Bárbara já estava sentindo sua cabeça começar a doer. Tudo que ela queria era levar um pouco desta carne assada para sua senhorita, quem poderia imaginar que isto poderia levar para todo este caos?
Ela estava tão envergonhada que nem conseguia olhar direito para as pessoas que queria impressionar. Então, com o canto do olho, ela olhou para Crystalline, que surpreendentemente ainda continuava a comer carne assada como se nada estivesse acontecendo.
Naquele momento Bárbara pensou, ou Crystalline era realmente ignorante ou a carne estava tão boa a ponto de ignorar toda esta confusão, em seguida, olhou para Ken.
Ela tinha o pensamento de que Ken era uma pessoa bastante compreensiva, afinal, quando ainda estavam no escritório do prefeito da cidade de Crystenold, ele ignorou as maldades de Corgard e ainda o perdoou.
“!”
Mas assim que seu olhar caiu no rosto de Ken, um arrepio percorreu sobre sua espinha, porque, por um momento, ela pensou ter visto Ken erguer um sorriso frio, antes de voltar para uma aparência normal.
‘Foi imaginação minha?’
Ela não sabia se isto era uma obra de sua cabeça ou não, mas de uma coisa tinha certeza. O Sannridr iria acontecer, e Ken não parecia ter planos de impedir.
§§§§
Nos primórdios da história de Vinland, havia uma tradição bárbara criada para resolver certos conflitos em nome da justiça.
Imagine que uma pessoa foi assassinado e na cena do crime apenas estavam presentes dois suspeitos e sem nenhuma outra testemunha que tenha visto a cena do crime.
Um deles sem dúvidas é o culpado, mas se ambos negarem e puserem a culpa no outro, como poderiam descobrir quem é o verdadeiro assassino?
Para isso criaram o [Sannridr].
Sannridr é uma simulação de batalha de um contra um, criado para resolver este tipo de situação, em que o vencedor é considerado inocente e o perdedor o culpado.
É sem dúvida um método bárbaro e injusto para resolver estes tipos de questões, mas em uma terra em que a força era considerada mais importante que a própria verdade, este costume cultural se estabeleceu profundamente no reino, e embora nos tempos atuais esteja sendo gradualmente esquecida, ainda é usada em momentos especiais.
A regra é simples, não importa o método, os dois irão se enfrentar em um duelo de três rounds, e aquele que vencer a maioria será considerado o vencedor.
Neste momento, os guerreiros da casa Skarsgard e os mercenários formaram um círculo não muito longe do acampamento, deixando um espaço de 20 metros de diâmetro.
No centro, estava presente Corgard, que tinha um olhar arrogante, e Ken, que tinha um olhar indiferente como se a situação não o afetasse de jeito nenhum, o que por alguma razão deixava Corgard irritado.
“Então, você está dizendo que Corgard e Érika planejaram tudo isso.”
Aela, que também estava presente para assistir ao combate, perguntou para Bárbara sem tirar os olhos dos desafiantes com um olhar sério.
Bárbara, que estava em pé ao seu lado, respondeu.
“Sim, aproveitei a confusão gerada para poder investigar o que realmente aconteceu, e parece que isto tudo foi realmente planejado por Corgard com a ajuda de Érika e mais alguns guerreiros e guerreiras.”
Assim que obteve a resposta, o rosto de Aela se franziu em desgosto.
“Corgard… até quando essa criatura planeja me envergonhar. Eu sabia desde o início que não deveríamos tê-lo trazido connosco. Se não fosse por aquela situação, eu sinceramente o teria deixado na época.”
Disse Aela em um tom frio.
“…”
Bárbara apenas ficou em silêncio diante da fúria silenciosa de Aela, também entendendo de onde vinha sua frustração. Depois, curvou-se ligeiramente diante de Aela e falou com uma voz fraca.
“Eu lamento por não ter controlado esses dois e levado a este tipo de situação.”
Vendo Bárbara se desculpar tão profundamente e com sinceridade, o rosto franzido de Aela suavizou e falou com calma.
“…Não te preocupes.”
Disse Aela, tranquilizando Bárbara, e continuou, sua atenção se voltando para o campo de combate.
“Sinceramente, também estava curiosa em ver as habilidades do famoso Lobo branco caolho, você não está?”
Diante da pergunta de Aela, Bárbara levantou-se e também olhou para Ken ao longe.
“Sim, sendo sincera, também estou realmente curiosa.”
Respondeu ela, seus olhos agora brilhando em curiosidade.
Vendo isso, Aela não pode deixar de rir interiormente. Mesmo sendo mulher, Bárbara é bastante fanática em combates, o que a permitiu chegar em um nível avançado mesmo ainda sendo jovem e uma mulher.
Seu talento no controle de aura e combate eram excepcionais, e estava sempre curiosa em aprender, sempre assistindo as lutas de outros guerreiros.
“Então, vou indo.”
Disse Bárbara, saindo do lado de Aela e se aproximando do campo de batalha, ficando no centro de Ken e Corgard, e gritou.
“Meu nome é Bárbara Carmen e serei a juíza deste Sannirdr! Os oponentes, do meu lado direito, estão Ken Wolff, e do lado esquerdo, Corgard Crigond.”
Após terminar de se apresentar e aos participantes, ela continuou.
“As regras do Sannridr são simples, será um combate de três rounds, aquele que vencer a maioria será o vencedor e também considerado inocente da questão apresentada, independente se ele for realmente culpado ou não, enquanto o perdedor será considerado culpado! Se durante a luta o oponente for incapacitado ou pronunciar desistencia irá perder um roud! E matar está proibido, entenderam!”
Gritou Bárbara explicando as regras.
“Claro!”
Corgard gritou com entusiasmo.
“Sim.”
Respondeu Ken indiferente.
Vendo os dois concordarem, Bárbara terminou.
“Neste caso, que o duelo comece!”
Após gritar essas palavras, ela se afastou do campo de batalha, deixando Ken e Corgard se encarando à distância.
Neste momento, Corgard desembainhou sua espada e pousou sobre seu ombro enquanto lançava um olhar para Ken. Seu olhar pareceu percorrer todo seu corpo.
“Onde está sua espada?”
Perguntou Corgard ao notar a ausência de uma espada no corpo de Ken.
“Espada?”
Perguntou Ken, cruzando os braços e parecendo confuso.
“Espera, você está pensando em me enfrentar sem usar uma espada? Por acaso estás zombando dos guerreiros da casa Skarsgard?”
Vendo que Ken realmente não havia trago nenhuma espada, sua raiva por ele pareceu aumentar, e aproveitou o momento para dizer que estava zombando de todos os guerreiros da casa Skarsgard, aumentando ainda mais o apoio dos guerreiros para com ele.
Vendo isso, Ken simplesmente respondeu com indiferença.
“Sou um artista marcial, não uso espadas.”
“…”
“…”
A revelação de Ken havia chocado a todos os presentes, criando um silêncio quase tenso, como se não conseguissem acreditar no que acabara de ouvir.
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