Capítulo 137: Pantano de Mykvath. (Parte 2.)
Ao cruzar os limites de Myrkvath, o primeiro a te receber não é o frio nem o nevoeiro, mas sim o cheiro. O odor espesso de lodo fedorento, onde raízes apodrecem debaixo das águas.
O cheiro, misturado com a aparência sombria do pantano, que parece esconder todas as coisas bizarras existentes, causavam nervosismo nos guerreiros, fazendo-os hesitar de atravessar o pântano.
Foi neste momento em que os guerreiros amaldiçoados finalmente avançaram. A carroça deles, que estava no final da festa, avançou até a parte frontal.
“Vamos começar.”
Depois que Brodwil, o líder dos mercenários disse estas palavras, todos os mercenários desceram da carroça e ficaram de frente da festa.
Ken também desceu da carroça, mas guiava a carroça ao puxar os cavalos pelas rédeas.
Ao atravessarem o pântano, os guerreiros rapidamente se formaram uma formação defensiva em volta da carruagem de Aela e da carroça de suprimentos, enquanto também se protegiam, colocando-se em pontos chaves para protegerem-se uns aos outros.
É a [formação da defesa dos quatro cantos.]
Para poderem atravessar por completo o pântano, a festa de Aela já havia se preparado com antecedência. Como o terreno do pantanpo é lamacento, a possibilidade das rodas da carruagem e das carroças afundarem é bastante alta, por isso elas contêm dispositivos mágicos que tornam a carruagem e carroça leve, deste modo a possibilidade de afundar é baixa.
Não apenas a carroça, as botas que todos usam também tem este propósito, embora não fossem mágicas, mas criadas com materiais específicos para esta ocasião.
Quanto mais se aprofundavam, mais notavam que o cheiro que pairava no ar começou a se tornar mais doce e forte, quase sedutor, como frutas suculentas. Mas eles sabiam que esta é uma das armadilhas do pântano.
Cada uma das frutas aqui ou flores e vegetais é mais perigoso que a lâmina de uma espada, que só de tocar nela pode fazer você ter uma morte terrível.
Nesta floresta negra, o vento mal ousa soprar e o sol mal se reflete, como se estivesse de noite, mas com um frio de causar calafrios. As árvores eram espessas e as raízes retorcidas como se fossem criaturas vivas.
O cheiro de folhas podres preencheram o ar, assim como a de raízes úmidas e madeira molhada. Cada passo liberava o cheiro de terra moribunda e o ar húmido colava na pele como um manto, fria, densa e quase oleosa.
O arrepiante não era a falta de som, mas o sentimento de estar sendo observado pelo abismo, e este era o sentimento constante. Bolhas emergem de lugares onde não deveria ferver e árvores secas pareciam emitir sons de choro.
Os mercenários continuaram a guiar caminho pela floresta, cortando a vegetação que bloqueava a passagem, com suas enormes espadas amaldiçoadas, gerando o cheiro de folhagem podre.
As rodas das carruagens, mesmo com dispositivos mágicos, ainda andavam com dificuldade sobre a terra úmida.
O estranho, é que já fazia meia hora, e nenhuma criatura ou monstro havia se manifestado até agora, embora todos ainda pudessem sentir um desconforto de como se estivessem sendo observados.
Ken também podia notar isso. Com seus sentidos aguçados, ele sabia que tinha monstros observando eles, mas por alguma razão eles não se manifestaram.
“…”
Com este pensamento na cabeça, Ken olhou para os mercenários à frente.
‘Será por causa da energia sombria emanando das armas deles?’
Ken pensou nesta possibilidade, mas logo balançou a cabeça em negação.
‘Não, mesmo que esta possibilidade não possa ser negada, não explica o porquê de estarmos sendo tão severamente ignorados. É quase como se…’
Por um momento, Ken pensou por uma possibilidade, que o fez franzir ligeiramente a testa.
‘Como se tivessem com medo.’
Com este pensamento em mente, Ken não pode deixar de desconfiar ainda mais das coisas.
“?”
Enquanto andava pensativo, Ken notou algo ao redor que chamou sua atenção. Não apenas ele, mas depois de um tempo todos os presentes também começaram a notar.
Era uma névoa branca que se aproximava, que em questão de tempo começou a cobrir os arredores de todos, tornando-se cada vez mais espessa.
Vendo isso, o rosto dos mercenários, principalmente de Brodwilf, se contorceu de horror.
“Merda!…”
Chingou ele em frustração.
“O que aconteceu?”
Perguntou Bárbara para Brodwilf ao notar sua frustração, gradualmente também começando a ficar preocupada.
“É a névoa traiçoeira.”
Respondeu Brodwilf.
“Névoa da lamentação?”
Perguntou Bárbara com preocupação.
“…”
Ken, que permanecia em silêncio, olhou para Brodwilf com curiosidade. Afinal, mesmo que ele soubesse de muitas coisas, ainda existem coisas que ele não sabe.
“A névoa traiçoeira é um dos fenômenos mais misteriosos do Pântano de Mykvath. Quando ela aparece, afeta todos os seus sentidos de uma pessoa, como o cheiro, o som e até o que você vê ao redor podem não ser o que realmente está sendo demonstrado.”
Depois que falou isso, ele olhou ao redor e continuou.
“Neste momento, já não podemos confiar em nossos sentidos, porque tudo o que nossos sentidos estarão recebendo ao redor serão informações falsas que vão constantemente mudando, e por causa disso também perdi a direção do nosso caminho.”
O tom de voz de Brodwilf era um pouco calmo, mas também não conseguia esconder o leve tom de desespero.
Assim como Brodwilf havia dito, os sons, o cheiro e até as coisas que viam mudavam constantemente. Uma árvore que aos poucos estava na frente deles, depois de quase um minuto mudou e apareceram mais cinco árvores.
Os sons que ouviam também variavam, um minuto era o som de folhas de árvores e relva balançando, em outro momento eram sons de choro e depois de arranhões e em outro momento sussurros horripilantes, e esses sons vão mudando constantemente.
“…E se eu usar radar de aura?”
Perguntou Bárbara em um tom de nervosismo.
“Não adianta.”
Negou Brodwilf, e continuou.
“A névoa também afeta a aura. Você pode tentar, mas já vou dizendo que não vai funcionar.”
“…”
Bárbara podia ver a sinceridade nos olhos de Brodwilf, mas mesmo assim, ela ainda queria tentar.
Então, mantendo uma postura ereta e fechando os olhos, Bárbara ativou.
[Radar de aura.]
Imediatamente sua aura se espalhou pelo chão através dos pés, conectando-se a tudo ao redor, insetos que rastejam no chão, as pedras, relva, água, troncos de árvores e até as folhas, e as informações voltavam para sua mente.
“!”
Mas o rosto de Bárbara franziu em descrença.
Embora estivesse realmente sentindo as coisas ao redor, ela não conseguia distinguir de onde essas informações verdadeiramente vinham ou estavam, elas estavam emaranhadas como uma bola de fios.
“Ugh!”
Sem conseguir suportar estas informações emaranhadas que estava recebendo, Bárbara caiu de joelho no chão, sentindo sua cabeça dor e uma tontura a dominando.
“Bárbara!”
“Você está bem!?”
Vendo isso, suas companheiras se aproximaram dela e a ajudaram a se levantar.
“Sim, estou bem, estou apenas um pouco tonta.”
Disse Bárbara tentando parecer despreocupada, mas não conseguindo esconder sua pele que estava ligeiramente pálida.
Porque ela realmente percebeu que, mesmo com o radar de aura, ela não conseguia encontrar o caminho certo. O lugar onde ela sentia que tinha uma pedra de repente surgiu uma árvore, depois arbustos, e no momento seguinte um lago.
Juntamente com outros lugares onde as informações nunca eram precisas, deixaram-na completamente tonta, pois sua mente não era capaz o suficiente para receber estes tipos de informações.
Agora entendendo a realidade da situação, ela olhou para Brodwilf, e procurou com hesitação.
“O que fazemos agora?”
“…”
Diante da pergunta de Bárbara, Brodwilf não sabia o que responder. Na verdade, seu rosto apenas parecia mais nervoso.
“Sinceramente, não sei.”
Respondeu ele, não querendo esconder sua impotência. Mas logo seu rosto ficou ainda mais sério.
“Na verdade, isto nem é a pior parte da névoa.”
Disse ele.
“Nãaaaaaao!!!”
“Socorrooo!!”
“Mamãe!!”
“Por favor! Não me leve!”
“!?”
“!?”
Foi então que de repente alguns guerreiros começaram a gritar histericamente. Alguns até abraçavam a cabeça com força e caíam de joelhos no chão, como se estivessem desesperados, alguns apenas choravam como se fossem crianças.
“…O que está acontecendo?…”
Perguntou Bárbara olhando ao redor com perplexidade.
Ela não podia acreditar que seus guerreiros e companheiros, que eram conhecidos pelas suas bravuras e grande força de vontade, estivessem gritando e chorando de horror.
Eles não pareciam ter nenhum ferimento no corpo ou alguma coisa, simplesmente começaram a gritar e chorar, deixando também outros guerreiros confusos.
“Esta é uma travessuras desta névoa.”
Disse Brodwilf.
“Outra?…”
Bárbara, confusa, perguntou.
“Para além de confundir os sentidos, ela também afeta a percepção das pessoas, criando ilusões em sua mente de seus momentos mais traumáticos ou do seu pior medo. Mesmo pessoas com forte força de vontade são afetadas por elas. Alguns até começam a ver criaturas horrendas tão feias quanto o inferno. Se o estímulo for demasiado pode até chegar a matar.”
Depois de explicar, Brodwilf fez uma pausa antes de continuar com um tom de voz mais sério.
“Por isso é chamado de névoa traiçoeira.”
“…”
Por algum motivo, Bárbara sentiu-se arrepiada pelas últimas palavras de Brodwilf. Foi como se ela realmente entendesse que não tinham como escapar desta névoa.
Eles estavam presos.
O medo e a insegurança tomavam conta de todos aqueles que ainda estavam com a consciência ativa, arrependendo-se de terem escolhido atravessar este pântano pecaminoso.
§§§§
“…”
Ken observava em silêncio o desenrolar da situação. Assim como Brodwilf havia dito, a névoa parece desorientar seus sentidos, e para alguém com os sentidos extremamente apurados, Ken sentia que estava sendo bombardeado por inúmeras informações ao redor que não paravam de trocar automaticamente.
Mas embora pudessem enganar ligeiramente seus olhos, não podiam enganar seus ouvidos e nariz. Então, controlando a troca de informações em seus olhos, Ken rapidamente conseguiu achar a saída.
Ele agradeceu a sua habilidade anti propriedades que também parecia conseguir refletir os fenômenos traiçoeiros desta névoa.
Curioso, Ken olhou para Crystalline e perguntou.
“Como você está se sentindo?”
Crystalline, que sentava no banco de condução da carruagem, virou a cabeça, olhou para Ken com seus olhos afiados e ergueu os lábios em um leve sorriso orgulhoso antes de responder.
“O que você acha?”
Disse ela, respondendo a pergunta de Ken com uma outra pergunta.
“Como imaginei, isto não te afetou nenhum pouco.”
Disse Ken.
“Claro, você acha que uma brincadeira dessas seria suficiente para me perturbar? Embora devo admitir que meus sentidos estão realmente sendo afetados, mas não é como se fosse impossível escapar disso.”
Disse Crystalline com orgulho.
“Então você encontrou o caminho?”
Perguntou Ken.
“Claro, usei radar de aura enquanto todos estavam distraídos. Não é nada complicado.”
Ken queria refutar, dizendo que Bárbara não havia conseguido descobrir o caminho mesmo usando radar de aura, assim como Brodwilf havia dito.
“…”
Mas aí ele se lembrou que Crystalline não só tinha uma aura de seis estrelas, como também sua mente funcionava de maneira diferente das pessoas comuns. Então, não é impossível que ela tenha encontrado o caminho, na verdade, deve ter sido algo bastante fácil para ela.
Com isto em mente, a atenção de Ken se voltou para os guerreiros ao redor que começavam a ficar com o rosto desesperados enquanto outros gritavam e choravam.
Depois, ele começou a olhar ao redor.
“?”
Foi então que Ken se apercebeu de algo que chamou sua atenção.
A névoa que se espalhava ao redor parecia sair de buracos de alguns troncos de árvores secas e de aparência medonha, e estas árvores estavam espalhadas ao redor deles, como se fosse uma cerca.
“Estas árvores ganharam esta mutação por causa do excesso de mana impura, e para poderem se manter vivas, elas expelem esta mana em forma de nevoeiro, causando alucinações e perda de direção para qualquer um que estiver dentro dela.”
Disse Crystalline, percebendo os pensamentos de Ken.
“…Entendo.”
Respondeu Ken de maneira indiferente.
Depois disso, ele começou a andar na direção onde estavam os principais líderes desta expedição.
“Eu sei o caminho.”
“?”
“?”
Após dizer estas palavras, e ouvindo a voz familiar, o olhar de Bárbara, Brodwilf, Érika e até Corgard seguiram a direção da origem da voz, vendo Ken que se aproximava deles com passos firmes e expressão calma, revelando que não estava sendo afetado nem um pouco pela névoa.
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