Capítulo 73: O regresso de Ken
Depois de o juiz da morte ter deixado mais uma das filiais do culto demoníaco devastada, agora se encontrava andando no interior de uma escura e vasta floresta.
Quando ele deixou o esconderijo, o sol ainda brilhava no alto céu, mas agora eram o brilho dos luares se revelando.
Com a noite caída e as estrelas cintilando no céu, a floresta tornou-se ainda mais escura, escondendo o vestígio de toda presença hostil que ela habitava.
“Huf…huf…”
O juiz da morte andava com passos fracos parecendo cansado, e a terra húmida da floresta não facilitava.
“Cof!…cof, cof.”
Ele de repente começou a tossir e caiu de joelhos no chão. Pegando a máscara de seu rosto ele a puxou bruscamente e o jogou para longe, com o capuz saindo também de sua cabeça.
Um belo cabelo bagunçado, mas branco com um brilho platinado e amarrado em um rabo de cavalo foi revelado, com um rosto pálido quase acinzentado. A íris de seu olho direito era escura como a meia noite e a área de seu olho esquerdo estava tapado por um tapa olho.
Embora sua pele estivesse diferente do normal, a pessoa era o Ken.
“Chough! Cough!…”
Ele continuou a tossir e desta vez uma grande quantidade de sangue negro saltou de sua boca.
‘Merda!…meu interior está queimando!…’
Com o rosto retorcido em dor, Ken pegou sua barriga, na direção do umbigo e o apertou com força. Sua mão estava escura não porque estava usado uma luva, mas porque sua pele ficou toda preta pelo uso constante do raio negro.
‘Ao utilizar o raio negro na luta contra o culto demoníaco, todo meu interior começou a deteriorar e minha pele ficou mais cinza. Devo estabilizar a energia vital para eliminar a energia da morte que ainda percorre em minhas veias.’
Com esses pensamentos, Ken sentou no chão e cruzou as pernas, em seguida, regulou sua respiração em um padrão, e depois juntou as mãos juntando também os dedos indicadores e médios levantados.
(Rin.)
Seu centro de energia vital se abriu com este sinal de mão. Depois de um tempo nesta posição, começou a executar outros sinais de mãos.
(To, Pyo, Kai.)
‘Não posso circular livremente a energia vital assim como as pessoas circulam a mana, tudo por causa do emblema amaldiçoado. Mas isto se tornou possível com o método de circulação que aprendi do clã Wolff, que envolve sinais com as mãos que são chamados de ‘selos de mão’.’
Selos de mão, uma técnica que Ken aprendeu em um certo clã conhecido como clã Wolff. Ela envolve sinais de mão que forçam a circulação da energia vital nos meridianos.
Ken utilizou destes selos de mão para circular a energia da morte através dos meridianos até os dedos da mão e então utilizar o raio negro, porque caso ele utilizasse no corpo todo, toda sua roupa iria se desintegrar.
Também era graças a estes selos que Ken conseguia se mover de maneira mais ágil sem precisar de utilizar o raio branco.
Existem nove selos de mão que são: Rin, Pyo, To, Sha, Kai, Jin, Retsu, Zai, Zen.
Ao fazer combinações de selos você consegue criar uma técnica, por exemplo: a combinação (To, Pyo, Kai.) que Ken acabou de utilizar é a técnica de abertura, que abre o centro de energia vital.
Elas devem ser elaboradas em um determinado tempo, em conjunto com uma técnica de respiração.
Depois de um tempo Ken fez outra combinação.
(Pyo, Zai, Rin.) Técnica de circulação.
Ao executar esta técnica sua energia vital começou a circular através dos seus meridianos, eliminando o que ainda restava da energia da morte que em seu corpo. Vapor branco começou a sair de seu corpo, saindo com ainda mais intensidade de suas mãos que estavam mais pretas.
Mas foi então que seu emblema de repente começou a brilhar.
“Hm…”
O emblema se ativou porque Ken estava começando a circular sua energia. Mas como estava circulando através dos selos de mão, e que um dos doze selos do emblema amaldiçoado havia sido desbloqueado pelo Fenrir, não estava causando-lhe tanta dor.
O que realmente o estava incomodando era a luta que estava acontecendo da energia vital tentando eliminar a energia da morte. Era como jogar água em óleo fervente, causando-lhe uma dor terrível.
Mas depois de ter passado por tantas provações dolorosas de quase morte, era uma dor suportável para ele.
Depois de um tempo circulando a energia vital, os resultados começaram finalmente a aparecer. Com a redução do vapor saindo de seu corpo, sua pele começou a retornar no seu habitual branco como papel, até que toda a energia da morte havia sido totalmente eliminada de seu corpo.
“Huu…”
Ken soltou um suspiro de alívio e frustração ao sentir seu corpo voltar ao normal e pelo sofrimento que teve que passar ao longo do tempo. Talvez fosse por causa do pecado da ira, mas Ken estava se sentindo irritado.
‘Vamos nos acalmar. Primeiro eu devo me livrar desse cheiro horrível que está no meu corpo, mas como?…’
*Chuash…*
“?”
Foi então que Ken ouviu um som suave e familiar vindo de longe que chamou sua atenção. Embora já tivesse ideia do que era, Ken decidiu cheirar o ar para confirmar.
“Snif.”
Depois da técnica de reconstrução corporal, todos seus sentidos agora estavam em um nível bastante elevado, como sua audição e olfato.
Então não demorou muito para Ken chegar em uma conclusão.
“Tem um riacho aqui perto.”
O que Ken captou com sua audição era o som da correnteza do riacho e de seu cheiro fresco pairado no ar.
Então, tendo descoberto o que era, Ken levantou-se do chão e começou a seguir o som do riacho. Depois de muitos minutos atravessando algumas árvores e arbustos, finalmente havia chegado no seu destino.
Havia um longo riacho que dividia dois lados da floresta, sua água era cristalina e como não havia rochas sobre a superfície, indicava que ela era um pouco funda.
O brilho dos luares batendo sobre superfície da água cristalina do riacho criava uma bela harmonia parecendo um arco íris de três cores, tornando-a tão mágica quanto um mundo de fantasia.
Ken olhou ao redor procurando por algo, até que encontrou um tronco de árvore seco estendido no chão, não muito longe dele.
Ele se aproximou do tronco e depois começou a despir-se. Primeiro tirou as correntes que eram negros como obsidiana, elas estavam presas em anéis, cada anel em um de seus dez dedos, tirou-os e os pousou no chão.
Depois então começou a tirara cada peça de sua roupa. Após tirar toda a roupa e estar completamente nu, pousou-as por cima do tronco.
Ao longo do tempo seu corpo havia ficado ainda mais tonificado, braços firmes e musculados, grandes peitorais e abdominais bastante formados. Mas mesmo o tempo não havia conseguido apagar completamente todos os vestígios de tortura e cortes que seu corpo havia sofrido ao longo do tempo enquanto ainda estava na toca do inferno.
Duas braçadeiras de metal que cobriam quase todo seus antebraços também foram revelados após ter tirado sua roupa, que também os retirou e os pousou no chão.
Depois de ter tirado tudo, começou a vasculhar nos bolsos do manto até encontrar um aparelho mecânico de forma circular com um botão no centro e o colocou por cima das roupas.
‘…. Me esqueci.’
Tendo se lembrado de algo, Ken puxou o tapa-olho de seu rosto, revelando uma cicatriz que atravessava o olho até o nariz, e por último, puxou a fita que amarrava seu cabelo em um rabo de cavalo, que caiu sobre seus ombros como cachoeira.
Após colocar o tapa-olho e o lenço onde estavam outras roupas, Ken apertou no botão do dispositivo.
Dando alguns passos para trás, gravuras mágicas brilhantes começaram a sair do aparelho e começaram a girar em torno das roupas.
Depois de dar uma última olhada, Ken se virou e começou a andar até o riacho. Andando lentamente pela borda seu corpo começou a mergulhar até estar completamente submerso na água.
Depois de um tempo ele emergiu, fazendo a água fresca escorrer sobre seu corpo, e puxou o cabelo encharcado de água para trás.
“…”
Ficando parado por um momento, Ken começou a olhar para seu rosto refletido sobre a água. Ele podia ver seu rosto, que não havia mudado muito, mas não conseguia mais se reconhecer. Depois abriu seu olho esquerdo revelando a iris branca que perdeu a visão.
‘Já faz um ano desde que escapei da toca do inferno. Muita coisa aconteceu desde então.’
Memórias daquele tempo começaram a passar em sua mente. Depois de ter escapado da toca do inferno, Ken ficou vagando sem rumo no deserto de neve durante dias sem comer ou beber nada enquanto também enfrentava as nevascas das noites frias.
Graças a reconstrução corporal, Ken conseguiu resistir firmemente ao frio, mas estava sendo derrotado pela falta de comida e bebida.
Mas antes de perder a consciência, Ken havia encontrado um grupo de pessoas que o acolheram após verem seu estado patético.
Aquele grupo de pessoas eram remanescentes de um antigo clã que havia caído a vários cinco anos. O clã Wolff.
Também conhecidos como lobos azuis, o clã Wolff se encontrava localizado na ilha conhecida como ilha da nevasca, que faz parte do território de Vinland.
Era um clã que surgiu ao eliminar os monstros que habitavam naquela ilha durante gerações. Eles tinham suas próprias artes de espada e técnicas secretas que desenvolveram ao longo dos anos, e também eram especializados em assassinato.
Ken havia aprendido muito com eles, principalmente sobre as técnicas de assassinato que utilizou contra os membros do culto demoníaco e os selos de mãos que o permitiu circular a energia vital em seus meridianos, o que o fortaleceu ainda mais.
Ken ficou por apenas um mês, mas havia conseguido aprender todo o essencial graças ao raio branco.
Mas foi então que as coisas começaram a mudar quando Ken descobriu que o culto demoníaco eram os verdadeiros culpados pela queda do clã Wolff. Sendo inundado pelo forte desejo de vingança dos antigos portadores do emblema, e de seu próprio desejo de buscar vingança pelo clã Wolff, Ken iniciou sua caçada aos membros do culto.
Começando pela ilha da nevasca, Ken navegou até o centro de Vinland, onde continuou sua caçada.
Através das memórias dos antigos portadores do emblema, Ken sabia da localização dos esconderijos do culto, e daqueles que não sabia, torturava por informações ou perseguia aqueles que fugiam como um predador atrás de sua presa.
Várias vítimas, pessoas de diversas idades e géneros eram encontrados em cada esconderijo que encontrava, até chegar ao ponto em que Ken foi obrigado a enviar cartas para a capital do reino, onde o conteúdo continha a localização dos esconderijos que ele caçava.
Às vezes ele era emboscado pelos membros do culto enquanto dormia na floresta, outras vezes era pego em armadilhas que poderiam custar sua vida.
Mas Ken conseguiu sobreviver a tudo isso, fortalecendo-se através das experiências que obtinha, tanto mental quanto fisicamente.
Então no final não foram apenas onze filiais do culto demoníaco que Ken havia encontrado, elas chegavam aos vinte.
A roupa preta e a máscara com bico de corvo que Ken usava era para se esconder do apocalipse enquanto utilizava o raio negro. Como o raio negro é uma técnica que criou ao utilizar a energia da morte, temia ser encontrado por eles caso revelasse sua verdadeira identidade.
Ken queria conhecer mais deste poder e aprender a controlá-lo, e nada mais prático aprender a utilizá-lo enquanto caçava os membros do culto demoníaco.
Durante este tempo Ken também procurava informações sobre esta organização, mas eles eram como fantasmas. Porque embora soubesse que ela existisse, não havia nada sobre eles. Mesmo o culto demoníaco desconhecia esta organização.
“…”
Ken continuou a lavar seu corpo esfregando-a com suas mãos, a sujeira era eliminada e o sangue das inúmeras batalhas que se acumularam em seu corpo começaram a cair sobre a água cristalina, manchando-a com vermelho ardente.
Em pouco tempo o riacho antes pura e cristalina agora estava toda cheia de sangue. Centenas de corpos de pessoas mortas começaram a surgir da água, flutuando até a superfície.
“…?”
Ken fechou seus olhos e seu corpo começou a afundar lentamente neste mar de sangue até estar completamente submerso. Um tempo se passou assim, até que começou a emergir. Quando voltou a abrir os olhos, o sangue e os corpos que enchiam o riacho haviam desaparecido, voltando a ser a água cristalina que refletia a cor das luas.
“…”
Como se fosse algo normal de seu cotidiano, Ken decidiu se virar e sair do riacho como se nada tivesse acontecido. Gotas de água caíam de sua pele enquanto puxava de volta seu cabelo para trás.
Chegando até o tronco de arvore onde estavam suas roupas, Ken franziu a testa parecendo incomodado.
“…. Ainda cheira.”
Suas roupas ainda cheiravam mal.
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