Índice de Capítulo

    Três carruagens partiam para a cidade de Cristenold, suas enormes rodas de madeira rolando pela estrada difícil, fazendo as carruagens que transportavam mercadorias balançarem.

    As três carruagens tinham coberturas de lona e outra de couro, para proteger as pessoas e as mercadorias de intempéries.

    (Nota: As intempéries referem-se às condições climáticas adversas, como chuvas fortes, ventos intensos, neve, tempestades ou calor extremo, que podem causar danos ou dificuldades.)

    Erik era um comerciante que havia começado seu negócio há não muito tempo, portanto não era muito conhecido. Mas mesmo como alguém novo na área, em pouco tempo ele já havia acumulado uma boa quantia de dinheiro, utilizando seus conhecimentos acumulados e talento em comércio.

    Então, sabendo que estava sendo reconhecido aos poucos, e destinado em proteger suas mercadorias, ele fez um pedido a guilda de aventureiros, onde quatro aventureiros se disponibilizaram como escoltas.

    Eram três jovens aventureiros de rank E, e um adulto supervisor de rank C.

    O aventureiro rank C, Einard, era como um clássico Vinlandese, com barbas longas e cabelos caídos, parecendo um bárbaro.

    Ele estava na segunda carruagem, a do meio, sentado junto do comerciante na boleia, onde o comerciante conduzia a carruagem. Onde também as mercadorias mais importantes eram carregadas.

    A carruagem da frente, a primeira, era conduzida por um homem. A carroça não transportava mercadorias importantes, mas ele carregava sua família, sua esposa e filha de seis anos, e algumas de suas próprias mercadorias. 

    Uma jovem maga sentava na parte da carroça com a esposa e filha, segurando um cajado de madeira. Seu nome era Liv.

    Já na última carruagem era conduzida pelo filho do comerciante, Joseph. Ele também carregava umas das mercadorias mais importantes. Um jovem sentava na boleia com Joseph. Ele era um espadachim, e seu nome era Richard.

    Havia também uma jovem arqueira que sentava na carroça, que não parava de olhar para o canto da carroça, mais especificamente para alguém, que era o Ken. Seu nome era Mina.

    Já fazia horas desde que partiram da cidade, e ele ainda continuava encostado e dormindo no canto da carroça, sem falar com ninguém ou se mexer, apenas dormindo.

    O jovem espadachim ficou observando Ken por trás por um tempo, depois se virou para o Joseph e perguntou com curiosidade.

    “Quem é ele?”

    “Hm? Ah, ele? Meu pai disse que era um convidado especial, então estamos dando uma boleia para ele.”

    Respondeu Joseph, percebendo que ele estava falando de Ken.

    “…Importante?”

    A palavra importante parecia tê-lo deixado um pouco incomodado.

    “Vocês têm certeza de que podem levar uma pessoa estranha com vocês? Sinceramente, ele me parece um pouco…sabe, suspeito.”

    O aventureiro então decidiu falar sobre sua desconfiança de Ken, mas Joseph respondeu com calma.

    “Como eu disse, meu pai falou que era um convidado importante e que deveríamos tratá-lo com respeito. Então não precisas te preocupar.”

    “…Você realmente confia no seu pai, não é mesmo?”

    “Claro! Afinal, ele tem o nariz do ouro!”

    Foi então que Joseph olhou para Joseph e falou com empolgação.

    “Nariz de ouro?”

    “Sim! Meu pai nunca toma decisões que poderiam colocar seu comércio em risco! Por alguma razão suas decisões sempre o levaram ao caminho do dinheiro, dizendo que apenas seguia o cheiro do dinheiro! Por isso é chamado de o nariz de ouro.”

    Os olhos de Joseph brilhavam no momento em que falava sobre seu pai.

    “Por exemplo, porque você acha que estamos ajudando aquela família da primeira carruagem a se mudar?”

    “…”

    O aventureiro parecia não saber a resposta da pergunta, que Joseph respondeu animadamente.

    “Não é apenas uma obra de boa caridade, meu pai simplesmente sentiu o cheiro de dinheiro com esta oportunidade. Como um novo comerciante, ele não apenas quer vender mercadorias, mas também está pensando em abrir uma agência de viagem, onde plebeus poderão pagar por suas viagens na cidade em que quiserem. Então, ao invés de carregar outras mercadorias, ajudar aquela família que pagou uma quantia considerável, seria um bom começo para o negócio!”

    ­- Ohoho, parece que meu filho está muito animado revelando os planos de seu pai aqui.”

    “Ack!…”

    Foi então que a voz do pai saiu através de um dispositivo que cabia na palma de sua mão, que rapidamente o retirou do bolso.

    “D-desculpa pai! Fiquei muito empolgado…”

    – Não te esqueças filho, um bom comerciante nunca revela os planos de seu negócio para ninguém, não importa o quão ignorante sobre negócios for a pessoa com quem você se comunica. Você deve saber conseguir controlar suas emoções.

    O dispositivo que estava utilizando era um dispositivo mágico de transmissão de voz. Era um dispositivo bastante caro, mas o comerciante decidiu arriscar porque o preço compensa os benefícios.

    “…Manterei em mente, pai.”

    – Bom saber, ande com segurança.

    Com isso, o pai encerrou a ligação e Joseph voltou o dispositivo em seu bolso.

    “Aha, parece que me empolguei demais.”

    Disse Joseph, coçando a cabeça e rindo sem jeito.

    “Como ele percebeu que você estava falando?”

    “…Acontece que esqueci de desligar meu aparelho, então ele deve ter ouvido a conversa, que vergonha, agora ele não vai parar de encher minha cara com isso.”

    Joseph parecia envergonhado pela sua estupidez, mas então falou para Richard.

    “De qualquer forma, acredito que deve ter uma boa razão para meu pai ter deixado ele entrar a bordo conosco, então você não precisa se preocupar muito com isso.”

    “…”

    Mesmo com a revelação de Joseph, o aventureiro ainda não parecia muito convencido, então se virou para encarar mais uma vez Ken que dormia atrás da carroça.

    “Mesmo assim, ficarei de olho nele.”

    Depois de dizer estas palavras, ele voltou sua atenção na frente.

    Mas o que todos não sabiam, era que Ken podia ouvi-los o tempo todo.

    §§§§

    “Ohoho, meu filho é um fofo, não é mesmo? E pensar que ele me consideraria tanto.”

    O comerciante parecia feliz. Como alguns pais e filhos, eles tinham alguns problemas de proximidade, e até Erik se perguntava se o filho estava descontente com ele.

    Mas graças à conversa que ouviu de seu filho, percebeu que não havia nada com o que se preocupar.

    “Mas o Richard também não deixa de ter razão.”

    Foi então que Einard, o aventureiro de rank D, falou.

    “Hm?  O que você quer dizer?”

    Erik perguntou parecendo um pouco confuso.

    “Sobre trazer uma pessoa estranha connosco. Eu sei que você não traria ninguém perigoso de propósito ou colocaria seu filho em perigo. Mas é bastante imprudente andar com alguém que não conhecemos.”

    “…Eu entendo suas preocupações, meu amigo.”

    As preocupações de Einard eram plausíveis, trazer uma pessoa a bordo sem saber de suas verdadeiras intenções poderia ser uma faca de dois gumes.

    “Mas…”

    Mas então a boca do comerciante se abriu em um sorriso.

    “Eu simplesmente não posso evitar quando meu nariz começa a coçar quando uma oportunidade aparece na minha frente.”

    “É esta coisa de nariz de ouro, certo? Então você está dizendo que aquele homem é uma oportunidade?”

    Em vez de responder, o comerciante voltou sua atenção para frente.

    “Apenas o tempo me dirá. Mas, sinceramente, minhas expectativas estão altas.”

    “…”

    Einard e Erik são grandes amigos. Na verdade Erik trabalhava como funcionário na guilda dos aventureiros, onde os dois viraram grandes amigos por causa dos conselhos que Erik fornecia para Einard que começou a vendê-los o dobro do dinheiro que ganhava em suas aventuras.

    Até que Erik decidiu se demitir da guilda e se transformar em um comerciante, ao se aperceber que estava desperdiçando seu talento, que era o comércio.

    “Bom, como sempre, apenas confiarei em você, meu amigo.”

    Disse Einard.

    “Ohoho, obrigado pela sua consideração.”

    Com os assuntos resolvidos, eles continuaram andando calmamente pela estrada.

    “…A carruagem balança muito.”

    Embora a carruagem balança fortemente por causa da estrada.

    §§§§

    A primeira noite desde que partiram da cidade já havia chegado, e as luas que deveriam cintilar no alto no céu estavam sendo cobertas por nuvens da noite.

    Após encontrarem um lugar espaçoso no interior da floresta, acenderam uma fogueira e todos se posicionaram ao redor dela, sentados em pedras e outros em troncos secos de árvores.

    Uma enorme panela foi colocada por cima da fogueira, onde cozinhavam um ensopado de carne de coelho com cogumelos.

    As carruagens estavam enfileiradas não muito longe deles, e os cavalos descansavam, com suas cordas amarradas nas árvores.

    “Está quase pronto.”

    A mulher da primeira carruagem é quem preparava a comida, mexendo delicadamente o guisado com uma longa colher de madeira.

    O cheiro apetitoso do coelho sendo cozinhado fazia consigo no nariz das pessoas ao redor da fogueira, deixando-os ansiosos com as tigelas de madeira em seus colos.

    Normalmente seria perigoso cozinhar algo com cheiro forte na floresta, porque havia o risco de atrair animais selvagens ou até mesmo monstros por causa dela.

    Mas o comerciante já experiente, comprou um dispositivo mágico que impedia o cheiro de se espalhar, circulando apenas ao redor deles.

    “Pronto.”

    Depois de mais algumas mexidas, ela finalmente pronunciou a palavra mágica. O guisado estava pronto.

    Imediatamente todos empurraram suas tigelas com os olhos ansiosos.

    “Ahaha, não precisam ficar tão ansiosos, tem para todos.”

    Mergulhando a colher no guisado, a mulher foi servindo nas tigelas de cada um. Aqueles já servidos não esperaram mais e começaram a comer, mergulhando suas pequenas colheres no guisado e empurrando na boca.

    “Nhum…que delicia.”

    A arqueira do grupo, Mina, encheu suas bochechas de guisado, parecendo satisfeita pelo seu sabor.

    “Mina, você parece um esquilo desse jeito.”

    Sua amiga, Liv, a maga do grupo brincou com ela.

    “N-não diga isho! Tá gostojo!”

    “Primeiro termine de armazenar a comida, depois fala, Mina esquila.”

    “Liv!”

    “Ahahaha.”

    “Ahahaha.”

    As pessoas ao redor começaram a rir ao ver a engraçada interação das duas. Depois disso a conversa foi fluindo naturalmente, cada um falando sobre coisas aleatórias de suas vidas.

    “Por falar nisso, e o nosso convidado?”

    Foi então que o comerciante perguntou sobre o Ken, ao se aperceber que até agora ele ainda não estava entre eles.

    “Gulp, ele ainda continua dormindo.”

    Respondeu a Mina, depois de engolir a comida na boca.

    “Ainda?”

    Comentou Einard.

    Enquanto todos estavam se preparando para acampar quando a noite caiu, Ken foi o único que não fez nada, ainda dormindo na carroça sem se mexer nem por um momento.

    Por causa disso ele não havia interagido com ninguém, portanto ninguém sabia sobre ele.

    “Devo acordar ele?”

    Perguntou Joseph, se oferecendo para acordar Ken.

    “Não, deixa ele, deve ter suas próprias razões.”

    Disse o comerciante despreocupadamente enquanto enfiava uma colher de ensopado na boca.

    “Ele é apenas um preguiçoso.”

    “?”

    “Hm?”

    Até que alguém disse algo inesperado, fazendo todos se virarem surpresos para ele. A pessoa era Richard, o aventureiro espadachim de rank E.

    “Preguiçoso?”

    Perguntou Joseph, confuso, que Richard respondeu.

    “Sim, um preguiçoso. Desde que partimos da cidade que ele não acorda ou sequer diz alguma coisa. Hmph, estes tipos de pessoas nunca alcançarão nada na vida.”

    “Richard, acho que estás sendo um pouco duro com as palavras…”

    Mina tentou suavizar as coisas percebendo que as palavras de Richard estava tornando o clima tenso, mas…

    “O quê? Você acha que estou mentindo?”

    Richard a cortou no meio das palavras.

    “Não! Não é isso! Apenas…”

    “Mina, por que você está defendendo ele? Por acaso ele fez alguma coisa com você no meio do caminho sem que eu me apercebesse?”

    “O quê? Claro que não-”

    “Então porque você continua a defendê-lo? Por acaso você se apaixonou por ele ou algo assim? Você deve parar de ser tão fácil.”

    “!”

    As últimas palavras de Richard fizeram o coração de Mina apertar, fazendo-a congelar no local sem saber o que fazer ou dizer, envergonhada por causa das palavras ditas na frente de tantas pessoas.

    “Mina, espere, eu não queria…”

    Apercebendo-se de seu erro, Richard tentou se desculpar pelas suas palavras.

    “Com licença…”

    Mas Mina cortou suas palavras, o tom de sua voz triste, depois se levantou e andou apressadamente para longe de todos.

    “…”

    O clima antes agradável agora havia se tornado tenso, causando um silêncio quase ensurdecedor.

    “Idiota.”

    Liv insultou Richard, depois também se levantou.

    “Irei atrás da Mina.”

    Depois de dizer estas palavras ela seguiu Mina pela direção em que havia ido.

    “O que se passa com as duas? Eu estava apenas dizendo a verdade, e elas simplesmente-.”

    “E que verdade seria essa, meu jovem?”

    Foi então que Erik interveio diante da birra de Richard, cortando suas palavras.

    “? O quê?”

    Richard perguntou confuso.

    “Exatamente o que eu disse, como você pode afirmar que o que você disse é verdade?”

    Diante da pergunta de Erik, Richard riu zombeteiramente.

    “Simples, é um fato. Diferentes dos preguiçosos, apenas aqueles que se esforçam no seu dia a dia conseguem alcançar os seus objetivos. E é isto que eu venho fazendo. Para me tornar em um dos melhores aventureiros, e para ser reconhecido por todos, treino todos os dias para me fortalecer e assim alcançar meus sonhos! O esforço sempre supera a preguiça!”

    “Hm…de fato, é um bom argumento, e você realmente tem uma boa ambição.”

    O comerciante elogiou o discurso de Richard, o que o fez se sentir orgulhoso de si mesmo.

    “Mas esta não foi a minha pergunta.”

    Mas então estas palavras saíram nos últimos segundos, tirando o sorriso do rosto de Richard e deixando-o ainda mais confuso.

    “Desculpe?”

    “Como você tem a certeza que o nosso convidado é um preguiçoso?”

    “Quê…é claro, porque ele dorme quase o dia todo-.”

    “E porque você acha que ele está dormindo? Simplesmente porque é preguiçoso? Você o conhece tão bem ao ponto de dizer sobre sua vida?”

    “Isso…Bem…”

    Desta vez Erik ficou sem palavras, sem saber o que responder.

    “Eu normalmente teria ignorado se as coisas tivessem terminado de maneira fácil ou se fosse apenas uma brincadeira, mas vejo que você ainda não se apercebeu de seu erro.”

    Antes de continuar, Erik olhou para Einard em busca de confirmação, se poderia disciplinar seu aventureiro que Einard balançou a cabeça em concordância, 

    Então após obter sua confirmação, Erik voltou seu olhar para Richard.

    “Uma das coisas que aprendi como comerciante é que não podemos tirar conclusões precipitadas apenas com o que nossos olhos vêem no momento. A melhor maneira de saber sobre alguém é com o tempo, quanto mais tempo levar a conhecê-lo, mais certo você estará sobre quem realmente ele é. Graças a isso consegui evitar fornecedores desdenhosos e apertar as mãos dos confiantes, me permitindo elevar meus negócios adiante. O caso de agora não é diferente.”

    Erik tomou um gole de água para molhar sua garganta seca, e depois continuou.

    “Não faz nem um dia desde que você o conheceu, e já determinou que tipo de pessoa ele era. Sem conversas, sem ações, você apenas deduziu que tipo de pessoa ele era ao vê-lo apenas uma vez. Sua amiga ainda tentou alertá-lo sobre isso, mas você simplesmente decidiu insultá-la, achando que estava certo. Isto foi seu segundo erro. Aqueles que não conseguem ouvir os outros e achando que estão sempre certos inevitavelmente cairão em um poço sem fundo, porque estarão afastando coisas importantes ao seu redor. Você entende?”

    “…”

    Quando Erik terminou seu discurso, Richard ficou sem saber o que falar. Ele apenas olhava para o chão, parecendo envergonhado. Mas então seu rosto se contorceu de raiva e ele se levantou abruptamente.

    “Tsk!”

    Estalando a língua em frustração, ele também começou a andar apressadamente para longe, mas assim que chegou onde estavam as garagens, ele franziu a testa em raiva olhando para a carruagem onde Ken dormia, antes de também desaparecer pela floresta.

    Estava óbvio que ele não tinha levado as palavras de Erik tão a sério.

    “Peço desculpas por ele, meu amigo. Ele ainda é uma criança imatura.”

    Einard se virou para Erik e se desculpou pelo comportamento de Richard.

    “Tudo bem.”

    Mas Erik não pareceu se importar muito enquanto continuava a comer seu guisado calmamente. 

    “Mas fique sabendo que se ele não consegue mudar seu comportamento. Apenas desastres cairão sobre sua vida.”

    Disse ele, deixando seu último conselho.

    “…Manterei isso em mente.”

    Que Einard recebeu com prazer.

    Mas uma das coisas que ninguém sabia, era que Ken já não estava na carruagem. Ao invés disso estava sentado nos fortes galhos por cima de uma longa árvore, encostando suas costas no tronco. Mas ainda estava dormindo.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota