Capítulo 83: Porta de cristal.
Em uma vasta floresta coberta de neve, Ken se encontrava correndo em alta velocidade parecendo uma bala, seus longos e poderosos passos faziam a neve saltar alto sempre que seus pés tocavam no chão.
“Huu…”
Vapor branca era exalado de sua boca, fazendo-o parecer uma besta.
Esta floresta em que ele corria pertence ao monte da neve azul, que se estende por cerca de milhares de quilômetros.
‘Meus instintos dizem que é por aqui.’
Decidindo em investigar o estranho sentimento que sentia sempre que via o monte da neve azul, Ken deixou a cidade após sair da estalagem e se aprofundou na floresta.
Mas desde o momento em que entrou na floresta, a estranha sensação de familiaridade que sentia tornou-se mais forte. Então, sendo guiado pelos seus instintos, Ken decidiu correr a toda velocidade
Ele conseguia alcançar esta velocidade sem precisar do raio branco, graças à circulação de energia vital. Mas a pergunta é, como é possível circular a energia vital nos meridianos sem precisar estar executando os selos de mãos, sabendo que era o único método disponível para ele por causa do emblema amaldiçoado?
Bem, tudo isto é graças a técnica chamada de [Respiração do coração da besta], criada pelo clã Wolf, especificamente para evitar executar os selos de mãos em situações em que o corpo precisasse se mover.
Ken também utilizou esta técnica para lutar contra os membros do culto demoníaco, sem precisar utilizar o raio branco ou estar sempre executando os selos de mão.
Primeiramente com a técnica dos selos de mão, a energia vital é movida até os meridianos do coração. O coração, que funciona como uma bomba, circula o sangue junto com a energia vital pelos vasos sanguíneos, distribuindo para o corpo todo.
Então, através de uma técnica de respiração, quando o dióxido de carbono é exalado do sangue para fora, a energia vital também é transferida para os pulmões, e quando inspiramos o ar puro da natureza, ela entra nos pulmões, e junto com o oxigênio a energia vital é purificada e transferida de volta para o sangue, que mais uma vez é circulada pelo corpo todo através do coração.
Com este método, desde que se continue a executar a técnica de respiração, a energia vital é circulada pelo corpo todo sem precisar estar executando os selos de mão. Tornando seu corpo tão forte quanto ativar cerca de 50% do raio branco.
Seu coração bombardeia mais rápido que o normal e seu corpo superaquece por causa da circulação da energia. Então, sempre que Ken exalava, vapor branco saia de sua boca. Mas não era vapor causado pelo frio, mas por causa de seu corpo que fica aquecendo.
O bom desta técnica é que diferente do raio branco, seu tempo de vida não é gasto porque a energia vital permanece dentro do corpo.
Mas isso não quer dizer que os riscos não sejam inexistentes, porque os próprios remanescentes do clã Wolf o alertaram que a circulação da energia vital exigia um controle meticuloso, caso contrário, um mínimo descuido poderia resultar na perda de sua vida.
Mas como estes ferimentos seriam curados graças ao pecado da preguiça, Ken executava a técnica sem preocupações.
“…?”
Mas depois de correr por volta de meia hora, seus instintos de repente o disseram para parar. Então ele pisou com força no chão, arrastando seus pés que empurravam a neve.
“Haa…”
Parando a técnica de respiração, a energia vital também deixou de circular, voltando ao seu centro.
Quando parou de correr, Ken lentamente começou a olhar ao redor. Mas não importava para onde olhasse, todo seu entorno parecia novo para ele, com apenas longas árvores e uma vasta vegetação cobertas de neve.
‘Agora, por onde?’
Mas ele sabia que seria assim, porque estava simplesmente seguindo seus instintos que eram guiados pela sensação de familiaridade que sentia pelo monte, que funcionavam como uma bússola.
‘…Por ali?’
Mas assim que ele olhou pela sua direita, aquela sensação havia voltado à tona, como se estivesse indicando-o para ir por aquele caminho. Então, decidido em seguir seus instintos, Ken começou a andar naquela direção.
Normalmente alguém acharia ridículo ou irracional fazer tanto alvoroço por causa de um estranho sentimento que havia surgido do nada, ainda mais quando a pessoa vem de outro mundo e é sua primeira vez na tal cidade e primeira vez vendo tal montanha.
Então, na maioria das vezes, as pessoas simplesmente teriam ignorado ou nem teriam percebido.
Mas para Ken era diferente, porque desde o momento em que foi invocado para este mundo que as coisas deixaram de ser normais para ele, e tudo se intensificou ainda mais quando foi levado para a toca do inferno.
Encontrar a técnica do raio branco, despertar as memórias dos antigos portadores do emblema, descobrir a verdade sobre o emblema amaldiçoado, a existência dos pecados capitais e a existência do estranho homem que conheceu no mundo das almas.
Tantos acontecimentos que seria ingenuidade considerá-los simples coincidências.
Ken não sabia do porque isto estava acontecendo com ele e o que mais teria que esperar no seu futuro. Mas se de uma coisa ele sabia, era de que não podia simplesmente jogar esses sentimentos para debaixo do tapete.
‘Também foi estranho que desde que fui invocado para este mundo conseguia entender a língua deles.’
Como os discípulos divinos, seus antigos amigos, conseguiam falar a língua, naquela época Ken não havia se aprofundado muito neste assunto.
‘Mas os discípulos divinos conseguiam traduzir as línguas deste mundo graças ao emblema divino deles. Mas a mesma coisa não deveria acontecer comigo, porque tenho o emblema amaldiçoado.’
Normalmente, não era para Ken conhecer a língua do reino de Celestine ou de nenhuma outra. Mas desde que acordou pela primeira vez neste mundo quando ainda estava naquela mansão no reino de Celestine, Ken conseguiu entendê-los e até falar a língua deles. Não apenas de Celestine, mas também de Vinland e de outros reinos.
O motivo de conseguir falar a língua deste mundo poderia ter alguma relação com as memórias dos antigos portadores do emblema, assim como a sensação familiar que sentia por este monte.
Mas então, de repente, Ken parou de andar, parecendo pensativo.
‘E se essa estas coisas não foram causadas pelas memórias dos antigos portadores do emblema, mas causadas por mim mesmo? Se for isso, então esta não seria minha primeira vez neste mundo. Também tem aquele homem no mundo das almas que era parecido com meu pai, e que por algum motivo conhecia minha irmã. É tudo coincidência, ou realmente existe uma verdade obscura por trás de tudo isso?’
Ken então começou a pensar no homem que viu no mundo das almas, em como era suspeito que ele fosse um pouco parecido com seu pai, e que também havia comentado o apelido de sua irmã.
“…”
Ele ficou um tempo contemplando sobre esta teoria na sua cabeça, tentando descobrir alguma verdade sobre ela.
‘Não, isto é impossível.’
Mas assim que não chegou a nada, balançou a cabeça em negação.
‘Seja verdade ou não, não vamos misturar as coisas por agora.’
De momento ele decidiu focar no seu presente, que era desvendar este estranho sentimento que sentia pelo monte.
Depois de um tempo se aprofundando ainda mais pela floresta, seus arredores tornavam-se cada vez mais escuros e o som de seus passos eram cada vez mais abafados pelo som das criaturas da floresta.
“Grrrrrrrr!”
“Garrrrrr!”
“…?”
Foi então que um grupo de lobos apareceram não muito longe a sua frente. Eles eram duas vezes maiores que os lobos comuns, tinham pêlos cinzentos e chifres crescendo no meio da testa.
“…”
Mas Ken simplesmente os ignorou e continuou a andar sem preocupação. Os lobos, por sua vez, começaram a se afastar para os lados à medida que Ken se aproximava, abrindo caminho para ele passar.
“Grrrr…”
“Grrrrr.”
Era como se eles sentissem o quão perigoso Ken era, então estavam determinados a não provocar um conflito desnecessário. Mas também não estavam planejando deixar aquele lugar que parecia ser o território deles, apenas esperando que o convidado indesejado fosse embora.
Ken lançou um olhar neles, que rapidamente se encolheram com os rabos entre as pernas.
‘Lobos de chifre, monstros de rank D, mas podem ser considerados rank C quando estão em grupos.’
Monstros são criaturas que surgiram através da fusão da mana da natureza com a energia demoníaca há cinco mil anos atrás, na era da grande guerra do milênio.
Quando os animais e outras criaturas diversas foram expostas a esta fusão, sofreram mutações diversas, resultando na criação de criaturas abominantes que foram se expandindo ao longo dos anos. Estas criaturas então passaram a ser chamadas de monstros.
Embora eles não fossem mais perigosos que os demônios, ainda representavam um grande perigo para a sociedade. Por isso aventureiros são necessários para continuar caçando essas criaturas, para evitar que elas continuassem se multiplicando.
Mas também não é como se não houvesse benefícios em caçar monstros, porque o núcleo de mana dos monstros, que são chamados de pedras de mana, são bastante valiosos para a criação de itens mágicos ou até equipamentos.
Então, ao caçá-los, os aventureiros podem coletar estas pedras de seus interiores e vendê-las para a guilda. Quanto mais forte o monstro for, mais valioso é sua pedra de mana, porque significa que contêm mais mana.
Quando um monstro tem um chifre, significa que o monstro está mais perto de ser um demônio, o que significa que são as criaturas que mais deveriam ser caçadas.
‘Bem, não é meu trabalho.’
Mas como Ken não era um aventureiro e como simplesmente não estava interessado em caçá-los, decidiu ignorar os lobos de chifre e seguir seu caminho.
Após deixar o território dos lobos de chifre, e depois de passar por uma árvore e empurrar um ramo de folhas a sua frente.
“?”
Ken parece ter finalmente chegado em seu destino.
“Um castelo?”
Não muito longe a sua frente, havia um enorme castelo de pedras já aos pedaços e em decomposição. Ela parecia ter centenas ou milhares de anos.
Nesta parte da floresta a densidade das árvores é maior, então elas o cercaram de todos os lados, e as raízes já dominaram a maior parte do castelo.
Ken franziu ligeiramente a testa, sentindo um desconforto mais forte.
‘Parece o castelo da lenda que ouvi daquela criança.’
Neste momento, Ken se lembrou da lenda que havia ouvido da criança que o havia mostrado uma parte da cidade. Sobre haver um castelo em algum lugar na floresta do monte da neve azul, e que, quem a encontrasse acabava morrendo.
A situação torna-se mais estranha porque Ken não sabia da verdadeira localização do castelo, e que ele apenas conseguiu chegar até aqui apenas seguindo seus instintos.

“…”
Então, se o castelo tinha alguma relação com a sensação familiar que sentia deste monte, só havia uma forma de descobrir.
Decidido, Ken então deixou os arbustos e começou a andar na direção do castelo. Havia uma escadaria, e ele começou a subir, evitando pisar nos degraus com buracos.
Terminando de subir todos os degraus, andou até a entrada do castelo. Mas ao invés de uma porta, a entrada estava destruída e alargada.
Ken também podia ver o interior do castelo, que era um enorme salão. Não era tão escura, porque havia alguns buracos no teto onde a luz de fora atravessava, iluminando algumas partes do interior.
Ken não ligou muito e começou a entrar, descendo por uma pequena escadaria.
As paredes, o teto e o piso estavam todos se decompondo. Pedaços de pedras também estavam espalhados pelo salão, parecendo ser os destroços das paredes e do teto.
Ou seja, o salão não parecia ter nada de importante para apresentar, era uma simples construção que já havia perdido sua glória.
No final do salão, havia uma enorme escadaria que levava até uma plataforma. Se Ken pudesse descrever este salão, diria que seria uma sala do trono.
“?”
Mas enquanto continuava a investigar, Ken notou algo que chamou tremendamente sua atenção.
“Aquilo sempre esteve ali?”
No final do salão à sua esquerda, perto de um pilar, havia uma porta. Mas em contraste com este lugar, a porta era bonita com um belo design, e feita do que pareciam ser cristais de gelo.

Ela não estava ligada em nenhuma parede, estava simplesmente em pé no espaço.
“…”
O suspeito é que Ken sabia que a porta não estava ali antes, era como se ela tivesse surgido do nada enquanto não estava olhando.
Curioso, Ken começou a se aproximar da porta, e quando chegou, começou a olhar ao redor dela, analisando-a.
‘Estranho, ela não emite frio. Isto é realmente feito de gelo?’
Normalmente um gelo emitiria frieza, mas a porta de cristal não parecia emitir isso. Então Ken decidiu investigar mais.
Como estava usando uma luva sem dedos, tocou a porta com seus dedos brancos. E assim como esperava, a porta não parecia emitir frieza.
“Como pensei, isto não é gelo, mas sim um cristal, como uma pedra preci-”
*Flash!*
“Ugh!?”
Antes que pudesse terminar de completar suas palavras, a porta de repente emitiu um forte flash que cobriu todo seu mundo de branco, cegando-o.
Ele rapidamente cobriu o olho com a mão, mas já era tarde.
*Kiiiiiiiii!*
“Ack…!”
Mas no momento seguindo um forte ruído sonora também surgiu da porta, deixando seus ouvidos surdos e fazendo um zumbido inundando sua mente.
‘O que está acontecendo!?’
Ken estava confuso, seu olho e ouvidos foram incapacitados em questões de segundos sem que tivesse a chance de fazer nada.
“!”
Mas foi então que de repente Ken sentiu sua espinha arrepiar e seu corpo gritou por perigo. Então, instintivamente, Ken desviou a cabeça para o lado.
*Vish!*
E o que parecia ser um laser de luz azul atrás dele, passou perto de seu pescoço, fazendo um raspão de leve.
Mas o laser não parou, porque depois de passar perto de seu pescoço, bateu na porta de cristal e foi refletido de volta para seu rosto.
Mas mesmo que ainda estivesse cego e surdo, Ken ainda conseguia sentir o perigo e então inclinou a parte superior de seu corpo para baixo inclinando também a cabeça para baixo, e o laser passou perto de seu rosto.
Ken pousou a mão no chão, e deu um mortal para trás para se posicionar.
‘O que está acontecendo?’
Ken não sabia o que estava acontecendo, porque tudo que estava fazendo era simplesmente confiar em seus instintos.
São nestes momentos em que Ken agradece pelos treinamentos ensinados na toca do inferno. Um dos treinamentos exigia que eles vendessem os olhos enquanto os instrutores se aproximavam furtivamente e os atacavam com espadas de madeira, chegando também a usar espadas de verdade.
O objetivo do treinamento era para que eles conseguissem sentir o perigo sem precisarem confiar na visão ou na audição. Embora a situação atual fosse mais extrema.
Mas depois de executar a técnica de modificação corporal, seus sentidos tornaram-se ainda mais aguçados.
Depois de um tempo, centenas de lasers começaram a cair como chuva de todas as direções, cobrindo todos os seus arredores. Elas eram rápidas e não emitem som algum.
[Raio branco, 10%]
Como não tinha tempo de executar a técnica da [respiração do coração da besta], Ken decidiu ativar 10% do raio branco.
No mesmo instante seu corpo se fortaleceu, e então começou a esquivar de todos os lasers que caiam em sua direção com movimentos acrobáticos.
Eles passavam perto de seu rosto, braços, peitos, pernas e todos os outros lugares. Ken continuou a se esquivar durante um bom tempo, saltando de um lugar para o outro, até que sua visão começou a se recuperar.
Mesmo que tivesse conseguido recuperar um pouco, Ken conseguia ver de onde vinham os ataques.
Embora parecessem invisíveis a olho nu, com sua visão aprimorada pelo raio branco, Ken podia ver alguns espelhos espalhados pelo salão. Elas disparavam e refletiam os lasers, todos tendo Ken como alvo.
Era como se tivessem sido programados para atacar automaticamente quem tocasse na porta.
Frustrado, Ken esticou seus dedos e as correntes negras como obsidiana começaram a sair dos orifícios dos braceletes. O raio branco também penetrou nas correntes aumentando seu poder.
“Vamos acabar com isso!”
Com um balançar das correntes, Ken girou parecendo um vórtice, e os espelhos ao redor começaram a ser destruídos.
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