Capítulo 98: Andarilho da favela. (Parte 2)

De manhã cedo, Ken já estava se preparando para deixar o quarto do bordel, vestido com sua roupa preta e seu cabelo perfeitamente penteado e amarrado em um rabo de cavalo.

Quando chegou até a porta, parou e olhou para trás, na cama do quarto onde três jovens e belas mulheres se encontravam, mas sem nenhum sinal da gerente.

A gerente havia deixado o quarto antes mesmo que as outras cortesãs tivessem entrado. Para preservar sua dignidade e reputação no bordel, ela se recusava a ser vista naquele estado pelas outras cortesãs, por isso que saiu depois de se relacionar com Ken, mesmo que estivesse cansada e suas pernas estivessem fracas.

Depois de olhar na cama, Ken deixou o quarto, desceu pela escadaria até o piso térreo e começou a andar na direção da saída.

“Espera.”

Mas antes que pudesse deixar o bordel, uma voz familiar o chamou por trás, fazendo Ken parar e olhar para trás. Parada no centro do salão do bordel, estava a gerente que se aproximava lentamente até parar de frente a ele.

“Você já vai?”

Perguntou ela com uma voz doce.

“Sim.”

Respondeu Ken, seu tom de voz neutro.

“…Entendo.”

A gerente pareceu desapontada pela indiferença da resposta de Ken e o quão sem emoção parecia enquanto olhava para ela, como se a noite que tiveram noite passada nunca tivesse acontecido. Mas ela não deixou a infelicidade transparecer em seu rosto, e com um sorriso, perguntou.

“Você ainda volta hoje?”

“Provavelmente.”

“Entendo, então estarei ansiosamente te esperando, estimado cliente.”

Disse a gerente com um sorriso.

“Sim.”

Respondeu Ken, e no momento seguinte se virou e começou a andar até a saída.

A gerente assistia às largas e enormes costas de Ken se afastando cada vez mais até deixar o bordel, e mesmo quando saiu, ainda continuou olhando pela porta, como se esperasse que ele fosse voltar a qualquer momento.

“Gerente!”

“?”

Mas foi então que um dos funcionários se aproximou gritando seu nome, fazendo-a voltar à realidade. 

“…O que aconteceu?”

Perguntou à gerente com preocupação, notando o estado desesperado do funcionário e o quanto seu rosto parecia tenso.

“Be-nem, é que…”

O funcionário olhou ao redor como se estivesse preocupado com a presença das pessoas ao redor, depois se aproximou do ouvido da gerente e começou a sussurrar algo que apenas ela podia ouvir.

No meio da conversa, o rosto da gerente começou a ficar pálido como se tivesse visto um fantasma e suas mãos começaram a tremer.

§§§§

Depois de ter deixado o bordel, Ken cobriu seu rosto com capuz e mais uma vez voltou para a favela. Só que desta vez, ao invés de ficar rondando aleatoriamente a favela como um louco, Ken agora andava em uma direção específica, como se tivesse certeza de onde estava indo.

Ele começou a ir na área mais perigosa administrada por bandidos e gangues, onde nenhuma pessoa comum se atreveria a pisar. Os olhares dos bandidos eram feios e hostis, como se fossem saqueá-lo a qualquer momento, mas Ken apenas os ignorava e continuava seguindo seu caminho.

Depois de muito andar, Ken entrou em um beco um pouco estreito cercado por edifícios de pedra que impediam a entrada dos raios do sol, tornando-a escura e sombria.

No fim do beco se encontrava uma suspeita porta de metal que cobria toda a passagem do beco. Quando Ken chegou até lá, levantou a mão e começou a bater.

*Beng! Beng! Beng!*

O som agudo do metal ecoou e o eco intensificou ainda mais o som. Mas mesmo depois de bater e esperar, ninguém apareceu ou responderam, então Ken voltou a bater.

*Beng! Beng! Beng! Beng! Beng!*

Desta vez Ken não estava parando de bater e à medida que passava apenas aumentava a força na batida a ponto que as paredes dos edifícios começarem a tremer. 

“Porra!!! Quem diabos está fazendo tanto barulho!!??”

Foi então que depois de um tempo ouvi-se um grito bastante irritado do outro lado da porta e em seguida uma pequena janela abriu-se, revelando apenas metade do rosto do homem do outro lado.

Ao invés de responder a pergunta do homem que parecia ferver de raiva, Ken perguntou.

“Este é o portão proibido?”

“O quê?…”

Perguntou o homem do outro lado, seu tom de voz parecendo mais irritado do que confuso.

“Olha, não sei que maluco é você, mas te aconselho a ir embora antes que eu te faça se arrepender de me aborrecer!”

“Este é o portão proibido?”

Perguntou Ken mais uma vez, ignorando a frustração do homem do outro lado.

“Huff…Ahaha…”

O homem do outro lado suspirou em frustração, parecendo ter finalmente perdido a paciência, depois começou a rir em um tom de zombaria, depois, olhou diretamente para Ken.

“Parece que você não sabe com quem está se metendo, bem, depois não diz que não te avisei. Rapazes!!”

Depois de lançar algumas palavras ameaçadoras para Ken, o homem gritou alto, e, da única entrada para o beco, um grupo de bandidos armados com diversos tipos de armas começaram a entrar no beco.

“Você deveria ter ido embora quando te dei a chance, agora, você enfrentará as consequências.”

Continuou o homem do outro lado, seus lábios se estreitando em um sorriso à medida que mais homens entravam e cercavam o beco.

“…”

Mas Ken, por sua vez, não teve nenhuma reação e nem sequer se virou, apenas continuando a olhar para o rosto do homem do outro lado. Então, do nada, Ken levantou a mão direita, cerrou se punho e depois.

*Beng!!*

“!”

“!”

Socou a porta de metal com tanta força que as paredes tremeram até rachar e amassou a porta de metal com seu punho, pegando de surpresa todos ao redor.

Mas Ken não parou e, com o punho ainda cerrado, voltou a socar no mesmo lugar.

*BANG!!*

Mas desta vez seu punho não apenas amassou o metal como também o rasgou fazendo seu braço atravessar para o outro lado, em seguida, agarrou o homem do outro lado e o puxou com força. 

Ao contrário de Ken que tinha a pele dura como aço, o mesmo não se podia dizer de uma pessoa comum. Normalmente seria impossível seu corpo atravessar o metal, mas com a força sobre-humana de Ken, seu corpo foi forçado a atravessar, o som de metal rasgando, ossos quebrando e carne sendo arranhada podia ser ouvida enquanto seu corpo criava um espaço no buraco criado pelo punho de Ken até seu copo finalmente sair.

Mas como esperado, seu corpo foi mutilado e estava coberto de sangue enquanto Ken o segurava no ar, onde todos os bandidos conseguiram vê-lo com olhos arregalados.

“Mo-monstro…”

“P*ta que pariu…ele o arrancou da porta de ferro…que força monstruosa!”

Os bandidos que antes entraram com confiança agora olhavam para Ken com puro medo nos olhos.

“Vocês façam o que quiserem, mas eu vou sair daqui!”

“E-eu também!”

“Me esperem!”

Sem perder tempo, todos eles começaram a fugir do beco a toda velocidade com o rabo entre as pernas até não sobrar ninguém, com exceção de Ken.

“O que está acontecendo aqui!?”

Mas do outro lado da porta, que era um corredor, várias pessoas armadas com espadas começaram a se aproximar, provavelmente por causa da comoção que estava acontecendo.

“!?”

Quando chegaram perto da porta, ficaram surpresos ao notarem seu estado atual, mas ficaram ainda mais surpresos quando viram o homem que Ken segurava em sua mão.

“Paul?…”

Embora com o rosto desfigurado e manchado de sangue e com os membros de seu corpo quebrados e torcidos de maneira desagradavel, um dos homens que surgiu pareceu conhecêlo. Seu rosto logo se contorceu de raiva enquanto apertava o cabo de sua espada com força.

“Seu desgraçado! O que você vê com o Paul!? Matem ele!”

Ele gritou em fúria e avançou na frente, seus companheiros o acompanhando por trás com suas armas erguidas.

“!”

Foi então que Ken de repente jogou o corpo morto de suas mãos no homem da frente, o homem estendeu as mãos e o segurou, recuando apenas alguns passos para trás.

“Paul!”

Enquanto o homem estava preocupado com o corpo de Paul, Ken pegou nas bordas do buraco da porta e o puxou, alargando ainda mais a abertura como se estivesse esticando plástico e não metal, e passou, avançando até o homem que segurou o corpo que ele jogou com apenas um passo.

“!”

Antes que ele tivesse tempo de fazer qualquer coisa, Ken pisou com o pé direito no chão inclinando ligeiramente os joelhos e deu uma palmada nas costas do corpo morto de Paul.

“Guack!”

A palma de sua mão penetrou nas costas do homem morto até atingir a barriga do homem que segurava o corpo, mandando seus corpos voarem por trás, foi como assistir um jogo de boliche enquanto seus corpos voam por trás e acertavam seus companheiros que se aproximavam, que também saíram voando como se fossem pinos. 

“Ugh…”

“Ack…”

Quando caíram em baques no chão, todos começaram a gemer de dor sem conseguirem se levantar. Ken começou a andar diante deles ignorando seus estados patéticos, e em segundos chegou no final do beco.

“Morra!”

Escondido na esquina a sua direita depois do beco, surgiu alguém mirando sua espada no pescoço de Ken.

“!”

Mas pela sua surpresa, sua espada foi parada com a mão nua de Ken que segurou a lâmina.

“Mas que…Ugck!?”

Em estado de choque, Ken socou tão rápido seu rosto, o som do crânio quebrando ecoou enquanto ele caía inconsciente no chão, com o rosto coberto de sangue.

Depois de nocauteá-lo, a atenção de Ken voltou a sua frente. O local era um lugar fechado com pouca iluminação, como uma sala de descanso que podia caber cerca de vinte pessoas, e estava cheio de bandidos.

“Morra!”

Alguém saltou em sua direção vindo da esquerda com sua lâmina apontando em seu pescoço, mas Ken simplesmente balançou o braço esquerdo, quebrado os braços do bandido até atingir sua costela, mandando-o voando contra a parede.

“Peguem ele!”

Os outros não perderam tempo e também avançaram, mas Ken foi mais rápido e avançou, derrubando cada um deles com simples movimentos de socos.

Em questão de segundos, todos os bandidos reunidos na sala estavam todos derrubados sem vida no chão. Ken passou por cima deles e andou até a porta de madeira que parecia ser a saída e abriu.

O outro lado era uma área aberta com várias residências feitas de pedras e madeiras, que pareciam mais abrigo do que casas. O teto era coberto por panos amarrados por fios, onde a luz do sol entrava pelas pequenas aberturas criadas pelo espaçamento de um pano para o outro.

“…”

O lugar também estava cheio de bandidos, dezenas, com suas armas apostas após ouvirem o escândalo que aconteceu dentro da sala.

Inicialmente, eles irradiavam uma extrema hostilidade e intenção de matar, prontos para partir para cima de Ken a qualquer momento, mas à medida que passava, esta hostilidade foi se transformando em hesitação e finalmente para medo.

Isto porque eles perceberam que o corpo de Ken irradiava uma vibração estranha que os impedia de se aproximar, como se fossem morrer no momento em que dessem um passo em falso. Na verdade, esta vibração era sua intenção assassina, como os bandidos eram apenas pessoas comuns e não guerreiros, não tinham a capacidade de sentir isso. Mas a intenção assassina de Ken era tão densa que até pessoas comuns como eles conseguiram sentir, mas sem saber o que era de verdade.

“Parece que temos um intruso problemático.”

Foi então que uma pessoa surgiu do nada vindo dos fundos do lugar. Assim como Ken, ele usava um manto escuro mas não estava de capuz, ele era careca com uma tatuagem que cobria quase toda a área de seu rosto esquerdo.

“Lobo branco caolho.”

Terminou ele, parando no meio dos bandidos que estavam a cerca de dez metros de distância de Ken. Sua presença fez com que o nervosismo dos bandidos sumissem.

“O senhor Kandolf está aqui.”

“Ouvi dizer que ele é um usuário de aura.”

“Ahhaha, agora ele está ferrado!”

O medo e a hesitação haviam desaparecido de seus rostos, sendo substituído pela arrogância e a certeza de que agora estavam na vantagem.

Com sua identidade revelada, Ken puxou o capuz revelando seu rosto e uma expressão fria que causou calafrios na espinha dos bandidos.

“Para encontrar um cultista demoníaco em um lugar como este, parece que realmente estou no lugar certo.”

Disse Ken.

O homem chamado Kandolf franziu o cenho após Ken ter pronunciado estas palavras, e os bandidos ao redor começaram a ficar confusos.

“Culto demoníaco?”

“Do que ele está falando?”

A confusão começou a se instalar no grupo, e um deles até se aproximou de Kandolf e perguntou.

“Kandolf, mas que por*a ele quer dizer com culto demonic-”

Mas antes que ele pudesse terminar a pergunta, sua cabeça foi separada de seu corpo em um corte feito por três lâminas que pareciam garras do tamanho de um ante-braço, parecidas com as garras de Wolverine.

As garras pertenciam a Kandolf.