Capítulo 13: Noite de desespero
A criatura, que coçava o olho, finalmente conseguiu tirar a faca que estava cravada nela.
“Ghrrr… Ghaurr!”
A criatura rugiu de ódio, tendo perdido o olho esquerdo por culpa de sua presa.
Logo em seguida ele também subiu pelas escadas, tendo chegado no andar de cima, ele encontrou três portas, duas das quais estavam fechadas, mas uma delas, do lado direito, estava aberta.
“Snif, snif”
Não se deixando enganar pela porta aberta, a criatura começou a usar o seu nariz, procurando pelo Ken, e seu cheiro vinha realmente da porta aberta.
Não tendo perdido mais tempo, a criatura pulou para dentro do quarto aberto e começou a atacar alguma coisa, tecidos de roupa começaram a se espalhar pelo quarto.
*Baque.*
“!?”
Mas de repente, foi surpreendido quando a porta do quarto de onde a criatura se encontrava se fechou misteriosamente.
Do lado de fora do quarto, Ken fechou a porta do quarto, sem a sua camisola, com a parte superior do seu corpo nu coberta por manchas verdes.
§§§§
Como a criatura parecia uma fera, Ken sabia que poderia encontrá-lo não importa em qual quarto se escondesse, por causa do seu cheiro.
Então ele rapidamente retirou a camisola e jogou-o em seu quarto, onde também seus outros odores estavam mais concentrados, esfregou em todo seu corpo as folhas de orquídeas que encontrou na floresta, e entrou no quarto da frente de seu quarto, onde era apenas um depósito. Como o quarto que ficava no final do corredor pertencia ao casal, Ken não queria arriscar entrar lá, onde também tinham odores de pessoas.
E seu plano funcionou, a criatura realmente entrou em seu quarto procurando pelo Ken, foi quando aproveitou.
Ken rapidamente saiu do quarto e fechou a porta de onde a criatura se encontrava. Mas sabia que fechar a porta não seria o suficiente para parar ela. Foi por isso que pegou um dos papéis em que desenhou os círculos mágicos da sua mesa.
Ele rapidamente bateu com o papel na porta.
‘Por favor, funcione!’
Ken tentou transferir o ki da palma das suas mãos para o desenho do papel. Ele sabia que seria impossível transferir o ki para fora do corpo por causa da 4ª proibição do emblema amaldiçoado, de não transferir o ki para fora do corpo.
Mas por alguma razão, tinha uma reação diferente com os desenhos, e era isso que Ken esperava, e pela surpresa dele, realmente funcionou.
O círculo mágico presente no desenho começou a emitir um brilho vermelho, o papel desapareceu e o desenho ficou gravado na porta, logo em seguida, correntes começaram a sair do círculo, cercando a porta, como se pronunciasse que era uma passagem proibida.
O círculo mágico é a forma mais simples para a maioria dos magos manifestarem a magia, diferente dos magos de classe alta que não precisam de círculos mágicos.
O círculo mágico surge depois que o mago pronuncia um certo encantamento, que resulta na sua respectiva magia.
Mas existe uma regra ao desenhar um círculo mágico. Um círculo mágico é formado pelo círculo e pelas gravuras, que são as escritas presentes no círculo. As gravuras são a fonte de manifestação da referida magia, cada gravura manifesta uma magia diferente.
A gravura recebe a mana do respectivo lançador, mas para que a magia seja efetuada com sucesso, é preciso de um caminho, e é aí que entra o círculo.
É necessário que o caminho de onde a mana irá passar seja direta, sem curvas, como um círculo. Se houver uma curva, como um quadrado, haverá um impedimento para a passagem da mana, resultando na falha da manifestação da magia.
Por isso é preciso que o círculo esteja perfeitamente desenhado para que a mana possa fluir tranquilamente para que possa manifestar a magia.
Por isso que o círculo mágico de Ken funcionou perfeitamente.
*Baque* *Bauque*
Sons de batida podiam ser ouvidos do outro lado da porta, parecia que a criatura estava tentando arrombar a porta.
Ken ficou aliviado de que o círculo mágico tenha fortificado ainda mais a porta, mas não sabia o quanto resistiria, afinal, era a primeira vez que utilizava tal magia.
Então se afastou da porta e começou a descer a escada, quando de repente sua visão ficou turva e começou a se sentir tonto.
‘Droga…de novo.’
Ken já sabia o que isso significava, o desenho havia sugado quase toda a sua mana, por isso estava começando a se sentir tonto. Mas Ken suportou a tontura até descer a escadaria.
Chegando no andar de baixo, Ken olhou ao redor, até encontrar um candeeiro por cima de uma banca com um frasco de óleo.
Ken não pensou mais quando pegou o frasco de óleo e o espalhou no chão, depois disso se preparou para jogar também o candeeiro aceso no chão coberto de óleo.
Foi quando notou o corpo de Bertolt e da Senhora Hannah.
Ken começou a ranger os dentes e apertar fortemente os punhos, porque ele tinha que fazer algo imperdoável, apenas para salvar a sua vida.
“Desculpem…mas, eu tenho que fazer isso…desculpem.”
Não só a vida dele estava em perigo, como também das pessoas da vila que moravam por perto. Ken hesitou assim que viu o corpo deles, seus corpos seriam queimados antes de serem enterrados.
Mas tinha que tomar uma decisão. Ken largou o candeeriro.
Assim que o candeeiro tocou no chão, e as faíscas das chamas chegaram no óleo, como um maremoto, as chamas começaram a se espalhar pela casa toda, engolindo tudo que encontravam.
Os corpos do senhor Bertolt e da senhora Hannah também foram engolfados pelas chamas.
Ken suportou a ideia de tentar pegar o corpo deles e correu para fora da casa.
O fogo já estava se propagando até o andar de cima.
“Uoooo!”
Ken podia ouvir o uivar doloroso da criatura de dentro da casa, a esta altura, seria apenas questão de tempo até a criatura ser pega pelas chamas.
Do lado de fora, Ken ficou na estrada enquanto assistia a casa ser envolto em chamas carbonizantes.
Ver a casa onde ele passou a maior parte do tempo desde que foi invocado para este mundo, desaparecendo bem diante dos seus olhos, foi doloroso.
‘Porque tudo está sendo tirado de mim de novo?’
Um sentimento de melancolia tomou conta de Ken, porque pessoas que considerava importantes voltaram a desaparecer.
Depois de quase uma hora, os sons da criatura já não podiam mais ser ouvidos, o que significava que ela havia finalmente morrido.
“Esta não é a casa de Bertolt!? O que está havendo?”
“O que está acontecendo?”
De repente, de um outro lado da estrada, um amontoado de pessoas surgiram, julgando pelas suas roupas maltrapilhos e sem cor, pareciam ser os moradores da vila próxima.
“Fogo? É fogo!”
“A casa de Bertolt está pegando fogo!”
“Rápido, tragam baldes com água!”
As pessoas do vilarejo, atordoadas, começaram a correr até suas casas em busca de água para apagar o fogo.
As pessoas da vila eram gratas ao Bertolt por fornecer medicamentos naturais de graça, por isso quase todos o conheciam e gostavam dele, então quando descobriram que sua casa estava pegando fogo, não hesitaram em tentar apagar.
Um deles notou Ken parado em frente a casa e correu até ele.
“Ei, você está bem? O que foi que aconteceu? Onde estão Bertolt e Hannah!?”
De costas, Ken não respondeu às perguntas do aldeão, o que o irritou. Então ele o pegou no ombro e o virou bruscamente.
“Ei! Eu perguntei oq-!?”
Mas sua expressão azedou na hora assim que encarou os olhos de Ken, um arrepio percorreu sua espinha.
As lágrimas que escorriam no seu rosto haviam secas, mas seus olhos não pareciam transmitir nenhuma emoção, o que chocou o aldeão.
‘O que…se passa com ele?’
Mas antes que ele tivesse a chance de perguntar, a terra começou a tremer levianamente e vários sons de cascos batendo no chão podiam ser ouvidos.
“…O que está havendo?”
Todo mundo foi surpreendido quando notaram que inúmeros cavalos se aproximavam à distância, e por cima dos cavalos, pessoas de armaduras prateadas e douradas os montavam.
Eles exalavam uma pressão que fazia as pessoas tremerem inconscientemente.
“…Não pode ser, o que os cavaleiros sagrados estão fazendo aqui?”
Eles são chamados de cavaleiros sagrados, soldados que devotam sua causa à grande deusa.
Celestine é um reino sagrado, o próprio nome do reino pertence a deusa que é idolatrada pelo reino todo. Sendo cavaleiros sagrados, eles detêm o poder sagrado, um poder que é dado pela deusa para as pessoas que a idolatram, quanto maior for a prece da pessoa, mais poder sagrado a pessoa terá.
Então os cavaleiros sagrados são pessoas que possuem muito poder sagrado, por isso eles detêm um grande status por todo o reino.
Por conta disso, eles atuam principalmente na capital do reino, para eles estarem em uma cidade como camelon, significa que provavelmente estavam em uma missão importante, e que devem ter sido atraídos pelas chamas da casa.
Os aldeões ficaram surpresos e murmuravam entre eles.
Um dos cavaleiros sagrados, o único que não usava um capacete, se aproximou para mais perto da casa que ainda estava coberta em chamas. Ele era o capitão dos cavaleiros, parecia estar na casa dos 40 anos, sua barba era má feita.
“O que aconteceu?”
Perguntou o capitão para um dos aldeões, o aldeão se aproximou sem jeito e falou em dúvidas.
“…Também não sabemos, quando chegamos a casa já estava em chamas, apenas encontramos aquele garoto parado em frente da casa.”
O aldeão então apontou para o Ken.
A atenção do capitão então se voltou para o Ken, mas quando olhou para ele, não parecia como se estivesse olhando para uma pessoa, mas sim como se tivesse olhando para algo horrendo.
‘?’
Ken ficou em dúvidas, porque certamente era a primeira vez que eles se encontravam. A não ser que ele já sabia sobre ele de antemão, o que foi ainda mais estranho.
Mas logo estas dúvidas foram esclarecidas quando o capitão dos cavaleiros sacou sua espada da bainha e apontou pro Ken.
“Entendo…Ouçam o meu comando, Prendam este homem!”
“…O quê?”
Ken perguntou incrédulo.
‘O que está acontecendo?’
Mais uma reviravolta inesperada voltou a acontecer na sua vida
§§§§
Sua visão estava embaçada, ele só sabia que estava andando.
‘Onde estou indo?’
Mesmo com a visão embaçada, toda a terra ao redor parecia seca e cinzas pareciam voar por todo lugar.
‘Onde estou?’
Em sua frente, pessoas também estavam andando em linha reta, ele baixou a cabeça e olhou para seus pulsos. Correntes estavam prendendo seus pulsos enquanto era puxado pela pessoa a sua frente, que também estava presa por correntes.
Ele então olhou para a palma da sua mão direita, onde estava presente o emblema amaldiçoado
‘Quem…sou eu?’
“Cuidado!!”
Um alto grito ecoou, e então toda sua visão foi preenchida por uma intensa luz e uma explosão ecoou.
*BOOOM*
Ken abriu os olhos abruptamente, encontrando-se dentro de um quarto pequena e suja, com pouca ventilação e luz natural.
Neste momento, Ken estava sentado no chão, dentro de uma pequena sala com grades de ferro.
Depois de ter sido pego pelos guardas devido a um provável mal-entendido, Ken foi levado até o centro de administração da cidade de camelon, onde foi mantido preso até as novas ordens.
Já faziam algumas horas desde que estava sendo mantido preso, sem notícias aparentes, por isso ele havia adormecido.
“Isto foi um sonho?”
Perguntou a si mesmo sobre o sonho.
“Mas…porque parecia tão real?”
Uma dúvida surgiu em sua mente, fazendo-o ficar pensativo.
“Haa…o que estou dizendo? Foi apenas um sonho.”
Ken suspirou e decidiu esquecer o que acabou de sonhar, afinal, neste momento ele se encontrava em uma situação importuna.
Ele precisava pensar no que estava acontecendo e como sair desta situação.
*Clenk*
O som de uma porta de metal abrindo ecoou pela prisão, e então pessoas de armadura dourada se aproximaram da cela de onde Ken se encontrava.
“Como tem estado a acomodação?”
A pessoa que falou com Ken foi o capitão da guarda que mandou prendê-lo. Ele olhou para Ken com zombaria nos olhos, e Ken respondeu com um olhar frio.
‘…O que há com este olhar?’
O capitão sentiu um leve calafrio, mas logo tomou a postura, pousou a mão esquerda na cintura e falou com o rosto sério.
“O julgamento foi preparado, você virá conosco.”
“…”
Ignorando-o, o olhar de Ken caiu nas costas da mão esquerda do cavaleiro, onde tinha uma marca redonda de cor preta com uma figura no centro. Era sigla da libra, o que quer dizer que ele possuía o ‘emblema do seguidor’.
Depois de ser tirado da prisão, Ken foi arrastado por dois guardas por um longo corredor até chegar a uma porta, ordenada em ouro.
Duas pessoas de mantos estavam de pé na entrada da porta, eles vestiam robes azuis com três barras douradas.
As pessoas de robe, percebendo a presença da pessoa que escoltava Ken, curvaram-se em respeito.
“Nós prestamos nossos respeitos ao capitão da 3ª divisão dos cavaleiros sagrados, Lucas Müller.”
[Lucas Müller, capitão da 3ª divisão dos cavaleiros sagrados. Cavaleiro de nível avançado.]
“Este é a pessoa?”
Perguntou um dos homens de robe, apontando para Ken.
“Está tudo pronto?”
Ignorando-os, Lucas fez uma pergunta.
“Sim, iniciamos os preparativos assim que entrarmos.”
‘Preparativos?’
Pensou Ken, achando estranho a situação que se encontrava.
A porta de ouro então foi aberta pelas pessoas de robe, mas ao contrário das expectativas esperadas por ser uma porta de ouro, todo interior era branca, as paredes, o teto e o chão, tudo estava revestido de branco.
“Entre logo.”
Ken estava hesitante em entrar, mas então os guardas o forçaram para dentro.
Depois de entrar, eles deram alguns passos à frente e pararam, as pessoas de robe também entraram, mas ficaram parados em cada lado da porta.
A sala não era grande, e também não era pequena, era um espaço ideal para ser um quarto pessoal de alguém.
‘?’
Ken notou que haviam algumas paredes a mais que não estavam ligadas às paredes da sala. Era algo que não se notaria se você não prestasse atenção, mas Ken percebeu.
Então um dos homens falou.
“Iremos começar.”
Os dois homens de robe enfiaram as mãos dentro do robe e cada um retirou uma esfera de cristal. Eles pousaram as mãos sobre as esferas e começaram a murmurar algumas palavras.
Depois de um tempo, algo incrível começou a acontecer.
A bola de cristal começou a emitir um brilho dourado.
Começando pela porta, do mesmo modo em que os raios do sol começam a aparecer na terra, a sala começou a ser iluminada por uma luz dourada, um espaço completamente diferente começou a surgir de onde a luz passava.
Um amplo espaço de repente começou a aparecer, revelando um enorme teto, logo depois, pilares de ambos os lados também começaram a aparecer.
Quando a luz passou pelo Ken, o chão onde estava, antes branco, começou a ser preenchido por azulejos brilhantes.
“…O que é isso?”
‘Será magia?’
Ken perguntou incrédulo. Esta era a única razão provável, e tinha razão.
As pessoas de robe são magos que trabalham na prefeitura de camelon, mas o que eles estavam usando não era magia, mas sim um artefato mágico de comunicação em tempo real. Um artefacto que, como se pode dizer, cria um holograma do local de onde a mensagem será entregue, e este local é….
“Saudamos o rei e a santa rainha do reino de Celestine!”
“Saudamos o rei e a santa rainha do reino de Celestine!!”
Os cavaleiros que escoltavam o Ken, os magos parados na porta e até o próprio capitão dos cavaleiros sagrados, ajoelharam-se até suas testas tocarem no chão enquanto protestavam respeitos a alguém, enquanto gritavam com todas as suas almas.
‘Rei? Santa rainha?’
Lentamente, Ken levantou a cabeça e olhou para frente.
Por cima de uma vasta escadaria, se encontravam duas pessoas majestosas sentadas em tronos, no trono esquerdo, um homem de longos cabelos e barba loiro, com leves rugas no rosto.
[Rei do Reino de Celestine: Rafael Lumiere]
Sentada do lado direito, uma bela mulher com longos cabelos dourados, um corpo saliente, e que transmitia uma sensação de tranquilidade.
[Santa rainha do reino de Celestine: Clarice Lumiere]
Ambos são os dois governantes do reino de Celestine, o que quer dizer que o artefacto projetou a câmera real do castelo real.
Vendo os dois seres que pareciam estar em um mundo diferente do seu, Ken pensou.
‘O que…estou fazendo aqui?’
Ken não conseguiu evitar de sentir um mau pressentimento.
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