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    Fenrir estava surpreso pela mudança repentina de Ken.

    Ao contrário de antes em que seus olhos apenas refletiam seu puro ódio, agora uma incrível sede de sangue irradiava dele. Mas não era uma sede de sangue normal, era como a incorporação da sede e a vontade de matar de inúmeras pessoas comprimidas em um único ser.

    Diferente da intenção assassina, que vem da vontade da pessoa de matar ou ferir alguém, a sede de sangue é mais comumente em pessoas que são loucas pelo derramamento de sangue, ou seja, o desejo de matar de um lunático.

    Quanto mais forte for a vontade de alguém, mais mortal se torna sua intenção, a ponto de incapacitar ou até matar alguém com apenas sua intenção.

    “… Agora eu entendo.”

    Ken falou de repente enquanto olhava para Fenrir. Até seu tom de voz parecia mais penetrante que o normal, carregando consigo uma frieza capaz de causar arrepios.

    – Entendes?

    Fenrir se viu surpreso ao perguntar. Ele nunca teve interesse no que Ken fazia ou sentia, não era algo pelo qual ele estava interessado em primeiro lugar. Mas agora, sem que ele soubesse, ficou curioso pelo que Ken queria dizer.

    Ken então virou a cabeça e olhou para a palma de sua mão.

    “Sim, a razão pela qual não consigo considerar uma corrente como uma arma, e o emblema não me proíbir de usá-lo. Agora eu entendo.”

    Como se estivesse falando consigo mesmo, Ken continuou.

    “Isto vem das emoções dos antigos portadores do emblema, da era em que eles eram caçados pelo culto demoníaco e pela igreja. As emoções vividas de ser acorrentado a ponto de ter o seu fluxo do sangue interrompido enquanto era torturado ficaram presos permanentemente nas memórias deles. E isto foi se repetindo e repetindo até chegar ao primeiro portador que começou a receber as memórias passadas e assim conseguir fugir das garras deles, levando consigo também seus traumas.’

    E este trauma foi sendo passado de portador em portador assim como o poder dos pecados capitais até chegar ao atual. Então, mesmo quando não estava ciente deste fato, este trauma acabou aparecendo prematuramente no seu subconsciente, talvez desde o momento em que aprendeu o raio branco, porque também foi a partir daí que começou sonhar com a vida dos portadores anteriores. Fazendo assim considerar a corrente não como uma arma mesmo quando usada, mas como um meio de aprisionamento.

    – Entendo…

    Disse Fenrir, parecendo concordar.

    A esta época já não era novidade para Fenrir de que Ken na verdade não era um reencarnado com vidas passadas, mas sim que possuía as memórias dos antigos portadores do emblema-amaldiçoado.

    Isto foi algo que Ken inevitavelmente acabou contando para Fenrir ao longo dos últimos meses, ao que Fenrir acabou não ligando muito, mesmo sabendo que havia sido enganado.

    Fenrir deu uma profunda olhada em Ken enquanto pensava.

    ‘Para alguém que possui este emblema, ele está realmente evoluindo.’

    Pensou Fenrir depois de olhar para as costas de Ken que pareciam mais firmes desde que se conheceram. Mas logo uma amargura surgiu em sua expressão.

    ‘Quanto a mim, estou morrendo, e já não me resta muito tempo. Tudo por causa daquele ser.’

    Um profundo ódio começou a surgir em Fenrir após se lembrar de um acontecimento passado. 

    É de ação natural para que as bestas dívidas escolhessem um guardião espiritual a quem pudessem passar o seu poder. Mas Fenrir, diferente dos outros, não pensava da mesma maneira. Ele não achava mais necessário ser vinculado a uma pessoa levando em conta que a guerra do milênio já havia chegado ao seu fim.

    Ele gostava de ser livre, por isso que de tempos em tempos se materializava em sua forma física e ficava vagando pelo mundo. 

    Até que um dia, enquanto descansava em uma extensa floresta, um ser humanoide coberto por uma armadura negra da cabeça aos pés, carregando uma enorme espada negra como obsidiana surgiu da escuridão e o enfrentou sem aviso prévio. Fenrir não teve escolha a não ser travar uma batalha que devastou a floresta inteira e derrubou montanhas, mas no processo acabou por perder a consciência após sofrer uma derrota severa.

    Mas quando ele acordou, já não se encontrava mais na floresta destruida pelo combate, mas em uma pequena, úmida e escura câmara subterrânea de pedras que se encontrava a vários quilômetros abaixo da terra. Fenrir tentou se livrar, mas a enorme corrente que prendiam sua pata havia selado todo seu poder espiritual, e os tubos ligados ao seu corpo começaram lentamente a drenar sua energia.

    – AUUUUUUUUUUUH.

    Fenrir rugiu e uivou durante meses e sacudiu a câmera durante anos. Até que percebeu, que não importava o que fizesse, ou o quanto gritasse, estava preso neste lugar e não havia como sair.

    Então Fenrir não teve escolha a não ser desistir e apenas ficar deitado neste lugar apertado durante anos, enquanto se alimentava do desejo de vingança do ser que o havia aprisionado neste lugar. 

    Mas com o passar do tempo seu corpo foi constantemente perdendo suas forças com suas esperanças lentamente se esvaindo. 

    Até aquele dia.

    Quando um humano completamente nu e com o corpo completamente queimado e coberto de feridas profundas caiu de cima da câmara subterrânea. Era algo que Fenrir já estava acostumado a ver depois de ter visto inúmeros corpos humanos caírem e se decomporem à sua frente até formarem uma montanha de ossos, embora aquele parecesse mais miserável que os outros.

    Nos primeiros dias ele tentava mover sua mana para retardar a queda de um deles, para que assim pudesse tentar formar um contrato espiritual com um deles e tentar torná-lo em um guardião espiritual. Mas infelizmente as coisas não saíam como ele queria. Por causa da restrição da corrente, seus poderes haviam sido completamente selados, então não conseguia retardar completamente a queda das pessoas que caiam, acabando assim por morrerem depois de algumas convulsões.

    Por isso Fenrir achou que seria o mesmo que os outros, então apenas ignorou. Mas algo inesperado havia acontecido naquele momento. O homem que caía impotentemente de repente havia desaparecido, como se tivesse sido apagado do nada.

    – !

    Naquele momento Fenrir havia duvidado de seus próprios olhos, pensando que o que tinha visto era meramente uma ilusão de sua mente o enganando. Mas como para provar que estava enganado, o corpo da pessoa, Ken, voltou a aparecer novamente, desta vez por cima da pilha de ossos, com algumas costelas atravessadas em seu corpo.

    – …

    Fenrir nem sabia mais no que acreditar. A respiração da pessoa parecia fraca e irregular, parecendo que iria morrer a qualquer momento. Mas pela ironia, conforme os dias foram passando, sua respiração foi gradualmente se recuperando.

    Aquilo foi como um vislumbre de esperança, Fenrir então não perdeu tempo e tentou curá-lo com sua mana.

    – !

    Mas mais uma vez, Fenrir se viu perplexo. O corpo da pessoa parecia recusar sua mana, que era destinado a curá-lo. Era algo inacreditável para ele, mesmo que tivesse perdido mais da metade de seu poder, e estivesse sendo restringido, ainda acreditava que poderia curar um ser tão inferior como um humano, mas por alguma razão seu corpo parecia negar sua mana, o que o obrigou a usar ainda mais de sua magia.

    Por sorte, seu corpo pareceu se curar mais rápido, mas por causa disso Fenrir acabou por ficar ainda mais fraco. Até Ken acordar e falar coisas que mais uma vez o surpreenderam. Dizendo que estava aí para tirá-lo daquele lugar e que também precisava dele.

    Mesmo com dúvidas de suas palavras, Fenrir apenas se deixou levar para ver até onde as coisas iriam, já que não se divertia a vários anos desde que ficou preso neste lugar. E também, ele queria alguém a quem pudesse passar o seu poder e assim realizar a sua vingança, então ele suportou a ousadia do humano.

    Mas, pela ironia, a pessoa que apareceu na sua frente, o raio de esperança da qual sempre esteve à espera para que pudesse realizar a sua vingança, era um portador do emblema que ele e seu antigo grupo haviam selado.

    ‘É realmente uma ironia.’

    Pensou Fenrir.

    Nestes últimos meses, embora não demonstrasse, Fenrir sempre esteve observado cada treinamento de Ken. Ele não queria admitir, mas admirava a persistência de Ken.

    Embora soubesse das inúmeras restrições impostos sobre ele por causa do emblema, dos claros limites que possuía, Ken não se deixava cair em depressão ou se desanimar. Mas prosseguia em frente com forte determinação e enorme persistência.

    Sua situação não era diferente de estar afundando em um mar aberto, com pesos amarrados em sua perna que o levavam para o fundo do abismo. Mas ele não havia desistido, procurou e procurou até encontrar um fio coberto de espinhos grossos que o levavam para cima do mar. Ele agarrou a este fio que perfuraram suas mãos e escalava enquanto tentava ignorar a dor aguda que sentia.

    Mas ele não agia com imprudência. Com o pequeno raio de esperança que havia surgido para ele, assim como a corda coberta de espinhos, ele a agarrou persistentemente sem a largar até que este raio de esperança criasse novos caminhos para sua evolução, conseguindo até romper um dos selos do emblema. 

    Fenrir via a força persistente vinda de Ken, o que acabou por achar admirável. Os lábios de Fenrir então se esticaram em um sorriso.

    ‘Sim… é chegado a hora. Se não for ele, então mais ninguém pode.’

    Fenrir parecia ter tomado uma decisão que a muito aguardava.

    Enquanto isso, Ken também estava perdido em seus profundos pensamentos, incomodado com alguma coisa.

    ‘Nas memórias dos antigos portadores do emblema, apenas consigo processar vagamente as memórias dos primeiros, elas são um pouco ambíguas e algumas partes parecem ofuscadas. Mas as recentes são tão precisas a ponto de parecer que eram minhas vidas passadas. Mas por alguma razão, não consigo encontrar as memórias do homem que me recebeu no mundo das almas, que afirmou ser o penúltimo portador antes de mim, não importa o que eu faça ou vasculhe as memorias. Porque aquele homem está envolto de tantos mistérios? Ele também havia afirmado ser um dos criadores do raio branco. Mas eu tenho memórias desde o primeiro e até o último dos criadores, mas nenhuma destas memórias pertenciam ao…!’

    De repente Ken se lembrou de algo que o deixou perplexo, pensando ainda mais profundamente.

    ‘Na verdade, nas memórias de Abraham Collioni, havia um homem que o havia ajudado na descoberta da antologia humana. (Autor: do capítulo 45). Embora Leo Collioni tenha sido o influenciador para a descoberta da técnica do raio branco, não há dúvidas de que Abraham Collioni era o epicentro para a criação e evolução dela. Mas tudo isto foi graças ao homem misterioso que o ajudou. Não dava para ver seu rosto porque ele sempre andava com um capuz sobre o rosto. Mas esta nem era a parte mais estranha, mas sim das informações que ele possuía. Células, átomos, microorganismos, eletricidade, memória cerebral, e também o fato de descobrir que o cérebro era capaz de gerar energia elétrica. Suas descobertas não eram algo que deveria ser possível naquela época, com tão pouca evolução tecnológica, e mesmo nesta seria amplamente difícil.’

    ‘Isto significa que ele provavelmente veio de um lugar onde a evolução humana estava muito mais avançada, assim como no mundo de onde eu vim. Seria idiotice imaginar que ele veio de outro mundo, mas eu sou a prova viva de que isto é possível. Então, se ele realmente veio de outro mundo, porque ajudou Abraham na sua descoberta? Coincidência? Talvez, mas também não posso ignorar o fato de que não pode ser esse o caso, mas sim como se o tivesse ajudado propositadamente. Porque se não fosse o caso, acho que até agora o raio branco não teria existido.’

    Este pensamento apenas trouxe arrepios a Ken, porque ele sabia que o rio branco era a razão de sua existência. Sem ela, sem dúvidas já estaria morto ou sendo usado até a morte como os portadores anteriores.

    Descobrindo isso, uma determinação surgiu em seus olhos frios e afiados.

    ‘Existem muitos mistérios em volta de mistérios, e o epicentro disso sem dúvidas é o emblema-amaldiçoado. Se eu quiser desvendar cada mistério que ele carrega e me livrar dele, devo ficar mais forte, tão forte para poder me livrar de qualquer um que surgir no meu caminho. Não importa o sacrifício ou riscos necessários, desde que eu possa alcançar os meus objetivos.’  

    Enquanto Ken estava concentrado em seus objetivos com forte determinação, a voz de Fenrir surgiu.

    – Ei, humano.

    “?”

    Com seu chamado, Ken virou-se para Fenrir.

    – Você quer ficar mais forte?

    “?…”

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