Capítulo 61: O final do túnel.
*Presente.*
A cena em que a área central da toca do inferno se encontrava depois da colisão devastadora do soco de Ken e do corte da espada de Harper, não pode ser descrita com nada mais do que um cataclismo.
Todo o chão estava completamente rachado e quebrado, para além de algumas partes desintegradas, e com a energia da morte pairando por todos os lados. Um enorme buraco que ocupava quase mais da metade da área central havia sido criado, que era tão funda quanto à sua extensão.
Onde no centro Ken e Harper se encontravam, embora estivessem em condições diferentes.
“Uck!?”
O emblema na palma de sua mão de repente começou a brilhar e a soltar faíscas que o queimavam. Logo em seguida, as linhas pretas que cobriam todo seu corpo de repente começaram a desaparecer e a ser sugadas pelo pequeno ponto brilhante no centro do Aku, que logo também começou a sumir como luz se apagando, deixando apenas o desenho.
Ken olhou para a palma de sua mão que tremia de dor por causa do brilho do emblema.
‘Foram precisos dois segundos de uso do Aku para retirar a coleira na nº 6, vinte segundos em todos os jovens recrutas. E para lutar contra o Harper, foram necessários trinta segundos. Então no total um minuto é tudo que eu consigo para manter a forma de Aku.’
Pensou enquanto analisava sua situação.
“Parece…que perdi…”
“?…”
Quando seus pensamentos foram interrompidos pelas palavras fracas de Harper. Ele estava estendido de costas no chão, sua aparência completamente esfarrapada e cheia de ferimentos. A maior lesão foi que tudo a partir de seu ombro esquerdo havia desaparecido, deixando um buraco enorme no peito.
Era surpreendente como ainda estava vivo.
“Você…cof…realmente venceu.”
Todo o interior de Harper doía só de respirar, e sangue saltava de sua boca a cada palavra que soltava.
Ken se lembrou no momento do impacto, mas ao invés de atacar imprudentemente, Ken desviou do corte de sua espada com seu braço direito e socou seu corpo com o direito, destruindo tudo em seu peito esquerdo.
Então Ken o encarou com indiferença e o fez uma pergunta.
“…Quem são vocês? O que é o apocalipse?”
“Hmph, e porque você, cof…cof…acha que eu vou dizer alguma coisa?”
“Você vai.”
“…Eu vou?”
“Percebi enquanto trocavamos golpes. Você vai me contar, porque você é esse tipo de pessoa.”
“!”
Harper ficou genuinamente surpreso pelas palavras de Ken, então riu.
“Ahaha…cof, cof. E pensar que você me entenderia por apenas trocarmos golpes, que engraçado.”
Harper então parou de rir e olhou para Ken.
“Sim, eu até te diria. Mas não posso.”
“Não podes?”
Perguntou Ken com ligeira surpresa no rosto.
“Nos foram colocados uma maldição. Se falarmos alguma coisa sobre nós, nossos objetivos ou quem somos, seremos mortos na hora. Nossos corpos apodreceriam e desapareceremos deste mundo.”
“Mas antes você me contou algo sobre vocês, porque agora é diferente?”
Antes de toda luta começar, Harper havia deliberadamente falado sobre o apocalipse e sobre a facção dos cavaleiros. Mas agora dizia que não podia fazer nada.
Para isso, Harper respondeu.
“Porque antes você havia me enganado perfeitamente, me fazendo achar que você fazia parte da merda da nossa organização, por causa disso a maldição não foi ativada.”
Ken examinou cuidadosamente a expressão de Harper, suas reações, e seu batimento cardíaco, fazendo-o chegar em uma conclusão.
‘Ele não está mentindo.’
Ken então fechou os olhos em decepção, achando que não poderia encontrar nada.
“Mas…”
Até que Harper abriu a boca.
“Posso te dar uma outra informação. Se quiseres.”
Ken então abriu os olhos e olhou para ele.
“Qual?”
“…Eu sou Harper. Qual o seu nome?”
“…”
Embora Harper tenha se apresentado de repente e perguntado o nome de Ken, Ken sabia que esta era uma condição para ele lhe passar a informação. Embora possa ser uma armadilha, Ken não hesitou.
“Ken.”
Disse Ken com indiferença.
“Ken, hein? Então este é o nome da pessoa que me derrotou.”
Haper de repente pareceu satisfeito por saber o nome de Ken. Mas Ken não parecia ter tempo para isso.
“…”
Percebendo o olhar intenso de Ken, Harper então decidiu abrir a boca.
“Você sabe o porquê dos discípulos divinos serem tão poderosos?”
‘…Porque ele está falando dos discípulos divinos?’
Como Ken não falou nada, Harper decidiu falar.
“Como eu havia dito, o poder que eu acabei de receber é uma benção que me foi concedida pelo deus da calamidade. Uma única bênção, mas eu não podia utilizar direito, porque sou apenas um humano que não é capaz de utilizar por completo seu poder.”
Harper falou com amargura, como se estivesse culpando a si mesmo.
“Mas os discípulos divinos são diferentes, seus corpos foram moldados para suportar o poder dos deuses sem sofrer danos. Mas ao invés de apenas uma, eles podem receber várias bênçãos. Ahaha, cof. São realmente uns monstros.”
“…”
Ken apenas ficava olhando sem muita surpresa no rosto. Embora fosse uma informação que ele não sabia, não significava nada para ele.
Até Harper falar mais uma coisa, desta vez com uma expressão bastante séria.
“A camada de Ozoto…Está se enfraquecend-GHUAAAAA!!”
“!?”
Antes que Harper terminasse de falar, seu corpo de repente foi envolto por uma chama negra que começou a queimá-lo insensatamente. Ken ficou genuinamente surpreso, mas não durou muito porque ele saber o que estava acontecendo e não poder fazer nada.
‘Camada de Ozoto? O que é isso?’
Pensou Ken enquanto se perguntava o que acabara de ouvir.
“Ghaaaaaaaa!!”
Harper ainda gritava com sua vida, enquanto enfrentava a dor de ter todo seu corpo queimado e desintegrado.
*BOOM.*
“!”
Quando de repente Ken ouviu uma enorme explosão na direção do campo de treinamento. Toca a toca do inferno começou a tremer e o teto começou a cair aos pedaços.
As paredes do enorme salão começaram a rachar e a se partir enquanto pedaços de pedra caiam sobre suas cabeças.
“Ken…”
“?…”
Quando de repente, Harper, que lutava pela sua dor ao ter todas suas células desintegradas, chamou pelo Ken, fazendo-o se virar para ele. Harper suportou a dor de queimação e forçava sua boca para dizer suas últimas palavras.
“Não…confie…nos deu…ses…”
Seu corpo então foi desintegrado até as cinzas depois de dizer suas últimas palavras.
*BOOM.*
As explosões continuaram acontecendo e pedaços maiores de pedra começaram a cair por todo o campo de treinamento. Desta vez Ken ficou em alerta.
‘Não posso voltar para a câmera de Fenrir, acabarei sendo enterrado antes mesmo de eu chegar até lá. E mesmo que eu chegue, não sei se conseguirei sair a tempo.’
Ken então retirou o olhar do campo de treinamento e olhou para cima do enorme salão, onde uma escuridão sem fim se encontrava.
‘Sinto um cheiro fresco vindo de lá de cima. Talvez seja o cheiro da ventilação. Não sei se é possível, mas!…’
Talvez ele não encontre nada lá em cima e estava apenas perdendo tempo, mas infelizmente não havia mais opção.
‘Que se dane.’
Antes de fazer qualquer ação, Ken olhou para a enorme espada de Harper que saiu ilesa do confronto, jogada no chão.
Ele correu até lá e a pegou.
[Raio branco, 10%]
Ativando o raio branco, Ken então correu até a parede do enorme salão, depois pegou a espada e mordeu fortemente a partir da lâmina para segurá-la com a boca.
A espada era longa e grande, mesmo segurando com duas mãos ainda seria pesada para as pessoas. Mas Ken estava conseguindo segurá-la já que suas mandíbulas estavam bastante poderosas.
Depois disso Ken pulou na parede, cravou seus dedos nela e começou a escalar a toda velocidade que conseguia. Ele queria utilizar uma porcentagem maior do raio branco, mas infelizmente se fizesse isso toda sua energia vital seria consumida, então ele se contentou com apenas 10%.
As paredes ainda continuavam a tremer, mas Ken se esforçava para não perder o equilíbrio e continuava a escalar, pulando vários metros e escalando.
Em cinco minutos Ken já havia escalado mais de duzentos metros, mais minutos se passaram e ele chegou a 600 metros.
*Boom.”
“!”
A parede começou a tremer quando de repente Ken sentiu algo grande e pesado vindo de cima, todos seus sentidos o alertaram do grande perigo que se aproximava. A vista de cima ainda estava nublada, mas com sua visão afiada ele conseguia ver uma pequena luz em cima.
Ken, embora cansado, forçou ainda mais sua escalada para alcançar ainda mais o topo.
Quando o som do perigo se tornou mais incessante e sua espinha tremendo, Ken decidiu pegar a espada de Harper com a mão e enfiá-la na parede.
Foi quando alguma coisa pesada que parecia terra caiu intensamente sobre ele, que empurrava seu corpo para baixo.
“Ugh!…”
Toneladas de peso caindo de cima o estavam forçando a cair, mas o aperto no cabo da espada era forte e Ken não soltou-o mesmo que isso machucasse tremendamente seu corpo.
§§§§
Em algum lugar desconhecido e isolado onde sua superfície era repleta do que parecia ser uma areia branca, um braço que era branco como neve de repente surgiu do chão.
Este braço então se apoiou no chão e pareceu aplicar alguma força, fazendo o chão de areia branca se elevar como um inchaço. Toda a areia branca então começou a cair do inchaço, revelando o corpo de uma pessoa, que assim com sua mão, sua pele era de um branco puro e seu cabelo era branco com um brilho platinado.
Esta pessoa era o Ken.
“Ugh…Cough! Cough! Cof, cof…”
Assim que Ken emergiu do chão, imediatamente começou a tossir de sua boca e a espirrar de suas narinas toda a terra branca que havia engolido quando ainda se encontrava lá embaixo, enquanto se ajoelhava e apoiava as mãos no chão.
‘Uma hora…’
Ken conseguiu suster sua respiração durante uma hora, a razão era porque a coisa desconhecida que caiu sobre ele enquanto escalava os muros do enorme salão, parecia ser terra ou areia.
Por isso Ken rapidamente enfiou a espada de Harper na parede e se segurou firmemente, impedindo de ser empurrado para baixo quando uma grande quantidade de terra caía sobre ele.
Mas acontece que esta terra começou a encher todo o enorme salão, chegando até a sua cabeça e passando por ele. Ken não teve escolha a não ser suster a respiração enquanto começava a subir pela terra.
Talvez por causa de suas células terem sofrido mutações, Ken passou minutos subindo, mesmo quando tudo parecia inútil, e parecia que nunca iria encontrar o fim do túnel, Ken continuou a escalar durante uma hora até não conseguir aguentar mais e começar a engolir a terra que entravam pela sua boca e nariz.
Como seu cérebro não estava mais recebendo oxigênio, a tontura começou a surgir, como também perder suas forças.
Mas Ken não desistiu e persistentemente continuou a subir até sua mão perfurar a areia e encontrar um espaço vazio onde o ar o refrescava.
“Cof, cof.”
Ele parecia entorpecido enquanto ainda tentava espirrar toda a neve que ainda permanecia em seu interior.
“?…”
Até ele notar algo que não havia percebido enquanto lutava pela sua vida, como se a realidade tivesse finalmente voltado para ele. A terra branca que suas mãos apalparam era branca, macia e estranhamente fresca.
Era neve.
O vento que soprava sua pele era fria e se ele se concentrasse, podia até ouvir o som das árvores que a muito nunca mais ouvia.
“Ah…ahahaha…ahahahahahaha!”
Ken começou a rir enquanto pegava a neve e esfregava em seu rosto. Não era como seu habitual sorriso feroz, ou um diabólico ou zombeteiro, mas sim um sorriso de felicidade genuína.
Foram quatro, quatro longos anos para um jovem cidadão japonês ser invocado em outro mundo, sequestrado e preso em um subterrâneo, onde teve que lutar contra lobos, correr quatro quilômetros por dia, ser espancado todos os dias e muito mais.
Para poder suportar tudo isso, Ken havia enterrado em seu subconsciente que era um simples cidadão japonês e suportou tudo com ousadia. Mas é como se o peso da realidade tivesse surgido assim que escapou daquele lugar.
Que ele ainda era um jovem japonês.
As lágrimas escorriam de seus olhos e congelavam ao tocar na neve em suas mãos. Era como se o homem que envenenou 300 pessoas, matou os instrutores e teve uma luta de titãs contra Harper tivesse desaparecido.
“!…”
Até que uma luz surgiu ao longe que ofuscou sua visão obrigando-o a proteger seus olhos com a mão. Ao estar preso na toca do inferno sem luz natural, a luz que surgiu parecia queimar seus globos oculares.
Quando Ken começou a espiar aos poucos pelas brechas de seus dedos, se espantou com o que viu. Era a luz do sol que surgia no horizonte.
Ken ficou hipnotizado pela visão do sol.
Mas mais uma vez, foi como se o peso da realidade o tivesse atingido novamente. Sua boca deixou de sorrir, as lágrimas em seus olhos secaram e congelaram, e sua expressão se tornou fria como o gelo ao redor.
‘Ainda não acabou.’
Os raios do sol o fizeram lembrar de que seus problemas ainda não haviam acabado. Os problemas no reino de Celestine, sua desavença com o príncipe Julius, o culto demoníaco e a estranha organização que o havia sequestrado. O apocalipse.
Sem esquecer dos mistérios ainda não resolvidos do emblema-amaldiçoado. Sobre o paradeiro dos outros fragmentos dos pecados capitais e o selo de seu emblema, para isso, ele teria que enfrentar os guardiões espirituais, e… os discípulos-divinos.
“…”
Ken começou a se levantar enquanto ainda continuava enfrentando a paisagem iluminada pelos raios do sol. Uma vasta região que não parecia abrigar nenhuma vida, com várias montanhas que se erguiam majestosamente e os picos perfuravam as nuvens.
Ken se encontrava por cima de uma dessas montanhas, e por baixo dela florestas se espalharam pelas planícies de neve branca.
“Aion…”
Ken se lembrou do misterioso homem do mundo das almas e do seu envolvimento com sua irmã.
“Ainda não acabou.”
Ken voltou a repetir as palavras que uma vez disse em seus pensamentos. Embora tenha conseguido suportar todos os infortúnios que surgiram até agora e tenha sobrevivido com persistência a todos eles com sua força de vontade.
Ken sabia que tudo que passou até agora não era o fim de tudo.

Era apenas o prólogo.
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