Capítulo 377: Mapa

Shang caminhava pela estrada em direção a uma grande cidade ao meio-dia. A estrada era ladeada por florestas densas, repletas de bestas mais fracas.

Algumas pessoas já haviam passado por ele durante a jornada, mas nenhuma falou com ele.

Shang notou que muitos viajantes montavam bestas, algo comum no Reino Fonte Espiritual, onde até mesmo comerciantes fracos usavam esses animais como montaria.

Eventualmente, Shang chegou aos portões da cidade. Eles eram feitos de madeira, mas Shang percebeu que não era madeira comum; provavelmente, essa madeira era tão resistente quanto minério do Estágio Comandante.

Vários guardas estavam verificando os Anéis Espaciais das pessoas que desejavam entrar na cidade, e uma fila longa já havia se formado.

Shang apenas esperou no final da fila, sem olhar para ninguém.

As pessoas ao redor lançavam olhares cuidadosos para ele.

Por algum motivo, não se sentiam confortáveis perto dele.

No entanto, ninguém queria ser rude, então nada comentaram.

Shang esperou por alguns minutos na fila até chegar sua vez.

— Anéis Espaciais — ordenou a mulher montada em um lobo grande ao ver Shang.

Os guardas da cidade eram Espiritualistas, e usavam suas bestas para vigiar tudo ao redor.

Grrrr!

Naquele momento, o lobo que a mulher montava começou a rosnar para Shang.

A Espiritualista ficou surpresa com a reação da besta e se conectou mentalmente com ela.

Claro, as bestas não eram muito inteligentes e podiam transmitir apenas sentimentos primitivos para seus Espiritualistas.

No momento, o lobo transmitia uma sensação de que Shang era um inimigo.

O lobo queria matar Shang.

Ao sentir esses sentimentos vindos de sua besta, a Espiritualista franziu as sobrancelhas e olhou para Shang.

— Qual é o seu objetivo aqui? — perguntou em tom gélido.

— Quero comprar um mapa — respondeu Shang de forma serena.

Os olhos da Espiritualista se estreitaram. — Que tipo de mapa?

— Apenas um geral do Reino Fonte Espiritual — disse ele. — Como você pode notar, não sou daqui.

Depois que Shang disse essas palavras, a Espiritualista o examinou mais de perto.

A densidade de Mana ao redor dele era relativamente baixa, mas a sensação de ameaça que sentia era enorme.

Rapidamente, ela entendeu o que estava acontecendo.

— Você é um guerreiro? — perguntou.

— Sim — respondeu Shang. — Quero voltar ao Reino Trovão Celeste. Estou ausente há muito tempo.

Os portões tinham um Círculo Mágico de Verificação de Verdade permanente, e a Espiritualista podia perceber que Shang dizia a verdade.

Contudo, seus olhos ficaram ainda mais frios.

Agora, sabia por que sua besta via Shang como inimigo.

— Você matou alguma besta? — perguntou.

— Sim — respondeu Shang.

Um brilho frio apareceu nos olhos dela, e Shang sentiu desdém e raiva emanando da Espiritualista.

Por alguns segundos, ela apenas olhou para ele com ódio.

— Anel Espacial — ordenou novamente, em tom gélido.

Shang pegou seu Anel Espacial e o jogou para ela.

Ao ver o conteúdo do Anel Espacial, a Espiritualista precisou se controlar para não destruí-lo e atacar Shang ali mesmo.

Cadáveres.

Tantos cadáveres e partes de bestas!

O Reino Fonte Espiritual trabalhava em harmonia com as bestas. Especialmente os Espiritualistas viam as bestas como humanos.

Para uma Espiritualista, ver um Anel Espacial cheio de cadáveres de bestas era como ver um Anel Espacial cheio de cadáveres humanos para outras pessoas.

Ela rangeu os dentes de raiva e ódio, mas devolveu o Anel Espacial a Shang.

— Você pode entrar — disse com uma voz controlada, porém gélida.

Shang assentiu e passou por ela.

Naquele momento, a Espiritualista se sentia frustrada, impotente e furiosa.

As pessoas do Reino Fonte Espiritual eram proibidas de matar bestas sem um bom motivo. Afinal, humanos e bestas precisavam trabalhar juntos.

Contudo, desde que o Reino Trovão Celeste ganhara seu novo rei e entrara na guerra, pessoas do Reino Trovão Celeste apareciam no Reino Fonte Espiritual.

Para eles, matar bestas era normal.

Matar uma besta era como encontrar ouro no chão.

Muitos anos de diplomacia e negociações ocorreram após uma grande revolta atravessar os cidadãos do Reino Fonte Espiritual devido à brutalidade do Reino Trovão Celeste.

Eventualmente, o Reino Trovão Celeste decidiu enviar guerreiros e Magos ao Reino Fonte Espiritual apenas quando especificamente solicitado.

Contudo, se eles estivessem presentes, poderiam viver de forma semelhante ao Reino Trovão Celeste.

Isso incluía caçar bestas para obter recursos.

Ver um guerreiro no Reino Fonte Espiritual era incomum, mas não totalmente raro.

No entanto, sempre que alguém do Reino Fonte Espiritual via um guerreiro, cerrava os dentes com ódio.

Sim, os guerreiros estavam ali para protegê-los do Reino Pureza Mágica, mas também matavam bestas.

Para eles, tal guerreiro ou Mago era comparável a um ogro que protegia uma vila, mas que entrava na vila de tempos em tempos para comer uma criança.

Eles odiavam o ogro, mas precisavam dele.

Ao entrar na cidade, Shang viu inúmeras bestas ao seu redor.

Havia bestas maiores que puxavam carroças, menores que usavam fogo para cozinhar alimentos ou derreter minério, pequenas bestas voadoras que entregavam coisas de um prédio para outro, e até bestas maiores que patrulhavam as ruas para manter a ordem.

Enquanto o Reino Trovão Celeste usava guerreiros para manter a ordem pública, o Reino Fonte Espiritual usava bestas.

Ao caminhar pelas ruas, uma besta após a outra olhava para Shang com uma mistura de emoções.

Raiva.

Inimizade.

Medo.

Claro, as pessoas notaram as reações das bestas e ficaram tão cautelosas quanto com Shang.

A rua, que antes era movimentada, agora estava em completo silêncio, com todos olhando para Shang.

Passo. Passo. Passo.

Os passos de Shang ecoavam pela rua silenciosa, interrompidos apenas por uma besta ou humano se afastando do caminho.

Estar nessa posição tinha uma sensação especial.

Se isso tivesse ocorrido uma década antes, Shang se sentiria desconfortável, mas não mais.

Nos últimos dez anos, Shang se acostumara a essa sensação de isolamento.

Tornar-se mais poderoso significava matar os que estavam ao seu redor.

Ele era Entropia, o inimigo de tudo que vive.

Ele estava com as Abominações, o inimigo de tudo que vive.

Shang estava isolado.

E ele estava acostumado a estar isolado.

Eventualmente, Shang encontrou uma loja que vendia mapas.

O atendente da loja tratou Shang de forma fria e exigiu saber o que ele queria.

— Um mapa geral do Reino Fonte Espiritual. Não precisa ser muito detalhado — disse Shang.

— 200 de ouro — exigiu o atendente em voz fria.

Obviamente, esse preço era ridículo.

Um mapa desses valia, no máximo, uma moeda de ouro.

No entanto, Shang pegou 200 de ouro e colocou no balcão.

Quando o atendente viu o ouro, esboçou um sorriso de desdém, guardou o dinheiro, pegou um mapa e o jogou para Shang.

— Agora, saia da minha loja! — exigiu.

Shang não disse mais nada e apenas saiu com o mapa.

As ruas não haviam recuperado a vivacidade.

Shang podia sentir uma sensação intensa de rejeição emanando da cidade inteira.

Eles o odiavam.

Queriam que ele fosse embora.

Após alguns minutos, Shang saiu da cidade novamente.

As pessoas esperando na fila do lado de fora cochichavam entre si ao vê-lo passar.

E então, Shang entrou na floresta.

Ele conseguira o que tinha ido buscar.