Capítulo 551: Demissão
— E você acha que isso é uma boa ideia… por quê?
Um homem de meia-idade, trajando caras vestes vermelhas, olhava para um jovem com roupas cinzentas mais simples.
— Só quero ser cuidadoso, senhor — disse o jovem, com nervosismo.
O homem mais velho suspirou. — Garoto, você tem ideia de quanto custa desativar e ativar a barreira?
O jovem olhou para o chão com incerteza. — Não sei, senhor, mas acho que descuido pode levar a consequências piores.
— Descuido? — repetiu o homem mais velho, levantando uma sobrancelha. — Há uma diferença entre ser cuidadoso e ser paranoico. Verificar os arredores em busca de bestas ao atravessar uma floresta é ser cuidadoso. Comprar uma barreira de deflexão móvel de nível cinco para passear no jardim é paranoia.
O jovem parecia desconfortável. — Mas, senhor, e a Família Lenner?
— Eles morreram. E daí? — questionou o homem mais velho.
— Sim, e eles eram nossos aliados, senhor. Então, não seria lógico pensar que quem os atacou pode nos atacar em seguida? — perguntou o jovem.
O homem mais velho ergueu uma sobrancelha e o encarou por um momento. — Isso é sobre os rumores?
O jovem não respondeu, mas seus olhos revelavam inquietação.
O homem mais velho soltou um gemido. — Sério? Você também?
— Senhor, várias pessoas confirmaram os rumores — disse o jovem, com cuidado.
— Garoto, você precisa aprender a avaliar o quanto acredita em uma afirmação — respondeu o homem mais velho, suspirando e massageando a ponte do nariz, irritado.
— A família Lenner foi morta por uma única pessoa? Provavelmente.
— Foi morta por algum tipo de magia nunca antes vista? Talvez.
— Foi morta por algo que não era nem besta nem magia? Muito improvável.
— Foi morta por um fantasma literal branco? Não.
— Sim, várias pessoas confirmaram que uma pessoa vestida de branco destruiu a Família Lenner e desapareceu, mas isso não significa que essa pessoa era algum fantasma estúpido.
— Somos magos, não camponeses, garoto. Sabemos mais sobre o mundo do que qualquer outro, e não há provas da existência de fantasmas. Todas essas histórias de fantasmas podem ser explicadas por fenômenos específicos que só acontecem nesses lugares.
O jovem ainda olhava nervoso para o homem mais velho.
Ao ver o olhar inquieto, o homem mais velho respirou fundo.
Então, apontou para trás de si.
— Está vendo aquilo? A Família Lenner tinha isso? — perguntou o homem mais velho.
O jovem olhou além dele.
Atrás do homem mais velho, havia um portão gigantesco com quase 200 metros de altura. Um pouco à frente do portão, uma bolha quase translúcida emanava uma quantidade aterrorizante de Mana.
À distância, um enorme castelo feito de metal verde ondulado erguia-se sobre uma colina.
Se alguém com um Sentido Espiritual chegasse àquele local, seria capaz de perceber mais de 500 Altos Magos no castelo, incluindo dez Altos Magos no Pináculo e um Arquimago!
Ding! Ding!
— Temos uma Barreira de Repulsão de Grau Cinco Média — disse o homem mais velho, irritado, enquanto batia os nós dos dedos contra a barreira atrás dele.
— Esta maravilha pode resistir a um ataque total de um Arquimago Intermediário por mais de 30 segundos. A Família Lenner só tinha uma Barreira de Repulsão de Grau Cinco Iniciante, e nem sequer possuía a função de escaneamento adicional.
— Algum Arquimago da Escuridão Iniciante ou Básico provavelmente se escondeu entre os visitantes, chegou ao patriarca, assassinou-o e destruiu tudo por dentro.
— Não temos esse problema, garoto. Se alguém tentar mudar sua aparência ou se infiltrar, saberemos, e, se decidirem atacar diretamente, não passarão pela barreira antes que um Executor chegue.
— Não somos tão indefesos quanto a Família Lenner, garoto. Coloque isso na sua cabeça! — disse o homem mais velho, irritado.
O jovem abaixou um pouco a cabeça.
Ele era apenas um Alto Mago Iniciante e sentia-se bastante intimidado pelo capitão, que era um Alto Mago Avançado.
Ainda assim, o jovem estava nervoso.
— Entendo tudo isso, capitão, mas…
Uma expressão de desgosto surgiu no rosto do homem mais velho ao ouvir o ‘mas’.
— E se houver uma falha?
Silêncio.
— Falha — repetiu o homem mais velho.
O jovem assentiu esperançosamente.
— É por isso que acho que devemos desativá-la, inspecioná-la e ativá-la novamente. Ouvi falar de várias barreiras que falharam em cumprir seu propósito devido a erros que só podem ser encontrados em uma inspeção — disse o jovem.
O homem mais velho bufou. — O fabricante não se atreveria a deixar algo assim acontecer. Poderíamos arrancar uma fortuna deles se nos vendessem uma barreira defeituosa.
— Eu sei, mas — acrescentou o jovem — de que adianta arrancar dinheiro deles se estivermos todos mortos?
— Chega! — gritou o homem mais velho. — Já cansei das suas lamentações! Sabemos o que estamos fazendo e como nos defender de invasores e atacantes! Volte ao trabalho e pare de me incomodar! Não vamos desativar a barreira por causa da sua paranoia!
Enquanto ouvia o sermão, o rosto do jovem se contorceu.
Depois que o homem mais velho terminou, o jovem finalmente olhou nos olhos dele com irritação e desgosto.
— O quê? Tem alguma reclamação? — perguntou o homem mais velho.
O jovem tirou um dos Anéis Espaciais.
SHING!
Suas vestes cinzas foram substituídas por uma camisa verde e calças verdes.
O homem mais velho levantou uma sobrancelha.
— Aqui — disse o jovem, enquanto entregava o Anel Espacial ao homem mais velho. — Eu me demito.
— Sério? Vai se demitir por causa da sua paranoia? — perguntou o homem mais velho com um tom inexpressivo.
— Não me sinto seguro aqui — respondeu o jovem, irritado. — E você continua descartando todos os meus argumentos só porque custa um pouco de dinheiro verificar a barreira. Você está colocando alguns Cristais de Mana acima das nossas vidas, e eu não vou trabalhar para alguém tão irresponsável.
— Irresponsável? Pfft — repetiu o homem mais velho, com um risinho. — Certo, então se demita. Me dê a PCS.
O jovem colocou um dos dedos na lateral da cabeça e começou a entoar um feitiço.
O acrônimo PCS significava Partição de Conhecimento Sensível, uma seção da mente que continha todas as informações de um determinado assunto consideradas sensíveis.
Durante o contrato com certos locais de trabalho, os funcionários precisavam concordar em configurar uma PCS em suas mentes.
As PCSs possuíam alta resistência a métodos de leitura mental, e o conhecimento nelas armazenado podia ser facilmente apagado caso o indivíduo não desejasse mais trabalhar no local.
Alguns segundos depois, uma névoa cinzenta e tênue saiu da cabeça do jovem e flutuou em direção ao homem mais velho.
O homem mais velho também conjurou um feitiço.
Depois de observar a névoa cinzenta por três segundos, ele assentiu e a destruiu.
— Pode ir — disse o homem mais velho, com um tom neutro.
— Tchau — respondeu o jovem sem entusiasmo, enquanto se afastava.
O homem mais velho não disse nada.
Por vários minutos, ele permaneceu sozinho em frente ao portão e à barreira.
Seu trabalho era mostrar ao novo recruta como as coisas funcionavam, mas parecia que precisaria guardar os portões sozinho pelo restante do turno.
— As pessoas não têm ideia de como têm sorte de estar aqui — resmungou o homem mais velho.
A entrada do enorme castelo apontava para o oeste, e o crepúsculo começava a se aproximar.
O homem mais velho observava o crepúsculo com interesse tranquilo. Os crepúsculos naquele lugar sempre eram incríveis por causa das montanhas e das cores.
Eles também traziam uma certa paz de espírito, distraindo-o de seu trabalho estressante.
Frequentemente, ele se voluntariava para orientar os novos funcionários, pois isso lhe garantia um turno de tranquilidade, enquanto seu substituto no interior do castelo lidava com todas as questões de segurança.
Enquanto observava o crepúsculo, algo se moveu no canto de sua visão.
Ele franziu a testa e olhou para a longa estrada.
“O que é isso?” pensou. “Não consigo sentir nada com meu Sentido Espiritual, mas juro que estou vendo alguma coisa.”
“Isso é… um homem?”
O homem mais velho apertou os olhos e rapidamente lançou um feitiço que melhorava sua visão.
Então, ele viu o que era e respirou fundo.
“Isso é… um fantasma?!”
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