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    Wester ergueu uma sobrancelha ao ouvir aquilo.

    — O Deus Mago? — ele perguntou, incerto.

    O Imperador Relâmpago assentiu.

    — De certa forma, ele parece uma versão alternativa de Lucius. Lucius era uma pessoa gentil que escondia um núcleo sombrio de desejo e ambição. Na maior parte do tempo, ele era um sujeito agradável que despertava boa vontade em todos.

    — No entanto, em raras ocasiões, ele perdia o controle e, quando isso acontecia, frequentemente esquecia o que era certo ou errado.

    — Naturalmente, depois que se acalmava, sentia vergonha e tentava corrigir seus erros o máximo possível. Ele genuinamente se arrependia de algumas de suas ações.

    — Mas esse guerreiro é o oposto — disse o Imperador Relâmpago, acariciando sua pequena barba.

    — Ele parece alguém que faz exclusivamente coisas egoístas e nunca faz nada além disso.

    — No entanto, quem sabe? Talvez, de vez em quando, ele também faça algo bom sem perceber. Pode ser por acidente, mas, em certo sentido, não existem acidentes reais.

    — Se você toma uma decisão, algo dentro de você quer tomar essa decisão. Você pode acreditar que fez algo sem querer, mas, no fim, não teria escolhido o que escolheu se não houvesse uma pequena parte de você que quisesse fazer essa escolha.

    O Imperador Relâmpago permaneceu em silêncio por alguns segundos.

    — Quais são suas ordens, senhor? — Wester perguntou.

    O Imperador Relâmpago permaneceu calado.

    Então, alguns segundos depois, suspirou. — Eu não sei.

    — Sabe, quando estou incerto sobre alguém, costumo olhar nos olhos dessa pessoa, mas…

    Wester não respondeu.

    — Falando nisso, por que ele não tem olhos? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Eu não perguntei — disse Wester.

    — Bem, tanto faz — disse o Imperador Relâmpago. — Algumas pessoas têm métodos muito peculiares quando se trata de treinamento. Por exemplo, uma delas se recusava a sair durante o dia e também se recusava a olhar para fora nesse período. Ela queria manter seus sentidos para a Mana da Escuridão o mais aguçados possível.

    — Além disso, Adam consumiu partes do próprio corpo para analisar a sensação do próprio organismo e compreender os Conceitos da Vida.

    — E Kali até entrou de bom grado em coma por mais de 5.000 anos quando se tornou uma Lorde Mago para sentir os efeitos de se aproximar da morte.

    — Eu não ficaria surpreso se esse guerreiro decidisse arrancar os olhos por algum motivo arbitrário.

    — Na verdade, você sabia que…

    — Senhor — interrompeu Wester. — O senhor está se desviando do assunto.

    O Imperador Relâmpago piscou algumas vezes, surpreso.

    — Ah, é mesmo.

    Então, franziu a testa novamente e coçou o queixo, pensativo.

    — O que fazer… o que fazer…

    Após alguns segundos, ele se recostou na cadeira com uma expressão incerta.

    — O que os outros Imperadores fariam? — Wester perguntou de repente.

    — Os outros? — o Imperador Relâmpago repetiu, pensativo.

    Então, uma expressão complexa surgiu em seu rosto.

    — Bem, você ouviu o motivo pelo qual estão considerando tornar aquele lunático um Imperador — disse o Imperador Relâmpago.

    Wester assentiu.

    — Poder, autoridade, destino e verdade, certo?

    O Imperador Relâmpago assentiu.

    — Acho que seria semelhante neste caso. Claro, isso apenas se esse guerreiro fosse um Mago. Como você sabe, os outros não são muito fãs de Físis.

    — Se ele fosse um Mago, provavelmente investiriam nele pelo mesmo motivo pelo qual querem tornar aquele garoto um Imperador.

    — Poder é destino, e todos devem ter a chance de cumprir seu destino.

    — Se não permitirmos que aquele garoto se torne um Imperador, ele pode até tentar matar um. E então, o que faremos? Devemos nos unir contra alguém apenas porque ele está tentando eliminar aqueles que tentam mantê-lo fraco?

    — Humanos buscam poder, e negar a alguém sua busca por poder é o mesmo que interferir no destino de Aterium.

    — Todos merecem uma chance de realizar seu destino.

    Então, o Imperador Relâmpago suspirou.

    — Mas então, por que destruímos todos os outros caminhos naquela época?

    — Com base nessa lógica, não deveríamos também dar às Abominações uma chance de viver?

    O Imperador Relâmpago suspirou novamente.

    — Além disso, outro motivo pelo qual estão considerando a possibilidade daquele garoto se tornar um Imperador são as Abominações.

    — Nós não somos poderosos o suficiente para detê-las, e é por isso que precisamos de alguém mais forte.

    — Mas e depois? A primeira coisa que alguém como aquele lunático faria seria matar todos os outros Imperadores para se juntar a Lucius na Divindade.

    — E esse guerreiro não é diferente. Ele faria a mesma coisa.

    — Esse é o nosso destino? Nosso destino é morrer para esses loucos? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Me recuso a acreditar nisso — acrescentou.

    — Lucius se tornou nosso Deus, e se Lucius quiser que algo aconteça, isso acontecerá. Se esse lunático está destinado a alcançar o poder, não há nada que possamos fazer para impedi-lo.

    — Mas e se ele não estiver destinado a alcançar o poder?

    — E se ele foi enviado como um adversário, alguém que deve unir todos contra ele e nos despertar de nossa complacência?

    O Imperador Relâmpago permaneceu em silêncio novamente.

    Então, ele gemeu de exasperação.

    — Cara, isso é demais para mim! — ele gritou, irritado. — Sabe, eu segui Lucius desde que éramos Aprendizes. Ele já era excepcional naquela época, e eu era apenas um pouco mais talentoso do que os outros. Apenas continuei seguindo ele para todo lado, e sempre que temíamos que fôssemos morrer, Lucius nos salvava.

    — Eu nunca fui o que decidia o que faríamos. Eu só estava lá para ajudar meu amigo a alcançar seu objetivo. Eu sempre fui apenas um suporte.

    — Nunca quis governar um Império ou algo assim.

    O Imperador Relâmpago suspirou novamente.

    — Eu só quero sair em aventuras com Lucius de novo.

    Silêncio.

    Então, de repente, o Imperador Relâmpago pegou um dos livros, colocou as pernas sobre a mesa, se recostou e colocou o livro sobre o rosto.

    — Vou tirar um cochilo! Não quero lidar com isso agora!

    Silêncio.

    Wester apenas olhou para o Imperador Relâmpago com uma expressão neutra.

    — Pergunte-me de novo em mil anos — disse o Imperador Relâmpago, afastando Wester com um gesto preguiçoso da mão.

    Wester piscou uma vez, sem emoção.

    — E o que devo fazer com ele até lá? — perguntou Wester profissionalmente.

    — Sei lá — disse o Imperador Relâmpago com um dar de ombros. — Apenas trate-o como um Candidato a Rei até lá. Quem sabe, talvez ele acabe se matando com o próprio treinamento antes disso?

    Wester queria nada mais do que suspirar ou gemer, mas jamais quebraria a etiqueta dessa forma.

    Se os outros Reis soubessem como seu Imperador tomava algumas decisões…

    — Farei como ordenado, senhor — disse Wester, fazendo uma reverência educada.

    Então, ele saiu lentamente da sala.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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