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    Ainda assim, mesmo que o Imperador Relâmpago agora compreendesse melhor Shang, o problema ainda não havia sido resolvido.

    Naturalmente, a metáfora que o Imperador Relâmpago havia dado não conseguia cobrir completamente todos os aspectos da questão.

    Por exemplo, enquanto a besta na metáfora poderia ajudar a pessoa a se tornar mais poderosa, Shang não poderia, de forma alguma, ajudar o Imperador Relâmpago a se tornar mais poderoso.

    O Imperador Relâmpago já estava no auge do que poderia alcançar. Mesmo que Shang se tornasse um Imperador Guerreiro e decidisse ajudá-lo em tudo, o que isso mudaria?

    No máximo, o Imperador Relâmpago se tornaria o mais forte entre os Imperadores depois de Shang, mas isso não fazia muita diferença para ele.

    Nem todo mundo era como Shang, e o Imperador Relâmpago estava satisfeito com o poder que possuía.

    Ele podia fazer o que quisesse, conversar com quem quisesse e ir para onde quisesse.

    Tornar-se o Imperador mais forte não mudaria isso.

    Quanto a alcançar o poder de Lucius, isso era impossível. O Imperador Relâmpago sabia disso.

    Claro, Shang poderia se tornar um Rei Guerreiro incrivelmente poderoso, o que aumentaria o prestígio e o poder indireto da Fortaleza Relâmpago.

    Mas e depois?

    Eles teriam um pouco mais de poder por cem mil anos, e então Shang morreria, e tudo voltaria ao normal.

    E se ele não tivesse morrido nesse tempo, significaria que havia se tornado um Imperador, e, nesse caso, todos os outros Imperadores precisariam temer por suas vidas.

    Não havia nada de positivo em apoiar Shang.

    — Seu objetivo é se tornar poderoso? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    Shang assentiu.

    — Poderoso em que sentido? — perguntou o Imperador Relâmpago. — Você quer governar sobre os outros?

    — Não — respondeu Shang.

    — Você quer a liberdade de fazer o que quiser?

    — Não.

    — Você quer usar seu poder sobre os outros?

    — Não.

    — Então, o que você quer com esse poder? — perguntou o Imperador Relâmpago, franzindo a testa.

    Tudo o que Shang havia dito até agora estava em sintonia com o mundo, o que significava que ele não estava mentindo.

    No entanto, exatamente isso confundia tanto o Imperador Relâmpago.

    Poder não era um objetivo, mas um meio para alcançar um objetivo.

    Era uma ferramenta.

    Quando alguém era o mais poderoso, podia fazer o que quisesse sem precisar temer ninguém.

    Ainda assim, parecia que Shang queria apenas ter o poder, sem realmente ter um motivo para usá-lo.

    Era como se estivesse tentando acumular as armas mais poderosas do mundo e então apenas…

    Olhá-las?

    Possuí-las?

    — Por que você quer ter poder? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Porque eu quero ser o mais forte — respondeu Shang.

    — Então, pelo status? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    Surpreendentemente, Shang não respondeu imediatamente.

    — Não — respondeu Shang após dois segundos.

    O Imperador Relâmpago piscou algumas vezes.

    — Certo, então, suponha que não houvesse pessoas ou bestas em todo o mundo. Você ainda buscaria poder dessa forma? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Sim — respondeu Shang.

    — Você não se importa com os outros?

    — Não.

    — E se os humanos mais fortes estivessem no Terceiro Reino e você estivesse no Quinto Reino, e fosse completamente impossível para qualquer outro sequer alcançar o Quarto Reino? Você ainda dedicaria toda a sua vida à busca por um ilustre Sexto Reino? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Sim — respondeu Shang.

    — Por quê?

    — Porque eu quero ser o mais forte — disse Shang. — Não espero que você entenda. Eu mesmo não sei por que quero ser o mais forte. Eu simplesmente quero.

    — Sinto que é para isso que eu existo.

    — Sinto que é o que eu deveria fazer, e se não puder alcançá-lo, nada mais importa — explicou Shang.

    O Imperador Relâmpago já havia esquecido completamente seu chá, fascinado por esse enigma de personalidade.

    — Isso não parece ambição — disse o Imperador Relâmpago. — Parece controle mental.

    — Controle mental? — Shang perguntou.

    — Sim, controle mental. Humanos fazem coisas porque têm razões para fazê-las. Você pode questionar qualquer ação consciente de um humano com um ‘por quê?’, e sempre obterá uma resposta, assumindo que a outra parte seja honesta.

    — Você quer poder, certo?

    Shang assentiu.

    — Por que você quer poder?

    — Porque eu quero poder.

    — Exatamente esse é o problema — disse o Imperador Relâmpago. — Sua ação é autorreferencial. A razão para sua ação é sua ação, e sua ação é sua razão.

    — Ela existe porque existe.

    — Embora possa haver coisas neste mundo que realmente existam por esse motivo, uma ação humana definitivamente não é uma delas.

    — Sempre há uma razão, e mesmo que você não saiba qual é, pode ter certeza de que ela ainda existe.

    — Só porque você não sabe que algo existe, não significa que não exista.

    — Certo — disse Shang. — Então, qual é minha razão para querer poder?

    — Eu não sei, pois não vi sua vida — disse o Imperador Relâmpago.

    Então, o Imperador Relâmpago suspirou. — Acho que nos desviamos demais do tópico real. Deixe-me fazer mais algumas perguntas.

    Shang assentiu.

    — Suponha que você se torne um Rei Guerreiro e alcance o auge do seu Reino. O que faria em seguida? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    — Encontraria um meio de me tornar um Imperador — respondeu Shang.

    — Certo, suponha que você se torne um Imperador. O que faria então? — ele perguntou.

    — Encontraria um meio de me tornar um Deus — respondeu Shang sem hesitação.

    — Há uma razão específica para querer se tornar um Deus? — perguntou o Imperador Relâmpago.

    Naquele momento, vários pensamentos passaram pela mente de Shang.

    Todos estavam relacionados às suas interações com o Deus.

    A forma como o Deus havia brincado com Shang.

    A forma como o Deus havia demonstrado que Shang não passava de mero entretenimento.

    Shang percebeu que, no passado, seu objetivo havia sido matar o Deus exatamente por esses motivos, e para isso, ele precisava de poder.

    Esse havia sido seu objetivo.

    Essa havia sido a razão pela qual Shang queria se tornar poderoso.

    Mas então, depois de passar por tanto sofrimento e desgraça, as ações do Deus haviam se tornado quase insignificantes.

    Sim, o poder do Deus sobre Shang o fazia se sentir insignificante e suprimido, mas comparado a tudo que Shang havia feito para se tornar mais forte, as travessuras do Deus pareciam tão irrelevantes.

    Era como se Shang estivesse com sede e houvesse uma garrafa de água no topo de uma montanha de espadas e lâminas.

    Sim, Shang queria aquela água, mas aquela garrafa de água não valia essa jornada perigosa e dolorosa.

    Seria melhor simplesmente ir embora e encontrar água em outro lugar.

    Depois de escalar a montanha por tanto tempo, Shang havia se esquecido completamente do motivo pelo qual a estava escalando em primeiro lugar.

    Ele apenas escalava.

    Por que ele escalava?

    Porque queria chegar ao topo.

    Por que queria chegar ao topo?

    Ele não sabia.

    Ele simplesmente queria.

    Por que ele não parava e voltava?

    Metaforicamente, Shang olhou para o rastro de sangue que havia deixado para trás.

    Era um rastro de destruição, sofrimento, tortura e medo.

    Então, ele olhou novamente para o topo da montanha.

    Ele já havia chegado tão longe.

    Se voltasse agora, todo seu sofrimento não teria sido em vão?

    E então, Shang se lembrou da garrafa de água no topo da montanha de espadas e lâminas.

    Ela não importava tanto, mas já que ele estava ali, poderia muito bem pegá-la.

    O que acontece depois disso?

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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