Capítulo 754: Maluco
Vários minutos depois, o Imperador Relâmpago disse a Shang que já tinha ouvido o suficiente.
A essa altura, estava ficando cada vez mais difícil encontrar racionalizações para que Shang estivesse sofrendo de delírios.
— E por que ele o trouxe para Aterium? — perguntou o Imperador Relâmpago.
— Entretenimento — respondeu Shang.
— Entretenimento?
— Entretenimento.
— Por favor, elabore.
— Ele me disse que seu mundo é composto apenas por Magos e que as batalhas entre Magos são as mais entediantes de assistir. Disse que eles apenas jogam Feitiços uns nos outros por horas a fio.
— Ele disse que o mundo deveria entretê-lo, mas, com todos esses Magos, não era muito divertido.
— Foi por isso que ele me convocou, junto com alguns outros.
— Ele precisava de pessoas com certas mentalidades e muita criatividade. Criou corpos para nós que tornavam impossível focarmos em Magia. Agora, sei que ele removeu algo da minha alma que transportava a maior parte da minha Mana para minha mente. O Custodiante já consertou isso.
— Ele quer que criemos mais Caminhos e os tornemos mais poderosos para que haja mais diversidade em seu mundo.
— E a melhor maneira de começar foi fortalecer o novo Caminho guerreiro que surgiu na Área 23.
— Ele me enviou para a Área 23, e foi lá que tudo começou — explicou Shang.
O Imperador Relâmpago respirou fundo.
Era como se todo o seu mundo estivesse sendo virado de cabeça para baixo.
Como ele nunca tinha ouvido falar desse Deus?
Como alguém assim poderia permanecer em segredo por tanto tempo?
Esse realmente era o ser que governava esse mundo?
A essa altura, o Imperador Relâmpago já não tinha quase nenhuma dúvida.
— E quanto ao Deus Mago? — perguntou o Imperador Relâmpago.
Assim que fez essa pergunta, a Mana na sala pareceu parar.
Era como se todo o mundo estivesse esperando pela resposta de Shang.
— Lucius Volstad? — Shang perguntou.
De alguma forma, a atmosfera ficou ainda mais opressiva quando Shang disse esse nome.
— Sim, Lucius Volstad — confirmou o Imperador Relâmpago.
Silêncio.
O Imperador Relâmpago esperava a resposta.
Mas também não queria ouvi-la.
De alguma forma, ele já sabia qual seria a resposta.
— O Deus o matou.
Silêncio.
— O Deus disse que o Imperador Mago entrou em seu palácio como se fosse dono do lugar. Então, segundo as palavras do Deus, ele o chutou por várias horas até que morresse.
Silêncio.
— Ele até me mostrou seu cadáver.
Silêncio.
O Imperador Relâmpago apenas desviou o olhar, sem dizer nada.
A atmosfera era sombria e opressiva.
Dois minutos de silêncio se passaram.
— Por quê? — perguntou o Imperador Relâmpago.
— Porque ele é insano — disse Shang.
Foi como se o mundo levasse um choque, e o Imperador Relâmpago olhou para Shang.
Como Shang podia insultar o Deus dessa maneira? Ele não temia por sua vida?
O Imperador Relâmpago não ousaria insultar um ser tão poderoso, pois não queria morrer.
Mas Shang o fez.
— Insano? — perguntou o Imperador Relâmpago.
— Insano, louco, anormal, descontrolado, perturbado, chame do que quiser — respondeu Shang.
— Em que sentido? — perguntou o Imperador Relâmpago.
— Ele perde o controle das emoções constantemente, começa a gritar, rir alto, gosta de torturar os outros e abusa de seu controle de forma exagerada. Além disso, está apostando com a própria vida por diversão.
— Como ele está apostando com a própria vida? — perguntou o Imperador Relâmpago.
— Porque ainda não me matou — respondeu Shang.
Silêncio.
— Ele brincou com minha vida e emoções várias vezes, e eu quero matá-lo por isso. Ele sabe disso e também sabe que eu tenho uma chance real de conseguir. Mas, em vez de me temer ou simplesmente me matar, ele vê isso apenas como mais entretenimento. Afinal, o que poderia ser mais divertido do que estar em perigo? — explicou Shang.
— Esse foi o motivo original pelo qual quis me tornar poderoso, mas depois de passar por tanto sofrimento e dor, eu esqueci. Até que você me lembrou nesta conversa.
— Agora, eu só quero me tornar poderoso porque quero ser poderoso — disse Shang.
O Imperador Relâmpago olhou para a mesa com uma expressão preocupada.
Tudo isso era incrivelmente difícil de aceitar.
Aparentemente, havia um Deus insano governando este mundo, e tudo o que ele queria era entretenimento.
A antiga questão sobre por que a vida e o mundo existiam foi respondida assim, de forma simples.
Entretenimento.
Só isso.
— O que você sabe sobre o Deus? — perguntou o Imperador Relâmpago.
— Não muito. Não sei de onde ele veio. Não sei do que ele é capaz. Não sei onde ele está agora. Ele não me disse nada — respondeu Shang.
— Ele pode nos ouvir e ver agora? — perguntou o Imperador Relâmpago.
Shang assentiu em silêncio.
— Por que ele não se mostra?
— Não posso ter certeza, mas acho que por dois motivos.
— Primeiro, ele não precisa. Mostrar-se ou não mostrar-se não muda nada.
— Segundo, é mais divertido assim. Se você o vê, tem certeza de sua existência, mas se não o vê, sempre haverá dúvida. Esse tipo de caos é o que o diverte — disse Shang.
— Ele gosta de ver as pessoas lutando contra a incerteza.
O Imperador Relâmpago respirou fundo mais uma vez.
— Certo, e quanto ao outro mundo, a Terra? Se há outro mundo, pode haver ainda mais, certo? — ele perguntou.
— Não sei — respondeu Shang. — Pode ser. Acho que a existência não tem um fim.
— Talvez existam ainda mais Deuses por aí. Não faço ideia.
O Imperador Relâmpago coçou o queixo, pensativo.
— Terras desconhecidas — murmurou ele. — Pensar que pode haver terras desconhecidas por aí.
— Talvez até exista um caminho para se tornar ainda mais poderoso?
— Provavelmente — disse Shang.
O Imperador Relâmpago permaneceu em silêncio por um tempo, apenas olhando distraidamente para o teto de seu escritório.
Shang também não disse nada.
Depois de um minuto, o Imperador Relâmpago respirou fundo e olhou para Shang.
— Certo, tenho uma última pergunta.
— O Deus lhe disse algo sobre o Filho da Calamidade?
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