Capítulo 976: Desprezo

Após alguns minutos, Shang chegou ao local onde sua Barreira de Isolamento havia estado apenas uma hora atrás.

Naturalmente, Gregorio já estava esperando ali.

Ao ver Shang, ele sentiu uma mistura de alívio e preocupação.

Shang ainda estava vivo, o que era bom, mas a nova cor de suas roupas também o preocupava.

— Shang, o que aconteceu? — Gregorio perguntou.

— Algumas coisas, Gregorio — Shang respondeu.

Gregorio ficou surpreso ao ouvir Shang chamá-lo pelo nome.

Shang nunca havia se referido a ele pelo nome!

“Exatamente como eu esperava”, Gregorio pensou. “Algo dentro dele mudou. Só espero que o Shang que conheço ainda esteja lá.”

— Pode me explicar? — Gregorio perguntou.

— O Conceito de Entropia de nível seis, a própria Entropia — Shang disse. — Só pode ser compreendido tornando-se uma Abominação.

Gregorio respirou fundo.

— Ou, pelo menos, criando uma mente com 70% de Entropia e 30% de Mana — Shang disse. — Se eu tivesse uma mente de Abominação, não estaria conversando com você. Em vez disso, estaria correndo por aí, absorvendo Mana e explodindo.

Gregorio assentiu. Isso era verdade.

— Compreendi o Conceito, criei uma nova alma e refiz meu corpo.

— Agora estou livre da dor, Gregorio.

— Estou livre do sofrimento.

— Estou livre das preocupações com longevidade.

— E estou livre da fraqueza de um corpo humano.

Gregorio não gostava nada do que estava ouvindo.

SHING!

Os olhos de Gregorio quase saltaram da cabeça quando viu Shang subitamente brotar novos braços e pernas.

O tecido havia se transformado em um terno, e Gregorio podia ver os braços robustos de Shang, suas garras aterrorizantes e suas pernas ágeis.

Especialmente suas pernas faziam com que ele parecesse qualquer coisa, menos humano.

Elas simplesmente pareciam tão… erradas!

Shang puxou o capuz vermelho da cabeça, e a bandagem se desfez, revelando seus olhos negros.

Ao olhar para aqueles olhos, um calafrio percorreu a espinha de Gregorio.

Quando Shang havia aparecido na Fortaleza Relâmpago pela primeira vez, Gregorio havia analisado sua mente com um Feitiço extremamente avançado.

Na época, Gregorio havia dito que Shang estava envolto em escuridão, mas que um núcleo emocional estava oculto no fundo de seu ser.

Gregorio não sabia como proceder com Shang. Também havia dito que, em situações como essa, olharia nos olhos da pessoa.

Infelizmente, Shang não tinha olhos naquela época.

Mas agora, ao olhar nos olhos de Shang, Gregorio finalmente obteve a clareza que desejava naquela época.

Talvez aquele núcleo emocional estivesse presente antes.

Mas agora, não mais.

Aqueles olhos negros falavam de nada além de uma ganância insaciável e uma fome infinita por poder.

Não importava o que fosse necessário, Shang sacrificaria tudo pelo poder.

Sacrificaria seus amigos, sua família, o mundo, seu corpo, sua alma, tudo!

E depois de recuperar tudo, Shang poderia sacrificá-lo novamente por ainda mais poder!

Naquele momento, a mente de Gregorio estava em tumulto.

Ele considerou se deveria ter matado Shang naquela época.

Se fossem tempos normais, a resposta seria um definitivo sim, mas, se fossem, Gregorio já o teria matado de qualquer forma.

A razão pela qual Gregorio não o havia matado antes era o Rei Morte Santificada, e essa razão ainda era válida até hoje.

Sem Shang, o Rei Morte Santificada talvez já tivesse matado um Imperador.

Ou, talvez, ele e Kali já tivessem planejado há muito tempo sacrificar Adam para ele.

Abaddon não sentia pertencimento ou amor. Ele não teria problemas em matar seu pai para ganhar mais poder.

Kali também era desprovida de emoções e passou a vida inteira lutando contra seu desejo de ver Adam morrer.

E Adam estava mais do que disposto a se sacrificar por sua família.

Era muito possível que Abaddon já tivesse matado vários Imperadores, e, nesse caso, Gregorio teria libertado o Arquivista, que provavelmente teria matado Abaddon.

…E talvez todos os outros Imperadores também por tê-lo mantido preso por tanto tempo.

Gregorio já estaria morto.

Mas, agora, Gregorio ainda estava vivo.

Graças a Shang.

Além disso, embora Gregorio só pudesse sentir ganância e fome de poder nos olhos de Shang, isso talvez não fosse algo tão ruim.

Uma besta gananciosa por poder deixaria a pequena floresta depois de crescer demais.

Enquanto isso, alguém como Abaddon talvez nunca deixasse a floresta depois de se tornar a maior besta.

Shang só tinha poder em sua mente.

Não vingança.

Não status.

Não governança.

Não controle.

Não dominação.

Ele queria apenas poder.

E quando não houvesse mais poder a ser encontrado em Aterium, ele partiria.

Por fim, havia uma diferença entre ganância estúpida e ganância inteligente.

Usar uma ferramenta e depois destruí-la quando não fosse mais útil era estupidez, pois, nesse caso, todas as outras ferramentas veriam o que aconteceu e não gostariam de ter um dono assim.

O Templo de Sangue era um ótimo exemplo.

Shang havia sido uma ferramenta deles para ganhar muito dinheiro, mas, em vez de se livrarem dele, apenas se separaram de maneira amigável.

Se, por algum motivo, o Templo de Sangue precisasse de Shang novamente, poderiam contatá-lo, e ele provavelmente aceitaria por uma compensação adequada.

Shang não era burro.

Ele não sairia matando todos que o conheciam ou destruiria Aterium antes de partir.

Talvez, um dia, Aterium voltasse a ser útil para ele?

Pelo menos, essa era a avaliação de Gregorio sobre a personalidade de Shang.

— Shang — Gregorio disse após um tempo — o que você sente por Aterium?

Shang ergueu uma sobrancelha, cético. — Aterium? — repetiu com um leve tom de apreensão.

Gregorio ficou surpreso com a vivacidade nas palavras e na expressão de Shang.

Durante todo o tempo em que Gregorio conhecia Shang, ele falava como um robô sem emoções.

Mas agora, havia emoções reais em sua voz e em sua expressão.

E as emoções eram desdém, nojo e apatia.

Gregorio não sabia muito bem como se sentir em relação a isso.

— Não me importo com Aterium — Shang disse.

— Se todos viverem ou morrerem, isso é irrelevante para mim.

— Aterium não tem nada a ver comigo.

Gregorio respirou fundo.

— E eu? — ele perguntou.