Episódio 231 – Guardiões da Santa Cruz (3)
O Mosteiro de St. Crute tinha uma longa história e tradição, e abrigava cerca de 300 membros dos Guardiões da Santa Cruz.
“Não ficamos aqui o tempo todo. Somos enviados para todo o continente e usamos o Mosteiro de St. Crute apenas como nossa base.”
Manual falava com animação sobre isso e aquilo, de modo que Jude e Cordelia não se entediaram até chegarem ao Mosteiro.
“Nosso líder de filial está fora da cidade no momento, mas ele volta amanhã. Então, por favor, relaxem hoje e aproveitem a festa de boas-vindas.”
“Festa de boas-vindas?”
“Sim, uma festa de boas-vindas. Os heróis dos Guardiões chegaram, então é apropriado fazermos uma festa de boas-vindas, né?”
Manuel olhou ao redor como se buscasse o consenso dos demais, e os membros responderam em uníssono:
“Isso mesmo.”
“É como ele disse.”
“É o que se espera.”
Cordelia se encolheu ao vislumbrar um toque de loucura em seus olhos, e, sem pensar, puxou a manga de Jude. Jude respondeu a Manuel enquanto discretamente protegia Cordelia com seu corpo.
“Entendi. Estamos ansiosos por isso.”
“Hehe, aguardem ansiosamente.”
Quando Manuel riu animadamente, os demais membros começaram a rir com ele, e Cordelia segurou a manga de Jude com um pouco mais de força.
E cerca de meia hora depois.
Depois de deixarem a movimentada cidade comercial, Jude e Cordelia se surpreenderam ao chegar ao Mosteiro de St. Crute, localizado nos arredores.
Na entrada de pedra do Mosteiro de St. Crute, havia pelo menos 300 pessoas enfileiradas — basicamente, todos os membros residentes dos Guardiões da Santa Cruz. Entre eles, cavaleiros seguravam imponentes estandartes da ordem, criando uma cena digna de uma cerimônia de expedição.
“Você tá falando sério?”
“Sim, não estamos de brincadeira.”
Diante da pergunta de Cordelia, Manuel riu novamente, e sua suspeita se confirmou.
“Em nome dos Guardiões da Santa Cruz, damos as boas-vindas aos dois heróis.”
Quando a mulher que estava na linha de frente os cumprimentou cordialmente e se curvou, todos os guardiões, vestidos com seus uniformes preto e branco, também se curvaram, formando uma cena realmente espetacular.
Mas Cordelia, inconscientemente, puxou a manga de Jude.
Porque, além de estar feliz, ela não entendia muito bem a situação atual.
[Jude, Jude. Por que estão fazendo isso?]
[Porque já fizemos muita coisa?]
[Hã?]
[Pense nisso.]
Pense no que temos feito.
Tudo o que já fizemos.
Para o público geral, a única coisa divulgada foi que impediram a conspiração do Lorde Protetor. Mas, sob o olhar dos Guardiões da Santa Cruz, o impacto das ações de Jude e Cordelia ia muito além disso.
[Quantos humanos demoníacos já capturamos até agora? Também destruímos os Portões do Inferno.]
[Eh? … ah!]
Para os Guardiões da Santa Cruz, todos os seguidores demoníacos precisavam ser destruídos, independentemente de pertencerem à Mão do Diabo ou ao Olho do Diabo.
Porém, o número de humanos demoníacos que Jude e Cordelia haviam eliminado até então não era pequeno.
A quantidade de humanos demoníacos de baixo escalão na filial norte de Saluzia diminuiu seriamente por causa de Jude e Cordelia, e o Olho do Diabo também perdeu dezenas de humanos demoníacos de baixo e médio escalão nas terras selvagens por causa dos dois.
Sem contar os Portões do Inferno.
Jude e Cordelia destruíram não um, mas dois desses portões e impediram que o Lorde Protetor — que estava prestes a ascender ao nível mais alto de humano demoníaco — se fortalecesse ainda mais.
Para completar, usaram o nome dos Guardiões da Santa Cruz como justificativa para várias de suas ações, fazendo com que a reputação da ordem subisse junto com a deles.
“Os Guardiões ideais.”
“Os heróis dos Guardiões.”
“Os humildes que deram glória aos Guardiões.”
Esse último julgamento era algo que apenas os Guardiões poderiam fazer — pois, no fim das contas, sabiam que nada do que Jude e Cordelia haviam feito tinha sido com a ajuda deles.
E havia ainda mais alguns elogios:
“O estimado discípulo de Landius.”
“Alguém talentoso o bastante para liderar os Guardiões da Santa Cruz no futuro.”
“Pessoas talentosas que o Mestre Kamael tem observado com interesse.”
Landius não fazia parte dos Guardiões da Santa Cruz, mas, na prática, a maioria dos membros pensava nele como um dos seus.
Ele era o camarada de Kamael, um dos seis chefes dos Guardiões da Santa Cruz.
Um herói dos Guardiões que continuava a destruir seguidores dos demônios até os dias de hoje.
Como Landius era o mestre de Jude, os Guardiões da Santa Cruz naturalmente o tinham em alta consideração.
E havia mais um motivo realmente importante.
“Um anjo.”
“Um anjo de verdade.”
“O anjo Cordelia!”
Era de se esperar.
Afinal, os Guardiões da Santa Cruz foram originalmente formados por remanescentes de ordens que adoravam os anjos descidos do Céu — os santos.
Para eles, os anjos não eram meros mensageiros dos deuses, mas sim alvos de fé.
Por isso, havia um grupo entre os Guardiões da Santa Cruz que venerava o Santo Anjo Lena, e agora tinham mais um ser para adorar.
Santo Anjo Cordelia.
Um anjo com um rosto e um coração lindos.
De um lado, Jude era o discípulo do maior herói dos Guardiões.
Do outro, Cordelia havia se tornado um ser digno de adoração.
E juntos, realizaram feitos extraordinários.
Diante de tudo isso, não preparar uma recepção calorosa seria, na verdade, a maior anormalidade.
“Preparamos um banquete. Por aqui, por favor.”
Depois que Manuel falou, uma mulher de uns trinta e poucos anos começou a guiar Jude e Cordelia.
Ela era Carmen, a segunda em comando no Mosteiro de St. Crute e uma mestra em artes marciais divinas.
Discípula de Tyburn, um dos seis líderes dos Guardiões, ela também era casada com um colega de treinamento e tinha uma filha.
Seu hobby era tricô, além de cantar hinos sagrados.
E seu dilema atual era não poder passar tanto tempo com a filha devido às constantes missões.
E a razão pela qual Jude e Cordelia descobriram todos esses detalhes triviais era simples.
“É por isso…”
Carmen, completamente bêbada, continuava a falar sem parar.
Cordelia, também embriagada, ria, corando levemente.
“Ehehe, sériooo?”
Os Guardiões da Santa Cruz.
Um dos equívocos comuns sobre os Guardiões da Santa Cruz era considerá-los uma organização de “monges”, mas a realidade era bem diferente.
Na verdade, os Guardiões não eram monges ascéticos que abdicaram de tudo por Deus, e sim um grupo de “guerreiros” dispostos a lutar contra os seguidores dos demônios pelo resto de suas vidas.
Claro, como a ordem havia surgido a partir de diversas seitas religiosas do passado, ainda mantinha, de maneira geral, a aparência de uma organização devotada ao serviço divino.
Mas só de maneira geral.
“Sirva mais!”
“Beba mais!”
Os Guardiões bebiam o forte licor de frutas que o próprio Mosteiro produzia, enquanto rolavam pelo chão de pedra fria, e Carmen, que antes conversava com Cordelia, agora beijava o chão com paixão.
E, em meio a tudo isso, Jude permanecia sóbrio graças ao poder regenerador da Esfera da Vida e à poderosa desintoxicação de seu corpo reformado, então ele não estava nada bêbado. Ele resumiu a cena com uma frase curta:
“Que bagunça.”
Sim, uma completa bagunça.
Pelo menos cem membros dos Guardiões e monges em treinamento haviam perdido o juízo por causa do licor.
Nesse ponto, Jude pensou que a festa de boas-vindas era apenas um pretexto.
‘No fim das contas, eles só queriam encher a cara, né?’
Só precisavam de uma justificativa para transformar aquilo numa farra épica.
Jude estava refletindo sobre isso quando ouviu uma voz vacilante bem ao lado dele.
“Heee… Heh… Hehehe. Ainda tem álcool. Hihihi.”
Ele virou a cabeça.
“Cordelia, você está bem?”
“Hmm? Ah, tôóó. Tô muito bem.”
Cordelia sorriu, o rosto avermelhado, e piscou para Jude antes de perguntar, arrastando as palavras:
“Judeee, Judeee, eu bebo bem, nééé?”
“Pois é. Até que sim.”
Enquanto Carmen, que bebia junto com ela, parecia se fundir com o chão, Cordelia se acomodou e conversou com Jude.
“Ehehehe, eu bebo muito! Pra caralh—”
“Sim, sim. Nossa Cordelia bebe muito bem.”
“Unhum! Eu sou forte! Eu amo bebida! Hihihihihi.”
Ela levou as duas mãos às bochechas, parecendo prestes a apagar, mas então abriu os olhos de repente e encarou Jude, oscilando um pouco.
“Oh! Jude! Meu Judeee! Hihi, meu Jude, nééé?”
“Ah…”
Ela está completamente bêbada.
Mas tudo bem, afinal, ela é fofa.
Jude observou Cordelia por um tempo antes de se levantar.
“Jude?”
“Já deu. Vamos para o quarto.”
“Quarto?”
“Sim, vamos.”
“Ahhh… quarto. Uhum. Táaaa. Me levaaa.”
“Sim, sim, senhora.”
Jude pegou Cordelia nos braços e seguiu para o quarto onde tinham deixado as bagagens.
“Hehehe, aqueles elfos tarados, hehe. Eu ganhei.”
Que diabos você ganhou?
E elfos tarados?
“Ganhei! Ganhei, sim! Eu venci! Eu sou a campeãaa!”
“Sim, sim. Você venceu. Cordelia é a melhor. Invencível.”
“Issooo! Eu sou completamente invencível!”
Jude apertou o abraço para garantir que ela não escorregasse e acelerou o passo.
Ele precisava colocá-la para dormir logo.
E, no quarto.
O quarto estava longe de ser esplêndido, afinal, era um Mosteiro, mas tinha um clima aconchegante por conta do tapete grosso e da lareira em um canto. Jude imediatamente deitou Cordelia na cama ao entrar.
“Banho… melhor deixar pra amanhã.”
Vou deixá-la dormir por enquanto.
“Boa noite, Cordelia.”
Cordelia de repente fechou os olhos e começou a balbuciar, e Jude a cobriu com um cobertor enquanto tentava sair do quarto.
Mas foi justamente nesse momento.
Cordelia agarrou a manga da sua roupa.
E, com uma força inesperada, o puxou de volta.
“Cordelia?”
Jude acabou se sentando na cama e se virou para Cordelia, que o fitava com os olhos marejados enquanto se levantava. De repente, ela o encarou e disse.
“Ei.”
“Sim?”
“Você é mau.”
“Hã?”
“Você é mau. Você é um cara muito mau.”
Do que ela está falando de repente?
Jude franziu levemente a testa e perguntou.
“Porque eu estou sempre em primeiro lugar?”
“Argh, não é isso! Embora isso também tenha sido ruim. Foi realmente, realmente ruim, mas não é isso.”
Então, do que se trata?
Quando Jude ficou confuso, Cordelia bateu no próprio peito, frustrada, antes de puxar a manga de Jude novamente.
“… aquela coisa!”
“Hã?”
“O desejo! Quando você vai usar o seu desejo? Hein? Quando?!”
Já se passaram mais de 10 dias desde que Jude e Cordelia deixaram a capital real.
Desde a competição de luta, quando o assunto do desejo surgiu, já tinha se passado quase um mês.
E ainda assim, nada.
Nada até agora.
“Quando é que você vai usar isso?! Quando?!”
Pô, mas por que diabos você ainda não usou?!
Se ganhou um desejo, então usa, pô! Usa logo!
Pede alguma coisa! Qualquer coisa!
Cordelia agarrou a gola de Jude e o sacudiu. Seus ombros caíram, e ela deu uma leve batidinha no peito de Jude com a cabeça e disse:
“Vamos lá… se apresse… rápido… o que quer que seja.
Você gosta de mim.
Né?
Gosta, não gosta?
Engolindo as palavras, Cordelia ergueu os olhos novamente para encarar Jude.
Seus olhos brilhavam levemente úmidos e carregavam um traço de mágoa, o que fez Jude morder os lábios antes de pousar a mão no ombro dela e dizer:
“Então… Cordelia.”
“Sim.”
“Enfim, você está bêbada, então vou ser honesto com você.”
“Uhum.”
Cordelia, sem perceber, ficou nervosa e engoliu em seco, enquanto Jude desviava o olhar e continuava.
“Então, uh… o que eu quero dizer é… é meio demais pedir algo assim como desejo… certo?”
“Hã?”
“Quero dizer, algo desse tipo…”
Jude ficou um pouco vermelho, constrangido, e ao ver isso, Cordelia corou também. Mesmo estando bêbada, a situação era muito vergonhosa.
“Então… vou usar meu desejo para outra coisa. Tudo bem pra você?”
“Sim… tá bom.”
“Ótimo. Vamos dormir agora.”
Jude afagou a cabeça de Cordelia e tentou se levantar naturalmente, mas não conseguiu.
Ela segurou a mão dele novamente.
“Cordelia?”
“Não… é que…”
“Sim?”
“É que…”
Arrastando as palavras, Cordelia voltou a encará-lo com olhos úmidos, e Jude acabou rindo baixinho. Então, com delicadeza, acariciou a bochecha dela, que estava quente por vários motivos.
Cordelia, por sua vez, se aconchegou na mão grande de Jude e sussurrou:
“Sem beijos nos lábios. O primeiro beijo… vamos fazer isso quando eu estiver sóbria.”
Era a primeira vez em todas as suas vidas.
Beijar bêbada estava fora de questão.
Mas, ao mesmo tempo, ela também não queria que Jude fosse embora.
Por isso, murmurou bem baixinho:
“Só hoje.”
Jude não perguntou mais nada.
Começando pela testa, ele atendeu ao desejo de Cordelia.
Na manhã seguinte.
Cordelia abriu os olhos na cama e lutou contra a pior ressaca de sua vida, tentando reprimir o impulso de chutar o cobertor.
“Aaaaaaaah!”
Eu devo estar maluca. Eu devo estar maluca.
Eu sou uma idiota. Uma completa idiota.
O pior é que se lembrava bem.
Sabia exatamente o que tinha dito e o que tinha acontecido.
Até mesmo o fato de ter implorado para ele beijá-la em todo lugar, menos nos lábios.
“Aaaah, aaaah, aaaah…”
Se debatendo como se tentasse se acalmar, Cordelia fechou os olhos com força e pensou:
‘Vou fingir que estava muito bêbada.’
Quer dizer, eu realmente estava bêbada.
Então vou fingir que não lembro de nada.
Isso mesmo.
Sim, é isso! É isso!
‘Mas ainda assim…’
Lembrando dos acontecimentos da noite anterior, Cordelia cobriu o rosto com as duas mãos. Pensar nisso a envergonhava, mas, estranhamente, ela continuava sorrindo. Testa, bochechas, pescoço, clavícula… enfim, todos os lugares onde os lábios de Jude haviam tocado. Cordelia respirou fundo e conseguiu acalmar o coração, que batia forte.
“Huuu.”
Maldita bebida.
Embora… eu também esteja grata.
Murmurando sem nem perceber, Cordelia afastou as mãos do rosto e respirou fundo mais uma vez.
“Certo, agora vou me levantar, lavar o rosto e fingir que não lembro de nada.”
Determinada, Cordelia se levantou e congelou.
“Ah… olá.”
Na cadeira, encostado contra a parede, estava Jude, com uma expressão extremamente desconfortável.
“Haaah… eu também acabei de acordar. Sim, acabei de acordar. Então não ouvi nada. Nada mesmo. Uhum.”
Jude, agora com sua expressão malandra habitual, se espreguiçou e falou como se estivesse lendo um livro didático.
Cordelia cobriu o rosto com as mãos novamente.
E ficou assim por um bom tempo.
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