Capítulo 16: O Cemitério, o maldito Cemitério
O jardim diante deles se expandiu até onde a vista não pudesse alcançar, mas Lacefull, sempre atento, percebeu algo estranho no ar. O chão estava coberto de pedras esculpidas, mas, ao invés de flores comuns, margaridas de um tom cinza desbotado emergiram.
Lacefull se aproximou de uma das pedras, tocando-a com cautela. Algo estranho vibrou nas suas mãos, uma sensação que parecia vir de além da superfície. O coelho ergueu os olhos e, por um momento, o céu acima deles parecia ter fissuras finas, como vidro quebrado.
— Você percebeu isso? – Lacefull perguntou, mas logo percebeu que a resposta seria em silêncio. O olhar de Nero, sombrio, indicou que ele também sentia a estranheza no ambiente.
Eles seguiram pelo caminho de pedras, que parecia conduzi-los mais para o centro daquele cemitério. De repente, uma sombra surgiu à frente deles, com passos pesados e uma respiração pesada e rouca.
— Não é tarde demais para voltar, meus amigos… – A voz veio baixa, mas imponente. A silhueta de Sanfão surgiu de entre as pedras, como uma presença tanto familiar quanto estranha.
Lacefull deu um passo à frente, curioso. — Sanfão, você está aqui… o que é esse lugar?
O ser à frente deles sorriu, embora seus olhos não demonstrassem qualquer alegria. — Este é o Cemitério, a casa de quem já não possui mais nada além de uma dose de pavor em sua vida.
A tensão no ar aumentou, com o peso das palavras de Sanfão reverberando na mente dos dois. O cemitério se tornou um lugar sem cor, com sussurros pelo vento.
Enquanto o coelho olhava ao redor, percebeu uma mudança ainda mais estranha no céu, as fissuras mais profundas agora visíveis. “Isso… não é um céu real”, pensou Lacefull, a inquietação tomou conta de sua mente.
— Sanfão — começou Lacefull, olhando o ser imponente. — O que está acontecendo aqui? O quê significa tudo isso?
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Sanfão, então, pareceu olhar para o horizonte por um momento, e seus olhos refletiram o céu rachado acima.
— Nada acontece sem razão, coelho. Tudo aqui é uma consequência. A realidade, como vocês conhecem, está sendo quebrada… e o Cemitério dos Filósofos é o reflexo disso. O reflexo de uma outra face.
As palavras de Sanfão ecoaram na mente de Lacefull, enquanto ele sentiu o peso da verdade que começou a se desenrolar.
E o silêncio se espalhou novamente, enquanto Nero, sem dizer uma palavra, observou a situação. O Cemitério não era apenas um lugar de mortos; ele era uma prisão infinita de quem deu sua vida em prol de algo ou alguém. O céu quebrado era um reflexo de si mesmo.
Sanfão, por um momento, ficou parado, como se absorvesse o peso de suas próprias palavras. Sua presença pareceu desaparecer lentamente, como se ele fosse feito de vento, se dissolvendo entre as rachaduras do ar. O último vestígio de sua figura se desfez quando ele deu um passo para trás, e suas palavras ecoaram no ar.
— Quando a verdade é revelada, é tarde demais para a fuga…
E com isso, ele sumiu, como se o próprio vento o tivesse o levado. O silêncio tomou conta do Cemitério dos Filósofos mais uma vez.
Lacefull olhou ao redor, o desconforto aumentou com cada passo que davam. O céu quebrado, as fissuras profundas, tudo parecia um reflexo de uma realidade desintegrando-se. Nero, com seu olhar fixo e imperturbável, parecia mais uma sombra do que uma criatura, sua presença intensa, mas sem palavras.
De repente, um estrondo baixo, como se algo estivesse sendo levantado, chamou a atenção deles. Uma árvore surgiu atrás deles, gigantesca, com raízes que se entrelaçavam como serpentes que saíam do solo. Suas folhas eram de um tom escuro, quase negro.
Ao redor da árvore, uma figura se materializou lentamente. Era um homem, de feições velhas e expressão imutável. Suas roupas estavam gastas, sujas, como se ele tivesse vagado por séculos. Ele estava deitado, apreciando aquele gramado de margaridas sem vida.
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— Mais um…– murmurou Lacefull.
O homem olhou para eles com um sorriso triste e, em um tom suave, falou:
— Não esperava visitantes neste chiqueiro… Mas, pelo visto, o destino já preparou um caminho tortuoso para todos vocês.
Lacefull, com a expressão confusa, perguntou, — E qual é o seu nome?
— Acho essa uma boa pergunta, eu poderia ser chamado de muitas coisas, mas preferem me chamar de apenas uma… Diogenes, esse é meu nome. Mas, aqui me chamam de “O Penitente”, aquele que caminha pelos erros e os enfrenta, sem poder retornar. As respostas que buscam… estão todas aqui, mas não estão prontas para serem compreendidas, pois nem todos sabem por quê elas existem.
O ambiente em torno deles parecia suave. Os ventos começaram a soprar mais forte, mas o Penitente permaneceu imóvel, seus olhos estavam intrigados com a aparência de Nero.
— Como pode, esse ser pegou toda escuridão para si mesmo, egoísta. Mas não oprime o sentimento de intriga que isso me causou.
Nero, sem entender, apenas sorriu.
Lacefull, ainda sentindo o peso das palavras anteriores, perguntou — O quê você fez para parar aqui?.
— Ora, isso é pergunta que se preze? Se eu estou aqui é porque estou bem descansando, preciso de mais algum motivo? — respondeu, com um toque de raiva em suas palavras.
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— Se houvesse outro motivo, qual seria? — perguntou o coelho.
Diogenes suspirou e respondeu, — Eu… apenas me abdiquei da minha vida, assim como me afastei dos bens materiais, também me afastei de meu corpo físico, que é material. Se não me engano, eu pulei de cima da Estátua de um renomado guerreiro. Eu enrolei a corda sobre meu pescoço, e após isso retirei minhas roupas, ficando nu para todos. A última coisa que me lembro segundos após morrer, foi de começar a urinar sobre a cabeça de um morador local.
Nero encarou Lacefull com nojo, mas para disfarçar, o coelho respondeu:
— Nossa, isso é tão… diferente.
— Pois é… — falou Diogenes. — Tudo nesse mundo é transitório. Não perdi nada, afinal, só minha vida — riu, debochando.
Com isso, seu corpo começou a se dissolver. — É hora de voltar a dormir. Obrigado pela visita. — Seu corpo se dissolveu nas sombras da árvore. O vento passou a silenciar aos poucos.
A presença do Penitente deixou um rastro de filosofias em seus corações. A árvore logo também começou a se dissolver, começando pelas folhas, logo após pelas raízes aparentes e por último, o tronco.
Lacefull olhou para Nero, que permaneceu Imóvel, pensativo e reflexivo. O coelho conseguiu ouvir seus batimentos mais fortes. — Ei cara — falou. — É apenas um cara maluco que morreu há séculos atrás.
Prestes a sair para conhecer mais sobre aquele lugar vasto e triste. Lacefull percebeu uma capa sobre o gramado. Um livro de pelo menos quarenta páginas com uma capa dura desenhada a mão da cor preta, que simbolizava um olho.
— Vejamos o que temos aqui… — falou curioso.
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