O estreito estava envolto em uma escuridão quase palpável, onde até o próprio ar parecia mais denso, carregado de um silêncio inquietante que sufocava. Weast e Eleanor permaneciam encostados à parede rochosa, os corpos exaustos, os olhos atentos a qualquer movimento, o coração pulsando em ritmo acelerado.

    O uivo distante de um lobo, ou algo semelhante, quebrava a quietude como uma premonição sinistra. Eleanor, ainda com a dor no tornozelo, tentava controlar a respiração, enquanto Weast, apesar do cansaço, permanecia em alerta máximo.

    — Aqueles sons… não são normais — murmurou ele, os olhos fixos nas sombras que dançavam no limite da visão.

    — Nem a escuridão, nem o silêncio… nada aqui parece natural — concordou Eleanor, tentando firmar a voz para esconder o medo que apertava seu peito.

    O ambiente ao redor era um deserto rochoso, com planaltos que pareciam engolir a pouca luz que restava da lua escondida atrás das nuvens negras. Poucas plantas secas surgiam, rígidas, como sentinelas imóveis. Nenhum sinal de vida além deles.

    O som do uivo repetiu-se, mais próximo desta vez, reverberando pelas paredes naturais do estreito, e algo mais — um ruído pesado, passos firmes, que retumbavam no solo árido, anunciando a chegada das criaturas.

    De repente, olhos negros, quase invisíveis na penumbra, começaram a surgir. Os monstros apareciam aos poucos, grandes, cobertos por pelos castanho-escuros, quatro chifres retorcidos saindo de suas cabeças, patas vermelhas e deformadas que esmagavam as pedras sob seu peso. O cabelo azul, estranho e irreal, balançava ao vento noturno.

    — São muitos — sussurrou Eleanor, a voz trêmula.

    — Não temos escolha. Temos que lutar — respondeu Weast, a mão apertando o cabo da lâmina.

    O ar carregava o cheiro pungente de suor e terra molhada, misturado ao odor ferino dos monstros que avançavam. O coração dos dois batia forte, uma mistura de medo e determinação. Não havia para onde fugir — o estreito era um corredor natural, sem espaço para manobras, um verdadeiro cerco.

    — Precisamos usar o terreno a nosso favor — ponderou Eleanor, tentando pensar rapidamente.

    — Eu… posso tentar distrair um deles, enquanto tu atacas pelos flancos — sugeriu Weast, olhando para os arredores em busca de algo que pudesse servir.

    — E se forem mais do que dois? — questionou ela, mordendo o lábio.

    — Então lutaremos até o fim. Não podemos desistir agora.

    Eles se levantaram com dificuldade, o corpo dolorido, mas a mente focada. A lâmina de Weast brilhou na penumbra, uma promessa silenciosa de resistência.

    A primeira criatura avançou com um rugido terrível, os chifres ameaçando arremessar Weast ao chão. Ele desviou, rolou para o lado, e golpeou com a lâmina, mas o pelo grosso e as escamas vermelhas resistiam ao corte.

    — Eleanor! Agora! — gritou.

    Ela se moveu rápida, ágil, mirando os olhos negros da fera. Com um salto, cravou uma lança improvisada que tinha conseguido fazer antes no acampamento, no ombro da criatura. Um grunhido de dor ecoou.

    Os outros monstros responderam com gritos guturais, avançando em círculo, preparando-se para o ataque conjunto.

    Weast sentiu o cheiro do medo e da adrenalina correr em suas veias. Cada movimento era uma luta pela vida. Ele viu Eleanor sendo cercada, tentou alcançá-la, mas um dos monstros bloqueou seu caminho com uma pata gigantesca.

    — Temos que recuar! — gritou ele, desviando de um ataque que quase lhe arrancou o braço.

    — Não! Não posso deixá-los vencer — respondeu Eleanor, com um olhar feroz.

    O tempo parecia se arrastar. Cada segundo era uma batalha constante. O som do metal contra a carne, os uivos, os gritos, tudo misturado em uma cacofonia infernal.

    Weast usou toda sua força para empurrar o monstro que o bloqueava, girou e cortou, ferindo a criatura, que recuou rosnando.

    Eleanor, por sua vez, conseguiu golpear um segundo monstro, que cambaleou, mas logo se recompôs.

    — Não podemos durar muito — disse Weast, respirando pesadamente.

    — Só mais um pouco — respondeu ela, mantendo a lâmina firme.

    Então, algo mudou. No meio da luta, um brilho azulado emanou da lâmina de Weast, um resplendor que parecia antigo, carregado de poder. Ele sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo, como se a própria essência da terra estivesse ao seu lado.

    Com essa força renovada, ele atacou com mais precisão e força, derrubando uma das feras.

    Eleanor, encorajada, atacou com ainda mais vigor, suas feridas esquecidas pela adrenalina.

    Mas a batalha estava longe de acabar. As criaturas, furiosas, rugiam e avançavam em número maior.

    — Weast! Temos que encontrar uma saída, ou vamos ser encurralados! — gritou Eleanor.

    — Já estou a pensar nisso! — respondeu ele, os olhos vasculhando o terreno.

    No meio do estreito, entre as sombras, um estreito corredor de pedras poderia servir como rota de fuga — uma passagem apertada que talvez as feras não conseguissem seguir.

    — Por ali! — apontou Weast, puxando Eleanor pelo braço.

    Com um último esforço, eles correram em direção à passagem, desviando dos ataques finais dos monstros.

    O som dos passos e uivos ficou para trás, misturado ao silêncio aterrador que retomava o estreito.

    — Conseguimos — murmurou Eleanor, exausta, encostando-se às pedras.

    Weast sentou-se ao lado dela, ambos ofegantes, as roupas rasgadas, os corpos machucados, mas vivos.

    — Por enquanto… — disse ele, olhando para o céu encoberto.

    Eleanor sorriu, uma mistura de alívio e tristeza.

    — Ainda temos uma longa jornada até a base.

    — Sim… mas hoje provamos que podemos sobreviver — respondeu Weast.

    O silêncio voltou, desta vez diferente. Era um silêncio de quem venceu, de quem resistiu.

    Mas no fundo, ambos sabiam: aquilo era apenas o começo.

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