Capítulo 11: O Cerco das Feras
A noite no estreito tornou-se uma cortina opaca que envolvia Weast e Eleanor em seu abraço silencioso e ameaçador. A lua, quando aparecia tímida entre as nuvens densas, lançava uma luz pálida que apenas ressaltava a sensação de abandono e desamparo.
Os sons ao redor eram mínimos, mas intensos em significado — o farfalhar leve do vento, o sussurrar distante da areia movediça, e, principalmente, os passos das criaturas que cercavam o estreito, pesados como trovões mudos.
Weast sentia o peso do medo crescente, um nó firme que se apertava em seu peito, como se cada batida do coração anunciase uma sentença iminente. Ao seu lado, Eleanor respirava com dificuldade, a sombra da exaustão misturada ao terror que não ousava mostrar.
— Não podemos ficar aqui esperando — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro para não romper o silêncio tenso. — Eles vão tentar nos invadir.
— Então temos que nos mover — respondeu Eleanor, ajeitando a lâmina com dedos trêmulos, a mente acelerando enquanto calculava as possibilidades.
O estreito, com seus planaltos escassamente vegetados, era um campo aberto, um convite à armadilha. A pouca proteção natural era quase inexistente, e a escuridão parecia engolir qualquer refúgio. As feras que os perseguiam, com seus chifres retorcidos e olhos negros como poços sem fundo, aproximavam-se implacáveis.
Cada uivo distante era um anúncio macabro de que o perigo se avizinhava.
Weast fitou a entrada da masmorra que tinham deixado para trás, uma abertura irregular entre rochas que prometia algo mais seguro — ou pelo menos menos exposto.
— Vamos tentar a masmorra — propôs ele. — Se conseguirmos atrair eles para dentro, podemos usar o espaço estreito para nos defender.
Eleanor assentiu, embora o medo lhe apertasse a garganta. A simples ideia de ficar presa ali, cercada por monstros, não era confortante.
— Como vamos atraí-los? — perguntou, a voz trêmula.
— Eu provo um som — disse Weast, recolhendo uma pedra maior do chão — e atiro para o lado oposto da masmorra.
Ele se posicionou, o braço puxando para trás como um arqueiro. O ar parecia pesado, quase sólido. Então, com um estalo seco, a pedra ricocheteou pela areia, criando um som agudo que ecoou pelo estreito.
Imediatamente, as criaturas viraram-se para a direção do barulho, os olhos negros fixando-se na origem do som. Um rosnado profundo cresceu em volume, e os passos passaram a ser uma investida acelerada.
— Corre! — gritou Eleanor, agarrando a mão de Weast.
Eles dispararam pelo caminho até a masmorra, o chão irregular ameaçando fazê-los tropeçar.
Por trás, o retumbo dos passos aumentava, quase ensurdecedor.
Chegando à entrada, Weast viu as pedras soltas que poderiam ser movidas para fechar o acesso.
Com esforço, ambos começaram a empurrar as pedras maiores, o suor escorrendo pelas testas, as mãos escorregadias pelo esforço.
Cada segundo parecia um minuto, e cada pedra que caía no lugar era um obstáculo a mais para as feras.
Finalmente, um estrondo ressoou quando a maior pedra deslizou, bloqueando a passagem.
Lá fora, os rosnados de frustração foram acompanhados por batidas desesperadas das feras contra as pedras.
No interior da masmorra, Weast e Eleanor respiraram fundo, a tensão ainda pulsando nos músculos.
A luz trêmula da tocha de Weast iluminava as paredes úmidas, cobertas de musgo e pequenas fissuras que pareciam esconder mistérios antigos.
— Isso nos dá uma vantagem — disse Eleanor, a voz baixa e determinada.
— Mas quanto tempo será? — Weast perguntou, olhando para as saídas no final do corredor.
Eles sabiam que a barreira era temporária, que a força das feras poderia vencê-la.
— Precisamos encontrar um lugar para nos defender melhor — falou Weast.
Enquanto avançavam pelo corredor estreito, o silêncio dentro da masmorra era tão pesado que parecia gritar.
Cada passo reverberava contra as paredes de pedra, ampliando o som até parecer um tambor.
Eleanor sentia a respiração irregular, seu corpo exausto mas a mente alerta.
De repente, um som abafado quebrou o silêncio — uma pedra se soltando em algum ponto mais à frente.
Eles se entreolharam, os olhos arregalados.
— Não estamos sozinhos aqui — murmurou Eleanor.
— Sinto isso — concordou Weast —, e não é só o perigo lá fora.
O corredor se abriu para uma câmara maior, com várias saídas que se perdiam na escuridão.
Weast acendeu uma tocha, e a luz revelou o formato irregular da sala, pedras escorregadias e um cheiro úmido, quase putrefato.
Era um lugar ideal para se defender, com passagens que podiam ser bloqueadas.
Eles começaram a recolher pedras e pedaços de madeira, preparando barricadas nas entradas.
Enquanto trabalhavam, o clima de tensão aumentava, como se o ar ficasse mais denso, carregado.
Weast não podia deixar de sentir os olhos invisíveis que os observavam desde as sombras.
Eleanor também estava atenta, o corpo todo tenso.
De repente, um estalo forte ecoou de uma das passagens.
Os dois se viraram rapidamente, as lâminas em punho, a respiração presa.
Do canto mais escuro da câmara, uma sombra se moveu lentamente, revelando uma criatura imensa, com olhos vermelhos que brilhavam na penumbra.
Seu pelo era escuro, quase negro, com músculos volumosos que se contorciam sob a pele grossa.
Era diferente das outras feras — maior, mais imponente, com uma aura que parecia respirar perigo.
Eleanor recuou lentamente, os olhos fixos na criatura.
— O que é isso? — sussurrou, a voz trêmula.
Weast respirou fundo, tentando controlar o medo que ameaçava paralisar seus membros.
— Não sei… mas isso não vai nos deixar sair facilmente.
O silêncio voltou a cair, carregado de tensão, como um fio prestes a romper.
A criatura avançou lentamente, os olhos vermelhos fixos neles.
A luz da tocha tremulava, projetando sombras dançantes nas paredes.

Weast e Eleanor estavam prontos para o que viesse — pelo menos o corpo estava —, mas a mente ainda buscava forças para aceitar o inevitável.
O confronto não seria apenas de força física, mas uma luta contra o medo, contra a escuridão que os cercava, contra a própria natureza do desconhecido.
O instante era denso, um limiar entre o presente e o que estava por vir.
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