O eco dos gritos ainda vibrava pelas paredes da masmorra quando Weast puxou Eleanor pelo braço, ambos com as roupas rasgadas e os corpos cobertos de poeira e suor. A figura atrás da porta desaparecera após o clímax brutal, mas o rastro deixado por sua presença continuava como uma cicatriz invisível no ar — como se a masmorra inteira estivesse impregnada de um resíduo espiritual pesado, faminto.

    — Temos que continuar — murmurou Weast, ainda ofegante. Sua voz era firme, mas os olhos estavam tensos, como se procurassem fantasmas em cada sombra.

    Eleanor assentiu, uma das mãos tremendo ligeiramente enquanto limpava o sangue seco do queixo. Ela não sabia se era dela, dele, ou da coisa que tinham enfrentado. Não importava.

    Caminharam em silêncio por um novo túnel, mais estreito e irregular. Gotejos contínuos vinham do teto, pingando nas poças que se formavam entre pedras gastas pelo tempo. O cheiro pútrido de coisas mortas era menos intenso aqui, mas a umidade colava-se à pele como suor frio. Era como se cada metro adentrado fosse um passo mais perto da insanidade.

    — Estamos perto da galeria central — disse Weast, após consultar o pequeno mapa queimado parcialmente que havia encontrado no esconderijo anterior. — Se o que está aqui for verdade… pode haver uma passagem direta para o setor ocidental.

    — A base fica depois disso? — perguntou Eleanor, a voz baixa.

    — Sim. Se estivermos certos, a saída nos levará direto ao caminho subterrâneo do complexo da União.

    Ela apertou os punhos, os olhos firmes agora.

    — Então vamos terminar com isso.

    Poucos minutos depois, chegaram a uma bifurcação — uma parte do túnel colapsada do lado esquerdo, revelando um buraco no teto por onde a luz tremeluzia. Um som distante os fez parar. Não era rosnado, nem passos. Era… gritos.

    — Humanos? — Eleanor perguntou, franzindo a testa.

    — Pode ser um dos grupos sobreviventes — disse Weast. — Ou emboscada.

    Os gritos cessaram de repente, substituídos por um ruído seco, como madeira sendo quebrada… ou ossos.

    Weast engoliu seco.

    — Vamos pelo outro caminho.

    Seguiram pela trilha intacta da bifurcação. O espaço se alargava novamente, abrindo-se para um salão de teto altíssimo. No centro, havia uma espécie de altar de pedra, onde símbolos antigos estavam gravados — garras cruzadas sobre uma espiral descendente.

    Weast parou diante do altar e passou a mão pelas inscrições. Havia sangue seco entre os sulcos.

    — Isso foi usado recentemente.

    Eleanor olhava em volta, a lâmina pronta em mãos.

    — Tem alguma coisa aqui. Sinto… — Ela não terminou a frase.

    Um estrondo vindo do alto da câmara sacudiu o chão. Pedaços de pedra despencaram como projéteis, e da abertura no teto, caiu algo.

    Não uma criatura. Um homem.

    Ou o que restava de um.

    Seu corpo caiu com um baque úmido, as pernas partidas em ângulos errados. Os olhos estavam abertos, congelados em terror absoluto. Na testa, algo estava gravado à faca: TRAIÇÃO.

    Eleanor cambaleou para trás, as mãos na boca. Weast se ajoelhou ao lado do corpo e retirou uma pulseira do pulso ensanguentado.

    — É da Resistência. Ele tentou passar pela câmara… e foi pego.

    Antes que pudesse dizer mais, o altar começou a emitir um som grave, vibrante. As paredes ao redor tremeram, e uma porta oculta se abriu do lado direito.

    Uma luz vermelha pulsava lá dentro. Um corredor iluminado por lâmpadas antigas, alimentadas sabe-se lá por quê.

    — Este é o caminho para a base — disse Weast. — Tem que ser.

    — Vamos. Agora.

    Mas quando pisaram no corredor, um grito ecoou atrás deles. Não de humano. Não de animal. Uma explosão de fúria.

    — Eles nos acharam — sussurrou Eleanor.

    — Corre!

    Eles dispararam pelo corredor, a luz vermelha os guiando como um chamado para a salvação — ou armadilha. O som das criaturas crescia atrás deles, patas batendo na pedra, garras arranhando as paredes. Cada respiração era uma punhalada no peito.

    O corredor se estreitava. O ar tornava-se mais denso. E, ao fim dele, uma porta gigantesca de metal, com o símbolo da União riscado em sangue seco.

    Weast se atirou no painel de controle. Estava quebrado.

    — Eleanor, ajuda-me a forçar!

    Eles empurraram a porta com todo o peso do desespero. Atrás, os uivos ecoavam como tempestade viva.

    Um som metálico soou — a tranca interna começava a ceder.

    Weast enfiou a espada entre os gonzos da porta e forçou com todas as forças.

    Rangido.

    Vento entrando.

    Luz branca do outro lado.

    A porta se abriu.

    E junto dela, as criaturas surgiram no fim do corredor.

    Weast empurrou Eleanor para dentro e se virou para enfrentar as bestas, espada em punho. Uma, duas, três surgiam correndo. Ele preparou o golpe.

    Mas Eleanor puxou-o para dentro no último instante, e a porta de metal se fechou com um estrondo.

    Silêncio.

    Do outro lado, pancadas surdas. Gritos abafados. E, depois… nada.

    Ambos estavam no chão. Ofegantes. Vivos.

    — Conseguimos… — Eleanor murmurou.

    À frente deles, o corredor se abria para uma galeria subterrânea fortificada. Placas com símbolos da União, escadas de aço, e, ao longe, o som de motores.

    — A base — disse Weast.

    Mas algo estava errado. Muito errado.

    Havia fogo no ar. E o som de tiros à distância.

    O inferno já havia começado.

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