O metal rangeu sob seus pés enquanto Weast e Eleanor desciam a rampa lateral da galeria incendiada. O calor lambia seus rostos como uma presença viva, faminta, que se arrastava por entre os corredores, devorando tudo. O fedor de carne queimada e óleo espalhado dava ânsias, mas não havia tempo para hesitação.

    O comunicador do centro de comando tilintou com um ruído súbito — estático entrecortado por uma voz firme.

    — Aqui é comandante Lys, esquadrão Bravo, resistência externa. Estamos nos aproximando da zona oeste. Solicito coordenadas de extração imediata.

    Weast parou, apertando o dispositivo preso ao pulso.

    — Lys? Repita, vocês conseguiram romper a muralha?

    — Com muitas perdas, mas sim. Entramos pelo setor de ventilação colapsado. Há sobreviventes conosco. Precisamos da localização do centro de comando!

    Weast trocou um olhar com Eleanor. Ela assentiu. Ele respirou fundo e respondeu:

    — Coordenadas atualizadas. Enviarei um sinal de fumaça azul. Estaremos lá.

    A resposta veio sem hesitação:

    — Entendido. Que a União queime no próprio inferno que criou.

    Eles correram novamente, saindo do setor inferior da base em direção ao ponto de extração. O corredor que levava até a plataforma externa estava em ruínas, com placas de titânio retorcidas como papel e trilhos destruídos pelas detonações. Mas ainda havia uma linha de visão, e isso bastava.

    Quando Weast acionou o disparador de sinal, um tubo metálico se elevou com um chiado, soltando um clarão de fumaça azul que cortou o ar pesado. O som de motores respondeu quase instantaneamente, seguido de um zumbido metálico. Do céu carregado, dois veículos de transporte planar surgiram, pairando entre destroços.

    O primeiro a saltar do transporte foi Lys. Alta, armadura tática coberta de fuligem, um rosto marcado pela batalha e olhos que pareciam ter visto mais do que qualquer ser humano deveria suportar. Segurava um rifle de pulso modificado e carregava um ombro ferido.

    — Você deve ser Weast — ela disse, sem sorrir. — E você, Eleanor. A gente ouviu sobre vocês.

    — Quantos estão com você? — perguntou Weast, direto.

    — Vinte e três vivos. O dobro disso está morto — ela respondeu. — E tenho reforços.

    Atrás dela, outros começaram a descer.

    O primeiro era um homem robusto com uma mandíbula de metal e um braço mecânico que soltava faíscas — Drevan, engenheiro de combate.

    — Explosivos e improvisações são comigo — ele disse com um aceno rude.

    Depois, surgiu uma mulher de pele escura, olhos dourados quase sobrenaturais e uma tatuagem da resistência cruzando o rosto — Kael, antiga comandante da célula leste, desaparecida havia meses.

    — Espero que tenham deixado algum inimigo pra mim — ela murmurou, ajeitando uma lança eletrificada.

    Mais atrás, três irmãos — Helvi, Rask e Min — moviam-se como sombras sincronizadas, carregando rifles de precisão e mochilas leves. Gêmeos no olhar, diferentes na postura, mas letais como serpentes.

    E, por fim, uma figura encapuzada, calada, que não disse o nome. Carregava um bastão longo com lâminas retráteis. Seus olhos brilhavam em tons cibernéticos.

    — Ele fala? — Eleanor perguntou.

    Lys negou com a cabeça.

    — Mas ouve. E age melhor do que muitos soldados.

    Reunidos agora, o grupo parecia menos uma equipe e mais um último suspiro da esperança. Weast observou cada um por um instante, sentindo a estranha presença de destino unindo todos ali.

    — Temos uma missão — disse, a voz firme. — A masmorra está interferindo nas comunicações e isolando setores com uma barreira. Precisamos alcançar o núcleo e derrubá-la.

    Kael se adiantou.

    — Então vamos abrir caminho. Eu conheço uma rota subterrânea. Usávamos ela antes do colapso.

    — Está selada — respondeu Drevan. — Mas nada que eu não consiga explodir.

    Lys apontou para o céu, onde uma criatura alada — uma das variantes da masmorra — sobrevoava as torres destruídas.

    — Estão nos caçando. Se ficarmos aqui, seremos massacrados.

    Weast assentiu. — Movimento total. Arco em pinça pela ala leste. Rask, Min, cobertura. Eleanor, comigo. Drevan, prepara os explosivos. Kael, abre caminho. Encapuzado… — ele olhou nos olhos do estranho. — Proteja os nossos.

    O silêncio que seguiu foi o mais poderoso dos juramentos.

    E então, todos se moveram.

    Por túneis escuros e salas em ruínas, a resistência ganhou nova forma — como uma maré contida que, quando solta, arrasta tudo consigo. O fogo da base era agora só mais um obstáculo. Eles estavam prontos para enfrentá-lo.

    Pelo caminho, Drevan plantava explosivos nas passagens estreitas para retardar as criaturas. Kael usava a lança para abrir caminho entre inimigos e destroços. Os irmãos Rask e Min limpavam cada setor com precisão cirúrgica, e Helvi cobria a retaguarda como um espectro invisível.

    Na frente, Weast e Eleanor avançavam com determinação, trocando olhares silenciosos que dispensavam palavras. Sabiam o que precisavam fazer. A base não podia cair. A resistência não podia morrer ali.

    Mais adiante, no final de um túnel colapsado, a voz de Kael ecoou:

    — Aqui. A entrada da câmara inferior. Se conseguirmos atravessar, estaremos perto do núcleo.

    Drevan preparou a carga. A explosão sacudiu o chão, e o caminho foi aberto. Mas do outro lado, rugidos surgiram — ecos de algo antigo e faminto.

    — Eles sabem que estamos aqui — murmurou Eleanor.

    Weast ergueu a espada, já coberta de fuligem e sangue.

    — Que saibam. Porque agora… nós também estamos prontos para eles.

    Um último olhar entre os membros do grupo foi trocado, e cada um assentiu como se aquela jornada fosse, de fato, sua última. Lys verificou a munição, Kael fez o sinal da resistência no peito, os irmãos assumiram posições e o encapuzado girou a arma com precisão letal.

    Eles entraram na câmara inferior. O teto curvado de metal oxidado parecia o interior de uma criatura viva. O som de gotas e engrenagens enferrujadas preenchia o silêncio, até ser cortado por um grito — não humano, mas carregado de dor e raiva.

    Uma criatura colossal rastejava no final do corredor. Quatro patas, dentes em espiral e uma pele que pulsava com veias negras. Ao vê-los, a coisa guinchou e avançou como uma avalanche viva.

    Rask disparou primeiro. Min seguiu. A criatura rugiu, e o som fez o teto tremer. Eleanor jogou uma granada de luz, ofuscando a besta. Kael saltou e cravou a lança no flanco dela, soltando uma descarga elétrica.

    Drevan correu aos escombros, plantando explosivos na base do suporte estrutural. Helvi gritava as distâncias para os snipers, e o encapuzado atravessou a lateral com um golpe tão rápido que a criatura mal teve tempo de reagir.

    No fim, foi Weast quem deu o golpe final. Subindo nas costas da criatura em meio ao caos, cravou a espada na junção do crânio com a espinha, torcendo a lâmina até ouvir o estalo úmido.

    A criatura desabou. A poeira baixou. Todos estavam vivos — feridos, ofegantes, mas vivos.

    — Núcleo à frente — apontou Lys. — Hora de derrubar essa barreira.

    Weast olhou para Eleanor. Os dois avançaram juntos.

    E a última resistência seguiu, passo a passo, rumo ao coração do inferno.

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