Capítulo 16 - Curiosidade
— A coisa tá ficando séria… — murmura Jeffrey, observando seu adversário.
Ele suspira, e muda a sua postura. Ao invés de desleixo e preguiça, agora ele passa a impressão de alguém atento e preparado para o combate.
— Se isso seguir nesse ritmo, eu vou morrer… — fala fechando seus olhos, com a cabeça levemente abaixada — Não parece bom…
— De olhos fechados? O que isso significa? — Canopus questiona, confuso com aquela atitude.
— É mais fácil assim — responde.
O ganniano observa, lentamente se enfurecendo.
— Está me subestimando, humano? — questiona com um olhar ameaçador.
— Não cara, eu já disse que assim é mais fácil pra mim.
Com uma expressão de raiva ele parte para cima do homem, que em resposta atira uma de suas lâminas. O ganniano esquiva com facilidade, mas a arma muda de trajetória com o movimento do punho de Jeffrey e torna a ir em sua direção. Dessa vez ao invés de desviar Canopus estende seu braço e agarra a kusarigama em um movimento arriscado, que quase custa sua mão.
— Epa, solta isso aí! — fala o homem, lançando a segunda arma.
— Me explique… — murmura segurando a kusarigama com força.
Ele usa a lâmina que agarrou para defletir a outra que foi arremessada, e com um puxão arrasta Jeffrey para mais perto. Com a distância reduzida ele tenta chutar a cabeça do homem, mas a kusarigama livre também muda de trajetória no ar e é guiada rapidamente até a mão do ganniano, que acaba recebendo outro ferimento sendo obrigado a largar a arma do humano.
— Te explicar o que, seu esquisito? — indaga enquanto lança uma das armas contra as grades que os cercam, a usando como um gancho para se puxar, rapidamente se distanciando do alienígena.
— Como faz isso… — responde observando sua mão, sangrando com um corte na lateral.
— Eu sei lá — Ele diz se reposicionando, ainda de olhos fechados.
— Está bem… — sussurra fechando a mão cortada.
Canopus caminha até sua espada e a pega do chão, olhando para Jeffrey com uma expressão séria.
— Façamos um acordo… Caso eu te torne incapaz de lutar, você me explicará como funciona essa sua… Técnica…
— Ah… Tá falando de lutar com os olhos fechados…? Não tem o que explicar, cara… Só é mais fácil, sabe? Não ter que lidar com o que eu vejo… Algo assim… Ah, sei lá…
“As palavras desse humano… Nada que sai de sua boca faz sentido…” Pensa, cada vez mais incomodado com a personalidade de Jeffrey.
— Mas… C-como raios ele faz isso…? — James pergunta, olhando fixamente para o monitor.
— Isso é o que torna Jeffrey Ramsey um indivíduo tão peculiar… Essa sua habilidade de perceber mais, usando menos… — Íris responde, admirada.
— E-e o que isso significa?
— Bem… Pelo o que pude entender… Ele… — Ela começa a explicar, distraída com a transmissão.
Canopus se abaixa de repente e salta na direção do homem sem emitir praticamente nenhum som. Mas ainda assim, no mesmo instante Jeffrey joga ambas as kusarigamas, as guiando pelas correntes para que se movam de um lado para o outro freneticamente, formando uma espécie de barreira entre ele e o adversário, que é obrigado a parar sua investida mais uma vez.
“De olhos fechados notou meu movimento… Ele sentiu o deslocamento do ar…?”
Saltando para o lado o ganniano se agarra às grades e avança por cima como um animal selvagem, mas logo é alcançado pelas armas do homem. Porém, dessa vez as lâminas ficam presas entre as grades, deixando uma grande abertura.
— Merda… — murmura abrindo os olhos, irritados com a clareza repentina — Preciso olhar pra desprender…
Ao abrir os olhos ele se depara com Canopus, próximo demais para evitar seu ataque. Ele acerta um chute certeiro no tórax de Jeffrey, que graças às armas presas não foi arremessado para longe.
— AGH! — exclama com dor, sem ar por um segundo — E-elas… Não saem… Por na-
Sem ter tempo para pensar ele é atingido novamente, dessa vez por um soco no queixo que o leva instantaneamente a ficar de joelhos.
“E-epa!!! Calma lá!!! A coisa parece ter saído do controle! Je-jeffrey acaba de sofrer um nocaute?! Vejam! Ele está de joelhos após receber aquele soco!!!”
— Você já está disposto a falar? — pergunta, apontando sua espada para o pescoço do homem.
— Vo… Cê… É… Um… Cara…
Canopus se inclina levemente, tentando ouvir as palavras baixas e mal pronunciadas.
— Muito chato! — exclama, puxando bruscamente as kusarigamas enquanto inclina seu corpo para trás.
Mesmo com sua cabeça na mira da espada, ele joga ambos os pés para frente e se puxa usando suas armas como ganchos, assim tendo apoio para acertar um chute duplo no rosto do ganniano. Além disso, o homem usa o corpo do adversário como apoio para saltar até onde suas lâminas se prenderam, assim as soltando manualmente.
— Que ardiloso… murmura, pressionando sua espada com força enquanto apalpa seu rosto, com leves marcas do impacto.
— Nem adianta ficar bravo, foi você quem começou… — diz agarrado nas grades, um pouco longe do chão.
Usando mais força, Canopus avança contra as grades e as atinge com um chute, as fazendo chacoalhar como se fossem de borracha.
— U-uou… Você não para m-mesmo… — fala tentando se manter agarrado às barras, que não param de balançar.
— Não pode ser sério… Como alguém se comporta assim em meio a uma situação de vida ou morte? — questiona uma das vozes.
— Aquele humano está conseguindo desestabilizar Canopus.
— Ele perderá a paciência antes de descobrir sobre sua técnica.
— Já está decidido quem vencerá… A verdadeira questão é se ele será capaz de fazer o humano falar…
— Mas esse humano… Realmente não parece saber como explicar suas próprias habilidades…
— De fato.
Jeffrey incapaz de se manter ali salta de volta para o chão, ainda buscando manter distância de Canopus.
— Certo, eu já desci… Agora vê se fica calmo, tá?
O ganniano move sua cabeça lentamente e o encara por alguns segundos.
— Eu… Eu quero muito saber… E você irá me contar… — sussurra.
— Ah…? Fala mais alto cara, você tá muito longe…
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