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    『 Tradutor: Crimson 』


    Greem e os outros haviam deixado a Cidade Água Murcha havia apenas meia quinzena, mas tudo ali já lhes parecia tão estranho.

    O céu outrora azul tornara-se de um vermelho sombrio. Estranhas e brilhantes fitas de elementium flutuavam no ar, entrelaçando-se umas às outras e formando uma cena bela, embora assustadora.

    Todos os orcs num raio de quinhentos quilômetros da cidade haviam sido capturados pelas bruxas ou fugido para regiões mais remotas. Era o único motivo pelo qual essa paisagem bizarra ainda não havia sido descoberta pelos orcs.

    Greem ergueu a cabeça e observou as luzes que quase desciam até o telhado do salão do conselho antes de entrar. Não pôde deixar de suspirar consigo mesmo. Os orcs não tinham muito tempo restante!

    Essas luzes prismáticas, maravilhosas, belas e aparentemente ilusórias, não eram substâncias intangíveis — elas de fato existiam.

    Eram formadas principalmente pela energia mágica vazando de dentro da Cidade Água Murcha. Era um sinal de que a cerimônia sacrificial que as Bruxas da Morte estavam preparando já havia começado. Apenas para evitar alertar os orcs e provocar uma ofensiva total, a cerimônia ainda não havia sido completamente posta em marcha.

    A Bruxa da Morte Khesuna esperava casualmente dentro do salão do conselho, sem qualquer expressão em seu rosto delicado e frio. Não era a primeira vez que Greem se perguntava se Khesuna havia transformado seu corpo em uma existência semelhante à das princesas-cadáver.

    Do contrário, dado o hábito das Bruxas da Morte de lidar com energia negativa e absorvê-la, sua carne e sangue não deveriam ser preservados em um estado tão perfeito. É claro que não se podia descartar a possibilidade de que Khesuna praticasse alguma técnica secreta para manter sua aparência e impedir que ela fosse corroída pela energia negativa.

    Dito isso, uma Bruxa da Morte recusando-se a abraçar por completo o poder da morte ia contra a própria essência do que significava ser uma Bruxa da Morte. Por isso, Greem estava razoavelmente confiante de que, sob o belo rosto e a pele de Khesuna, não havia carne viva — apenas tecido morto e apodrecido.

    O cheiro de decomposição de seu corpo provavelmente poderia ser sentido a quilômetros, se ela não o ocultasse por meios secretos!

    Foi essa compreensão que impediu Greem de se deixar encantar pela beleza de Khesuna. O que havia de mais valioso em uma Bruxa da Morte de Quarto Grau era seu aterrorizante poder da morte, não aquele invólucro de pele ou sua aparência.

    Uma centelha de raiva acendeu-se no coração de Khesuna ao ver Greem e Alice entrarem juntos no salão.

    Como essa Alice podia ser tão inútil?! Parecia não ter conseguido seduzir o adepto, e ainda havia sido ela quem se deixara envolver por ele. Que tipo de bruxa era essa para ser uma das líderes?

    Esse era um pensamento compartilhado por todas as Bruxas do Norte.

    Aquelas que podiam desfrutar de luxo e glória nas Terras do Norte só o faziam por serem poderosas. Enquanto isso, os adeptos homens eram subordinados ou concubinos, e era-lhes estritamente proibido alcançar um status superior ao das bruxas.

    Esse ideal extremo e distorcido de “supremacia das bruxas” era, na verdade, a crença dominante entre todas as Bruxas do Norte.

    Relacionamentos românticos entre homens e mulheres? Sentimentos de amor? Essas ilusões não existiam nas mentes da maioria das Bruxas do Norte. Se não fosse por suas próprias necessidades biológicas e pela exigência de gerar descendentes, provavelmente teriam selado as Terras do Norte e proibido a entrada de qualquer adepto homem, para evitar que jovens bruxas de vontade fraca fossem seduzidas.

    Do ponto de vista de Khesuna, o simples fato de Alice não conseguir manipular aquele adepto masculino na palma da mão, apesar de ser a líder das Bruxas do Destino, já era um fracasso por si só. E ainda se colocava no mesmo nível que ele — um claro sinal de que Alice estava sendo corrompida e caindo na depravação!

    Ainda assim, Alice era uma líder de facção. Embora ainda estivesse no Segundo Grau, possuía a mesma autoridade que Khesuna no Conselho das Bruxas. Por isso, apesar do desgosto, Khesuna não demonstrou suas emoções. Em vez disso, pareceu ainda mais calma e controlada.

    “Vocês voltaram tão depressa. Quer dizer que concluíram a missão que lhes confiei?”

    Seu tom era frio e destituído de qualquer gentileza. Mesmo assim, para uma bruxa de Quarto Grau, essa já era uma atitude suficientemente “gentil” para com Greem e Alice. Qualquer outro adepto de Segundo Grau sequer teria o direito de permanecer de pé diante de Khesuna.

    Não se devia imaginar que aquela bruxa de Quarto Grau fosse apenas uma jovem frágil por causa de sua aparência delicada e bela. A lembrança dela, altiva sobre as costas do Dragão Cadáver de Quarto Grau, Artest, enquanto travava batalha contra outro dragão do mesmo nível, ainda estava gravada na mente de Greem — tão vívida quanto no dia em que a viu pela primeira vez. Ele não ousava esquecer aquela cena.

    “Foi concluída”, respondeu Alice com um fraco sorriso.

    “Estes são os itens que trouxemos de volta.”

    Ao seu gesto, Greem moveu as mãos, e três bandeiras de couro animal, repletas do estilo orc, apareceram no centro do salão. O salão do conselho orc foi imediatamente tomado por uma aura selvagem e primitiva no instante em que as bandeiras surgiram. Aos ouvidos de todos, pareciam ecoar os sons profundos e desolados dos tambores orcs.

    Eram as bandeiras das tribos Martelo de Guerra, Dhaka e Rocha Plana.

    Khesuna assentiu sem expressão, reconhecendo uma vez mais os resultados obtidos.

    Das doze forças de bruxas enviadas, o grupo de Alice foi o primeiro a concluir a missão e retornar à Cidade. Na verdade, sua tarefa não fora a mais difícil — mas tampouco a mais fácil. O fato de Alice ter chegado antes de todos os outros grupos demonstrava, ainda que indiretamente, a força e a eficiência de sua equipe.

    Era importante notar que, entre alguns dos outros grupos enviados, havia de fato bruxas de Terceiro Grau. Enquanto isso, no grupo de Alice, não havia nenhum outro adepto de alto nível além do arrogante dragão trovejante de Terceiro Grau.

    Tendo concluído a missão, era natural que recebessem a recompensa que mereciam.

    Khesuna virou a palma da mão, e três esferas mágicas de diferentes cores pairaram diante dela.

    “Estas são as três porções de conhecimento avançado que combinamos anteriormente. Podem levá-las agora. Lembrem-se: esse conhecimento só pode ser mostrado a membros das bruxas. Não devem espalhá-lo para mais ninguém.”

    Uma chama brilhante cintilou nos olhos negros de Greem enquanto ele permanecia em silêncio atrás de Alice. Seu coração não pôde deixar de se agitar com as palavras de Khesuna.

    Aquelas eram justamente as três peças de conhecimento avançado que ele ainda não possuía. Assim que as obtivesse, tornar-se um adepto de Terceiro Grau seria apenas questão de tempo!

    Talvez percebendo o fervor que queimava em Greem, Alice lançou-lhe um olhar rápido, advertindo-o silenciosamente para manter a calma. Em seguida, avançou e tomou as três esferas mágicas de luz.

    “Já que alcançaram seu objetivo aqui, ainda pretendem participar da próxima batalha? Se estiverem dispostos a continuar lutando por nós, Bruxas da Morte, tenho aqui algo que talvez lhes seja útil.”

    Dessa vez, Khesuna retirou uma estranha lamparina mágica. Gravuras misteriosas cobriam o artefato antigo, e a aura que emanava dele carregava o poder do Destino — o mesmo poder que Alice tanto almejava.

    “Guia do Destino.” Alice praticamente gemeu ao pronunciar o nome da lamparina. Pelo tom de sua voz e pelo brilho em seus olhos, ela travava uma luta interna profunda, tomada de desejo e hesitação.

    O Guia do Destino era um artefato mágico ancestral das Bruxas do Destino.

    Embora fosse inútil nas mãos de outros adeptos, em poder de uma bruxa como Alice ele poderia liberar um poder equivalente ao de um pseudo-artefato.

    Se Alice conseguisse acender pessoalmente aquele artefato enquanto viajasse pelo longo rio do Destino, jamais se perderia em suas encruzilhadas.

    O Guia do Destino seria capaz de conduzir sua alma de volta ao corpo, por mais perigosa que fosse a situação em que ela se encontrasse.

    Esse era o verdadeiro propósito de sua existência.

    Por fim, o olhar ansioso de Alice desviou-se da lamparina. Ela declarou, com firmeza:
    “Dispenso. O poder das Bruxas do Destino não é suficiente para participar da próxima batalha. Desejo retornar ao Mundo Adepto o quanto antes.”

    Greem, que permanecia atrás dela, hesitou algumas vezes, mas no fim decidiu não expressar seus pensamentos.

    “Muito bem, então.” Khesuna exibiu um sorrisinho e disse: “Vocês e seus homens devem permanecer na Cidade Água Murcha por mais três dias. Realizaremos nossa cerimônia sacrificial daqui a três dias. Antes que ela comece, abriremos um portal de longo alcance para enviar parte de nossas forças. Podem escolher partir nesse momento. Agora, vão e descansem. Lembrem-se: não deem um único passo fora do local onde estiverem hospedados durante esses três dias. Caso contrário, nós, Bruxas da Morte, não seremos responsáveis por quaisquer… acidentes.”

    Khesuna não estava brincando.

    Quando Greem e Alice retornaram, junto dos outros membros do clã, a mesma mansão de antes, encontraram o portão já vigiado por um grupo de mortos-vivos.

    A mansão era grande, mas, com cem máquinas mágicas e várias dezenas de carroças de energia acomodadas ali, mal restava espaço para ficar de pé, quanto mais para dormir. Felizmente, as máquinas mágicas não precisavam descansar, e a dúzia de goblins apertou-se em um único quarto, abrindo algum espaço para os adeptos carmesins.

    Dessa vez, porém, todos os servos e criadas orcs haviam desaparecido sem deixar vestígios. Se não fosse por Arms — que sempre trazia consigo quatro belas criadas — Greem e os adeptos provavelmente nem teriam encontrado alguém para cozinhar na cozinha.

    Depois de se instalarem na mansão e recolherem-se a seus aposentos, Greem ergueu os olhos para o céu vermelho-escuro e não conteve a pergunta: “Por que você recusou Khesuna? Aquele artefato parecia que seria de grande ajuda para você.”

    Alice parou junto à porta e balançou a cabeça em silêncio, sem se virar.

    “Não vale a pena. Por mais importante que seja um artefato, ele nunca será mais importante do que a própria vida.”

    “Quer dizer que haverá perigo aqui?” perguntou Greem, surpreso.

    “Não que haverá — mas que é certo que haverá.” Alice soltou uma risada suave.

    “Não subestime esses deuses só porque os últimos dias pareceram fáceis. Se eles libertarem seu verdadeiro poder, nós não passaremos de um pouco mais fortes que formigas.”

    Greem ficou em silêncio por um momento antes de assentir.

    Ele já começava a sentir a perda de controle sobre os rumos desta guerra planar.

    Não havia dúvida de que o Deus-Bestial Aruger buscaria uma vingança selvagem e implacável contra as bruxas assim que percebesse suas verdadeiras intenções. Quando isso acontecesse, a guerra certamente se tornaria ainda mais feroz.

    Nesse ponto, nem mesmo as bruxas de Quarto Grau poderiam ditar o curso da batalha. Adeptos de Segundo Grau como eles provavelmente seriam, como Alice dissera, apenas “formigas um pouco mais fortes” em meio a um campo de guerra vasto demais.

    Seria melhor partir o quanto antes.

    Greem abandonou de imediato qualquer pensamento de assistir ao espetáculo — e, em seu lugar, surgiu um intenso desejo de retirada.

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