Capítulo 834
『 Tradutor: Crimson 』
Ano 1775, Mês 11, Dia 18 do Calendário do Deus-Bestial.
Era o décimo quinto dia da invasão das bruxas de outro mundo ao Plano das Florestas Vigorosas, e o tão aguardado ritual de sangue finalmente havia começado!
Antes mesmo de o sol nascer, uma densa aura carmesim já envolvia a Cidade Água Murcha. Os duzentos mil orcs capturados e trazidos para a cidade pelas bruxas tornaram-se vítimas sob suas lâminas, morrendo nos diversos pontos ocultos do ritual.
Naturalmente, o local principal da cerimônia era o maior e mais majestoso salão da Cidade Água Murcha.
Antes, aquele lugar havia sido o templo do Deus-Bestial Aruger, mas agora servia como um salão ritual onde seus próprios devotos eram abatidos como gado. A crueldade e o sangue deste mundo eram eternos — uma pena, uma vergonha, mas inevitáveis.
Cinquenta mil crentes tiveram as gargantas cortadas e foram empurrados para uma cova profunda aberta no centro do salão. O sangue quente escorria dos corpos contorcidos em um padrão estranho e sinistro, reunindo-se no fundo do buraco. À medida que mais orcs eram lançados, o nível de sangue subia, cobrindo todos os cadáveres.
As almas dos orcs mortos começaram a se desprender dos corpos, ascendendo ao céu conforme as leis do plano. No entanto, ao tocarem as paredes da cova, misteriosas runas brilhantes se acenderam, impedindo-as de partir.
Incapazes de retornar ao rio-mãe das almas, essas almas tornaram-se inquietas e rebeldes. Luzes vermelhas acesas em seus olhos vazios indicavam que haviam despertado. Algumas se lançavam contra as paredes, outras vagueavam entre os cadáveres — ou simplesmente se encolhiam, chorando.
Muitas ainda pareciam incapazes de aceitar a própria morte, perambulando entre os corpos em busca de seus antigos receptáculos carnais, tentando retornar àquele mundo quente e vivo.
Com a matança contínua, mais e mais almas se acumulavam, transformando o lugar em um mercado de gritos e lamentos.
Uma dúzia de bruxas de mantos negros e cabelos desgrenhados estava sentada sobre plataformas de terra ao redor do buraco. Elas trocaram olhares e começaram uma dança grotesca em volta da cova. Enquanto murmuravam suas preces profanas, um poder estranho começou a fluir para o fundo do poço, brotando e se expandindo.
Pouco depois, uma semente maligna enterrada no fundo da fossa rompeu o solo.
Do lago de sangue e da montanha de cadáveres, brotaram seus primeiros brotos negros.
Com a densa aura de morte vinda da cova e os cânticos das Bruxas da Agonia, o estranho broto começou a crescer rapidamente, tornando-se mais alto e mais forte.
Gulp! Gulp!
Uma boca cheia de pequenos dentes brancos abriu-se no caule, e a planta começou a devorar o sangue à sua volta. O talo, inicialmente da grossura de um dedo, começou a inchar e aumentar de tamanho. Através da casca escura, podia-se ver o sangue fluindo e a carne não digerida.
Um som viscoso ecoou. Na ponta do broto, uma fenda se abriu, e uma dúzia de tentáculos surgiu de dentro.
Esses tentáculos engrossaram e se fortaleceram conforme o broto crescia. Logo, tinham o tamanho de pítons — torcendo-se, perfurando os corpos ao redor, multiplicando-se e se ramificando dentro deles.
O som de mastigação era audível enquanto os corpos musculosos dos orcs começavam a murchar a olhos nu. Antes que toda a nutrição fosse drenada, novos tentáculos serpenteantes rasgavam as cavidades dos cadáveres e buscavam novas presas.
Era como uma árvore demoníaca crescendo em meio ao sangue e à carne. Em um piscar de olhos, dezenas de milhares de corpos estavam empalados nos tentáculos da abominação, pendendo como frutos macabros.
Consumir todos os cadáveres não foi o fim.
O tronco da árvore profana — agora com cinquenta metros de espessura — abriu-se novamente, liberando uma nuvem de estranhos mosquitos cinzentos. Eles voaram em enxames sobre as almas como uma onda negra.
Uma alma orc, antes intangível, foi subitamente coberta pelos insetos, gritando em desespero. Mas, à medida que um som de sucção ecoava, seus gritos enfraqueciam, e seu corpo espiritual tornava-se pálido e translúcido — até desaparecer completamente quando os mosquitos se dispersaram.
Essas almas, mesmo privadas de memória, ainda mantinham seu instinto selvagem e medo da morte. Algumas tentaram se esconder; outras, lutar com socos e chutes.
Mas os mosquitos eram a antítese das entidades espirituais. Por mais que resistissem, as almas nada podiam contra eles. Suas bocas largas perfuravam os corpos etéreos e sugavam sua energia vital pura.
Os mosquitos de abdômen inchado retornavam à árvore e regurgitavam a energia das almas, alimentando-a. O crescimento da árvore tornou-se ainda mais rápido e voraz.
Então, um campo negro formou-se ao seu redor. Dentro daquela barreira, as leis planares do Plano Florestas Vigorosas começaram a se manifestar em correntes prateadas. Os tentáculos da árvore maldita estenderam-se e tocaram essas correntes.
Imediatamente, ouviu-se um chiado insuportável. Fumaça negra se elevou enquanto as leis concentravam sua força em uma retaliação furiosa.
O tronco e os galhos da árvore profana racharam, jorrando sangue e carne putrefata. A abominação se contorceu, soltando gritos aterradores enquanto resistia ao próprio mundo que tentava devorá-la.
A árvore não tinha boca, ouvidos, olhos nem nariz — portanto, não podia emitir som algum.
Aquele grito só podia ser ouvido em um nível espiritual.
Praticamente todos os adeptos, orcs e formas de vida na Cidade Água Murcha ouviram aquele estranho barulho.
Os que possuíam Espíritos mais resistentes conseguiram resistir parcialmente aos efeitos do grito mental.
Já os de Primeiro Grau ou abaixo sofreram intensamente: veias arroxeadas irromperam sob a pele e filetes de sangue escorreram de seus orifícios, enquanto suas mentes eram dilaceradas pela força espiritual.
Alguns, com Espíritos fracos demais, morreram instantaneamente sob o impacto psíquico.
Mesmo os poucos adeptos de Primeiro Grau que Greem havia trazido consigo estavam feridos, agarrando a cabeça e gritando de dor.
Naturalmente, os engenheiros e técnicos goblins não tiveram tanta sorte — todos pereceram no ataque mental.
“Não! A Raiz da Corrupção está perdendo para as leis do plano! Rápido, tragam todos os sacrifícios de alto nível!”
A Bruxa da Morte Khesuna, que vinha monitorando atentamente todo o processo, gritou ao ver a cena se desenrolar.
Vários orcs de elite foram trazidos às pressas até à beira da cova e empurrados vivos para dentro.
Ao verem a montanha de cadáveres e a árvore monstruosa e pulsante, esses guerreiros começaram a praguejar contra as bruxas.
Mas, logo, incontáveis tentáculos emergiram do tronco e se lançaram sobre eles, entrando pelas narinas, ouvidos, olhos e bocas, penetrando sob a pele esverdeada.
Os orcs silenciaram instantaneamente.
O som grotesco de devoração ecoou mais uma vez, preenchendo o salão ritual.
Com a carne e as almas desses poderosos guerreiros como alimento, a árvore profana voltou a crescer, estendendo novamente seus tentáculos em direção às correntes das leis do plano.
A retaliação do plano intensificou-se: as correntes, antes de prata sólida, tornaram-se cinzentas e incandescentes.
Então, um grito frio ecoou por todo o plano!
Naquele instante, fossem orcs ou centauros, machos ou fêmeas, fortes ou fracos —
todas as criaturas do Plano Florestas Vigorosas pararam o que estavam fazendo e olharam para o horizonte, confusas e atônitas.
Algo terrível havia acontecido.
Os mais sensíveis espiritualmente, ou aqueles que já haviam tido contato com as leis do plano, puderam sentir claramente a fúria da Consciência do Plano, vibrando através das correntes das leis.
Alguém havia provocado profundamente a Consciência do Plano — e, pior ainda, a ferido.
Os poderosos ficaram horrorizados.
Afinal, o que era essa Consciência do Plano?
Ela não tinha forma física nem consciência própria.
Era a soma das vontades e percepções das centenas de bilhões de seres e substâncias que compunham o plano.
Antes de atingir sua maturidade, uma consciência do plano era como um embrião em desenvolvimento — sem mente plena, apenas instintos primitivos.
Mas agora, ameaçada em sua própria existência, reagia.
Os invasores haviam ferido o coração do plano, e este reagiu instintivamente:
gravou em cada alma viva das Florestas Vigorosas um ódio profundo e inextinguível por todos os estrangeiros.
O plano era o corpo.
A Consciência do Plano, o instinto desperto.
E as leis, seus instrumentos de domínio.
Agora, estrangeiros haviam profanado suas leis, tentando disputar o controle de seu próprio espaço.
Eram inimigos mortais que jamais poderiam ser perdoados.
Naquele instante, as bruxas transformaram-se — de invasoras perigosas a inimigas imperdoáveis do próprio mundo.
Somente aqueles que já haviam sentido o peso de tal erro podiam compreender o terror que isso representava.
Greem empurrou as janelas de madeira de seu quarto e olhou para o céu carmesim e pulsante.
Pela primeira vez, sentiu a hostilidade implacável da própria Consciência do Plano.
Sua respiração ficou pesada.
O ar parecia mais denso, e o simples ato de inspirar tornou-se difícil.

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