— Wolfsrudel, Gier!

    A voz de Giermund soava como uma prece pagã ou uma maldição antiga, que ecoava pelas ravinas geladas.

    Sinistro… o gelo na espinha não era só de frio. Era um aviso, um instinto que sussurrava para fugir, mesmo sabendo que ali, correr não era mais uma opção.

    Sorte ou infortúnio, que nenhum idiota estaria por perto para testemunhar.

    A não ser… o Anti Monitor de Eco.

    Sua Chaoswirt pulsava em seu braço, um turbilhão de essência sombria que se desfazia em lobos espectrais.

    Era a ambição em forma animal, quase uma manifestação de sua Essenz, sombras famintas que nem sequer vigiavam ou espreitavam… apenas avançavam, cegas, como insetos voando para uma luminária acesa.

    É… o alvo quase riu, sentindo o gosto amargo da ironia.

    Eles corriam. Milhares de patas cravavam a neve, rachando o gelo sob o peso irreal de sua investida.

    O ar, cortado por uivos que não eram deste mundo, vibrava enquanto saltavam em arcos amplos, tentando dilacerar o maldito que, com movimentos secos, escapava de cada investida como uma marionete que não reconhece as cordas.

    As criaturas, ao falharem, se chocavam contra troncos congelados, rochas, as encostas… e explodiram em ondas de breu, manchas de escuridão que sugavam a pouca luz do crepúsculo polar.

    Até lá… havia uma luz artificial, mas nada que ditasse o curso da vida como no mundo humano.

    Deixando no ar um cheiro acre — ferro queimado misturado à podridão de um poço que ninguém ousava limpar.

    Era impossível ignorar: aquilo era caótico demais para ser apenas uma técnica. Era um fragmento de loucura, um rasgo de sanidade liberado na forma de uma matilha.

    — Irá fugir por toda a vida? — provocou, a voz tremeluzindo de um êxtase quase carnívoro, enquanto da sua Aura se expandiam mais sombras.

    Lobos retorcidos, distorcidos, uma fonte inesgotável de aberrações lupinas que roíam o chão e rosnavam para o próprio ar.

    O senhor da escuridão.

    No centro disso tudo, parecia respirar e exalar a pureza desse ato profano. A cada inspiração, as trevas se entranhavam em seus ossos; a cada expiração, era como se ele se fundisse a si carne, essência e loucura num só corpo.

    Quase uma mistura de Calcinha Preta e Aviões do Forró num feat — quem aqui vai dançar até cair morto primeiro?

    De mente impossível de se ler.

    — Rückfleisch!

    Então, inclinou a cabeça num gesto quase casual, e pronunciou com a frieza de quem já conhecia o fim.

    E brincava com ele — o gato e seu rato.

    Seu corpo distorceu-se, tornando-se intangível. Sua carne tornou-se um espectro translúcido, inatingível para qualquer lâmina, qualquer presa.

    O lacaio, pobre alma, não teve tempo de perceber que lutava contra algo que não tinha forma mais.

    Os lobos, em sua corrida cega, varreram tudo, explodindo numa onda de choque de trevas que fez o chão tremer, levantando flocos de neve tingidos de breu.

    — O vazio tem tantas cores e nuances…

    Por trás da nuvem negra, o sorriso torto se alargava.

    — Maldição… — rosnou Leonhart, cuspindo a palavra como quem cospe sangue. Seus olhos buscaram seu outro companheiro, e sem uma ordem verbal, apenas um olhar bastou.

    A outra sombra desapareceu num estalo — cortando a cortina de fumaça como uma lâmina, tentando alcançar o pescoço de Noctherr.

    Mas, como se a gravidade fosse apenas uma sugestão, ele simplesmente se moveu. Desviou-se sem esforço, deixando o ataque passar, a ponta de sua carne roçando apenas o ar gelado.

    Como se fosse indigno de tocá-lo.

    — Vocês não podem ficar nas tentativas… — Sua voz se misturando ao vento uivante.

    Era tudo questão de percepção, mas qualquer avanço contra ele se tornava inútil, pois o tempo simplesmente não conseguia tocar o vazio que carregava.

    E, num rompante, avançou — a mão quase se fechando no braço do oponente. Mas este, num reflexo animalesco, cravou os pés na neve e forçou as pernas para trás, recuando em meio a um rastro de cristais esfacelados.

    — Nem você… ehr… está enfrentando a sombra mais rápida daqui! — a voz reverberante e irreverente, misturando escárnio com uma pontinha de vaidade.

    No mais, no mais, não há um resultado entre nós… Os outros dois podem tentar uma investida… hm… parece bom! Pensou, enquanto o dono dos lobos se mordia por dentro, tentando alcançar uma solução sem ter mais perdas.

    — Zweifel… não seja leviano!

    Giermund arqueou uma sobrancelha, um brilho maníaco acendendo em seus olhos… então jogou a mão que restava para trás.

    Dessa vez, a intenção de sua Chaoswirt explodiu.

    Uivos.

    Vários fundindo-se em um só.

    Escondido entre a troca de olhares dos dois lutadores postos, como num pré-ringue de MMA, o ar parecia vibrar com o cheiro de sangue e cinzas.

    — Oh… — Sua entonação era quase uma brincadeira teatral — Mais rápida?

    — Tá surpreso!?

    Ignorava seu aliado, e…

    ZOOOMMM!

    Como um flash — um borrão negro, de brasas ardendo nos pés e nas mãos. Ele o flanqueou pelo lado esquerdo, cortando a neve como fogo na palha.

    A temperatura já estava suportável o suficiente para não matar um humano nos primeiros segundos.

    — Angst, verzehre ihn!

    Tentou um abraço sufocante, queria afundá-lo em brasas, como a ansiedade que devora os ossos de dentro pra fora. Mas…

    Clack.

    Um estalo seco.

    Seu estômago foi atravessado pela mão do vazio. Mal teve tempo de fechar os braços e o sangue escorreu do lábio, olhando incrédulo para quem o rasgava como papel.

    — É rapidinho, é? — A voz escorrendo tédio de um vidente, enquanto sentia o sangue quente pingar na neve — Bem… quanto mais rápido corre, mais rápido é empalado!

    Sua risada vibrou como uma lâmina arranhando metal.

    — Mas… como me atravessou? Eu tinha… minha aura… ao meu redor…

    Inclinou o rosto.

    — Sua resistência… vai junto com sua velocidade… pirralho!

    E então puxou a mão devagar, sentindo o sangue pingar quente entre os dedos.

    — E a ansiedade não é nada perante o vazio! É quase uma ramificação boba e patética!

    Quando estava prestes a finalizar, um lobo gigante o surpreendeu, uma massa de dentes espectral rasgando seu triunfo.

    — Sério?

    Teve que desviar, irritado, deixando a sombra escapar de seus domínios.

    — Por que não poupam esforços e atacam os três!?

    Os forçando a se encarar, a trocarem… informações.

    E em sua mente, uma única coisa lhe preocupava de fato… até quando iriam sem usar suas Essenz?

    De alguma forma, isso era parte de seu anseio mais profundo… de motivo trancado a sete chaves.

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