— Então vai ser assim? Vai mesmo negar a única ajuda que já recebeu na vida?

    Agora, o veneno não lhe queimava a garganta nem paralisava seus membros.

    Pelo contrário — sentia-se mais forte.

    Talvez fosse só uma vontade falsa… mas, depois de tanto apanhar, estava pronto para revidar.

    Nem o destino tinha se preparado pra isso.

    — Ô loko, meu… — sorriu de canto, como quem acabou de virar o jogo — Única? — inclinou a cabeça, olhando-o de lado, quase com o mesmo desprezo que outrora era vítima — Você é arrogante o bastante pra achar que sabe meu futuro… ou só está despejando suas frustrações?

    Era o reflexo que sentia um fisgo, algo entre um incômodo e um espasmo.

    Tão incômodo quanto um peido molhado.

    — Vai se arrepender…

    — Eu? Não… eu acho que não — Levantou-se, firme — Quem vai se arrepender é você. Precisa de mim pra existir… e, se eu não precisar de você, você simplesmente deixa de existir! Não é?

    — Sério? Caralho… tu é burro.

    — Burro, mas vou me livrar de você, ué…

    — E como vai lutar sem mim? — o sorriso veio amargo, carregado daquela mágoa de quem sabe que está prestes a ser descartado — Vai lutar com o quê, hein? Com essa coragem de papel?

    O sorriso dele tinha o gosto de uma ex degustando o término.

    — Com você — a resposta veio sem piscar — vou te usar. Se eu morrer, você morre. Parasitas um do outro… nem melhor, nem maior.

    — Fofo…

    — E então?

    — Então… — a voz baixou, um peso afundando sem parar em um oceano — eu prefiro que você morra!

    — Então que eu morra! — riu, sem hesitar.

    Será que essa foi mesmo a melhor decisão?

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