Belo Horizonte, Minas Gerais…

    A corrida dos ratos tá rolando solta. E eu, um moleque de 21 anos, tô no pique, correndo junto, acelerando sem freio.

    Sou motoboy. Depois do primeiro acerto, tô vivendo na sorte dos corres.

    Dia, noite, madrugada… tô rodando atrás de dinheiro – cada vez mais escasso nesse país meio falido que a gente insiste em chamar de lar. Mas, fazer o quê?

    Reclamar é fácil. Difícil mesmo é elogiar.

    Então, cá estou. Dia após dia. Vida Severina. Entregando as pizzas quentinhas da Pietra Calda. E não, não temos forno à pedra – mas o velho pançudo achou o nome bonito. Fazer propaganda é com ele, entregar é comigo.

    Ele me paga. Eu entrego. Sem drama.

    E, sinceramente? Paga até bem. A maioria dos caras da minha idade tá se fodendo bem mais. Por enquanto, né? Pensar no futuro cansa. E desanima.

    Terça-feira. Ontem. Minha mina terminou comigo. A cena ainda passa na minha cabeça: ela, puta da vida, jogando as verdades na minha cara.

    — Você é uma criança, Cael…

    Sou. Machuca ouvir. Ainda mais quando é verdade.

    Sabe como é, né?

    Eu sei que tenho defeitos. Muitos. Mas consertar? Dá trabalho. E aí, as pessoas se cansam de mim. E eu fujo. Covarde.

    Ou… talvez só prefira fugir em duas rodas, sentindo o vento cortar minha cara, fingindo que esqueci. Fingindo que não dói.

    Celular vibra. Novo pedido: Alto Vera Cruz. Cacete. Quase um convite pro inferno. Lá, a bala canta sem dó.

    Mas é isso. Tenho que ir. Querendo ou não. Então… let’s go.

    Moto a 150 km/h. Rápido o suficiente pra morrer num baque só. Lento o bastante pra não rasgar o asfalto como um tiro.

    Chego. 21h30.

    O cliente já tá na porta: sem camisa, de bermuda, com uma caveira tatuada no pescoço. Não quero julgar, mas… ou matou alguém ou curte rock.

    Pelo Juliete, aposto que é a primeira opção.

    Ele vem na moral, mas com marra:

    — Demorou, hein, patrão! — fala com o ovo na boca. — Quanto que deu?

    Na cintura, uma Glock 17. Reluzente. Zerada.

    — Ehr… 49,90…

    — Porra… pizza cara, patrão! — Eu juro que ele ia puxar. Juro. Me imaginei sendo manchete: “Motoboy do Vasco assassinado por causa de calabresa”. Mas não. Ele só puxou o bolso. Jogou a nota de cinquenta. Vacilão, mas firmeza.

    — É… o gordo é meio ladrão, mas é boa, confia! — disse rindo.

    Subi na moto. Fingi que tava tudo certo.

    — Boa refeição aí, chefe…

    Ele virou, dando as costas:

    — Valeu, maninho, vá com Deus aí!

    Alívio. Meu peito até relaxou. Dei partida.

    Mas, no instante em que olho pra frente… os sons secos dos pipocos.

    Cacete… sério mesmo… que me mataram entregando pizza?

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