— É… É dinheiro que você quer?

    “Puta que pariu… inferno! Inferno, inferno, inferno!”

    — Não — a voz do sequestrador engrossou, de repente —, para ser honesto, nenhum dinheiro que você tenha valeria de alguma coisa. Você não é dessas crianças de família rica.

    — Co… como você sabe?

    — Se é amigo de Doorugami Touma, meu alvo, certamente não é alguém de classe alta — falou com certeza em sua voz, esse filho da puta.

    — Então o que você quer? Hein?!

    — Não quero nada. Quando cheguei para sequestrá-lo, ele estava te ligando. Só isso. Ah — agiu como se tivesse lembrado de algo —, e pensei que seria engraçado eu atender no lugar dele. Não acha? “Alô, aqui quem fala é o cara que sequestrou o seu amigo!”… Isso não soa legal?

    — Nem um pouquinho… — rebati, quase esmagando meu telefone com a mão direita.

    “Ele é idiota ou o quê? Agiu como idiota, depois como sério, e agora tá como idiota de novo…”

    Foi como se alguma coisa tivesse apertado o interruptor de personalidade dele, fazendo-o voltar a ser um imbecil.

    Eu queria muito socar a fuça desse filho duma égua. 

    Ele desligou e tudo que pude ouvir, ao final, foi a risada rouca e psicótica daquele perturbado. Me acalmei e, depois de chutar a lata de lixo, liguei para uma amiga.

    — Tem como você rastrear uma ligação minha?

    — Tá certo… — Ouvi o “reco-teco-teco” do teclado, ansioso. — Essa de ainda a pouco, suponho.

    Balancei a cabeça. Percebendo essa idiotice, concordei verbalmente.

    — Foi na frente da casa de Doorugami Touma. Eeeeh… rastreando o sinal, descobri que o telefone está em movimento… agora parou no semáforo do único cruzamento do distrito comercial. Está num engarrafamento de mais de duas horas. Sei disso porque o entregador da minha pizza me ligou para avisar sobre o atraso — Ela parou de falar por algum tempo, retomando após um longo suspiro: — Posso saber o que vai fazer?

    — Alguma coisa perigosa.

    Com um grunhido, ela me respondeu desligando. Minha irmã mais velha sempre odiou essas minhas “atividades perigosas”, dizendo que é tudo por culpa do Nathan.

    Queria poder genuinamente concordar com ela, mas eu sei a verdade.

    “É porque eu sou um idiota e faço as piores escolhas possíveis.”

    Guardando meu telefone flip-flip no bolso, vesti um moletom roxo e saí correndo para fora do prédio do dormitório.

    Mais cedo, nesse mesmo dia, decidi não usar o meu poder para me mover pela cidade porque isso custaria muita energia.

    “Só que isso é uma emergência.”

    A vida do meu amigo estava em perigo. Touma não faz piadas desse gênero, então poderia cegamente crer que ele havia sido sequestrado.

    — Hold the Tchan! — gritei e disparei um gancho, este que se prendeu na parede de um prédio.

    Fui puxado e senti meu corpo ser levemente esmagado pela pressão. 

    Piushuwitz!, e disparei mais vezes, balançando-me por entre os prédios como o Tarzan. Tava mais pra Homem-Aranha, de qualquer forma.

    Sendo puxado pelos meus ganchos invisíveis aos olhos de pessoas normais e tomando cuidado pra não ser esmagado pelos caminhões, cheguei ao único cruzamento no distrito comercial.

    E então…

    “…Quem diabos é o sequestrador?”

    Em um carro, uma moto, um ônibus roubado, um caminhão… ele poderia estar em qualquer uma delas.

    Bem, seria idiotice sequestrar uma pessoa e levá-la em uma moto. Até eu sabia disso.

    Realmente, era idiotice usar uma moto nessas situações.

    Definitivamente, seria uma burrice transcendental.

    Mas… os meus olhos não estavam acreditando no que viam. 

    “Impossível… tem que ser um jumento…”

    Em uma CB-500 branca, um homem de capacete e roupas brancas levava em sua garupa um garoto asiático de cabelos espetados para frente. 

    Sim, ele realmente sequestrou alguém e usou uma moto como veículo.

    — Hold the Tchan, estágio 2! 

    Fiz uma espécie de esfera surgir um pouco acima dos dois, atrás deles. Um gancho foi disparado e arrancou Touma. 

    As pessoas no engarrafamento viram um garoto asiático flutuar no ar.

    Só o motoqueiro idiota não havia percebido. Foi por pouco tempo, no entanto. Ele vasculhou a área com os seus olhos e me encontrou.

    Para pessoas que não podiam ver o sobrenatural, eu estava grudado à parede com as minhas mãos e pés.

    E um disparo negro veio na minha direção.

    Bum!, um buraco surgiu a uma distância de três dedos de mim.

    Saindo dali, usando mais uma vez os meus poderes e balançando por entre os arranha-céus, apanhei meu amigo e fugi no sentido oposto ao do engarrafamento.

    Um desses dardos do filho da mãe errou minha costela.

    Quebrei uma janela de um prédio de escritórios e, invadindo, passei correndo por entre os trabalhadores com Touma em minhas costas. 

    De relance, antes da minha entrada forçada, vi o sequestrador entrar pela porta da frente. Fiz merda!

    “Agora ele tem tudo isso de reféns!”

    Parei próximo da área de trabalho de uma mulher de terno. Uma loira dona de um rosto que parecia ser muito macio e um sorriso delicado e brilhante que me imobilizou por alguns segundos.

    — Você… você poderia esconder esse garoto debaixo da sua mesa? — perguntei.

    — P–p-posso! — E ela agarrou Touma segundos após eu o jogar para ela. — Você voltará para buscá-lo?!

    — Vou! — Saí correndo na direção do elevador.

    Porém…

    Pim!, e quando as portas se abriram, dei de cara com um motoqueiro de capacete e vestes brancas: era ele.

    — Eduardo Ventura… usuário do Hold the Tchan. O quão quente você acha que é o inferno? — indagou, pondo a mão em meu ombro.

    “Merda… agora ferrou!”

    — Mais quente que o Nordeste… eu acho.

    — Boa resposta — E ele me puxou pelo braço. Agora, ambos nos encontrávamos dentro do elevador. — Sabendo quem você é, posso afirmar que o meu alvo não está neste andar.

    De que merda ele estava falando? Eu não sabia, mas isso me ajudou.

    — Eduardo Ventura… fui descuidado — murmurou ele. — Você é simplesmente o parceiro de Yago Dias. Ter como inimigos a dupla que matou o cientista mais perigoso de Dokoka seria o mesmo que decretar suicídio.

    “Aonde diabos ele quer chegar com tudo isso, porra?!”

    — Me diga… quanto você quer? Dinheiro, estou falando de dinheiro — E fechou a porta do elevador. — Nunca diria meus motivos, mas farei de tudo para ter Touma em minhas mãos. O poder dele, na verdade.

    Ele acabou dizendo parte dos seus motivos. imbecil! 

    Após um longo período sem dizermos nada, escutando a musiquinha de fundo, chegamos ao térreo.

    Inclinado para frente e com um sorriso meio forçado, senti que ele expressava um “e aí?”. 

    Que cara mais esquisito para ser um criminoso!

    Assim que ele piscou, saí correndo. Um dardo de energia negra, como uma bola em um jogo de queimada, roçou minha orelha.

    A entrada do prédio era enorme e tinha portas giratórias. Quando estava para sair…

    — Sua irmã me deu um toque — um idiota me parou. Era o pálido garoto dos negros cabelos bagunçados, Nathan Yago Dias.

    Com a porta giratória atrás de nós, em meio a multidão, encaramos o sequestrador, este que vinha em linha reta desde o elevador.

    Com o dedo em riste, esticou o braço esquerdo em nossa direção. Sua mão era uma pistola — dela poderia sair um disparo de energia desconhecida.

    Eu estava suado, com as minhas mãos tremendo e a respiração irregular.

    Matar o criminoso e depois pegar o Touma de volta… a única coisa boa nesse dia foi encontrar aquela loira bonitona.

    Eram sete da noite. O céu ainda não estava tão escuro, mas claramente o dia nos havia deixado. A noite começou.

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