O cheiro do ar ao meu redor era doce, ainda que isso não escondesse o fato de ser oriundo de um produto industrial. O freecor de lavanda não combinava nem um pouco com o choque entre nós e ele.

    Faíscas invisíveis saíam dos olhos do sequestrador e Nathan.

    — Leva o Zé ruela do Touma pra algum lugar seguro — falei pra ele.

    — Lugar seguro? E tu vai fazer o quê, lutar contra esse cara? Ao menos sabe quem ele é, idiota?!

    — Eu não sei e nem preciso saber — rebati, e logo em seguida o puxei para que eu pudesse falar em seu ouvido: — Terceiro andar, décimo terceiro gabinete. Uma loira está cuidando dele.

    Nathan assentiu com a cabeça, mas permaneceu imóvel mesmo após eu o soltar. O que esse imbecil tava fazendo?!

    — Vai ficar tudo bem? — Ele pôs uma mão em sua cabeça. — Tipo… tu tá cansado. Eu te arrastei pra uma merda e agora já tá em outra. Posso fazer isso só…

    — Sozinho — terminei o que ele ia dizer —, só você e essa sua cabeça oca? Não, me recuso. Não estou fazendo isso por mais ninguém além de mim mesmo. Só faz o que eu te pedi.

    — Edward…

    — Faz o que eu te pedi, porra! — E o empurrei para frente. — Ao menos dessa vez!

    Seus lábios escaparam um “hum!”, e ele saiu correndo. Senti como se fosse a última vez que o veria, fosse qual fosse o motivo.

    A prioridade era o cara de capacete e roupas brancas.

    Sem dizer nada, fiz duas esferas surgirem em sua direita e esquerda. Elas tinham um furo de onde sairia um gancho que pode agarrar qualquer coisa.

    Piushuwitz!

    Ao ouvir os disparos simultâneos, aproveitei o seu espanto e corri em linha reta.

    Vendo-me avançar, chutando o chão, ele pulou me tendo como alvo.

    Porém!

    — Hã?! — exclamou ele, assustado.

    Seus braços estavam presos. Não importava o quanto de força usasse, aquilo nunca o soltaria.

    Ele se debatia loucamente.

    — Relaxa, vou socar o seu estômago. Mó preguiça de tirar o capacete — falei.

    Sentindo algo sair do meu corpo, fiz surgir ao meu lado um robô. Ele era invisível para pessoas normais, mas o sequestrador se espantou — simplificando, eu me fodi.

    — Ah, vamo nessa! Hold the Tchan estágio 3, soque-o! 

    Aquele ser espiritual parecia uma pessoa magrela feita de aço.

    Bam!, o soco, quebrando algumas costelas do desgraçado, foi destruindo cada pedacinho — e eu pude sentir.

    Seus pés eram paralelepípedos de ferro, suas mãos eram garras de máquinas de pegar ursinhos de pelúcia.

    — São uns bons dez quilos de metal em forma de braço atingindo teu estômago — falei em deboche, sorrindo. — Levante a bandeirinha branca e eu paro.

    As pessoas ao redor, engravatados e alguns milionários com camisas de cores vibrantes, nos encaravam de longe. Os guardas pensaram em se aproximar, mas desistiram.

    Era óbvio que isso iria acontecer.

    “Eles tem medo de Odd Holders.”

    Suspirei e, um pouco estressado, mandei meu robô espiritual arrancar o capacete do meu inimigo.

    “Preciso ver quem é esse abestado.”

    Mas…

    — …Eh? — Tudo o que vi foi a cabeça de um manequim. 

    Ele havia trocado de lugar! Mas como?! Queria ter ficado puto, mas o medo se alastrou em mim como uma infestação de ratos!

    Bam!, me atingindo na costela, fui sentindo minha consciência se esvair e o meu corpo ser arremessado contra o balcão da recepção.

    O funcionário que estava ali caiu e pude ouvir seu berro de pavor.

    Cuspi sangue e amaldiçoei o que tinha me atingido. 

    — Oi, yo, oi. O quê? Achou que eu seria vencido por uma lataria velha como essa? Hah, é brincadeira?

    A voz irritante de um homem rouco veio de trás de mim. Usando o balcão como apoio, me virei para o encarar.

    Em minha frente estava um idiota de mais de um metro e oitenta. Ele vestia um sobretudo branco…

    …Cacete. Eu nunca vou esquecer. Os cílios, as íris, a pele, o cabelo, as sobrancelhas… tudo nele era branco.

    Mas a aura ao seu redor era mais escura que o negro. Frio… senti frio com a presença dele!

    — Não vá se achando — Ele me agarrou pelo pescoço, me erguendo ao alto. Corno! — Você e o seu amigo apenas ficaram famosinhos. Só isso. Ele é o Número Um de Dokoka, não você, seu merdinha.

    Fiquei desesperado demais pra usar o Hold the Tchan.

    Inconscientemente aceitando tudo o que tava acontecendo, fui perdendo a mobilidade dos meus braços e logo depois a das pernas.

    Era como se ele estivesse desligando os interruptores do meu corpo.

    Talvez ele estava!

    — Agora que todo mundo nessa porra viu o meu rosto… — Contorcendo os dedos da mão livre, ele os estalou. — Vou ter que fazer uma coisa que começa com “m”.

    “Matar?!”

    Depois disso, minha visão de alternou entre exibir a imagem do teto esbranquiçado e o chão de azulejos azuis. Teto branco, azulejos azuis. Azulejos azuis, teto branco.

    Após só Deus sabe quantas roladas, bati contra uma coluna do outro lado do andar térreo.

    Senti como se a energia estivesse voltando a fluir pelos meus ramos mágicos.

    Isso só podia significar uma coisa…

    “…Esse cara é um mago…”

    …E ele havia conseguido retroceder o fluxo da minha energia espiritual. Não, ele alterou o sentido dos vetores dos meus ramos.

    Não foi a energia a ser alterada.

    — Mas a porra dos ramos, dos canos por onde passa e energiza o meu corpo. Filho da puta…! — xinguei.

    Fiz um esforço astronômico pra levantar a cabeça. Daria no mesmo se alguém pusesse uma caixa em cima do meu pescoço.

    Eu não acreditei naquela cena.

    — YAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAY! 

    A risada exagerada e irritante daquele bastardo ecoava pelo primeiro andar. Ao mesmo tempo, ele ia perfurando cada um dos engravatados e outros funcionários com seus disparos negros.

    Era uma chacina!

    E poças…

    …Não. Rios de sangue se formaram. Os cadáveres funcionavam como fontes.

    Minha idiotice… a minha própria imbecilidade matou aquelas pessoas.

    Ele também destruiu as câmeras com seus disparos. Após a matança, ele caminhou até mim, arrastando um defunto pelo seu pé.

    Assim que chegou perto, pegou-me pelo colarinho e me sentou, encostando minhas costas à coluna. Cerrei meus dentes.

    — Se tu quer ser um filho da puta… tu se esforça, né? 

    — Tá falando disso? — E apontou para as poças de cor vermelha. — Poderia fazer o dia inteiro.

    Agora ele estava sério. Que vontade de esmurrar aquele sorrisinho de Monalisa!!

    — Ei, fique feliz — Ele puxou o cadáver pelo pescoço dele, e o girou em sentido horário até que eu pudesse ver o seu rosto. — Igual esse cara. Seja feliz igual a ele.

    Usando os polegares, forçou um sorriso na boca do coitado.

    — Louco filho da puta…

    — Louco? Gênio. Me chame de gênio, soa mais legal e dá no mesmo — ele disse.

    Depois disso foi só ladeira abaixo…

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