Assim que a Encapuzada foi ao encontro de Ragon, eu, Kris, Haen e Hoen passamos por um treino infernal nas mãos de Kazuhito. Aquela garota queria que eu me ferrasse. O quê, você quer que eu narre cada uma daquelas lutas? Pode esquecer. Me recuso.

    Fomos socados, chutados e arremessados de um lado para o outro. Mesmo usando espadas de madeira, ela nos desarmou. Foi como não sermos o Davi e enfrentássemos o Golias. Aquilo não passou de uma humilhação.

    Aqui vai um breve resumo do inferno.

    — Primeiro dia — 

    — Ei… Ed — chamou Hoen, caído sobre uma rocha.

    — Fala.

    — Semaninha filha da p*ta, hein?

    — Ainda é segunda, Hoen.

    — Segundo dia — 

    Fui arremessado no ar e ela fuzilou meu estômago com uma saraivada de socos. Se isso fosse um anime e eu o telespectador, teria sido divertido.

    —- Terceiro dia — 

    O efeito das ervas me fazia durar mais no combate, só que isso era inútil. Sempre perdia como no dia anterior.

    — Quarto dia — 

    Entre a vida e a morte, pensei em quem seria o terceiro herói da profecia. Se o meu mestre me disse que eu e Ragon éramos, e que o outro estava muito perto de mim… 

    — Quinto dia — 

    — Pela força dela, deve ser bem óbvio, né? — ele me disse em minha mente.

    — Cale-se, mestre.

    — Você me respeite! Sabe quem eu sou e me trata como se eu fosse um qualquer?!

    — O senhor é o Rebelde Carmesim, eu sei. Agora cala a droga dessa boca.

    — Sexto dia — 

    Eu estava na vanguarda, e o meu objetivo era proteger os três idiotas — eles estavam amontoados atrás de mim, e, se alguém visse de longe, diria que eram uma pilha de corpos. Queimei minha energia com toda a minha vontade e fúria. Ardi como o sol.

    Mas não foi o suficiente. Os socos dela me quebraram os punhos.

    — Sétimo dia — 

    Lutei com os pés, pois minhas mãos ainda não tinham sarado. Que merda, perdi mais rápido do que nunca.

    — Oitavo dia — 

    Minha visão permutava entre “ligado” e “desligado”.

    — Nono dia — 

    Minha consciência tem um interruptor? Essa garota não para de apagar as luzes!

    — Décimo dia — 

    — Edward… 

    — Sim?

    — Tem certeza que ainda gosta dessa mulher? — ele me perguntou enquanto tentava olhar para Kazuhito. Ela estava sentada em cima da rocha em que, dias antes, amassou Hoen.

    — Olha, Kris… eu também tô me perguntando isso… 

    — Décimo primeiro dia — 

    — Relaxe, não vai demorar pra Encapuzada chegar. Logo você concluirá a sua missão e poderá se vingar do Sasaki Yuuta.

    — Mestre… 

    — Sim?

    — Cala a porra dessa boca!! — E dei uma cabeçada no ar, tentando acertar Kazuhito, mas fui nocauteado com um chute alto.

    — Décimo segundo dia — 

    Kris, Haen, Hoen e Kazuhito deviam pensar que eu estava enlouquecendo. Bom, falar sozinho é algo que todo mundo faz. Mas conversar consigo mesmo, agindo como se fosse com outra pessoa, era outro nível — não tive culpa, meu mestre conversar comigo mentalmente.

    — Décimo terceiro dia — 

    Kazuhito me ergueu pelo pescoço e, aproximando sua boca a minha, sussurrou:

    — Aguentou bem, maldito.

    Não sei o motivo, mas ela parecia saber que eu estava guardando algo.

    — Não gosta que eu te chame de maldito? — indagou. Bom, queria que me chamasse de “amor”. — Então me diga o seu nome.

    Oh, era isso. Eu não me apresentei como se faz normalmente.

    — E por que eu deveria? — falei. Mesmo dolorido, senti que devia tirar uma com a cara dela.

    — Heh! — riu e sorriu. Cara, aquilo foi assustadoramente belo. A luz do luar a embelezou tanto que eu quase me apaixonei de novo. — Você realmente se parece com ele. Não em aparência, mas o jeito.

    — Talvez eu seja.

    — Não… não brinque com isso… — E virou a cabeça para o lado. — Só me diga o seu nome de uma vez.

    — Direi quando me convier.

    Talvez eu tenha ficado puto por ter sido espancado diariamente. Mas agradeço, evolui bastante no quesito de lutas corpo-a-corpo. Ela me encostou na rocha e sentou ao meu lado.

    — O que é isso? — perguntei. Ela pôs minha cabeça em seu ombro.

    — Não quero ficar sozinha. Não esta noite, pelo menos.

    — E por que eu? — protestei. Encarei meus amigos. De onde eu estava, pude perceber que a forma como estavam caídos no chão, cada um em um canto do clareira, se parecia com um triângulo. Achei engraçado, somente.

    — Porque eu sei que você é ele.

    — Uepa! — gritou o meu mestre em minha mente. — E agora, Edu?!

    Fiquei em silêncio. O que eu deveria ter dito?!

    Quebrando o silêncio, soltando um “hum!”, ela começou a assobiar. O embalo daquilo acompanhava a brisa que vinha à direita. Quando dei por mim… 

    — Take me… to the magic of the moment… on a glory night… where the children of tomorrow… 

    — Dream away… — completou ela. — In the wind of change.

    “Oh, merda…”

    No mesmo instante, entendi o significado daquele assobio. Não dele em si, mas no ato dela ao assobiar.

    — Alguém desse mundo não saberia a letra desta música — afirmou Kazuhito. Ela encarava o horizonte. — Amanhã, Takatsukasa Kurone bostejará suas palavras de falso moralismo no morro atrás de nós. Os ventos da mudança ainda não vieram. E o que temos é essa brisa… 

    A brisa que nos esfriava.

    — Décimo quarto dia — 

    Acredito que não era nem duas da manhã. Kazuhito dormia com sua cabeça apoiada na minha e, tendo acordado por um breve momento, abri os meus olhos sem dar muita importância para o que poderia ver.

    Mas… 

    — Impossível… 

    …Eu vi. Sim, eu vi o motivo para eu estar naquele mundo. O homem que me forçou a vir para cá e me vingar dele. Não fosse a exaustão e o fato de ali estar aconchegante, eu teria me levantado.

    Ele surgiu em um portal e caminhou na direção do QG.

    “Mais tarde tu não me escapa… maldito.”

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